Notícias estranhas em um blog esquisito (VIII)

Carlos Chereza é um americano da Flórida, tem 17 anos e resolveu que estava na hora de dar um fim em sua mãe.

Arranjou um pistoleiro (obviamente um policial disfarçado) e ofereceu 2,000 dólares, a serem pagos quando ele herdasse o dinheiro da mãe.

O detalhe é que ele deu orientações bem claras ao “pistoleiro”: mate a mamãe, mas não deixe nada acontecer à TV.

Daí se pode deduzir quem era a verdadeira mãe dele.

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Uma mulher de 56 anos foi presa por ter feito uma falsa denúncia de que o papel higiênico do tribunal de Waterbury, nos EUA, estava envenenado.

O que ninguém sabe é como ela chegou a essa conclusão. Se ela não for maluca ou quisesse interromper o dia de trabalho no tribunal para se livrar de algum julgamento (do qual provavelmente era culpada), provavelmente suas hemorróidas estavam num dia hiper-sensível.

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A crise é grave.

O quartel general oficial do Papai Noel, na Finlândia, acabou de demitir seus últimos duendes.

Daqui a pouco vai ser a vez das renas. E não vai demorar até vermos o trenó do Papai Noel em uma loja de carros usados.

Agora se explica porque aquele sacana nunca me trouxe presente.

Mas preocupante, mesmo, é o destino dos pobre anões. O que será que vão fazer da vida agora? Os circos também estão acabando.

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Um casal de namorados tirou a maior parte de suas roupas, subiu numa árvore do Central Park em Nova York e passou quatro horas fazendo safadeza e xingando os policiais e bombeiros que foram retirá-los.

Afora a maluquice que deve ter tomado conta dos amantes, uma coisa me deixou impressionado: 4 horas trepando trepados numa árvore? Nossa.

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Entre atores ingleses era uma tradição cumprimentar as pessoas com um “querido”. Mas os tempos do politicamente correto estão acabando com isso: uma companhia de teatro baniu o cumprimento para evitar eventuais processos por assédio sexual.

Este blog acha que eles estão certos e sugere que, a partir de agora, passem a se cumprimentar por “viado filho da puta” ou “vagabunda derrubada que todo mundo comeu”. Para não deixar dúvidas, sabe como é.

James Joyce, o masoquista

De uma resenha de John Updike sobre as “Cartas Selecionadas” de James Joyce:

A amorosidade deste “amante extraordinário”, como ele mesmo se concebe, tinha um vigoroso componente voyeurístico, e uma pronunciada gravitação em torno da bunda e suas funções. O fato de [Nora] ter de bom grado saciado a natureza sexual anal, pueril e mesmo masoquista de Joyce explica seu valor como esposa para um homem que, na maioria dos aspectos não-sexuais, era uma resoluta “minoria de um”.

Masoquista? Joyce? Que Updike me perdôe, mas acho que estão falando de bundas diferentes.

Tlec tlec tlec tlec tlec tlec tlec — tlim

Remington IpanemaComo todo mundo entre 30 e 50 anos, eu comecei a escrever numa Olivetti Lettera (um modelo mais antigo serviu de musa inspiradora para um belo blog). Na infância já brincava com uma Remington Ipanema, mas só fui escrever mesmo nas Olivetti da vida.

Há uma série de hábitos perdidos que ainda lembro. A primeira coisa a fazer era tirar a capa que protegia os tipos, que sempre se embaralhavam; sou de um tempo em que, com dois dedos, batíamos à máquina mais rápido do que ela podia agüentar. Ela era condescendente e humilde, não tinha esse sorriso debochado e desafiador com que os teclados de computador olham para nós. A outra era o hábito de levantar a máquina e deixá-la na vertical, enquanto revisava o texto que algum terrorista filho da puta já estava cobrando. Até hoje bato com força excessiva no teclado do computador — coisa que quem já teve uma máquina com fita velha lembra bem o que é.Panasonic KX-R530

Em 1989 agências como a Propeg de Salvador já usavam a Praxis 20, a primeira eletrônica portátil de que ouvi falar; eu usava a ET Personal 50 e, alguns anos mais tarde, tive uma Panasonic KX-R530. Embora lindas, já nasceram como anacronismos, resultantes da miopia de mercados que tentavam dar sobrevida a um produto já marcado pelo hálito da morte.

