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A grande maioria dos investimentos do Estado no cinema é feita através da renúncia fiscal, como lembrou o Roger (que ainda deve um post para o Balada do Louco). Financiamentos diretos são uma fração relativamente pequena diante das verbas aplicadas por empresas, privadas ou estatais.

Embora eu não discorde fundamentalmente do Roger quando ele diz que a participação do Estado deveria ser menos ativa, acho também que esse processo é longo e gradual. Não temos exatamente um exemplo de burguesia (desculpem o termo velho, mas eu comecei a ouvir falar dessa coisa de classes antes das “elites” colloridas) comprometida com a identidade nacional. Ela não tem o costume de olhar a longo prazo nem de se comprometer com o deeenvolvimento brasileiro.

Dentro desse panorama, é claro que as leis do audio-visual não são perfeitas e devem ser melhoradas. Por exemplo, é um tanto incômodo que a Globo obtenha recursos federais, quando sua operação em TV é absurdamente rentável e poderia financiar seu filmes: esse é o seu negócio. Mas, por enquanto, e mesmo com as falhas, é o melhor modelo que se tem. O cinema brasileiro da década de 90 em diante saiu em desvantagem, depois de anos sendo sistematicamente destruído por uma elitezinha incompetente e acostumada às tetas seletivamente fartas da Embrafilme — este sim, um exemplo de financiamento estatal centralizador e nocivo. Esperar que em menos de duas décadas, dentro de um mercado onde a participação americana está solidificada e conta com vantagens imensas, o cinema nacional adquira condições de caminhar sozinho é se ater a uma ilusão.

Por exemplo, quem em sã consciência vai investir em cinema com os juros que se cobra no país? Não é um bom negócio, mesmo que, olhando para os números do mercado cinematográfico, se veja que se se tem condições de produção, ele enfrenta a produção americana em pé de igualdade, chegando mesmo a bater a produção de outros países. E bate por uma razão: porque é brasileiro, só isso, porque em nenhum outro filme você vai ver alguém bebendo café em copo de geléia de mocotó.

E a TV é diferente do cinema, sim, Reginaldo. TV tem custos de produção muito mais baixos, chega de graça ao consumidor, e conta de saída com a necessidade do mercado de anunciar seus produtos. É por isso que em todos os países do mundo as emissoras de TV não precisam de incentivos estatais. (TV por assinatura, como bem a sabe a Globopar, é um pouco diferente. Mas mesmo ela ainda parte do modelo básico: veiculação de anúncios.)

Curiosamente, o único exemplo de TV com forte presença estatal de que lembro agora é a BBC inglesa. Uma parte de sua receita vem do imposto de TV cobrado pelo governo britânico. Não por acaso, historicamente — em que pesem deslizes como o caso David Kelly; mas seria cinismo condenar o modelo da BBC por isso, quando podemos citar o comportamento da Globo no Brasil, e das redes americanas — a BBC tem se notabilizado por uma programação de alto nível, justamente por poder se manter relativamente independente ds necessidades de faturamento e de acionistas ansiosos pelo retorno de seu investimento. As pessoas que se deliciam com o Monty Python deviam lembrar que eles só foram possíveis graças a essa olítica estatal. Do contrário, os ingleses porvavelmente estariam assistindo a exames de DNA e “vamos quebrar tudo” no Little Rat Show.

E cultura é parte do processo educativo. Um cinema forte e plural pode ser um elemento fundamental na formação de um povo mais educado. Alguém consegue negar o papel do cinema na formação da identidade americana, para o bem ou para o mal?

***

Foi apenas há 10 anos, quando assisti a “A Grande Cidade”, filme de 1966 com Cacá Diegues, que consegui racionalizar definitivamente uma coisa fundamental: nenhum outro meio de expressão cultural consegue manter viva a memória visual do país.

Em “A Grande Cidade”, um bom filme do Cinema Novo — o que quer dizer que é cheio de defeitos, mas se consegue perceber um bom conceito por trás dele — aparecia um Rio de Janeiro que já não existe mais. Podia-se ver a Barra da Tijuca ainda deserta, sem o complexo de Miami que hoje lhe consome. Um Santa Tereza que o tráfico quase destruiu.

Já tinha intuído isso antes. “Todas as Mulheres do Mundo” (para mim, por razões bem particulares, um dos melhores filmes brasileiros de todos os tempos), eternizou em celulóide e no rosto doce de Leila Diniz uma imagem do Rio que os freqüentadores da praia do Leme, enquanto se abaixam com medo de tiroteios no morro que fica ao lado, insistem em lembrar: “A chapa tá quente, mas o Rio é lindo.” Mas isso é assunto para outro post.

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O macrocéfalo postou aqui um comentário muito bonitinho, chamando a todos que não concordam com as bobagens do Mainardi de patéticos.

