The Who

Reza a lenda que quando o Who foi gravar My Generation Roger Daltrey, ainda sem saber direito a letra da música, gaguejou involutariamente em “Why don’t you all f-f-f-fade away“. Isso fez a música.

E estragou, também. Toda a música é gaguejada. Enche o saco. Não sabiam que, como dizia o Bauhaus, menos é mais.

Falo isso porque voltei a ouvir bastante o Who depois de muito tempo.

Eu torço o nariz para Keith Moon. Acho exagerado. Nisso estou na excelente companhia de Pete Townshend, que depois reclamaria que nunca pôde escrever uma grande balada para o Who porque Moon só sabia descer a porrada. Quando o usam como ponto de comparação para descer a lenha em Ringo Starr, eu sempre lembro que os ex-beatles, mesmo quando emaranhados em uma rede de processos e contra-processos, xingando-se publicamente uns aos outros, sempre foram unânimes em dizer que Ringo era o melhor baterista do mundo; e sempre que monto minha superbanda pop imaginária coloco Ringo na bateria.

(A saber: Robert Plant no vocal, John Lennon na guitarra base, Eric Clapton na guitarra solo, McCartney no baixo, Elton John calado nos teclados, Ringo Starr na bateria, Jimmy Page e Brian Wilson produzindo canções individualmente e George Martin supervisionando tudo; e antes que reclamem da falta de Hendrix, e mesmo de Bonzo Bonham, lembrem que eu estou montando uma banda, não uma constelação. A coisa tem que funcionar, e funcionar bem).

Roger Daltrey é um vocalista no nível de George Harrison. No baixo nível. Para mim, o Who é uma belíssima combinação de três grandes talentos e um vocalista bonitinho que balançava o microfone de uma forma meio gay mas muito eficiente.

Mas o Who tinha dois gênios.

Não conheço grandes solos de Pete Townshend. Alguém conhece? Mas o sujeito tem uma importância que, com um pouco de boa vontade, quase chega perto da de Chuck Berry e Jimi Hendrix na definição do papel da guitarra no rock.

E John Entwistle. Não é segredo que considero McCartney o maior baixista pop do mundo. Mas quase aceito quando colocam Entwistle nesse posto. Se alguém quer saber como o Who conseguia aquele som tendo um só guitarrista, basta prestar atenção ao baixo.

E no entanto, mesmo sendo brilhante, mesmo sendo uma das bandas mais influentes da história, o Who soa limitado, com características definidas que não mudam de disco para disco. Foi isso que sempre me fez desconsiderar muito de sua contribuição para a música.

Mas eu vivo em uma época em que bandas que fazem a mesma coisa, disco após disco, são aclamadas como a salvação do rock a cada semana. Minha opinião tem mudado assustadoramente.

20 thoughts on “The Who

  1. Bom…eu acho o Robert Plant um mala, o Pete Townshend um pedófilo em potencial e o McCartney um chato (fora que dizem que ele está morto!!).
    Assim proponho uma formação alternativa que mesclasse o Cream, o Yes e Velvet Underground.
    Será que sai alguma coisa daí?

  2. Poderia discutir quanto ao vocal do Roger Daltrey, que eu considero um dos melhores do rock. Ele não é nada perfeito (especialmente nos primeiros dois discos do Who, em que ele chega a ser até irritante), mas passa o recado muito melhor que alguns vocalistas de hoje. Exemplo em questão: ‘Love Reign O’er Me’, do disco ‘Quadrophenia’ – com qualquer outro cantor, penso, ia ficar uma droga melosa até demais.

    Isso dito, concordo cem por cento com sua opinião sobre Ringo Starr e Pete Townshend…e invejo sua banda imaginária!

  3. Bauhaus nao falava, era uma escola e naquele tempo as escolas ainda nao falavam. Se discute se foi Mies van der Rohe ou Buckminster Fuller ou Bruno Munari o autor da frase. Hoje se fala em menos é melhor ou menos e melhor ou entao mais ou menos. Quanto à musica, é feita pra entender, emocionar, relaxar e curtir, nao pra fazer campeonato. Como dizia um velho bebado que vivia em frente de casa: cada um é cada um.

  4. Mas eu vivo em uma época em que bandas que fazem a mesma coisa, disco após disco, são aclamadas como a salvação do rock a cada semana. Minha opinião tem mudado assustadoramente.

    Rafael, isto se chama “estado coroado” também conhecido como “tá ficando gagá”. O tempo passa amigo, e um dos sinais é o velho “no meu tempo é que era bom”.

    Eu botaria Roberto de Carvalho na guitarra.

    E, claro, tudo no mundo pode e deve ser discutido. A não ser que você seja uma avenca.

