Canto de amor e desamor para Maroca

Eu não sabia quem era a Maroca. Sabia apenas que mora perto de mim, mas não perto demais, e sabia também que sua voz chegava fraca até mim.

Não sabia nada sobre ela, ainda não sei, e quando me apresentei dei nome falso para que ela não soubesse quem era este seu admirador secreto. Preferi amar Maroca assim, oculto e em silêncio, uma espécie de Cyrano frouxo na penumbra diante de sua Roxana: “A causa disso tudo, eu sei como explicá-la: é no meu coração que vos recebo a fala; meu coração é grande, é fácil de encontrar; pequena é a vossa orelha, e custa a procurar; a minha fala sobe… a vossa vem de cima…”

Desde o início me apaixonei pelo seu nome; só a paixão justifica que alguém cite Ronstand. Maroca. Poucos nomes tão brasileiros, tão antigos; talvez apenas Rita, Rita que tem gosto de jaboticaba. Maroca: Maria chamada pelo apelido com carinho pela tia, talvez uma tia que ainda mói café em pilões caseiros. Maroca é nome de passarinho, nome leve como um coleirinha. Maroca chamada assim pelas amigas, todas em blusas brancas abotoadas até quase o pescoço, com golas de renda e olhares que não são oblíquos porque só quem tem olhar oblíquo são as Capitus da vida, pelo menos é assim que me parece.

Maroca é um nome que só lembra coisas boas, como um retrato amarelado de família feliz pendurado na parede do quarto da avó.

Maroca era adorável porque não era egoísta, porque dividia o pouco que tem. E foi assim, por sua generosidade e desprendimento, que a Maroca cativou este pobre blogueiro. Uma generosidade tão grande que até me fez escrever a palavra “cativar”, palavra que só me lembra livros ruins lidos por misses.

Mas a Maroca mudou, como uma moça numa música de Chico Buarque. Ela está diferente, e por isso este post de desabafo. De repente ela deixou de ceder aos meus apelos, deixou de me mostrar os seus tantos encantos, passou a fingir que eu nem existia; e a Maroca sabe, como eu sei, que o desprezo é pior que o ódio, porque o desprezo é a não-existência, é o vazio; e além da Maroca, nada conseguia sobreviver ao vácuo.

Maroca se tornou igual ao Marcos e ao Tonzé, que também moram perto de mim e dos quais eu não tinha nada a falar, além de lamentar seu egoísmo e sua incapacidade de partilhar. É com raiva e desalento que escrevo isso enquanto bebo os últimos goles do meu copo de Jack Daniel’s: para ver se esqueço a Maroca. A Maroca que de repente jogou fora o que tinha de angelical e de bom, que virou uma pessoa pequena como o Marcos e o Tonzé. Maroca me decepcionou, me fez sentir como um marido apaixonado que vê sua mulher lhe dizer, com a frieza daqueles em quem não existe mais amor, que ele não significa mais nada para ela.

De repente eu não tinha mais wi-fi em casa, porque a vagabunda da Maroca resolveu fechar a sua rede.

Ah, Maroca, quer saber? Eu não te amo mais.

Republicado em 02 de agosto de 2010

22 thoughts on “Canto de amor e desamor para Maroca

  1. É hora de chegar junto pra ver se ela abre a guarda, isto é, o wi-fi.

    No entanto não posso deixar de registrar minha decepção ao saber que você bebe aquela coisa de milho, o tal do Jack Daniels. Argh.

  2. isso é o que eu chamo de AMOR PURO.
    :>)
    e qualquer coisa justifica um copo de JACK, vai dizer?
    aliás…
    encontramos outro defeito do HERMÊ.
    ;>)

  3. Boa suspensão do sentido, legal a expectativa criada, muito bom o climinha – é, “climinha”!
    Mas não me enganou: sabia que vinha sacanagem…

    Mas li assim mesmo, dê um soco na Maroca! Ou se declare. Afinal wi-fi é lôco.

  4. po ..
    coisa de milho ..
    o nome é bourbon e é coisa de americano, q faz muita coisa boa , tipo filmes .. e hj até vinhos viu ..
    e é bom sim .. é até docinho
    e o melhor: é um porrete!!
    qto a maroca, ela q vá se catá …

  5. “livros ruins lidos por misses”…hmmm

    Isso me lembra que no ano passado tive que ler o “Le Petit Prince”, no original mesmo.

  6. Americanos tem essa mania de botar milho em tudo.

    Pelo menos no caso do Whisky tiveram a decência de dar outro nome, bourbon.

    Agora o problema é quando chamam aquele mijo de alce, fabricado pela Anheuser-Busch, de cerveja.

  7. Foi bom ter lido sobre o que o apelido Maroca te suscita. Meu pai me chamava assim. E eu odiava. Não gosto de apelidos. Daí pra arreliar ele e meus irmãos inventavam outros. Bem piores, pode crer. Mas as Marocas são assim: instáveis. Desde a do Pafúncio, lembra?

  8. Não é bourbon, é “tennessee”. Eles criaram uma classificação para o JD porque eles usam um filtro de carvão, que não é usado no bourbon.

  9. minha mãe se chama maroca, quer dizer o apelido dela é Maroca, achei o texto legal, por isso me chamou a atenção, por se Maroca………

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