Típico desse pessoal que fala das coisas sem saber do que está falando, lá vai ele falando em usurpação pelo Furtado. Eu só acho que o pessoal deveria ler o tal edital antes de sair fazendo suas invectivas.

Já que custa tanto dar uma procurada, aqui estão algumas palavrinhas a respeito desse fato:

EDITAL DE CONCURSO Nº 7, DE 7 DE JULHO DE 2004.
O Ministério da Cultura – MinC, por meio da Secretaria do Audiovisual SAv, torna público o Concurso Público de Apoio ao DESENVOLVIMENTO DE ROTEIROS CINEMATOGRÁFICOS, INÉDITOS, DE LONGA METRAGEM, DO GÊNERO FICÇÃO, instituído pela Portaria nº 155, de 30 de junho de 2004, publicada no Diário Oficial da União de 5 de julho de 2004, destinado às pessoas físicas, na categoria de roteirista, nas condições e exigências estabelecidas neste Edital e seus anexos I, II, II e IV, subsidiando-se pela Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993.

1. DO OBJETO
1.1 Apoiar o desenvolvimento de roteiros cinematográficos inéditos de longa metragem, do gênero ficção, a serem selecionados na forma deste Edital, visando:
a) Incentivar a formação de novos profissionais de roteiro, bem como possibilitar o aprimoramento de técnicas e métodos para o seu desenvolvimento profissional; e
b) Atender as demandas de produção cinematográfica nacional.

Quem quiser pode baixar aqui o edital completo.

No fim das contas, o principal argumento do pessoal peca na base, porque a conversa de que o concurso se destinava exclusivamente ao desenvolvimento de novos talentos é uma torção dos fatos. Já li muitos editais de governos de vários Estados para entender que dentro de seus termos o incentivo é desejável, sim, mas dentro do que chamam de macro-conjuntura. Os itens A e B são complementares, o que quer dizer que entre um bom roteiro de alguém com experiência e um mau roteiro de um noviço o primeiro seria aprovado.

Para todos os que defendem o libérrimo mercado, esse critério não deveria sequer ser discutido.

Parece que aquele pessoal defensor de teorias fisiognomônicas está errado. Mas, mesmo que eu não tenha visto onde foi que o Marcus deu essa “superioridade moral” ao Furtado, gostei do apelido que o macrocéfalo lhe deu.

Com vocês, Marquito Persona, defensor dos cineastas oprimidos.

Segunda Leitura

Muito prazer, meu nome é Gilvaneide.

Como toda mulher de malandro, eu acabo voltando para quem me enche de porrada. Foi por isso que comprei a Primeira Leitura deste mês, depois de uma última experiência constrangedora.

A revista sempre foi muito próxima ao PSDB, e isso não é, necessariamente, um problema. Mas em sua penúltima edição essa proximidade ultrapassou o limite do bom jornalismo, e o resultado foi algo próximo demais de um boletim da campanha da Serra. A revista chegou ao ponto de torcer resultados para fazer crer que o PT tinha sido derrotado nas eleições e o PSDB era o grande vencedor. Até mesmo fez uma comparação de almas governadas pelo PT e pelo PSDB para mostrar que o PT só cresceu nos grotões — mesmo sabendo que foi o inverso, que o que dá a maioria de contribuintes sob governo tucano é o fato de o PSDB ter conquistado São Paulo; fora isso, o PT cresceu em cidades maiores. (Essa análise, brilhante, foi feita em um dos blogs que leio diariamente. Infelizmente, não consegui lembrar qual.)

Com tudo isso, eu tinha me desiludido da revista, que acompanhava desde os tempos em que se chamava República e tinha uma layout agradável de The Economist.

Mas eu me chamo Gilvaneide.

O novo número, no entanto, resgata a revista do abismo em que tinha caído. Agora pode-se creditar aqueles arroubos ao calor da eleição.

A revista traz uma bela matéria de capa, que deveria ser lida por todos aqueles que ainda fazem algum tipo de defesa do governo Bush. Um sujeito que assistiu quieto ao dólar cair 36% em relação ao euro em seu mandato — um movimento prejudicial para todos os países do mundo — enquanto mandava seus meninos para comer areia na Mesopotâmia não pode ser qualificado de bom em absolutamente nenhuma área. Que Bush é uma tragédia para o mundo, todo mundo já sabia. Mas é, principalmente, uma tragédia econômica para o seu país.

(Informação curiosa: o déficit americano é de 2 trilhões de dólares. 400 bilhões são de investimentos militares.)

