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Category Archives: Rafael – ou quase
O que eu queria ser quando crescesse
Eu queria ser tão rico, mas tão rico, que um centavo a mais e eu desequilibraria a economia mundial.
Um ditadorzinho de alguma república
Eu não liberei o comentário abaixo porque não gosto muito de quem não assina seu nome; tudo o que sei é que quem fez esse comentário trabalha no governo do Paraná e usa o dinheiro do povo para deixar comentários bobos no meu blog:
IP Address: 200.189.112.59
Name: Menos Galvão…
Email Address: menos@ig.com.brComment:
Vc têm todos os pré-requisitos para se tornar um ditadorzinho de alguma republica.
Mas, Deus do céu, como fiquei orgulhoso.
Eu vou falar a verdade. Eu adoraria ser um ditador, zinho ou zão, de alguma república, zinha ou zona.
Qualquer república.
Naquelas horas de vigília, quando abri os olhos mas ainda não acordei, quando a mente vaga por um território só dela, quando não sou ainda responsável pelos meus pensamentos, naqueles momentos antes de fumar o primeiro cigarro do dia, eu fico pensando nisso.
É melhor que sonhar que se está voando, melhor que sonhar com a Zeta Jones, melhor até que estar batendo naquele desgraçado que lhe deu um soco na terceira série e a professora lhe impediu de revidar.
Se eu fosse ditadorzinho de uma pequena república eu não usaria uniforme militar, porque sou mais bonito e mais fofo que Fidel Castro. Em vez disso usaria todos aqueles ternos Armani e Zegna que não pude comprar — mas sem gravata, porque não gosto de nada no meu pescoço e a sombra da forca, brandida como ameaça por revoltosos e invejosos que se amontoariam nas ruas batendo panelas e erguendo cartazes dizendo “Menos Galvão, mais comida!”, estaria sempre presente.
Se eu fosse ditador não sei quantos carros teria, porque não me interesso por isso, mas saberia que haveria sempre um motorista à disposição, que me serviria com uma mistura de admiração, inveja e medo por saber que, em caso de qualquer indiscrição, a única coisa democrática na minha ditadura seria o paredão.
Se eu fosse ditador, e tivesse um país aos meus pés, eu casaria com uma vagabunda sem classe mas ambiciosa, desbocada mas com bom remelexo, tirada do puteiro mais baixo, porque sempre gostei de cachorras e não deixaria a fama, a fortuna e o poder mudarem tão bela característica. E apresentaria minha escolhida à sociedade como uma afronta a que me permitiria por ser um ditador e como um exemplo de ascensão social, e me manteria olimpicamente indiferente enquanto os leitores ávidos de revistas de fofocas se deleitassem com os pequenos e grandes escândalos conjugais, com as orgias reais e imaginárias no palácio do governo, encontrando ali justificativa para suas próprias vidas vazias, tão vazias quanto seus bolsos, tão vazias quanto os gritos de “Menos Galvão, mais decência!”.
Seria essa puta que eu vestiria com Chanel, e ordenaria aos meus ministros que chamassem a própria Coco para fazer os vestidos — e ninguém pode imaginar o descaso com que eu ouviria algum mais corajoso dizer que isso era impossível, que a velhota havia morrido há muito, muito tempo, e enquanto nos corredores do Palácio os cochichos fariam alusão à minha ignorância crassa eu riria em segredo, porque eles não teriam entendido nada, não teriam entendido que há apenas um tipo de poder que permite isso, e é exatamente aquele tomado por um ditadorzinho de alguma república.
Se eu fosse ditador de alguma república acordaria todas as tardes com o mordomo me trazendo o café da manhã e os jornais do dia, entre os quais aquele de oposição que eu deixaria circular para dar uma impressão de democracia, mas deixando claro ao editor que ele deveria saber seus limites porque a oposição existiria apenas para dar um verniz de legitimidade ao meu governo.
Mas na minha ditadura não haveria mortes, pelo menos não mais que as estritamente necessárias, porque ainda que ditador eu continuaria baiano, e daria ao povo pão e circo, e eventualmente até consentiria em ouvir, da sacada do meu palácio, os poucos descontentes com coragem suficiente para pedir incentivos à cultura e carregar cartazes de “Menos Galvão, mais empregos!”, e faria isso com um sorriso paternal e a mesma atenção dada aos afghan hounds que decorariam o meu palácio.
