A menina e o padre

Talvez o que mais impressione na reação popular à morte da menina Isabella Nardoni e à do padre Adelir de Carli seja a diferença dos critérios do público.

Não se trata apenas da algazarra canalha e baixa criada pela imprensa em torno da morte da menina, e de forma diferente no caso da morte do padre aviador. Se ela explora o mundo cão, só podemos imputar-lhe a hipocrisia do discurso ético, que traveste de “interesse público” o que é pouco mais que briga por audiência e vendas; mas ela faz isso porque é o que queremos ver, de certo modo ela apenas dá o que pedimos.

Há tanta hipocrisia em tudo isso. Estamos chocados como se nunca tivéssemos visto algo parecido.

No entanto, em todo o país assistentes sociais se irritam com a abordagem dada ao caso Nardoni, porque sabem mais do que isso. Para eles é revoltante assistir à explosão de indignação da opinião pública, esse ultraje diante do vislumbre da possibilidade de crueldade e insensatez humanas, algo tão fora de seus padrões éticos altíssimos. Porque assistentes sociais vêm casos como esse todos os dias — há algumas semanas um pai sergipano trancou o filho em um quarto escuro no seu casebre e o espancou até a morte, mas isso não se transformou em suíte de jornal. Assistentes sociais vêem mais, na verdade. Vêem também pais estuprando e violentando filhos, pais torturando filhos, pais utilizando os filhos para pedir esmola. Isso acontece todos os dias. Essa é a matéria-prima de seu trabalho.

Nada disso, no entanto, gera sequer uma parcela da indignação que se vê na reação à morte da menina. Não porque não são noticiados, porque são, essa também é matéria prima dos jornais; mas porque acontece com pobres, gente abaixo dessas pessoas que se horrorizam antes um vislumbre do que o ser humano pode ter de pior, abaixo do seu nível de sofisticação social e familiar.

Porque esse tipo de desgraça é aparentemente raro na classe média. A mesma classe média que, absolutamente infensa à miséria cotidiana, aproveita uma chance rara como o assassinato de uma menina para fingir tão completamente uma indignação digna de Pessoa. E que faz isso, talvez, porque sabe que essa reação é compartilhada pelos seus iguais, e assim se torna uma indignação confortável e segura.

A diferença entre a morte dessa menina e a dos outros está no fato de ela ser jogada da janela? Se está, então somos todos imbecis, porque morte é morte, é esse substantivo que conta, e não os adjetivos. Morreu queimado ou espancado, qual é realmente a diferença? Mas parecemos ter uma facilidade confortável para transformar o fato principal em um mero detalhe, enquanto damos ao acessório destaque prioritário. Talvez porque se reconhecêssemos que o problema aí é tão somente o assassinato da menina, e não o local ou a forma, então teríamos também que nos indignar com o menino morto na favela, a menina estuprada na rua, e tanta indignação nos cansaria e tiraria o foco de nossas próprias vidas.

Horrorizarmo-nos ao ponto da histeria coletiva com a morte da menina enquanto ignoramos as centenas de outros assassinatos de crianças todos os anos é hipocrisia e depõe contra todos nós.

Mas é a diferença entre as reações à morte da menina e a do padre que chama a atenção e que revela, de maneira ainda mais clara, a miséria humana de todos nós. Tenha sido o padre idiota ou não, arrogante ou não, essencialmente foi um ser humano que morreu. Se foi por sua culpa, isso apenas diz que não há outros culpados, ao contrário da menina.

Isso, no entanto, não dá direito a que os mesmos que se ultrajam e enojam com a morte da menina riam do padre otário.

