Se queres matar, por que não te queres matar?

Conversando com uma amiga há alguns dias, acabei citando um trecho de Fernando Pessoa e imaginando que só um poeta pode ver e dizer as coisas desse modo. Cheguei à conclusão de que outras profissões vêm as coisas de modo bem diferente.

Advogado:
“Se queres matar, arranja primeiro um bom álibi. Mas podemos também alegar insanidade temporária”.

Publicitário:
“Se queres matar, deixa primeiro eu ver se consigo o Zeca Pagodinho.”

Engenheiro:
“Se queres matar, vamos calcular a trajetória da bala em comparação à gravidade…”

Médico:
“Se queres matar, há duas alternativas: se for particular pode ser amanhã. Se for por plano de saúde, só tem vaga em novembro.”

Funcionário público:
“Se queres matar, faça isso apenas entre 7 da manhã e 1 da tarde, no horário de atendimento ao público.”

Outro funcionário público:
“Se queres matar, vá na segunda porta no fim do corredor porque esse não é o meu setor.”

Ainda outro funcionário público:
“Se queres matar, preencha este formulário, pague a taxa e volte aqui.”

Masoquista:
“Se queres matar, primeirão!”

Sádico:
“Se queres matar, deixa pelo menos eu ver?”

Dono da Eucatex:
“Se queres matar, estupra, mas não mata!”

Maconheiro:
“Se queres matar, deixa de ser egoísta que eu ainda não dei nem um tapinha nessa merda!”

Bêbado:
“Se queres matar, vai ser qual dos dois?”

Jornalista:
“Se queres matar, quem, quando, onde, como e por quê?”

Ninfomaníaca:
“Se queres matar, me mata de prazer!”

Apresentador de telejornal:
“Se queres matar, por que não te porque não te… Porra, o TP quebrou de novo!”

Político:
“Se queres matar, a comissão sobe para 30%.”

Policial:
“Se queres matar, o elemento será encontrado em decúbito dorsal, vítima de lacerações e…”

Muçulmano:
“Se queres matar, matai os cães infiéis e doze virgens estarão te esperando ao lado de Alá.”

Judeu:
“Se queres matar, Isaac tem boas armas para lhe vender.”

Católico:
“Se queres matar, fazei como o Senhor que deu a vida por n… Filho da puta, se pisar no meu pé de novo eu te mato!”

Evangélico:
“Se queres matar, pagai vosso dízimo e nós exorcizaremos o demônio em ti.”

Sísifo

Eu não consigo entender os muçulmanos.

Sua idéia de paraíso consiste, entre outra coisas, em um número razoável de virgens à sua disposição. Eternamente virgens, já que não importa quantas vezes você faça saliência com elas, sua virgindade sempre volta.

Isso não é o paraíso. Isso é o inferno.

Meu computador

Minhas taras inconfessáveisO que você usa no seu computador?

Vi um post do Neil Turner sobre isso, em que ele se confessa viciado em paciência. Fiquei curioso e parei para prestar atenção aos programas que mais uso no meu. Na lista ao lado, só faltou um: o Word, que por estar na barra de acesso rápido (ao lado do menu Iniciar) não é incluído na lista. Se fosse incluído provavelmente estaria logo abaixo do Notepad. Falta também o Explorer, certamente o que mais abro e fecho. E, lá embaixo, viria ainda o KoolPlaya, que uso para assistir a filmes em DiVX, mas que não é incluído por não usar DLL’s.

As novidades são apenas o w.bloggar, o NewzCrawler e o AP Guitar Tuner, um diapasão eletrônico que quebra bem o galho. E, de certa forma, o Pinball — mas só porque recentemente consegui fazer inacreditáveis 18.205.500 pontos, por puro acaso, e me empolguei: minha média de jogador bissexto é 4.000.000, ridícula.

O resto são os mesmos programas que uso há 10 anos, às vezes mais, às vezes menos. Há aqueles sazonais — de vez em quando me empolgo com o Premiere e fico editando vídeos, ou o Adobe Audition. E o InDesign pode ser considerado antigo, já que é substituto do Pagemaker.

E dois programas, que até há alguns meses estavam sempre nessa lista, sumiram: o iMesh e o eMule, que uso para baixar, respectivamente, música e filmes. Mas em Aracaju eu não tenho banda larga.

Finalmente, faltam ainda aqueles que são inicializados junto com o computador, como o PGP, o MSN Messenger, e aquele montão de programas do Norton sem os quais minha paranóia não me deixa tranqüilo.

