Das misérias de um doppelgänger

Nota em uma coluna social de um jornal de Aracaju, no início da semana:

Rafael Galvão
Estava no show do Chiclete com Banana de olhos nas lolitas de plantão.

À parte a poesia talvez inesperada, isso já aconteceu antes. Tem um outro Rafael Galvão por estas plagas, usuário de colunas sociais.

Eu já sabia disso, há alguns anos. A primeira vez que vi pensei que era sacanagem de alguém, nota plantada como uma pegadinha. Depois vieram mais. Em quase todas elas o sujeito era visto nessas micaretas da vida, bêbado, sempre correndo atrás de menininhas — sem sucesso, pelo tom das notas. Me acostumei ao fato de haver um homônimo por aí.

Agora vejo de novo. Eu não saio em colunas sociais, por não ser notícia, por não ter dinheiro, por não ter poder e, portanto, não ser importante. Mas as poucas pessoas que me conhecem, quando vêem essas notas, pensam que é a mim que se referem. Esquecem as implausibilidades — o fato de eu estar sendo citado, para começar, mas principalmente o fato de estar num show de axé music. As pessoas deviam saber que eu não gosto de shows, não gosto de empurrões, não gosto de pessoas suadas perto de mim, não gosto que pisem no meu pé. As pessoas deviam saber que a minha Bahia é a de Caymmi, não é a de Ivete Sangalo. Mas o que está em letra de forma deve ser verdade, e assim as pessoas acham que eu estaria mesmo em um antro desses.

E então vem a vergonha.

Eu não ligo em saber que existe outra pessoa por aí com o mesmo nome que eu. Mesmo sabendo que forçosamente é mais novo, até porque quando nasci Rafael não era nome da moda, não ainda, e que posso reivindicar uma certa primazia no uso do nome. Não ligo porque embora meu ego seja do tamanho que é, não posso querer que o mundo entenda isso.

Mas é uma vergonha indizível ser abordado por conhecidos que me olham com sorriso escarninho e dizem: “No show do Chiclete, hein?” Admito que passei estas quase 4 décadas fazendo o possível para manchar minha própria reputação, mas há limites que nunca ultrapassei. Esse é um deles.

Talvez coubesse, em um mundo ideal, um processo por danos morais.

8 thoughts on “Das misérias de um doppelgänger

  1. Já o “correndo atrás de lolitas de plantão” bem que vc gostou, né? Ah, esses homens! Todos iguais, rafaéis ou não!

  2. Me fala uma coisa: Sua mulher caiu nessa?
    Se ela caiu….você é um homem de sorte.

  3. “As pessoas deviam saber que eu não gosto de shows, não gosto de empurrões, não gosto de pessoas suadas perto de mim, não gosto que pisem no meu pé. As pessoas deviam saber que a minha Bahia é a de Caymmi, não é a de Ivete Sangalo. Mas o que está em letra de forma deve ser verdade, e assim as pessoas acham que eu estaria mesmo em um antro desses.”

    Rafael,

    O que as pessoas sabem, ou intuem, ou, que diabos, aceitam já que é o que você vive dizendo mesmo, é que você vive de olho nas lolitas de plantão. Principalmente nas partes pudendas delas. Há um claro problema de excesso de plausibilidade aí.

    Pede pra sair. 🙂

  4. Eu também odeio multidão, e por esse motivo, estou no trabalho errado, pois todas as festas populares, lá estou eu uniformizado.
    Abraço

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