  5. Engraçado que também estou revisitando os discos de The Who nos últimos dias. E meus tímpanos estão agradecendo.

    John Entwistle era uma espécie de “olho do furacão”. Enquanto os outros integrantes abusavam em suas performances corporais, ele permanecia estático, centrado, e aparentemente “segurando” a banda. É meu preferido.

    Concordo que Roger Daltrey nos primeiros anos (aliás, aquele estinho MOD deles, com aquelas roupinhas engomadinhas hoje soa muito engraçado), deixava a desejar, mas creio que a partir do “A Quick One”, onde já se percebe o embrião do Tomy, todos evoluiram bastante, cabendo destaque a todos.

    Mas o que eu gosto mesmo é o disco “Live at Leeds”, ali da para perceber o The Who em alto estilo. É considerado um dos maiores discos ao vivo do gênero. Para um grande fã, como eu, sempre vêm bem a calhar apreciá-lo.

    Uma curiosidade, se interessar: na música “A Quick One”, a primeira ópera-rock de Pete, que contêm seis músicas distintas que resumem a saga da garota que sofre por um cara que partiu, e escolhe o maquinista Ivor como um substituto, num momento, todos integrantes cantam “cello, cello, cello, cello” repetidamente. O fato é que eles queriam que entrassem violoncelos naquele momento da música, mas não tinham dinheiro para isso.

    Naquele filme “Circus, Rollins Stones”, o The Who se apresenta com “A Quick One”, e performance deles é excelente. Dizem as más líguas (provavelmente os fãs do Who), que esse filme ficou engavetado porque os Stones tinham medo de serem apagados pela essa fantástica apresentação.
    Mas claro, são picuinhas do Rock and Roll…

    Rafael, pode-se ver alguns “mini-solos” do Pete naquele DVD que contém vários clipes da banda.
    Mas você tem razão, é algo bastante incomum.

    Ah…e só lembrando que Pete Townshend foi absolvido das acusações de pedofilia. Era pura paranoia da polícia Londrina.

  6. Rafael,
    seguinte é este. Irremediavelmente antiquado, guio-me, desde sempre, pela profecia do pastor Cláudio Abramo. “Quem escreve cartas para jornal ou é doido é quer tomar o lugar do jornalista”.
    Mutatis mutandis, creio que o mesmo serve para a caixa de comentários de blogs.

    Se saio de meu obsequioso silêncio, é porque o motivo é grave. Venho alertá-lo de que a chegada do alemão ao trono de Pedro, lhe trará muito mais dissabores do que pensas em sua vã filosofia de publicitário sergipo-baiano.

    Mais outro seguinte.

    Há pouco menos de cinco anos, Ratzinger (não me acostumei ainda a chamá-lo de Bento) lançou Introdução ao Espírito da liturgia. Na obra, ele afirma que “O rock quer liberar o homem por meio de um fenômeno de massa, marcado pelo ritmo, o barulho e pelos efeitos de luz”. E diz mais. Segundo o ex-prefeito da Congregação da Doutrina da Fé, o rock é “uma expressão básica das paixões que, em grandes platéias, pode assumir características de culto ou até de adoração, contrários ao cristianismo”.

    O homem, como você sabe é incutido. E minha mãe já avisava que incutido é pior do que maluco.
    Se eu fosse você, baixava agora mesmo o volume da sua vitrola.

  7. Minha banda imaginária favorita? Aí vai:

    John Bonham na bateria;
    John Paul Jones no baixo;
    (está aí a mais perfeita cozinha da história da música)
    George Harrison e Eric Clapton nas guitarras;
    Jon Lord no teclado;
    Freddie Mercury na voz;
    Glenn Hughes(backing vocals, baixista reserva);
    Paul McCartney e John Lennon compondo e
    Jimmy Page produzindo.

  8. É, eu implico um pouco com o Who, porque ele soa limitado, tu bem dissestes. Não que sejam menos por causa disso. Mas o valor foi o efeito reverso, que levou Toni Iommi e Geezer Butler a montarem o Black Sabbath para “fazer o rock que o Who nunca teve culhão pra fazer”. E depois deles, tudo foi diferente.

    Mas a minha banda perfeita não teria nenhum integrante do Sabbath. Eles já eram a banda perfeita – principalmente quando Dio cantava, se formos observar o quesito técnico. E o Led, numa outra paralela, chegou nesse mesmo ponto. Eu ouço Houses of the Holy e Physical Graffiti e não entendo como é que pode!

