Comentário do Leo:
Rafael,
Olha eu acessando seu blog no Mc Internet. Você não está bloqueado não. Nem eu. Abs e feliz Páscoa.
Aquele palhaço frouxo. Correu, covarde. Mulherzinha. Da próxima vez arranje briga com alguém do seu tamanho.
Comentário do Leo:
Rafael,
Olha eu acessando seu blog no Mc Internet. Você não está bloqueado não. Nem eu. Abs e feliz Páscoa.
Aquele palhaço frouxo. Correu, covarde. Mulherzinha. Da próxima vez arranje briga com alguém do seu tamanho.
O Idelber descobriu, há algumas semanas, que este blog é bloqueado pela McInternet. Seu conteúdo é considerado inapropriado para a legião de gordinhos idiotizados que se empanturram de McLanches Felizes.
Essa pequena homenagem me comoveu. Certo, não foi bem uma homenagem, mas fiquei tão feliz que nem ligo para isso. De boas intenções o inferno está cheio; o importante é o resultado.
Tem momentos na vida em que a gente sente que fez algo certo. O bloqueio deste blog é um desses. É uma daquelas verdades universais: se o McDonald’s bloqueou seu blog, alguma coisa certa você fez.
E essas coisas não podem passar sem retribuição. Porque seria uma indelicadeza não retribuir o gesto belíssimo que eles tiveram para com este blog, ainda que nunca venham a saber disso.
Este é o início de uma bela amizade, Ronnie.
O Idelber, num papo pelo MSN, perguntou: “Putz, como pode alguém de 16 anos ser publicitário?”.
A resposta é simples.
Primeiro, seu pai tem que ser publicitário, nome de prêmio e considerado um dos melhores da história da propaganda baiana, isso no tempo em que a propaganda baiana emplacava Duda Mendonça e Rodrigo Sá Menezes como agência e publicitários do ano.
Aí um dia você vai com sua mãe visitar um amigo dele — um dos textos publicitários mais belos e mais poéticos que eu já vi, autor de um comercial deslumbrante para a Telebrás que ganhou o Clio e que foi um dos primeiros trabalhos da Giulia Gam — e, depois de horas conversando, ele resolve que você tem que seguir os passos da família. Passa um briefing em 30 segundos e sai, deixando você sozinho diante de uma máquina de escrever.
É uma campanha de vacinação e, por causa da vergonha, você escreve umas três frases e entrega para ele. Uma delas diz: “Não deixe que por causa de um dia seu filho perca a vida inteira”, ou algo assim.
Aí você ganha um emprego.
O resto é bobagem, é você se equilibrar aqui e ali ao longo do tempo, fazendo o que pode e às vezes o que não deve.
No fundo, eu só sou publicitário porque a outra coisa que eu sei fazer é imoral.
O mundo deveria se galvanizar em uma corrente de rafaelocentrismo.
Outubro de 1995.
Volto à agência esperando pegar o meu dinheiro e ir embora, depois de um freelance de um mês em que tudo deu absolutamente, completamente errado, e eu estava estafado e devendo a mim mesmo dezenas de horas de sono. Quem diz que baiano não trabalha não sabe o que é isso: chegar à agência às seis da manhã de domingo (vindo da farra, certo, mas ninguém tem nada com isso) e só sair de lá na sexta, às sete da noite, dormindo duas ou três horas por dia, como aconteceu em uma daquelas semanas.
Mas eles ainda têm uma provação para mim, que o meu lugar no céu só vai conseguido depois de muito sacrifício. Lomanto, prefeito de Jequié, quer que um redator vá até lá. Qualquer um. Não é nada grave, nada importante, mas ele quer, ué. E uma das funções de uma agência de propaganda é puxar o saco do cliente até ele gritar.
Eles têm urgência. Eu e o atendimento vamos para o Dois de Julho, pegar um táxi aéreo.
A gente entra em um Bandeirante. Eu nunca tinha andado em um avião tão pequeno, e acho estranho ter que andar abaixado, a proximidade do piloto, a caixa térmica fazendo as vezes de aeromoça.