Para nós, não importa o desespero do padre ao se ver diante da morte, ele não vale o mesmo que a dor da menina. As duas mortes nos fazem felizes, por motivos diversos. A menina caindo do sexto andar nos faz sentir vivos e capazes de sentir pena e solidariedade humanas; a morte do padre nos faz felizes porque somos melhores que ele, somos mais espertos e mais inteligentes. Podemos vir a morrer atropelados por um policial bêbado, podemos nos estraçalhar em um avião — mas não, nós não vamos ser estúpidos o bastante para morrer da mesma forma que o padre, e isso nos faz sentir bem. Ninguém pensa em rir da menina porque, afinal, ela teve o azar de estar do lugar errado e na hora errada. Preferimos nos reconfortar com o fato que, por ser uma criança, ela não tinha escolha nem chance, enquanto o padre, o imbecil, procurou a própria morte.

Como se isso tornasse uma morte menos “morte”.

Isabella vira anjo, o padre é indicado ao Darwin Awards. Embora por motivos diferentes, as duas mortes são dignas de pena; no entanto, uma gera comoção nacional e a outra vira a grande piada do país.

E assim a vida continua. O padre vai ser esquecido logo. Em alguns meses ninguém lembrará da menina, porque a dor dos outros tem prazo de validade curto. E vamos esperar outro evento assim, porque então poderemos voltar a mostrar nossa humanidade indignada, caso seja outra menina assassinada, ou rir daqueles que nos parecem burros demais para merecer continuar vivendo.

Republicado em 01 de outubro de 2010

30 thoughts on “A menina e o padre

  1. fiquei bastante confuso com as reações à morte do padre. mais do que gente rindo, era indignação; “padre idiota” foi o mais brando que ouvi falar.

    “mas o que esse pedófilo foi fazer voando com balãozinho de festa infantil? tinha mais é que morrer” etc.

    posso estar bastante errado, mas isso é de uma cretinice sem tamanho. voa de balão de hélio quem quer voar. não precisa chorar pelo padre, nem fazer novena; mas daí a ficar com ódio, me parece que algo se perdeu no caminho.

    as pessoas não sabem mais viver sem seu fait divers de microondas.

  2. Sabe o que acho engraçado? Eu, como bom estudante de publicidade, sinto um pouco de nojo da area de comunicação social, principalmente dos jornalistas (que insistem em chamar-nos de “Publiciótarios”… pobre coitados).

    Fato que quando se vai estudar jornalismo, se tem ciencia do seguinte fato: Quando te passam uma matéria para ser escrita, a única coisa que o jornalista tem de perguntar é: “é para falar bem ou mal na matéria?”

    Infelizmente é assim que funciona. O jornalismo que tem a importancia que tem, é naverdade um mercado para vender jornal e fazem isso com um falso moralismo de “levar a melhor cobertura” ou “jornalismo imparcial”.

    Esse maniqueismo que a mídia trabalha chega a deixar de lado a vítima, que se tornou segundo plano, para que se mostre os monstros e vilões da história.

    Foi assim no Caso do João Helio, foi assim no caso dos 5 jovens que morreram no acidente de carro em ipanema e vai ser sempre assim que algo do tipo atingir a classe media.

    Porém, o mais irritante é a “mea culpa” que eles fazem das coisas.

    Basta lembrar do caso da Escola base, em 1994, a imprensa publicou reportagens mostrando que seis pessoas estariam envolvidas no abuso sexual de alunas da Escola Base, em São Paulo. Os Meios de Comunicação basearam-se em fontes oficiais da polícia, laudos médicos e em depoimentos de pais de alunos. Porém, era tudo um erro. Quando foi descoberto, a escola já havia sido depredada, os donos estavam falidos e eram ameaçados de morte em telefonemas anônimos.

    Talvez seja explicavel a mediocridade da nossa imprensa, considerando que ela passou 20 anos num limbo da ditadura… é explicavel, mas não justificavel…

    fato é que Bom Senso não se ensina na faculdade, infelizmente.

  3. Ótima análise, Rafael. É impressionante como, de tempos em tempos, nós (a mídia, a população em geral…) arrumamos uns bodes expiatórios para saciar nossos “instintos mais primitivos”. Nesse caso específico da menina, o fato dela ser de classe média, saudável, bonitinha, dela ter sido morta de forma estúpida e da madrasta estar envolvida facilitou a identificação e julgamento sumário, na opinião pública(da), dos bodes expiatórios.

