Os macaquinhos de Curitiba

Só fui para Curitiba duas vezes em toda a minha vida.

Da primeira vez, há uns 15 anos, participei de um congresso de estudantes.

Fiquei com a impressão indelével de que aquela cidade tinha um povo pernóstico e elitista. Me parecia bonitinha, bem arrumada, talvez arrumadinha em excesso, com uma temperatura agradável no verão (começo de fevereiro, isso). Mas o povo era, como dizíamos, meio “seboso”. Olhava para a gente com cara de quem comeu e não gostou.

Talvez tenha sido só impressão. Talvez se devesse às roupas de militantes estudantis — o que significa calça jeans, sapatos escangalhados e camisetas com golas inevitavelmente esgarçadas e algum dizer significativo, tipo “Liberdade para Kuala Lumpur” — e pelas caras de fome que todos nós ostentávamos com o orgulho ascético dos que lutam pela liberdade.

Mas com todo o seu esnobismo, Curitiba tinha lá seus eventos realmente interessantes.

O que mais me impressionou naquela viagem foram uns macaquinhos vistos no Passeio Público. Na verdade, um macaquinho e uns macacos adultos. Por alguma razão, o macaquinho tinha caído nas preferências orais de uns macacos mais velhos, que o perseguiam por toda a jaula.

Eu já conhecia a fama de onanistas dos macacos. Mas não sabia desses rompantes de homossexualismo, nem da sua preferência por menininhos. E enquanto os outros congressistas discutiam a salvação do país e os novos rumos do movimento popular na ressaca da eleição de Collor, eu ficava encostado à grade, embasbacado, acompanhando o balé dos macaquinhos gays.

De vez em quando o macaquinho, que gostava muito de ser tão requisitado, cansava daquela brincadeira e fugia dos seus amantes. E as bocas dos macacos, vazias e sequiosas, o seguiam pela jaula, saudosos da virilidade símia juvenil.

Em algum lugar, ali perto, as pessoas discutiam coisas sérias.

Da segunda vez, 8 anos depois, fui gravar um comercial. E então fui extremamente bem tratado, porque as pessoas costumam tratar bem aquelas de quem vão tirar algum dinheiro. Mas não pude ver os macaquinhos gulosos, e a viagem teve um pouco menos de graça para mim.

Curitiba tinha perdido aquilo que a fazia humana.

Originalmente publicado em 14 de setembro de 2004

10 thoughts on “Os macaquinhos de Curitiba

  1. Me diz onde é esse lugar dos macaquinhos porque fiquei curioso e estou indo pra Curitiba algum dia desses! hahahahaha

    Mas e esse final, hein? Ai…

    100+ 8)

  2. Não foi impressão não, os curitibanos são arrogantes mesmo. Mas depois de morar vários anos praticamente dentro do Passeio Público e de passar um bom tempo observando macacos, acho que se eles ainda fizessem farra eu teria visto. Ê repressão.

    Pena. Se conseguisse filmar, imagine por quanto eu venderia na neet vídeos de bestialismo gay…

  3. Os macacos do passeio público não são apenas macacos.

    E sobre o povo Curitibano, segundo o cobrador de ônibus do tubo do botânico, são arrogantezinhos e fechados.

    Mas não liga, 53% da população de Curitiba não é nascida lá.

  4. Não precisa nem acitar o comentário. É só rpa te mostrar o videozinho mesmo, lembrei do teu post sobre o Serge Gainsbourg na hora.

    100+ 8)

  5. Mesmo tendo lido pouco do seu blog, já adianto que este será, desde já, meu post preferido.

    Morei em Ctba dez anos, estudei lá, fiz facul. E fiquei mais tempo que o pretendido. Assim que tive a chance, pulei fora (há dois anos moro no MT, seis meses na maravilhosa Cuiabá). Tudo que vc disse aí tá certo. Lá os viznhos de anos não te dão oi, nem se diz bom dia em elevador. Povo mais estranho.

    Sabe aquela piada do que faz o corno de cada região, quando encontra a mulher com outro na cama?

    O goiano mata a mulher, pega o amante e monta uma dupla sertaneja.

    O carioca entra na farra.

    O paulista pede um espacinho, e deita espremido num canto da cama, ele tem que ler uns papéis do serviço, e nada nem ninguém irá atrapalhar.

    O nordestino dá um tiro nos dois.

    O gaúcho mata a mulher e se declara pro amante.

    E o Curitibano? Ah, o curitibano não faz nada… pois ele NUNCA fala com estranhos!

    Att.

    Cris

  6. Nossa… Comentários sem fundamento. Os curitibanos não são assim (arrogantes, fechados). Se fosse assim, quando fui para São Paulo me pediam esmola a cada esquina, então quer dizer que a cidade toda é miserável? Acho que nãop é bem assim que funciona…

  7. engraçado, aqui em curitiba sempre que desço na rodoferroviaria me pedem emola no caminho ate o tubo, na sete de setembro tambem, alias sao as unicas pessoas que falam comigo, nem os amigos da minha namorada que é daqui me tratam bem, fazem questao de serem antipaticos, acho que ficaram assim porque o macaquinho deles fugiu e não voltou.

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