Nos meus primeiros anos com o computador, eu sentia um certo bloqueio em relação a ele. Era uma máquina maravilhosa e eu me viciei imediatamente; mas na hora de escrever, mesmo, havia algum problema. O computador então criou uma situação esdrúxula: muitas vezes comecei a escrever um texto à mão, para só então levar para o computador; pelo menos para revisar e editar um texto, o computador sempre foi insuperável.

Underwood 5O meu caso de amor com máquinas de escrever, e os de tantos outros, talvez reflitam um sentimento ludita típico de pessoas que se recusam a acompanhar o caminhar dos tempos. Se for, pelo menos não é novidade: Ercilio Tranjan, um dos maiores redatores publicitários que o país já viu, sempre escreveu à mão — e então passou direto para o computador.

Ainda estou em busca de uma Underwood portátil, máquina que nunca vi pessoalmente mas que me parece o ápice do estilo. Não que vá usá-la algum dia. A essa altura da vida, meu corpo e minha mente se acomodaram à praticidade do computador. Mas para quem, como eu, acha a máquina de escrever um dos maiores símbolos do século XX, ela é o mais belo objeto de decoração imaginável. Um dia eu compro uma.

E, nessa viagem ao passado, encontrei um site destinado a colecionadores de máquinas de escrever. Se eu fosse capaz de colecionar algo mais que espantos diante da vida, provavelmente me tornaria um deles.

Divagando sobre um cavalo

Se há um gênero cinematográfico de que eu realmente gosto é o western.

Não sei exatamente por quê. Provavelmente porque era um dos gêneros que a TV mais exibia nas Sessões da Tarde dos anos 70, ou porque sempre gostei de cavalos. Não faço idéia. Mas a verdade é que, diante de um western feito na década de 50, quase sempre esqueço qualquer parâmetro de julgamento para simplesmente aproveitar o filme, seus clichês, seus roteiros muitas vezes simplísticos. Clayton Moore e Silver eram meus ídolos quando eu era criança.

Gosto especialmente daqueles da década de 50 porque são feitos quase como em uma linha de montagem. Raramente têm algum elemento brilhante; os filmes de que gosto eram feitos para garantir que crianças e adolescentes continuassem a ir às matinês.

Os anos 50 foram a década em que o western se estabeleceu definitivamente como o mainstream do cinema. Foram também a última década em que o gênero significou alguma coisa. Nos anos 60, apesar de alguns cantos de cisne como “Sete Homens e um Destino”, o western hollywoodiano morreria.

Foi com o western que os Estados Unidos criaram uma história idealizada para si. A Europa tinha um longo passado de cavaleiros medievais, uma história lírica e glamourizada pelo tempo; os Estados Unidos eram um país recente demais para ter algo parecido. Com os westerns, os EUA criaram sua própria lenda de um passado cavalheiresco. Transformaram homens e mulheres grosseiros, muitas vezes analfabetos e sempre de caráter duvidoso — quando não criminosos puros e simples — em heróis nacionais. Gente como Wild Bill Hickcok, Belle Starr, Calamity Jane, Billy the Kid, Wyatt Earp (que terminou seus dias como consultor técnico em Hollywood) — todos esses eram pessoas comuns canonizadas pelo cinema. Alguns, como John Wesley Harding, eram marginais do tipo que você ouve falar de vez em quando pelos jornais, e que espera que sumam logo de circulação — de qualquer jeito.

(No Brasil reclamam que glorificamos nossos bandidos. Mas o western americano é basicamente isso. A lenda inglesa de Robin Hood também. Essa fascinação por marginais não é invenção nossa.)

Talvez por isso o western tenha sido um gênero esquemático desde o início. A primeira fase, no cinema mudo, traz o arquétipo de Tom Mix. A segunda, que começou com o advento dos talkies, foi a era dos singin’ cowboys — e o maior deles foi Roy Rogers. “No Tempo das Diligências” pode ser apontado como o filme que rompeu essa tradição, criando um novo esquema e um novo arquétipo, religiosamente seguido por seus sucessores. Uma nova ruptura só surgiria mais de 20 anos depois, com o aparecimento do western spaghetti.