  4. O mais ridículo foi ver, no último Fantástico, a reportagem do Ernesto Paglia mostrando a galera aproveitando o fuzuê da reconstituição do crime pra ganhar dinheiro.

    Mostraram um cara que apareceu crucificado e fingia desmaio quando aparecia uma câmera. Outro que veio vestido de anjo e depois de falar para os jornalistas foi embora. Teve um cara de uma gráfica que distribuía catálogos de sua empresa. Um vendedor de algodão doce que aproveitou a aglomeração para faturar alguns trocados. Tudo isso sendo mostrado com uma ironia moralista, taxando aquelas pessoas de aproveitadores da tragédia alheia.

    Agora, nenhum pio sobre o circo que a imprensa está fazendo em torno do caso. O Jornal Nacional deve estar faturando horrores dos anunciantes, com o IBOPE trazido pela curiosidade mórbida que eles desancaram na reportagem.

    Parece que só eles podem ganhar dinheiro com a dor dos outros. Lembrei na hora daquele trecho de “Tiros em Columbine” em que o Moore mostra uma espécie de “behind the scenes” da cobertura do massacre na escola, com repórteres ajeitando os cabelos e se concentrando pra fazer cara-de-pesar.

  5. Para variar, interessante ponto de vista.

    No caso da violência contra crianças, sua conclusão é mais que perfeita. É um fato. Todos os dias morrem cerca de 16 jovens…

    Tá passando um programa sobre isso no Globonews com Alexandre Garcia e a Senadora Patrícia Saboya “Gomes”…

    É bem rápido, mas muito interessante. POr vezes, meio demagogo, mas bem interessante pelos dados trazidos.

    Abs.

    Ed.

  6. Bom, em primeiro lugar, ao contrário da Isabela, o padre ainda não foi declarado morto. É claro, a probabilidade é grande, mas acho que o que causou mais ‘alegria’ foi o fato dele ter subido com auxílio de balões de festa, e não pela probabilidade dele ter morrido em decorrência disso. Por enquanto ele é um padre desaparecido. E o motivo não deixa de ser hilário. Talvez por isso a alegria.
    Mas também acho que a reação das pessoas tem mais a ver com quem ou o que provoca uma morte do que com a vida perdida. Acho que o termo tão comum ‘morte ridícula’, diz muito sobre isso.
    Se ele morresse tentando salvar a menina que ‘caiu’ do sexto andar, hoje ele seria um heroi. Mas mesmo assim, morto. E o que estariam lamentando não seria morte, mas a maneira nobre e heróica com que ele morreu.
    Por outro lado, embora o padre não tenha assinado sua sentença, quando tomou a decisão de ‘voar’, convenhamos, deliberadamente deu um passo importante.

  7. Como sempre, seus posts conseguem fugir do óbvio ululante. Concordo: o padre era um ser humano e toda vida é sagrada. Ou quase todas, mas a dele, definitivamente.

    Eu mesmo fiz um post indicando o padre para o Darwin Awards. Acho que nesses casos, em que rimos disso, é uma risada nervosa, de alívio.

    O problema que vejo com o padre é o mesmo que vejo com paraquedistas e alpinistas: você já pode morrer de diversas maneiras, então para que abusar? Colocar uma mochila nas costas e se pendurar num saco inflado, com a possibilidade real de algo dar muito errado é, de certa forma, um desrespeito com todos nós. Se a vida é sagrada, abusar dela também não é recomendável. O mínimo que se espera é que você tente reduzir os riscos. Subir numa cadeira amarrada a balões sem fazer um planejamento minucioso mostra um desdém e uma arrogância que devem ser desencorajados, seja com um esporro antes ou um Darwin Award depois.

