Atavismo

Certo antepassado meu estudou na Europa às custas do primo, que era ligado ao Império. Seu pai era senador, mas não pagou um tostão. O convite foi feito pelo primo, o dinheiro também veio dele.

Isso me deixa com uma dúvida terrível.

Não sei se ele se mandou para as Oropa às custas do contribuinte que não conseguia sequer chegar ao Dom Pedro II ou se às custas dos cortiços que o primo explorava.

Mas pelo menos agora entendo por que defendo tanto o Estado.

Para refrescar a memória

Só para lembrar: há quatro meses eu pedi para abrirem a contagem de rinhas estouradas pela Polícia Federal, essa impoluta defensora da justiça que agiu sem absolutamente nenhum motivo político ao estourar aquela rinha no Rio e fez do Duda Mendonça, o Goebbels que nos faz votar em candidatos em quem não queremos votar, algo pior que um assassino torturador pedófilo estuprador de velhinhas.

Por toda a fé que levo na idoneidade da PF, eu tinha certeza de que ali se iniciava uma nova era na defesa dos direitos dos animais. Sabia que, uma a uma, as centenas de rinhas existentes no país iriam cair, vitimadas pela ação implacável da justiça brasileira. Dava como favas contadas os milhares de galistas algemados. Contava com a volta dos galos às suas galinhas saudosas.

A contagem está em quanto, mesmo?

Nunca é demais lembrar: justiça aplicada seletivamente é a pior forma de injustiça.

Aniversário

Pois é.

Ontem acordei e, depois de ver os comentários no meu blog, passei no do Alex, onde vi os parabéns aos meus 35 anos. Pensei que ele tinha se enganado, até que a Carol apareceu no MSN e explicou o que estava acontecendo.

Resumindo: todo mundo, no fim das contas, participou de uma brincadeira organizada pelo Bia. Esse senhor com quem não falo há 3 anos adiantou meu aniversário em um dia e aumentou um ano à minha idade.

Para os registros: eu nasci num sábado de carnaval, 20 de fevereiro de 1971. É hoje que eu cumpro um dos meus dois objetivos cronológicos, viver mais que Jesus Cristo.

Só depois é que eu fui ver a extensão da coisa. O belo, belo post do Bia. O elogio do Idelber que saí mostrando por aí. O post do Mauro. O lirismo do Allan. Os parabéns da Dani. O egoísmo adorável da Lucia. A musiquinha da Mônica. Os parabéns do Guto. Os bons fluidos do Reginaldo. Sem falar nos comentários aqui, no blog.

Agora eu bem que queria ter nascido no dia 19 de fevereiro.

Nunca fui muito bom em agradecer presentes, principalmente aqueles de que gosto muito. Fico sem jeito, a timidez ataca (é, eu sou puritano e tímido, por menos que acreditem). As palavras nunca representam exatamente o que eu quero dizer.

E agora, as palavras que consigo dizer são: pessoal, muito, muito obrigado.

O futuro dos jornais

Quando a TV começou a se afirmar como uma concorrente séria ao cinema, Hollywood tomou, entre outras, uma medida simples: mudou o formato padrão dos filmes, de 4×3 para os atuais, mais compridos e que poderiam proporcionar uma experiência mais “panorâmica”, mais espetacular.

Para muita gente isso é uma prova de que a indústria cinematográfica é burra, etc. Eu não acho. Não acredito que ela tivesse alternativa na época, como a indústria fonográfica não tem hoje. O caso da mudança de formato foi uma necessidade quando não haviam alternativas tecnológicas, e nem de longe se assemelha à burrice dessa mesma indústria ao não perceber o potencial do vídeo-cassete.

Algo parecido pode estar acontecendo com jornais impressos, hoje. Uma ruptura se aproxima e eles não têm ferramentas para assimilá-las. Gente boa evoca casos de rupturas semelhantes para apostar em uma convivência pacífica entre eles e a internet.

Mas eu não tenho certeza de que dá para comparar a internet com o rádio e a TV. Essas eram mídias muito diferentes daquelas a que se juntavam, e essencialmente complementares. O rádio trouxe o som; a TV trouxe a imagem em movimento. A internet traz tudo isso no mesmo pacote, e é isso o que a faz diferente.

Certo, a TV não destruiu os jornais nem o rádio. Mas absorveu muitas das funções deste (radionovelas são só um exemplo) e o forçou a mudar de formato, tirando boa parte da sua importância; acabou também com edições vespertinas e noturnas dos jornais — e comparem o número de matutinos em 1950 com nossos dias. Além disso, enterrou os cinejornais. A idéia de que ela convive pacificamente com outras mídias não é totalmente falsa, mas tampouco é verdadeira.