  9. queria muito comentar que acho o WHO um pé no saco! Um Cara, aí em cima, quase mandou bem, não fosse o YES (ARGH!). Telemaco ia indo quando botou Freddy no vocal (AAAARGH!). no final, a banda perfeita é mesmo o VU, com as letras e a voz horrível do Lou Reed, um ultramúsico experimental chamado John Cale, uma baterista minimal e animal chamada Moe Tucker e um guitar-hero de 3 notas chamado Sterling Morrison. O resto é PERFUMARIA.
    ;>)

  10. Minha banda, bolada dois minutos atrás:
    Bateria: Stewart Copeland (Police)
    Baixo: Peter Hook (New Order)
    Teclados e synths: Brian Eno (Roxy Music)
    Guitarra base: Billy Gibbons (ZZ Top)
    Guitarra solo: Mark Knopfler (Dire Straits)
    Vocais: Rod Stewart (Faces)
    O produtor seria eu (risos)
    Não sei o que ia sair dessa mistura, mas seria no mínimo divertido!

  11. John Lennon, Paul McCartney and George Harrison have all said that Ringo was the best rock and roll drummer in the world, although when asked in an interview once “Is Ringo Starr the best drummer in the world?” Lennon quipped “He’s not the best drummer in the Beatles!” This was in reference to the White Album song “Back In The USSR”, in which Paul was forced to do the drumming; Ringo had stormed out earlier and didn’t return for two weeks. Paul was also on the drums in “The Ballad of John and Yoko” and “You Know My Name (Look Up the Number)”, since only Lennon and McCartney were available.

    Lá na a href=”http://en.wikipedia.org/wiki/Ringo_Starr”>wikipedia, por exemplo.

  12. Eu vi o The Who em 2002, ao vivo. Na bateria, se não me engano, estava o filho do Ringo Star, que quando pequeno brincou com as baquetas do Keith Moon. Gente, os “veinhos” sobreviventes da banda tocaram com uma garra e jovialidade impressionante (embora o Entwistle tivesse acabado de morrer), aposto que aquele show não deixou nada a dever aos de 30 anos atrás. O Roger Daltrey canta bem o suficiente e, sim, ele é lindo. Enfim, acho uma banda genial, mas tenho me irritado com eles ultimamente porque o Townshend tá se vendendo legal (dando autorização para colocar suas músicas em anúncios de carro, nas aberturas de todos os CSI, etc).

  13. Neil Peart é o maior baterista do mundo. (Rush é a banda mais incrível do mundo)
    Robert Plant é legal, mas Tom Waits e Leonard Cohen são incríveis. Clapton é deus, já diziam. Steve Vai é magnífico.

  14. Rafa:

    Agradecendo a visita lá no Incontinentia, sonho com uma banda assim:

    – os vocais de Robert Plant em Led Zeppelin 1st ( Mick Jager no banco aguardando uma over)

    – o baixo de Paul Simonon do Clash em London Calling

    – a guitarra ferina de Angus Young ACDC em Back in Black

    – a bateria de Nick Mason em The dark side of the moon

    – as composições de Lennon

    – um cheirinho do Coldplay

    – os rebolados do Elvis

  15. Galvão, sua opinião sobre a banda The Who pelo menos para mim é bem vinda, mas quando vc diz que não conhece grandes solos de Pete Townshend, até entendo, pois Pete era um guitarrista “econômico” que ao contrário de Jimmy Page (grande guitarrista, é claro, abusava mais de suas virtudes indiscutíveis como excelente músico.)
    Se você escutar Nacked Eye ao vivo com o The Who, vai poder constatar que a história do rock não está fazendo juz a este grande guitarrista que foi é continua sendo, que é o Pete Townshend. Se vc escutar Eminenc Front verá alí outra pérola produzida pelo Pete.
    Mas o acervo produzido pelo The Who não para aí, bastar ficarmos atento ao que já foi produzido para encontrar grandes obras produzidas pela banda sob os olhos de Pete e do grande baixista John Entwistle.
    Pena que aqui no Brasil, poucos conhecem o trabalho do The Who, seja porque a mídia nos anos 60/70 praticamente ignoraram a banda, seja por que o trabalho deles não tenha tido a atenção que merece por parte de todos nós aficcionados pelo Rock.
    Pena. Espero que um dia a história faça justiça a esta banda que surgiu embrionáriamente no longíquo ano de 1963!

  16. “Elton John calado nos teclados”
    eu nunca ri tanto na minha vida, sério. Rindo MUITO. Muito bom!
    e eis a maior verdade de todas:
    “Eu torço o nariz para Keith Moon. Acho exagerado. Nisso estou na excelente companhia de Pete Townshend, que depois reclamaria que nunca pôde escrever uma grande balada para o Who porque Moon só sabia descer a porrada”

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