Se eu fosse ditadorzinho de alguma república, qualquer república, eu jamais me disfarçaria de pobre para circular pela cidade e ouvir o que o povo dizia de mim, porque eu não estaria interessado em proletários mal-cheirosos e uma das prerrogativas de um ditador é ser poupado de opiniões desagradáveis. Em vez disso colocaria minha beca domingueira — porque embora ditador eu faria questão de lembrar que um dia fui pobre, e usaria essa história para ludibriar uns quatro ou cinco bestas — e iria para longas viagens por Paris, onde poderia me embebedar com putas senegalesas e russas, e dar presentes caros a elas pela simples razão de poder dar, sem que isso fosse motivo para os pobres opositores se revoltarem ainda mais, exatamente aqueles que levantariam o mais alto possível cartazes dizendo “Menos Galvão, mais Deus em nossas vidas”, como se na minha república Deus e Galvão não fossem a mesma coisa.
Quem quer que tenha deixado esse comentário está certo: eu seria um excelente ditadorzinho de alguma república.
Acontece que república talvez seja muito pouco, e como Júlio César eu conspiraria para criar o Império, e seria nomeado Defensor Perpétuo do meu modesto país. Porque ainda que me sinta à vontade no papel de ditadorzinho, eu gostaria também de ser rei, e usaria coroa como revolucionários usam boinas com botões do Che Guevara, e nas solenidades oficiais — que seriam muitas durante o meu reinado — eu usaria um manto de arminho como símbolo do meu poder.
Ah, mas divago, divago…
Livros ou o mal que eles fazem às minhas costas
Meus livros ficaram encaixotados desde que vim do Rio, ano e meio. Chegaram em novembro e só agora arranjei coragem para arrumar os coitados.
Não vou falar do trabalho miserável que é tirar livros de caixas, colocá-los na mesa, limpar e arrumar cada um deles. Não, ninguém merece isso. Minhas costas já sofreram o bastante para eu precisar descontar em cima de alguém. Prefiro colocar uma foto ao lado: ali está a primeira leva, as primeiras duas caixas. Havia mais algumas me esperando.
Eu tenho cá meu sistema de organização. Simples ao extremo, que eu não sou bibliotecário e Dewey para mim era apenas um promotor que queria ser presidente. Mas é eficiente.
São, basicamente, alguns níveis de divisão. O primeiro é simples: ficção e não-ficção. Tenho notado que o tempo age implacavelmente sobre mim; se há dez anos eu lia preferencialmente ficção, hoje em dia leio cada vez mais não-ficção. Os interesses mudam com o tempo.
Em ficção eu separo, em primeiro lugar, por país. Literatura brasileira, americana, inglesa, russa, etc. Cada uma dessas é subdividida em autores, em ordem cronológica. Primeiro os autores mais antigos. E cada autor, por sua vez, está classificado também em ordem cronológica. Não faço distinção entre prosa e poesia. Não me parece apropriado classificar poesia como ficção, mas tampouco é não-ficção. Fica aí, mesmo, e a minha Marianne Moore, paixão de muito tempo, fica entre um livro de contos do Edmund Wilson e um livro quase bom do Malamud. Além disso, eles são muito poucos. Como são muito poucos os livros de ficção latino-americana. Atrás de todos eles está o meu livrinho de 1500 dólares (comprado por um), Quiet Days in Clichy.
Há uma última divisão: literatura policial. Mas segue os mesmos padrões, com uma diferença: primeiro vem Hammett, depois Chandler, depois MacDonald, minhas três grandes preferências. James Cain. Chester Himes. Walter Mosley, o último autor a me empolgar. E então vem o resto. Jim Thompson, de quem já gostei mais, tem lá o seu lugar.
O que me espanta, aqui, é o número de livros ruins. “Os Versículos Satânicos” está lá, em literatura inglesa. Os livros de Evelyn Waugh se espremem entre um Joyce e um Greene — estão em boa companhia; mas é em literatura americana que está o maior número de lixo. Eu quase não acredito que tenha três romances de John Updike, e um de Gore Vidal, dois romancistas abaixo do aceitável (em compensação tenho dois belos livros de ensaios de Vidal e a autobiografia e uma coletânea de resenhas de Updike. Updike não chega aos pés de Richard Ellman, mas seu texto é melhor).
A parte de não-ficção é mais interessante.
