Um dia de verão

Janeiro de 1994.

Andando pela rua, debaixo de um sol lancinante. Uma mulher pára na minha frente.

— Você é bonito.

Olho espantado para a mulher, agradeço sem jeito.

— Você é bonito.

É louca, louca. Agradeço mais uma vez e saio andando.

Mas ela vem andando ao meu lado.

— Você até parece aquele cantor, Leandro e Leonardo (não, não pareço). Alto, cabelo bom. Sabe, eu tenho uma irmã de treze anos que é quase do seu tamanho. Mas ela quer me bater quando eu tô em casa.

— Ah, não. Não deixe. Ela tem que respeitar os mais velhos.

E, conversando um monólogo só dela, a moça foi andando comigo por dois quarteirões.

14 thoughts on “Um dia de verão

  1. Uai… Será que você parece aquele cantor, o Leandro e Leonardo? O Leandro não sei, pois a esta altura do campeonato, tadinho… Mas o Leonardo, não sei. Vou reparar. Bom, já vi uma louca fazendo xixi na rua e, depois, costurando uma roupa para mim real, com agulha também real para minha percepção. Mas a linha era imaginária. Outra, que não me achou bonita, tentou me acertar uma pedrada. Sorte minha ela ter má pontaria. Mas o louco com quem me identifico mesmo é um comandante das Aerolinhas Tabajara que, com o crachá sempre pregado à roupa e tatuagem no braço, sempre dá uma passadinha no aeroporto, que fica pertíssimo da minha casa e que serve de referência para minhas comprinhas de jornais e de outras miudezas, para ver os bichões. Se é coisa de mineiro ou especificidade de louco não sei, mas eu vou muito com a cara dele e com a cara dos bichões.

  2. Há várias pessoas loucas pelas ruas. Elas estão em todas as partes.
    Uma vez estava voltando do colégio, quando de repente um cara segura no meu braço e fala: “por que vc não me cumprimentou?”. Olhei para ele assustado e disse: “uai, porque eu não te conheço!”. Aí o maluco me soltou e falou: “ah, isso é verdade. Da próxima vez fala um oi”.
    É cada coisa que acontece.

  3. Troquemos as posições. Digamos que estivesse sendo a “Rafaela” assediada por novo admirador. Este, por não saber o que dizer, começa a falar todas as abobrinhas imagináveis e possíveis, entremeados por elogios à beleza da rapariga, numa desesperada tentativa de chamar sua atenção. Pergunto eu: que homem nunca se viu fazendo isso? E que bela mulher nunca sofreu com tais obsessores? Pois é, será que todos os homens são loucos, na praxis flertiva, então? hehehehe :c) Rsrsrsrs

  4. Na pracinha da Escola de Arquitetura, onde eu estudava, um louco vivia aparecendo. Ou era louca? Estranho… não sei. Mas ficava lá, imitando estátua. Era incrível! A figura ficava lá horas e horas na mesma posição. Não se mexia não! Parece que não sentia coceira, não se cansava daquilo…
    E, por falar nisso, quando é que sai aquele blog Balada do Louco?

  5. Uma vez, em Copacabana, um cara andou uns três quarteirões comigo, contando a história da vida dele. Tinha jeito de playboizinho e acabara de sair da cadeia por tráfico de drogas, estava chateado porque a namorada não esperou ele sair da cadeia e arrumou outro, e estava levando o pitbull dele (que estava amordaçado, olhando pra minha cara) pra soltar em cima dos mendigos ali no Túnel Novo. Me convidou pra ir junto. Eu declinei.

  6. Na minha rua tem um louco que anda benzendo todos os postes e árvores pelo caminho. Fica parado na frente do poste, resmungando alguma coisa e benzendo.

  7. Rafael, lembro de uma tira do Henfil em que um personagem faz uma confissão íntima (sempre gostei de mulher com calo no pé…)a imagem vai aumentando a abertura e inúmeros outros personagens vão fazendo suas confissões, o guarda na esquina, a mulher na janela, o preso no presídio. No último quadro, imagem da cidade, e inúmeros balões com confissões íntimas (Henfil era f). Quando você fala em louco é sempre a mesma coisa, todo mundo tem uma história prá contar. Você tem que dar vazão a esta ânsia cara! Quando sai o Balada do Louco? A história do Bia deixa que eu conto. 🙂

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