    Já o caso da Isabella é ‘incomentável’… As redes entraram numa disputa para ver quem não perde nenhum detalhe. Isso às vezes resulta em chamadas de plantão com repórteres ao vivo dando notícias velhas. Lastimável. Na ausência de fatos relevantes, eu acabo de ver um repórter da Globo News dizendo que o apartamento dos Nardoni vai ser liberado. O furo: o repórter mostra as chaves do apartamento. Parabéns para ele…

  8. como se pode lamentar a morte de alguem a quem vc chega a diz:
    – cara , não vai .. q é isso .. é perigoso..
    – vou … eu vou .. não tem perigo ..
    bate a mão no peito e vai ao encontro daquilo a que vc o advertiu … direitinho
    difícil
    poraqui passou um que barbarizou até a morte dois pequenos, e depois foi “encontrado” morto na cela da cadeia, quando então o jornal local disse com todas as letras “nínguem lamentará a sua morte”
    chocante mas não menos verdadeiro

  9. O padre FOI bizarro. Ele subiu em balões de hélio (quantas vezes você viu isso?) depois de ser expulso da escola de vôo livre, num dia chuvoso, sem saber operar o GPS direito e sem autorização para realizar o vôo. Ele podia ter causado um acidente mais grave (colisão com uma aeronave ou helicóptero), mas “só” sumiu. Por isso tanta comoção. Já a Isabela… acho que são só novelas ruins mesmo. Foi a bola da vez.

  10. Oi Rafael,

    Gostei muito do seu post, e desta vez eu não ri nem um pouco. Na verdade, ando bem intrigada com as proporções do acontecimento Isabella. Não sei se foi por ironia que vc falou da inviabilidade de nos indignarmos com cada fato de violência cometida contra cada criança, mas acho que é por aí mesmo. É insustentável dispensar tal carga emotiva para todos os casos, mas de quando em quando há um eleito que aparece e reforça nossas certezas morais, éticas, afetivas. Não significa, contudo, que os demais casos de violência não recebam sua parcela de atenção, apenas eles aparecem em outras linguagens, outros meios. Veja-se o caso dos filmes Tropa de Elite, Cidade de Deus, Estamira, etc… Todos eles incitaram discussões e sentimentos diversos nas pessoas. Acontece que há uma diferença de abordagem: infelizmente, os dramas de grande parte da população não são matéria de jornal, são mais consumidos como material estético, condensado e generalizado. E desperta algo mais parecido com o entusiasmo de uma crítica bem-feita, mas nunca vividos como uma experiência nossa, com a qual nos envolvemos de verdade.

  11. Rafael, texto excelente, para variar.

    Sobre isso aqui, dito no comentário acima: “Colocar uma mochila nas costas e se pendurar num saco inflado, com a possibilidade real de algo dar muito errado é, de certa forma, um desrespeito com todos nós”.

    Desrespeito como? Fazer algo que vc gosta e outras pessoas têm medo é desrespeito?
    Parece que a “alegria” pela morte do padre decorre de um entendimento de que a morte dele foi uma punição natural pela ousadia …então essa alegria nada mais é do que um aplauso à covardia.

    Assim: o Padre fazia uma coisa que muita gente tem medo de fazer, então o fato dele ter morrido dá aquela sensação de “ah, não disse? era arriscado, ainda bem que eu não tenho coragem nem de tentar.”

    É exatamente assim que me sinto qdo escuto comentários sobre o fato de praticar rappel e outras cositas.
    Parece que tem um monte de urubus esperando o dia em que vai acontecer algo comigo, para falarem, com ar de complacência: “eu sempre avisei a ela”.
    Fazer o que a gente gosta não é desrespeitar os covardes.
    Losers.

    (Rafael, deixa esse aqui e exclui o primeiro, please. Bjos!)