O western spaghetti era basicamente uma releitura do western pós-“Nos Tempos das Diligências”. Realçava aspectos como a ambivalência ética e moral dos mocinhos, e reforçava elementos estéticos como a aridez e a sujeira do Oeste, intrinsecamente refletidas no caráter e na aparência de seus habitantes (talvez isso seja reflexo do fato de a maioria desses westerns terem sidos filmados em Almería, na Espanha). A leitura que os italianos fazem do Oeste é mais liquefeita, e pode-se perceber nela os ecos de seu tempo, com um viés de esquerda presente em quase todos os filmes. É bom não esquecer que a Itália não precisava de mocinhos imaculados, provavelmente porque tivera seus próprios cavaleiros andantes, de verdade, e porque os anos 60 eram tempos de conflito social e inquietação intelectual.

Há outro aspecto que me fascina nos westerns, esse também relacionado à história: é a maneira como algo que para mim é tão distante na verdade está tão próximo. Wyatt Earp morreu no ano em que minha avó nasceu. A última filha de Pat Garrett morreu em 1983. No final dos anos 40 um sujeito chamado Brushy Bill alegou ser o verdadeiro Billy the Kid, e que não tinha sido morto por Pat Garrett (o verbete sobre Billy the Kid na Wikipedia traz uma série de links com o debate sobre a veracidade ou não dessa alegação).

Aquele passado, portanto, não é tão remoto.

Comédia Vocabular

Palavras são como pessoas. Algumas têm origem nobre e acabam na lama; outras, vindas do nada, conquistam sua ascensão lentamente, pela persistência e pela determinação.

Como acontece às pessoas, é tão fácil esquecer suas origens. É fácil, por exemplo, esquecer que esculhambação, palavra se não nobre com livre trânsito no Country, é aquilo que sai dos colhões. Das alcovas, de contratos escusos feitos em casas de má fama, a palavra conseguiu limpar sua origem e adentrou os salões graças ao seu talento pessoal, à sua sonoridade, ao seu aplomb.

Enquanto isso sua irmã, coitada, desenxabida e sem tantas graças, continua desprezada. A porra continua aí, pelos cantos. Mas se não tem brilho tem vontade férrea, velha maquiavélica e calculista que veste minissaia e continua a beijar a boca dos meninos ansiosos por se tornarem homens. A porra sabe que seu dia chegará, e então poderá beijar livremente, e mesmo recusar pretendentes com coquetismo e brejeirice de menina.

É com essa porra que a porrada tenta negar qualquer parentesco, explicando sempre que sua origem está em uma velha clava com ponta redonda e reforço de ferro; e assim a porrada tenta mistificar a todos, tenta se dar uma origem nobre que não tem porque sua família vem do mesmo degredado que engendrou a porra, o alho-porro. Mulata de gingado macio e navalha escondida nas dobras do vestido, a porrada bem que preferia poder dizer que de alguma forma é gêmea da esculhambação, com quem sente ter muitas afinidades, mas sabe que suas mães são diferentes.

Algumas palavras levam a vida imutável do interior, debruçadas na janela, vendo a vida passar com a tranqüilidade de quem se sabe permanente. Xibiu (ou xibio, na versão que começa a ser dicionarizada) é provavelmente uma palavra índia, dos tempos heróicos dos bandeirantes, e ainda hoje dá nome às mesmas duas coisas: um diamante pequeno e “a vulva”, como sempre dizem os dicionários; vulva, para quem não sabe, é o pseudônimo da boceta. Tão belo substantivo, amado ainda nas ladeiras da cidade da Bahia, ciosa de suas origens e de sua cultura — substantivo que no fundo continua a significar a mesma coisa, porque um e outra têm o mesmo valor para alguns.

Sorte diversa teve o viado perdido em lembranças de tempos de respeitabilidade, em que era apenas um tecido de lã riscado. Ainda hoje tenta salvar o que acha ser a tradição honrada de sua história dos amantes que conquistaram o direito de ousar dizer seu nome. O viado pertence a outros tempos, tempos de uma elegância e hipocrisia que a vida moderna destruiu, e ainda não percebeu que eles só continuam a existir em sua memória.