A revista no entanto tem lá seus defeitos. Por exemplo, uma matéria fala dos “anárquicos blogs” e sua importância crescente nos Estados Unidos para ilustrar a decadência dos telejornais das grandes redes americanas. Se por um viés estritamente jornalístico faz muito sentido, já que a maioria do mundo não sabe que chongas é um blog e a matéria, assinada pelo Caio Blinder pode representar uma novidade, por outro mostra as razões pelas quais nossos confrades americanos estão minando a mídia tradicional: quem lê blogs já vem percebendo isso há muito tempo. A matéria é um claro exemplo de como comer mosca arrotando caviar. Mesmo quando notam o fenômeno, eles não percebem direito o que está acontecendo. Estão se afogando enquanto escrevem a crônica do dilúvio. Mas isso é tema para outro post.

A matéria tem equívocos sérios. Por exemplo, diz que “um marco histórico [da decadência das grandes redes tradicionais] foi na cobertura da última eleição americana. Na noite de 2 de novembro, a Fox teve mais audiência que a NBC”. Tomar isso como marco histórico de qualquer coisa é de uma temeridade absurda. É muito provável que a Fox tenha batido seus recordes por uma questão circunstancial: é uma rede de TV direitista, por acaso em uma eleição extremamente polarizada.

A revista traz ainda uma matéria sobre o nascimento do anti-semitismo moderno. A tese, presente em Les Origenes de l’Anti-sémitisme Moderne, de um sujeito chamado Arthur Herzberg, vice-presidente do Congresso Judaico Americano, “autor do célebre The Jews in America”, cronista do New York Times e professor da New York University, reza que o Iluminismo é o principal responsável pelo anti-semitismo moderno, muito mais que as necessidades teológicas cristãs. Segundo a revista, Herzberg “procura conferir credibilidade a uma certa intuição sionista de que o anti-semitismo moderno correspondia a um fenômeno contemporâneo e laico, e não ao ressurgimento de um ódio cristão e medieval”.

Herzberg é um idiota. Quanto ao “ressurgimento”, Daniel Goldhagen já mostrou, nas poucas páginas da introdução de “Os Carrascos Voluntários de Hitler”, que o anti-semistimo nunca sumiu, apenas experimentou ondas de crescimento e retração, culminando no nazismo. Mas o erro principal é desconsiderar a evolução histórica da Europa. A Revolução Francesa foi a primeira a conferir igualdade jurídica ao judeus, e as convulsões revolucionárias burguesas do século XIX levaram essas conquistas para outros países da Europa.

Isso era de se esperar. Normalmente, esse pessoal cheio de credenciais de classe envereda pela fantasia sectária. Esperar deles uma análise realmente inteligente é mais ou menos como esperar do João Pedro Stédile uma análise racional do problema fundiário brasileiro. Muito mais interessante é outro livro sobre o mesmo assunto lançado na França, Le France et les Juifs — de 1789 à Nous Jours, de Michel Winock. Sem tantas credenciais, mas com algo que Herzberg não tem: juízo e inteligência.

A Primeira Leitura voltou a ser, pelo menos neste número, o que era antes. Uma bela revista, inteligente, crítica, e necessária.

Meu nome é Gilvaneide, mas estou pensando seriamente em mudá-lo para Rafael Galvão.

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O Leandro tem razão em parte. Grande parte dos livros de Jorge Amado é repetitiva em seu tema, e mesmo em seus personagens.

O problema é que não sei se isso o faz menor. Não conheço um só escritor com obras muito extensa que escape dessa sina. É por essa razão que boa parte dos livros de Balzac é repetitiva, também. O que importa é que, em seus melhores momentos, Jorge Amado alcançou um nível de brilhantismo e verdade que poucos brasileiros, a meu ver, alcançaram.

Mas, ao mesmo tempo em que não se pode negar essa característica, é bom lembrar que há duas fases bem diferentes dele. A primeira, extremamente política, evoluiu até o esgotamento do realismo socialista, na minha opinião um crime soviético mais grave que os expurgos de Stálin. Foi durante essa fase que Jorge Amado adquiriu fama mundial, porque na época a moda na imprensa brasileira era ser marxista, como hoje é ser neo-liberal. Só isso já diminui bastante essa repetição, embora em todas elas a Bahia seja o grande tema.

A fase “folclórica”, que se seguiu ao rompimento com o PCB, foi apontada por essa mesma crítica “cripto-comunista” como o início da decadência de Jorge. Mesmo nos anos 80 — quando ele declarou que “O Sumiço da Santa” tinha atropelado “Bóris, o Vermelho”, livro que nunca escreveria — ainda aparecia alguém para acusar sua virada de casaca.

O Marcus (era dessa edição que eu falava) e o Idelber falaram dessa fase. Para mim é a melhor, em termos literários. Já falei sobre ela e sobre o problema de “Seara Vermelha” em um outro post, mas não custa lembrar que é justamente aí que ele aprimora sua maior qualidade, a imortalização em letra de forma de um espírito baiano que está acabando.