  12. Rafael, meu caro, estou contigo no caso da garota. Hipocrisia, e uma certa perversão, como a que faz algumas pessoas lerem com sopfreguidão notícias sobre pedifilia. Você está enganado só quando diz que isso não acontece na classe média. Na classe média acontece muito, mas se abafa com mais competência. Mais que sentimento de superioridade, acho que há um medo mórbido também, de que isso possa acontecer nas próprias famílias; e as pessoas correm para exorcizar esse temor, linchando o casal suspeito.

    Quanto ao padre pateta…do ponto de vista estritamente religioso, ele foi ao encotnro doc riador, bnão deixa motivos de choro, a não ser pelo tempo que etrá de passar no purgatório expiando o pecado da soberba.
    A raiva de alguns deve ser instinto, aquele arrepio que percorre a manada quando vê um indivíduo da espécie afastando-se em direção aos lobos. Tem, claro, um viés profundamente conservador aí. No fundo, no fundo, todos nós gostaríamos um dia de amarrar um monte de balões nas costas e sair por aí _ desde que estivesse garantida a aterrisagem em lugar seguro…

  13. Cris,

    É desrespeito sim!!!!
    Quando eu fazia essas coisinhas maneiras (bungee jumping, rappel, parapente, ultraleve e mais umas quatro presepadas), eu tinha a responsabilidade de não colocar a minha vida, e principalmente, a dos outros em risco. Isso não se percebe na atitude do padre pateta.
    “Parece que a “alegria” pela morte do padre decorre de um entendimento de que a morte dele foi uma punição natural pela ousadia” Não, ele não foi ousado… ele foi irresponsável e burro…e a “alegria” ficou em saber que um idiota irresponsável morreu antes de matar algum inocente.
    Quem não tem cabeça, o corpo paga”
    E ele é um perdedor.

  14. Rafael, concordo plenamente com você. Só que não vejo muita incoerência na reação popular aos dois casos, não. Aqueles que fazem questão de, aos berros, murros e pontapés, mostrar sua indignação com a morte da Isabela não estão, de fato, estarrecidos com a violência do caso. Eles estão, na verdade, estarrecidos por terem sido obrigados a contemplar o horror em si mesmos, por terem sido levados a pergutarem-se se seriam capaz de ato tão cruel. E a verdade é que a pergunta fica sem resposta, e muitos tentam convencer-se de que são diferentes fazendo vigília em frente à casa dos acusados, chorando e gritando em rede nacional. É a tentativa de afirmação da diferença.
    Quanto ao caso do padre, a gozação é motivada pelo mesmo processo interno. As pessoas querem afirmar-se diferentes, querem mostrar-se mais sensatas e inteligentes. Ledo engano.

  15. quanto ao caso isabela é até dificil dizer algo
    ao mesmo tempo q me interesso no sentido “putz, mas quem é que foi poxa” me negando até a divulgação dos laudos que houvesse realmente envolvimento do pai da menina, algo que agora admito com as “evidencias demonstradas” por tais laudos, é tbm perplexo todo circo midiático em torno do caso e em como somos mesmo canalhas: no interessamos sim, ao que parece foram mesmo o pai e a madrasta, mas todo esse circo é ridiculo e só serve, sim, para aumentar os ganhos (graças a “deus” né, que ninguem é de ferro :-P), de todo mundo, desde jornais, revistas, etc etc
    ah … olha aí .. somo tudo mundu monstro …..

  16. Tudo é esquecido, como sempre acontece. prendem os nardoni, e isso vai se esquecer e a raiva vai passar… o padre virou a tragedia-comica como em filme…. os valores nao estao mais como um triangulo…

    incrivel seu texto

  17. ô, cottonete, a imprensa se baseou na polícia e em laudos e a imprensa é mediocre?
    :^/
    não confunda o bife ali na mesa com o bife à milanesa!

