Os companheiros de Rock Hunter

O André Setaro, crítico baiano de cinema, comentou no seu blog uma lista feito pelo Paulo Perdigão (morto na virada do ano) dos 20 melhores filmes, na sua opinião.

A lista é de 40 anos atrás, e o que impressiona é que, se feita hoje, não haveria muitas modificações, como lembra o Setaro. Não há muito o que inventar nessa área.

Por mais que pessoas generosas como o Bia vejam grandes filmes saindo de vez em quando, a verdade é que as obras primas feitas na era de ouro do cinema (que segundo Bogdnavich e Hitchcock foi de 1912 a 1962) resistem impressionantemente ao passar do tempo. Não apenas em gêneros esgotados como o western, mas em virtualmente todos os outros. Eles estabeleceram o padrão; o resto é derivação.

O que quer dizer que, com os 30% ou 35% de diferenças compulsórias, idiossincráticas, a lista é bem semelhante a de todo mundo que goste um pouco de cinema. Shane, por exemplo, costuma estar em todas as listas. The Searchers também. Eu, por exemplo, discordaria apenas da ausência de um cineasta fundamental, Billy Wilder. E apontaria na lista uma certa influência da atmosfera daqueles tempos específicos, os anos 60.

Mas Perdigão incluiu entre os 20 um filme de que pouca gente lembra, até porque pouca gente viu: Will Success Spoil Rock Hunter?

Esse filme também estava na minha lista. Não conheço outras em que ele esteja. Essa coincidência me lembra que, fosse o meu talento maior, eu seria uma criatura semelhante ao Perdigão, autor do que talvez seja o melhor livro dedicado a Shane. É uma boa sensação. Eu também me pergunto se o sucesso vai estragar Rock Hunter.

O filme de Frank Tashlin (diretor terrivelmente subestimado e mais conhecido pelo seu trabalho com Jerry Lewis, de quem burilou o talento e a quem fez muita falta nos anos 60) é uma sátira extremamente sarcástica à mídia, ou melhor, às relações da sociedade com a mídia. É brilhante; talvez um pouco datado, mas ainda assim brilhante. Absolutamente nada sai ileso do filme, que em vários aspectos é até reacionário ao atacar a cultura de comunicação de massa que se solidificava definitivamente nos anos 50, com a televisão, o rádio e a publicidade.

Pouca gente viu o filme porque ele quase não era exibido. Apareceu uma vez na Globo, tarde da noite, quando a Globo ainda passava filmes decentes. Depois, só durante uma época no Telecine. E então o filme voltou aos arquivos, de onde relutam em tirá-lo.

Saber que o Perdigão também admirava um filme que tão pouca gente viu é um consolo.

12 thoughts on “Os companheiros de Rock Hunter

  1. se eu soubesse que vc queria um CONSOLO…
    :>)
    os melhores, ah, os melhores. os melhores para quem? quer dizer; uma coisa é você perguntar “quais os melhores filmes de todos os tempos na sua opinião” outra é “quais os mais importantes, segundo sua avaliação”. não tem na lista o cidadão kane. na minha lista, dos “meus preferidos”, entraria “o fantasma do paraíso” do de palma. na de “os mais importantes”, entraria o potemkin. na dos melhores, o kane.

    é muito difícil.
    :>)

  2. sim ..
    de fato
    como conciliar o querer com o poder
    nem sei do que vc ta falando …
    e mesmo pq sou apenas um apreciador, sem senso critico ou competencia pra faze-lo ..
    oras
    e tbm na litertura …
    como ter acesso a tais obras …
    pra mim aqui, nunca! só seu comprar, e mandar vir …
    talvez …
    mas contudo ainda é subjetivo, mesmo pra quem “pode” dizer
    e olha que nem sei do que to falando …

  3. Até porque, Bia e Rafa, essas listas são machistas pra dedéu! Nunca se vêem listas de melhores filmes elaboradas por mulheres. Eu até gostei de Shane, mas É RUIM dele constar numa lista minha – a menos que fosse uma lista de melhores western. Não me considero nem burra, nem alienada, (ok, só um pouquinho!) mas achei esse Cidadão Kane uma bela duma merda. Tudo bem que assisti aos 15 anos, com um garoto por quem só sentia amizade, e o cara tentou me bolinar no meio do filme. Danem-se, ele e Rosebud. O Encouraçado, outro pé no saco.
    Taí, seria interessante ver o que há de comum nas listas de filmes favoritos de homens e mulheres…