Assim como cariocas tendem a achar que Rubem Fonseca é o maior escritor brasileiro do século XX, mesmo que desde o fim dos anos 80 ele não publique nada que preste, sulistas me dão a impressão de não gostar de Jorge justamente por essa característica baiana, como falou a Dani.

E o Bia não gosta de Jorge Amado porque é um paulista miserável. Ele precisa ir para a Bahia, arranjar uma neguinha da Saúde, do peitinho empinadinho e da bundinha redonda, descer com ela pela Ladeira do Alvo e seguir a Baixa dos Sapateiros até a Barroquinha, subir até a Castro Alves e olhar o pôr do sol atrás de Itaparica, com um olho nas putas da Ladeira da Montanha, e então ele vai entender a poesia baiana de Jorge Amado.

Combatendo o spam de comentários

Parece que o Google finalmente encontrou um jeito de desencorajar o comment spam que ele, inadvertidamente, ajudou a criar.

A partir de agora, o Google não vai mais seguir links que contenham a seguinte tag: rel=”nofollow”. Mais simples, impossível.

Todos os principais criadores de programas de blogs — Six Apart, WordPress, LiveJournal e, claro, Blogger — se comprometeram a adotar o padrão. A MSN e o Yahoo também estão apoiando a iniciativa. Com isso, os spammers perdem sua razão de ser. A nova orientação do Google não deve acabar com o spam, mas deve reduzir, e muito, os ataques dessa praga.

A longo prazo, Deus sabe o alívio que isso vai representar para quem tem um blog e se vê às voltas com esse problema. Reginaldo, assim que sair, baixe e instale o MT 3.15.

Jorge Amado da Bahia

Só tenho um livro de Jorge Amado: “Bahia de Todos os Santos”. É provavelmente o único autor de quem já li quase tudo, sem que tenha comprado seus livros. Comecei a ler em 1982, “Capitães de Areia”. Ainda faltam alguns.

É curioso que eu não tenha comprado os livros de Jorge Amado. Uma tia tem uma daquelas coleções que a Record lançou ao longo do tempo (de cabeça consigo lembrar de pelo menos 4 séries diferentes, todas em capa dura, uma das quais belíssima e pouco encontrada em sebos).

Para mim, mesmo sabendo que praticamente toda a crítica discorda, ele foi um dos maiores escritores brasileiros do século XX. Acho que nenhum escritor brasileiro conseguiu descrever tão bem o seu povo, nem transportar tão perfeitamente para a língua escrita o falar cadenciado que ouvia nas ruas. Mais que isso, “Seara Vermelha”, se você esquecer aquela última parte em que o pobre Jorge se obriga a fazer sua incursão no realismo socialista e louva a Revolução de 35, é o testamento definitivo do Nordeste. É claro que é um julgamento muito, muito pessoal; mas se tentar ser realmente objetivo corro o risco de ficar em Machado de Assis — um escritor do século XIX que por acaso publicou alguma coisa nos 1900.

Gostando tanto assim de um autor, o mais óbvio seria comprar seus livros. Mas há uma boa explicação.

Em primeiro lugar, essas coleções em capa dura terminam em algum momento dos anos 70, começo dos 80 — pelo menos as que vi até hoje. Não chegam a “Tocaia Grande”, de 1984, seu último bom romance. Recentemente eles começaram a fixar o texto definitivo: em tempos de editoração eletrônica não há mais espaço para erros tipográficos, para Balzacs reescrevendo livros inteiros enquanto corrigem as provas, ou para Joyces gastando seus últimos fiapos de olho para corrigir os erros de “Ulysses”. (Pensando bem, não há mais tipografias.) No entanto, o projeto gráfico desses livros é fraco, além da apresentação em brochura com uma sobrecapa vagabunda.

Tenho a esperança de que, mais cedo ou mais tarde, alguém tenha piedade de Jorge, o Amado, e relance seus livros com tipologia decente, paginação sem frescuras e uma boa capa dura, como fizeram entre os anos 60 e 80. Abrangendo tudo, de “O País do Carnaval” a “A Descoberta da América Pelos Turcos”.

Eu espero. Eu tenho tempo. Enquanto isso, uma sugestão: “Seara Vermelha” deve ser encurtado. Façam um favor à memória de Jorge de Oxóssi, cortem a parte em que ele conta o destino do último irmão, o comunista revolucionário. Terminem com o belíssimo combate entre beatos e cangaceiros. E então ninguém mais terá coragem de dizer que “Terras do Sem Fim” é o melhor livro de Jorge Amado.

Para gourmands

À esquerda, a pizzaria Mamma Mia, anunciando uma pizza grande por R$ 17,90. No centro, a Funerária A Eternidade. À direita, Central de Velório A Eternidade.

Diálogo que eu gostaria de ouvir na pizzaria:

— Vocês têm pizza de presunto?

— O senhor está com sorte. Acabou de chegar um agorinha mesmo.