  18. Cris

    Certo, cada um tem o direito de se estatelar como quiser. Mas deve ter em algum lugar uma linha que separa a ousadia da burrice. Sempre que eu vejo documentários sobre o Scott indo e morrendo no pólo eu admiro a ousadia do cara. Planejou mal, pois estava em terreno totalmente novo, mas planejou. Você pode ser ousado mas usar a cabeça.
    Por tudo que eu li até agora, o padre não teve cuidado. Quando ele fez isso, abriu uma brecha pro escárnio. Não sei se ele morreu feliz fazendo o que gostava. Pelos últimos telefonemas, eu senti que ele trocava a ousadia dele na hora por um terreno firme.
    Você não vai me dizer que rapel não é perigoso. Nem vai me dizer que, se tomar todos os cuidados possíveis, é mais seguro do que atravessar a rua. Bem, talvez seja mais seguro do que o ar livre no Rio, entre mosquitos e balas, mas…

  19. Não lí todos os comentários, mas concordo com a Renata Rocha, a Isabela foi a bola da vez. Faltou no seu post as reações da classe média esclarecida, que também surfa na onda da indignação coletiva. No entanto seu foco é o povo “que esquece rápido” ou o notíciario que exagera na cobertura, lembrando sempre os casos semelhantes que aconteceram na história recente. Querem uma atitude que o povão nunca vai dar e uma cobertura jornalistica que nunca vai existir, com as análises de que “isso acontece aos montes na nossa sociedade” e “a menina do piquiri que foi violentada e a mídia nem cobertura deu”. Isso também faz parte do show.

  20. Laura Lorena e Patético:

    Entendo a opinião de vcs, e respeito.
    Concordo que o Padre foi descuidado em relação às normas mínimas de segurança…mas continuo achando medíocre as pessoas pensarem que a morte dele foi uma espécie de castigo por esse descuido.E, ainda pior, sentirem uma espécie de prazer íntimo por ele ter pago com a vida pelo descuido.
    Há muitas pessoas que são tão ou mais descuidadas (sexo sem camisinha, dirigir alcoolizado, etc) e saem ilesas.
    Como Mr. Rafel tão bem falou, não deixa de ser uma morte.
    E eu acho triste morte de qq pessoa, ainda mais no caso de alguém que estava fazendo algo que parecia ser a paixão da vida dele. Assim, acho a morte dele tão triste qto a da menina.
    E mais,de novo concordo com o Rafael… parece que a opinião pública pauta-se exclusivamente pelo tratamento que a mídia dá. Se as manchetes em torno da morte do padre tivessem um tom diferente, daqui a pouco teria gente dizendo que ele é santo. Como, aliás, creio que acontecerá com a menina, do jeito que as coisas andam.

  21. É um aviso: vou usar esse texto para discussão com os meus alunos- citando a fonte – é claro!
    Processe-me depois..!

  22. “Isso, no entanto, não dá direito a que os mesmos que se ultrajam e enojam com a morte da menina riam do padre otário.”

    Rafael, você já foi melhor. Até quando você foi o único petista que eu conheci que defendeu a honra post-morten de ACM, vc já foi melhor. Querer dizer que a morte de uma menina assassinada e o suicídio de um padre imbecil é a mesma coisa, o mesmo substantivo, é no mínimo patético.

    Eu até acho as reações exageradas de partes em ambos os eventos. Mas, exageradas ou não, são reações a coisas diametralmente diferentes, ainda que análogas. Há muitos tipos de morte, meu caro. Morte e Morte nem sempre são sinônimos.

  23. Marcos,

    Você também já foi melhor.

    Eu não vou discutir a sua opinião, nem tentar te ensinar a diferença entre substantitvo e adjetivo — até porque eu sei que você sabe, você só torce as coisas para que elas caibam no seu argumento. O que eu tinha a dizer já foi dito, e me parece que de maneira bem clara.

    No caso do ACM, você está mentindo ao dizer que defendi a honra do sujeito, até porque não costumo defender o indefensável. Apenas lembrei que você era incoerente ao se arrogar dono da indignação nacional no episódio mencionado no texto (o alívio do Marco Aurélio Garcia ao ver que não iam conseguir empurrar para o governo a culpa pelo acidente da TAM em Congonhas) enquanto se regozijava pela morte de ACM.