As subdivisões são poucas, e como foram os primeiros a ser arrumados, na prateleira mais alta, ainda precisam ser ordenados. Há a parte do que eu chamo de “negócios”, o que inclui jornalismo, publicidade, marketing e marketing político e livros sobre algumas empresas (a história da IBM me fascina, por exemplo, desde que li a biografia de Tom Watson Jr). Há as biografias, a parte sobre música (desculpe: Beatles), cinema. História, política, ensaística e crítica literária. Os livros de arte se arranjam como podem, de acordo com seu tamanho.
É curioso que eu tenha tão poucos livros sobre publicidade, e menos ainda sobre marketing político. Mas tenho pelo menos tudo o que David Ogilvy publicou de decente, embora só precisasse, mesmo, de um: Ogilvy on Advertising. Se alguém fosse ler um livro, e apenas um, sobre propaganda, esse seria o livro que eu indicaria.
Há algumas curiosidades. “Minha Luta”, de Hitler, está ao lado de Hitler’s Willing Executioners. Talvez só eu ache isso engraçado.
Ali também descansam livros que, decididamente, eu não sei direito como foram parar ali: “O Óbvio e o Obtuso”, “O Ser e o Nada”, “A Reconstrução dos Direitos Humanos” (do Celso Lafer sobre a chatíssima Hannah Arendt).
Definitivamente, quem tentar me conhecer pelos meus livros não vai descobrir absolutamente nada sobre mim. No máximo vai conhecer o mal que eles fazem às minhas costas.
Bia, via MSN

O Bia me ama.
Balanço de campanha
Devo ter algum problema. Sério.
O Alex pede fotos de pés de mulheres e recebe. Eu, que nunca tive nenhuma tara, quebro a cabeça até achar uma digna deste nome e peço fotos de cotovelos. Ninguém me manda uma sequer. Nem daqueles mais ásperos e esturricados. Nada.
Aí eu continuo olhando o blog do Alex e vejo que seus leitores compram nos seus links do Submarino, derramando um treco na sua conta bancária. Resolvo seguir seus passos, inclusive com uma ameaça bem concreta.
Recebo aguma coisa? Só o que Rosa ganhou no beco. Espertinhos como o Allan e o Ricardo aproveitam a penúria deste pobre blogueiro para tirar suas lasquinhas.
Cafajestes.
Tudo o que recebo é R$ 1,50 da Mônica. Dá para pegar um ônibus. Mas só a passagem de ida, porque pelo visto a Mônica quer me ver pelas costas.
Mas nem tudo está perdido. A Ninfeta do Demônio e a Mocinha Ingênua, penalizadas com a situação deste pobre blogueiro pobre, perceberam que o meu coração precisava de um pouco de calor e generosidade. Au au para vocês também. Vocês restituíram minha fé na humanidade.
Campanha da Fraternidade 2005
Eu podia estar roubando.
Eu podia estar matando.
Eu podia estar elegendo um político corrupto.
Mas estou aqui escrevendo um blog.
Infelizmente, blog não dá dinheiro. Mas blogueiros continuam precisando viver. Cabe a você ajudar essa espécie a não entrar em extinção.
Contribua com um pobre blogueiro pobre. Doe o quanto puder. Ajude um marqueteiro a sobreviver neste mundo insensato onde não há eleição todo ano.
Doe livros caros, discos raros, mulheres cachorras.
Se você não me ajudar a juntar 50 mil reais até o dia 1 de julho de 2005, eu vou eleger um deputado ladrão em 2006.
Eu posso até reeleger o Severino.
E aí vai ser pior para todo mundo.
Doe. Porque senão vai doer.
Não confie em ninguém com mais de 30 anos
Durante mais de 15 anos me enrolaram com uma conversa fiada sobre o erotismo do filme “9 1/2 Semanas de Amor”. Disseram que era sexy, sensual, arranjaram mais sinônimos que os existentes no Houaiss para definir o filme.
E eu, adolescente ainda, me sentia culpado ao perder tempo com aqueles filmes de sacanagem grosseiros e sem história em vez de procurar algo requintado como o filme da Kim Basinger. Como o sujeito que, diante daquele cocô preto a que chamam caviar, se rende a um bom, enorme prato de feijão, arroz e farinha.
Até o dia em que assisti ao filme e percebi que bem fiz eu, que não perdi tempo com aquele comercial longo demais e sem um tiquinho de sabedoria.
Eu nunca mais acredito nesse pessoal que fala que a juventude não é sábia.
As alegrias que o MSN me dá
Fulana diz:
hehehehe qual seu tamanhu?
Rafael diz:
Mais baixo que você.
Fulana diz:
digo do pau!