Isso significa uma coisa: para mim, as únicas novas tecnologias que realmente importaram nestes últimos anos foram o peer-to-peer, os blogs e o RSS. E, claro, a possibilidade de afinar minha guitarra. O resto é a mesma lenga-lenga de sempre. Não há nada tão velho como o computador.

A nota triste é que, nos últimos tempos, deixei de jogar Quake, Civilization e SimCity. Acho que estou ficando velho como o computador.

Compromisso público

E assim se passaram 6 anos...É simples.

Há muito tempo venho adiando a idéia de uma dieta.

Mas as últimas notícias americanas colocam a obesidade e o tabaco como as duas principais causas de morte, e isso não é exatamente uma boa notícia. Uma eu encaro na boa, mas duas já é mais complicado.

Como a indesejada das gentes e eu seguimos caminhos divergentes, achei sensato fazer uma escolha. Pesei os prós e os contras de cada uma, e resolvi que seria mais agradável perder peso do que deixar de fumar.

Mas conheço muito bem a minha tendência a fazer promessas que nunca vou cumprir. E resolvi assumir um compromisso público: daqui a 3 meses eu vou estar com a mesma cara que tinha antes de casar. Aí, se eu não emagrecer, todo mundo pode debochar de mim.

(Só recomendo que deboche de longe. Por exemplo, longe do alcance de uma pedra.)

Taí uma foto dessa época. A gente se fala daqui a 3 meses.

Blogs e o resto

Um post no Prints the Chaff me deixou pensando em uma coisa curiosa. Junto com um artigo lido no blog do Alex Maron, me fez me perguntar quais os limites da opinião em um blog.

O artigo do Tom Mangan diz que blogs passaram a chamar os “empreiteiros” americanos trucidados no Iraque de mercenários. Ele discorda porque acha que a palavra mercenário não se aplica com exatidão a esse caso (discordo disso, mas é um bom ponto de vista). O artigo do Maron, também muito interessante, fala sobre a responsabilidade que blogs devem ter.

É esse conflito entre liberdade e responsabilidade que me deixou com algumas perguntas que não consigo responder.

Acho que há algumas diferenças fundamentais entre um blog e um jornal. Ou seja, os limites de um blog não devem ser os mesmos de um jornal. Para começar, isto aqui não depende do Estado para nada. E não parece justo esperar os mesmos padrões de informação que se espera de um jornal. Um blog é pessoal de um jeito que um bom jornal não é há muito tempo.

Há uma diferença entre expectativas, também. De um jornal você espera, pelo menos em tese, a verdade dos fatos. De um blog você sabe que não pode esperar mais que uma opinião ou uma interpretação pessoal. Por que a responsabilidade tem que ser a mesma?

Por exemplo, um jornal não pode dizer que acha que o teste de DNA da filha da Marcella Prado foi falsificado, porque estaria cometendo calúnia e ele tem a obrigação de só dizer a verdade comprovada e checada. Há leis que regulam isso. E o exame diz que a menina não é filha de Ayrton Senna. Mas se um blogueiro qualquer — que não tem acesso a nenhuma informação confidencial, que não tem nenhuma prova nem diz ter alguma — diz que acha que a história é mal contada, ele também poderia ser processado, desta vez por difamação? Para mim, essa opinião pode não ser legal, mas é legítima, e não apenas pelo direito à liberdade de pensamento: essa opinião, ainda que infundada, é tão generalizada entre gente de todas as classes sociais que, para muita gente, é a única verdade admissível.

Algumas pessoas vêm chamado os blogs de “mídia do cidadão”; é isso que pode torná-los revolucionários. Mas talvez, se formos todos obrigados a seguir as mesmas regras éticas dos velhos meios de comunicação, blogs não chegarão sequer a ser necessários. Porque bastará comprar o jornal de hoje, e aos blogs restarão apenas as opções de continuarem diários de adolescentes, coleções de links ou opiniões insossas de bobos, como acontece, infelizmente, com este aqui.

Quanto a mim, no dia em que passar a ter que tomar cuidado com o que escrevo eu deixo de publicar um blog.

Por que não confiar em ninguém com mais de 30

A aula era de Política I. 8 da manhã. Seria a minha primeira aula, porque a disciplina era matutina e eu nunca, nunca estava acordado pela manhã. Além disso, já àquela altura eu só ia para a universidade para ficar atrás da meninas de psicologia e tentar fazer com que nossas subjetividades se encontrassem.

O professor, um historiador famoso em Sergipe, com seus 60 anos, estava falando sobre como Marx previa a extinção do direito na sociedade comunista.