Ou aquele caralho — caralhete, se pequeno, tímido e envergonhado diante do xibiu glorioso lavando roupa nas águas escuras da Lagoa do Abaeté — nascido como estaca, palavra de bem, que se majestade não tinha podia ostentar a honra do trabalho duro, e que agora se esconde em cuecas sob as calças, reticente em se mostrar como velha senhora de beleza esvaecida, escondida em seu quarto escuro para que ninguém veja a ruína corrugada em que o tempo a transformou.

A vida das palavras traz histórias tristes como a da puta e sua trajetória de decadência e humilhação. Em terras d’El Rei era apenas uma menina de venerável família romana, mas ao transpor o Equador em busca de vida nova seguiu caminhos tortuosos de degradação. Hoje a puta está lá, nas praças, nos bordéis, seu rosto antes infantil agora maculado pela maquiagem excessiva; ela já não se lembra de tempos diferentes e doces em que era inocente e pueril.

Palavras são como pessoas, e dicionaristas são meros recenseadores de estreitos horizontes; para contar a sua história é preciso um Balzac que invente todo um mundo em que se conte a saga de cada uma delas e sua convivência umas com as outras. Palavras, como pessoas, só existem dentro de sua sociedade, com suas grandezas e suas mesquinharias. Um dia alguém ainda vai escrever a Comédia Humana das palavras, a história de sua ascensão e de sua queda.

Como faço o que faço e talvez inclusive o porquê

Durante muito tempo eu passava por blogs com uma expressão de desdém. Não me interessavam diários de adolescentes, porque já fui um e posso afirmar que não eram tempos tão maravilhosos assim.

Acabei escrevendo um porque percebi que podia escrever o que quisesse. Não precisava ser um diário. Podia ser qualquer coisa.

Desde o início, assumi um compromisso comigo mesmo: escreveria todo dia, não importava que não tivesse nada a dizer (como se pode ver, é o que mais acontece aqui). A princípio, a idéia era tirar da cabeça uma série de mini-temas que apenas ocupavam espaço; uma forma de desentulhar a imaginação e abrir espaço para coisas novas. Outros motivos eram escrever a palava “eu” quantas vezes quisesse, algo que raramente posso fazer, e simplesmente exercitar o texto, por exemplo escrevendo parágrafos mais longos do que costumo escrever.

Essa era a única razão, na verdade. Do contrário, não havia sentido em perder tanto tempo fazendo de graça o que normalmente cobro para fazer.

O blog nasceu, portanto, como algo extremamente pessoal. Um lugar onde eu poderia escrever “caralho”, se quisesse, onde poderia ser politicamente incorreto, onde poderia dar as opiniões mais esdrúxulas possíveis — em suma, um espaço onde eu pudesse escrever o que quisesse, como quisesse, sem me preocupar se determinada palavra estava correta e se o estilo era adequado.

As coisas não saíram exatamente como eu previa, claro. Como tudo na vida, blogs têm uma dialética própria. Alguns assuntos se recusaram a morrer sem lutar, outros surgiram do nada, quando em condições normais jamais sonhariam com isso. Acabei aceitando algo que no início via como defeito: este blog não conseguia ter uma unidade temática. Na verdade tinha, e por isso mudei o nome dele: de “Pensamentos Mal Passados” para “Rafael Galvão”.

No fim das contas, acho que acabei escrevendo uma versão torta de um diário.

Cultura Inútil

Vivendo e aprendendo.

Para mim, um milhão é 1.000.000. Um bilhão é 1.000.000.000. Um trilhão é 1.000.000.000.

Obviamente são números que interessam muito pouco. Nunca vi isso em dinheiro, por exemplo, e para que se tenha uma idéia, nem mesmo em problemas eu tenho isso. Sou um sujeito modesto.

Mas se você ouvir um inglês falar em um bilhão, tome cuidado. Ele não está se referindo a 1.000.000.000, e sim a 1,000000,000000.