Rafael diz:
Ah, eu não tenho.
Fulana diz:
hehehehehe penis?
Rafael diz:
Tenho não.
Rafael diz:
Sofri um acidente de guerra, na Guerra do Golfo.
Fulana diz:
hehehehe mija sentadu??? ,hehehehe
Rafael diz:
Nao, tenho uma sonda.
Rafael diz:
Você não sabe o quanto isso me dói.
Fulana diz:
serio mesmo?
Rafael diz:
É.
Fulana diz:
sinto muito
Rafael diz:
Eu era da Cruz Vermelha Internacional.
Fulana diz:
minha mae é enfermeira e diz q doi mto mexmu
Fulana diz:
vc não tem mais relaçoes sexuais?
Fulana diz:
e vc ainda sente tzão?
Rafael diz:
Bem, tenho a língua, né?
Fulana diz:
e os dedos!!!! hehehe
Rafael diz:
7, porque 3 eu perdi lá, também.
Fulana diz:
axo q vc ta m enrolandu hein
Fulana diz:
em q ano foi essa guerra ? eu num sei mto bem …
Rafael diz:
1991.
Fulana diz:
ahhhh
Fulana diz:
cm q arrankrão seu pau?
Rafael diz:
Uma explosão de um morteiro, perto de Kuwait City.
Fulana diz:
deve t sido traumatizant
Fulana diz:
+ vc ganhou um bom dindin????
Rafael diz:
A gente aprende a viver com isso.
Rafael diz:
Ganhei o suficiente.
Fulana diz:
q bom!!!!
Rafael diz:
Nem tanto.
Fulana diz:
é
Fulana diz:
mas pelo menos não saiu d mão abanandu
Numa tarde em Fortaleza
Eu morava em Fortaleza e minha casa ficava perto da agência onde trabalhava, uns três ou quatro quarteirões.
Eu voltava do almoço (almoço era a hora em que eu ia tocar guitarra para minha filha), subindo a Rui Barbosa, quando encontrei um cego no cruzamento com a Torres Câmara. As pessoas passavam por ele sem se deter, atravessavam sozinhas a rua porque, afinal de contas, atravessar a rua era problema dele. Ofereci o braço, ele segurou e atravessamos a rua.
Fomos conversando pelos próximos dois quarteirões. Acho que fui eu a iniciar a conversa, e reclamei daquele sol miserável de Fortaleza, daquele calor miserável de Fortaleza. E ele disse que sim, estava muito quente, mas então lembrou que era pior quando chovia.
Em uma mão ele segurava sua bengala, na outra uma pasta: ele era vendedor. E me disse que quando chovia tudo ficava mais complicado para ele, porque tinha que segurar o guarda-chuva com uma das mãos e dar um jeito de levar a pasta e a bengala na outra.
“Ué”, eu disse, “uma capa de chuva é mais prático.”
E então ele disse que não, que uma capa de chuva era uma verdadeira tragédia, porque cobria seus ouvidos e sem ouvidos ele não podia se localizar. Sem ouvidos ele se tornava um inútil. Nos poucos metros que restavam ele me contou que não podia se dar ao luxo de não trabalhar, porque tinha responsabilidades, mulher e filhos para sustentar.
Ele se despediu de mim em outro cruzamento.
Alguns quarteirões antes, eu tinha parado para fazer uma boa ação. Uma que fizesse Deus, na hora da morte, contrabalançar um pouco as tantas más e me garantir, com um pouco de boa vontade, um lugarzinho no purgatório. Acabei recebendo uma lição de vida, uma espécie de recado para nunca mais reclamar de bobagens. Eu saía de um apartamento ventilado e ia para uma agência onde o ar-condicionado estava ligado no máximo, e reclamava de cinco minutos de sol e calor. Enquanto isso aquele sujeito agradecia pelo sol que o mesmo Deus que lhe tinha tirado os olhos lhe dava.
De vez em quando eu vejo as pessoas reclamando do quão difícil é a sua vida.
Já estou velho o suficiente para saber que não dá para comparar as pessoas, que a cruz de cada um parece às vezes pesada demais independente do tamanho, e elas sempre têm razão porque cada um sabe o quanto ela lhes pesa. Mas hoje, antes de reclamar das coisas, eu tento lembrar daquele cego que dobrou à esquerda na Santos Dumont, bengala branca em uma mão e uma pasta velha e batida em outra, e que se afastou enquanto eu ouvia o ruído de sua bengala batendo na calçada.