  4. Olhando seu post sobre o gosto das comidas hoje em dia, e agora esse, deduzo que vc está ficando véio…
    Listas de filmes é uma coisa complexa…minha lista com certeza seria espinafrada, pq acho que cinema tem que divertir, então eu colocaria alguns filmes os ditos críticos da sétima arte achariam um blasfêmia. Eu gosto de alguns cássicos, como o Poderoso Chefão, Era uma vez no Oeste…mas minha paixão mesmo são filmes nada clássicos, ou com direção/interpretação/roteiro maravilhosos. Gosto mesmo é de ver o Luke Skywalker usando o sabre de luz (com aquele barulhinho caracteristico…vuxe, vuxe)p/ acabar com o lado negro da força. E o Mel Gibson gritando “Freedom”.E o ET fazendo as bicicletas voarem!
    Ah, vc tá véio mesmo!:):)
    Parabéns pelo blog.

  5. Crissmyass falou de listas elaboradas por mulheres, mas e FILMES elaborados por mulheres? Quem manda bem? (não sei se a questão foge do assunto do post, mas achei interessante)

    Eu particularmente gosto da Jane Campion. Não vi “O Piano”, o mais conhecido dela, mas gostei bastante de “Fogo Sagrado”. Já “In the Cut” eu achei meio fraco, apesar da boa direção de arte.

  6. Henrique, quanto a isso, nem vamos discutir: assim como escritores, cineastas homens são superiores às mulheres, em qualidade e quantidade.
    Feministas de plantão que vão pro cacete, a verdade é que todos aqueles séculos de repressão, que serviriam de justificativa para nossa “inferioridade gráfica”, já poderiam ter sido superados há pelo menos 100 anos, e nem por isso a gente vê as mulheres avançarem tanto em certas artes como avançaram nas ciências e áreas tecnológicas, por exemplo, e por estranho que pareça.
    Só acho esquisito que parece haver poucas mulheres críticas de cinema.
    Acho que elas não dão mesmo pra coisa, salvo exceções. Também, nós já damos o suficiente – só que pra outras coisas.

  7. Tô me metendo.
    A Bárbara Heliodora é mulé. Alguns são capazes de negar, mas ela é uma senhora, grandona, aliás…
    Grandona como um homem.

  8. A Pauline Kael, que escrevia no New York Times, consta em qualquer lista dos críticos de cinema mais influentes de todos os tempos.

  9. 2001 e the godfather. se a lista fosse feita alguns anos depois, esses teriam que entrar de qualquer jeito. eu não concebo uma lista de melhores filmes sem a presença do buñuel.cidadão kane de fora, tb é uma falta considerável. faltam nosferatu, metropolis, kaligari… isso de lista de melhores é realmente complicado, principalmente qd o universo é grande e o tamanho da lista pequeno(20! eu nunca conseguiria fazer uma lista de 20 melhores filmes). a parte esses questionamentos, a lista é mesmo boa e tem vários filmes fundamentais.
    e a tua de cem, volta pro ar esse ano mesmo? com as alterações que tu disse que vai fazer, espero que star wars fique de fora…

  10. Bom, lá vai:
    também acho que tô velho (e só tenho 26). Não vejo bons filmes saindo freqüentemente e obras-primas, então acho que saiu uma na última década.

    Tb acho injustiça qualquer lista que se preze não ter o Wilder. Até pq ele fez filmes maravilhosos e pra mim fez o melhor de todos: Crepúsculo dos Deuses (aliás que puta nome esse brasileiro hein, bem melhor que Sunset Boulevard).

    Concordo que listas são f##_@oda!! Pra compensar faço lista de 20 por gênero. Os 20 melhores westerns, os 20 melhores filmes de guerra (tentei fazer e parei quando chegou em 45), os melhores de suspense e por aí vai.

    A propósito, assisti “Munique” do Spilberg e gostei. Tb gostei do “Boa Noite e Boa Sorte” e gostei muito. Mas, como o Rafa diz, são filmes que são derivações. Fortes, mas derivações.

    Sinceramente, acho a Pauline Kael uma mala sem alças. Mas reconheço sua importância (principalmente em massacrar o Oliver Stone, injustamente a meu ver).

    E quanto ao “O piano” henrique, eu gostei. Vi em vídeo naquelas fitas da CARAS eu acho, mas gostei. Na época não me impressionei muito, apenas gostei.

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