A diferença é simples: a unidade inglesa é composta de seis zeros, enquando a brasileira (e a americana também) é composta de três.

Dá no mesmo. Mas que é curioso, é. E absolutamente inútil.

Mas mais engraçado ainda é o jeito francês de contar:

1,000,000 – million
1,000,000,000 – milliard
1,000,000,000,000 – billion
1,000,000,000,000,000 – billiard
1,000,000,000,000,000,000 – trillion
1,000,000,000,000,000,000,000 – trilliard

Obviamente, eu não entendi lhufas. Mas como é cultura inútil, não é isso que vai me fazer perder o sono. Não, eu vou dormir agora, às 4 da manhã.

John Buscema

Faz muito tempo que não acompanho de perto o mundo dos quadrinhos. Mas sempre que dou uma olhada nas revistas vejo um novo gênio do desenho sendo proclamado.

Pelo hype, parece que são desenhistas revolucionários e maiores que tudo o que veio antes.

É quando lembro do John Buscema.

Acho que, ao lado de Jack Kirby, é o maior desenhista de super-heróis de todos os tempos. Seu traço é clássico, seu respeito à anatomia é irreparável, ele é absolutamente brilhante. Seu Surfista Prateado é uma obra-prima dos quadrinhos.

Se Jack Kirby revolucionou o movimento, Buscema revolucionou a forma. Uma história desenhada por Buscema em seus grandes anos, no final da década de 60, é sempre garantia de qualidade extrema.

Mas hoje em dia ninguém parece se lembrar dele. E falam de Jim Lee, de fulano, de beltrano — gente que pertence a uma época em que deixaram que mangás e animes pervertessem e degradassem toda a estética dos quadrinhos de super-heróis.

Recomendo a todos esses que babam pelos quadrinhos atuais que dêm uma olhada nas histórias do Surfista Prateado escritas por Stan Lee e desenhadas por John Buscema.

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Acho que a prova definitiva para um grande desenhista é a marca que ele deixa nos personagens que desenha.

Por exemplo, o Homem-Aranha. Foi desenhado pelo Steve Ditko como um magricelo porque era essa a concepção original do personagem, um adolescente desajeitado e comum.

Quando John Romita assumiu o Aranha fez algumas mudanças importantes. Deixou o rapaz mais forte, mais adequado à estética musculosa da época. Era o único aspecto ruim de um grande desenhista.

O Aranha do Romita durou mais de 25 anos, e atravessou sabe Deus como aquela fase tétrica que se seguiu à morte de Gwen Stacy, desenhada pelo Ross Andru.

Foi Todd McFarlane (fim dos 80 ou início dos 90, não lembro) quem implementou as primeiras mudanças desde a década de 60: aumentou os olhos da máscara do Aranha e mudou a consistência de sua teia. Mais importante, devolveu o perfil esbelto ao Aranha, mudando também sua postura corporal e tornando-a mais parecida com a de uma aranha.

E no entanto, hoje em dia todo mundo detona o McFarlane.

A vida é engraçada.

Crônica dos tempos que passam

É estranho perceber que os filmes que definiram a minha geração — todos eles bobos como “O Clube dos Cinco”, “De Volta para o Futuro” e “Curtindo a Vida Adoidado” — estão completando ou prestes a completar 20 anos.

São duas décadas. Quando comecei a assistir os filmes de Jerry Lewis, no final da década de 1970, era mais ou menos essa a idade de alguns deles.

Na época, eles me pareciam muito distantes no tempo. Pertenciam a uma era que não conheci, e que dizia pouco a mim em termos emocionais.

É só imaginar uma criança de seus 8 anos assistindo a um desses filmes hoje e perceber que Ferris Bueller e Marty McFly estão para eles como Jerry Lewis e John Wayne estavam para mim.

Mas ainda mais assustador é saber que a forma como ela me vê é exatamente a mesma como eu via os adultos do meu tempo. Eu pensei que, quando crescesse, seria melhor do que isso. Bem melhor. Mas Machado sempre soube mais.

(…) Uma bagatela de vinte anos que lá vão, levando talvez consigo as ilusões do leitor, e deixando-lhe em troca (usurários!) uma triste, crua e desconsolada experiência.