    O texto exato é este aqui:

    O MarcosVP chega a falar em “equívoco moral” e cobra respeito à família dos mortos, e termina o post dizendo: “E ACM finalmente morreu. Menos um pulha nesse mundo.” O MarcosVP expressa no post suas certezas ideológicas e seu prazer em ver a morte de alguém. Mas abriu uma brecha para que a família do finado e alguns milhares de baianos que idolatravam o defunto possam dizer dele a mesma coisa: “A frase é um equívoco moral”.

    Pensando bem, eu vejo um padrão aí, justamente na falta de padrão. Não vou discutir isso.

    Mas já que você tocou no assunto, ainda espero que você apresente suas desculpas depois de culpar o governo no episódio do acidente da TAM em Congonhas, com a mesma tática de “ultraje social” que me parece muito comum na Veja. Ainda lembro da sua indignação neste blog, muito semelhante a esta agora. Você foi rápido em acusar, mas não foi honesto em reconhecer que estava errado.

    E por favor, eu já disse várias vezes, mas você não entendeu: eu não sou petista. Nunca fui. Eu sou governista.

  24. Concordo com você em quase tudo. Quando me contaram o caso do padre eu fui o único que fiquei surpreso, não pela imbecilidade, mas pela coragem de fazer algo cuja idéia, eu tenho quase certeza, passou na cabeça de todos quando criança. Não que eu veja grandes méritos em alguém arriscar a vida, mas esta é posta em risco todos os dias por motivos tão menos compreensíveis, como escaladas, dirigir bêbado ou em alta velocidade…

  25. Em primeiro lugar, eu concordo plenamente com suas colocações quanto ao caso de Isabella, quanto ao padre eu tenho que discordar, o padre não morreu… acharam o corpo? Não, então pronto. Eu tenho teorias sobre onde o padre possa ter ido parar, e elas envolvem bruxas, duendes e terras fantasticas.

  26. Sabe… preciso ser honesta. Muitas pessoas me chamam de fria por causa de certas posições que eu tomo com relação a esses “escândalos”. Entretanto, eu gostaria de deixar claro que não é falta de sentimentalismos ou solidariedade para com o próximo, eu apenas acredito que nós não temos condições para emitir uma opinião sobre qualquer um dos dois casos.
    Existem coisas que não explicamos, a intenção das pessoas é uma delas. E é aquela velha história – “de boa intenção o inferno está lotado”. Nós não conhecemos o momento da família, muito menos o estado do padre para emitir um único ruído sobre o assunto. Concordo plenamente com você quando você diz que a mídia só nos libera o horror que adoramos ver cotidianamente. E a cada dia ficamos mais banais com relação à vida.
    Nossos verdadeiros valores residem naquilo que podemos fazer de diferente perante todas essas “atrocidades”. Não nos cabe saber se o casal Nardoni é culpado, muito menos se o padre teve um ataque histérico e achou que voando chegaria mais próximo de Deus. Cada um sabe de si e nós já somos suficientemente bons para nossos fardos e nossas alegrias. Não nos cabe dizer se isso é certo ou errado, nós erramos tanto e não conheço ninguém perfeito.
    É bom e interessante emitir uma opinião sobre o fato, como você fez. Mas denegrir a conduta ou afirmar uma intenção não compensa. Nossa vida já é complexa demais para termos tempo hábil de sermos narradores oniscientes da vida alheia.
    Parabéns pelas palavras, mais uma vez Rafa. E, assim como você, espero que a população que se diz chocada com um crime desses ou os machões que criticaram levianamente a atitude do padre sejam o diferencial para construir uma nova conduta de vida. Uma que talvez faça a mídia ser mais incisiva e menos degradante, que faça nascer novos e verdadeiros valores, para que não tenhamos necessidade de nos horrorizar com um novo crime, muito menos azucrinar a intenção de um fiel.

    BJO

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