Há algo na internet — e principalmente no RSS, na minha opinião muito mais revolucionário que blogs — que me parece muito semelhante aos jornais, o que em parte inibe esse aspecto complementar. Se você quiser, é uma mídia escrita. Se você quiser, tem a mesma estrutura que os jornais. Mais importante: em um momento em que quase ninguém lê um jornal inteiro — basicamente as manchetes principais e os assuntos que mais lhe interessam — a internet oferece uma segmentação muito mais adequada que os jornais, que precisam ser tudo para todos.

É perfeitamente possível imaginar um cenário em que as pessoas recebam as hard news via RSS, na hora em que elas acontecem, e recorram a revistas semanais para uma análise mais profunda da notícia. Ou mesmo mensais.

E aí está o problema. O jornal, por mais que se esforce, não é um veículo para grandes análises. Ele fica velho em 24 horas. A internet diminui ainda mais esse período de vida. Se as revistas ocupam um espaço que a informação via internet ainda não supre a contento, embora os blogs tenham condições de desempenhar esse papel em relaticamente pouco tempo, os jornais impressos se tornam cada vez mais atrasados. E isso me parece irreversível.

Se eu fosse apostar, eu não colocaria minhas fichas na sobrevivência dos jornais impressos por mais 30 anos.

Aniversário II

Alegrai-vos, Ansel Adams, Robert Altman, Sidney Poitier, Cindy Crawford e Kurt Cobain.

Vocês dividem a glória de ter nascido no mesmo dia que Rafael Galvão.

Se a Cindy soubesse que tem tanto em comum comigo…

(O Cobain sabia. Deu no que deu.)

***

karina diz:
ce sabe a frase do nosso signo: Eu creio
karina diz:
e aquário é: Eu sei
karina diz:
e vc é uma mistura de aquário e peixes
Rafael diz:
Entao a minha frase é “eu creio que sei”.
Rafael diz:
Ou seja, tá explicado por que eu sou tao metido

Relatório

Cheguei agora de um programa de TV local, onde participei de uma espécie de mesa redonda — aliás, é esse o formato do programa — sobre blogs, internet e mídia. (Na verdade, cheguei agora do bar que se seguiu ao programa.)

Esse programas têm uma dialética curiosa. Acabei defendendo um ponto sobre o qual, para falar a verdade, nunca tinha pensado a fundo: internet, blogs e RSS podem representar o fim — ou pelo menos a redundância — dos jornais diários impressos.

O pior é que faz sentido. Mídias mais ágeis já acabaram com suas predecessoras, como o cinejornal e os jornais vespertinos. E a impressão que eu passei a ter é a de que os jornais ficarão meio perdidos entre a maior profundidade das revistas semanais e a maior rapidez da internet.

É.

Pode ser.

Errata

Algumas correções à infinidade de erros que este blog tem cometido.

Numa das alegrias do Google escrevi que o Paulo Francis era judeu. Mentira minha. O sujeito era católico de pai e mãe. Alguém que não se identificou fez a correção nos comentários, e em suas memórias Francis conta a história de sua família.

Agora eu só queria entender o que foi aquele quadro do Manhattan Connection.

O outro erro, apontado pelo Marmota, é sobre o jingle do Affonso Camargo em 1989. Na verdade, o jingle que eu lembrava como sendo do homem que fez a comparação entre buraco na estrada e cárie era do Afif (“Dois patinhos na lagoa, vote Afif 22”), pioneiro na ênfase no número em vez do nome.

Of many a poor boy

Estava ouvindo The House of Rising Sun e pensando em como algumas coisas sempre soaram diferentes para mim.

Eu sei que a canção é sobre uma casa de ópio na terra do Idelber. Mas, para mim, sempre foi sobre um puteiro.

Um monte de japonesinhas com formação de gueixa e gestos lânguidos, seus quimonos entreabertos, me tragando para o vórtice da devassidão absoluta, em um turbilhão decadente quase baudelaireano. Rafinha ali, deitadão, servindo-se e sendo servido. Recitando sorridente a velha litania, O Satan, prends pitié de ma longue misère!

Porque essa era a única causa de ruína que eu admitiria possível para mim. Eu poderia me acabar naquela vida, ah, poderia. Já a casa de ópio iria à falência se dependesse de mim.

E as pessoas não acreditam quando digo que, no fundo, eu sou um puritano. God, I know I’m one.

O desiluminado

All work and no play makes Rafael a dull blogger. All work and no play makes Rafael a dull blogger. All work and no play makes Rafael a dull blogger. All work and no play makes Rafael a dull blogger. All work and no play makes Rafael a dull blogger. All work and no play makes Rafael a dull blogger. All work and no play makes Rafael a dull blogger. All work and no play makes Rafael a dull blogger. All work and no play makes Rafael a dull blogger. All work and no play makes Rafael a dull blogger. All work and no play makes Rafael a dull blogger. All work and no play makes Rafael a dull blogger. All work and no play makes Rafael a dull blogger. All work and no play makes Rafael a dull blogger. All work and no play makes Rafael a dull blogger. All work and no play makes Rafael a dull blogger.