Levantei a mão para sugerir que Marx não tinha previsto isso, porque ele não tinha sequer previsto como seria o Estado comunista; seria anti-dialético, já que uma sociedade comunista seria construída pelas contradições do socialismo (ou algo parecido; faz muito tempo que não toco num livro de Marx, e não pretendo voltar a tocar; a essa altura da vida eu só leio bula de remédio), ainda inexistentes na segunda metade do século XIX. Aliás, o marxismo tem relativamente poucos princípios fundamentais em relação à construção do socialismo.

Acho que o velho estava num dia ruim. Ele teve um ataque histérico. Ficava repetindo que “tinha aprendido Marx nos livros, e não em cartilhas de partidos”. O velho tremia, e não era Parkinson. De onde ele tirou a idéia àquela altura equivocada de que eu era militante de algum partido eu não faço idéia; provavelmente deve ter achado que apenas militantes discutiam Marx.

Normalmente eu gostava de discussões. Mas nesse dia fiquei tão assustado que resolvi me calar e esperar o ataque do velho amainar. Me parecia que, do jeito que estava, o velho só teria duas alternativas: se levantar e correr para cima de mim, para tentar me dar uma porrada, ou ter um ataque cardíaco e cair ali, durinho.

Nas duas hipóteses eu ficaria numa situação delicada. Aquela foi minha última aula de Política I, e abandoná-la não foi difícil: como dizia um amigo, se você me mostrar um “cientista político” eu te mostro um picareta.

E não seria eu a matar um velho do coração. Ele tinha mais de 30 e isso não se faz.

Tic tac, tic tac, tic tac

Havia uma tagline pela qual eu tinha um carinho especial:

A procrastinator’s work is never done

É a mais pura verdade. Eu entendo disso.

Semana passada tive que virar duas noites seguidas. Uma para fazer uma campanha que poderia muito bem ter feito na Semana Santa; outra para escrever uma defesa de campanha. Tudo culpa da mania de deixar tudo para a última hora.

Com isso, todos os meus esforços para finalmente virar uma pessoa normal vão pelos ares.

Se depender de mim, eu tenho um horário ideal para dormir: exatamente às 4 da manhã, e acordar entre 11 e meio dia. Obviamente, esse modo avantgarde de viver não dá muito certo e é pouco lucrativo — o sistema insiste em continuar apegado a horários pré-cambrianos. E assim, depois desses virotes, eu tenho que tentar me readaptar a dormir cedo e acordar cedo. Custa um pouco, mas consigo. E então aparece outro prazo perdido, e lá se vai tudo de novo. Juro que se o emprego de zelador do turno da noite pagasse razoavelmente bem, eu deixaria de lado essa frescura de escrever.

Dia desses fiquei sabendo que Fábio Júnior dorme às 10 da manhã.

Ele virou, de repente, um sujeito admirável para mim.

Notícia estranha em um blog esquisito (Edição Extra)

A notícia é tão impressionante que eu vou apenas apenas traduzi-la e colocar aqui, ipsis literis. Não tem link porque faz parte de uma newsletter da Slate, Dear Prudence, de conselhos sentimentais, etiqueta e coisas do gênero.

Através de espionagem eletrônica, minhas irmãs e eu descobrimos que nosso padrasto de 80 anos tem uma relação incestuosa com sua filha de 60 (de um casamento anterior). Também descobrimos que a filha acredita que meu padrasto é milionário (ele não é) e alterou seu testamento para deixar tudo para ela. Meu padrasto visita sua filha todo fim de semana, quando fazem sexo entre si e outros swingers tiram fotos e as postam em álbuns de foto online. Nossa mãe agora sabe sobre isso e decidiu não confrontá-lo, já que tem medo que na confusão que vai se seguir ela perca tudo (casa, ações, etc.) para ele e para os advogados. Minhas irmãs e eu não sabemos se respeitamos a decisão de nossa mãe ou tomamos o caso em nossas mãos. Enquanto mamãe não é, em nenhum aspecto, covarde, sentimos que ela se recusa a se divorciar desse homem por medo, e que é nosso dever tomar a frente e tomar essa decisão por ela. Por outro lado, nossos maridos, sem exceção dizem que devemos respeitar a decisão de nossa mãe e deixar o caso assentar. Essa não é a coisa mais nojenta que você já ouviu? Desculpe por essa história doentia, mas você costuma dar os melhores e mais sensatos conselhos, e é por isso que peço sua ajuda.