O Bandeirante, que provavelmente tinha pertencido à FAB, liga os motores. Primeiro o da direita, e a hélice gira ao máximo. O avião treme como se tivesse visto alma penada, talvez o fantasma de Amelia Earhart. “Isso não vai dar certo”. Agora o da esquerda, a mesma tremedeira. “Esta porra vai cair”.
O avião levanta vôo, e no fim das contas é uma viagem até interessante. Ele voa baixo e eu aprendo o que é um avião de verdade. Nada daqueles Boeings cheio de traquitanas. Aquilo é leite pasteurizado.
Já estamos pousando em Jequié quando, sem aviso — sempre é sem aviso –, o avião embica para cima. Não lembrei de encomendar a alma a Deus naquele momento, não lembrei de nada além do proverbial puta que pariu. Mas entre os grandes orgulhos de minha vida está esse: eu não borrei as calças.
Fazemos a volta, repetimos os procedimentos de aterrissagem, e finalmente pousamos. É quando me explicam a razão do arremetimento repentino: havia crianças brincando na pista.
Quando saímos do avião o filho do prefeito está nos esperando. É ele quem explica melhor o que aconteceu.
Antigamente o zelador do “aeroporto” tinha uma bicicleta. Quando avistava um avião chegando, e via que crianças brincavam na pista, ele pegava a bicicleta, ia até lá e afugentava a criançada. Mas haviam roubado a bicicleta do zelador.
Só não me explicaram que o Bandeirante tem um problema de construção que faz o seu motor fundir fácil demais em casos de retomadas um pouco mais bruscas que aquela.
Em terra firme, ouvimos o prefeito, anotamos as modificações, fomos para o lançamento de um shopping e voltamos para Salvador à meia-noite.
De ônibus.
Certo antepassado meu estudou na Europa às custas do primo, que era ligado ao Império. Seu pai era senador, mas não pagou um tostão. O convite foi feito pelo primo, o dinheiro também veio dele.
Isso me deixa com uma dúvida terrível.
Não sei se ele se mandou para as Oropa às custas do contribuinte que não conseguia sequer chegar ao Dom Pedro II ou se às custas dos cortiços que o primo explorava.
Mas pelo menos agora entendo por que defendo tanto o Estado.
Pois é.
Ontem acordei e, depois de ver os comentários no meu blog, passei no do Alex, onde vi os parabéns aos meus 35 anos. Pensei que ele tinha se enganado, até que a Carol apareceu no MSN e explicou o que estava acontecendo.
Resumindo: todo mundo, no fim das contas, participou de uma brincadeira organizada pelo Bia. Esse senhor com quem não falo há 3 anos adiantou meu aniversário em um dia e aumentou um ano à minha idade.
Para os registros: eu nasci num sábado de carnaval, 20 de fevereiro de 1971. É hoje que eu cumpro um dos meus dois objetivos cronológicos, viver mais que Jesus Cristo.
Só depois é que eu fui ver a extensão da coisa. O belo, belo post do Bia. O elogio do Idelber que saí mostrando por aí. O post do Mauro. O lirismo do Allan. Os parabéns da Dani. O egoísmo adorável da Lucia. A musiquinha da Mônica. Os parabéns do Guto. Os bons fluidos do Reginaldo. Sem falar nos comentários aqui, no blog.
Agora eu bem que queria ter nascido no dia 19 de fevereiro.
Nunca fui muito bom em agradecer presentes, principalmente aqueles de que gosto muito. Fico sem jeito, a timidez ataca (é, eu sou puritano e tímido, por menos que acreditem). As palavras nunca representam exatamente o que eu quero dizer.
E agora, as palavras que consigo dizer são: pessoal, muito, muito obrigado.
Alegrai-vos, Ansel Adams, Robert Altman, Sidney Poitier, Cindy Crawford e Kurt Cobain.
Vocês dividem a glória de ter nascido no mesmo dia que Rafael Galvão.
Se a Cindy soubesse que tem tanto em comum comigo…
(O Cobain sabia. Deu no que deu.)
karina diz:
ce sabe a frase do nosso signo: Eu creio
karina diz:
e aquário é: Eu sei
karina diz:
e vc é uma mistura de aquário e peixes
Rafael diz:
Entao a minha frase é “eu creio que sei”.
Rafael diz:
Ou seja, tá explicado por que eu sou tao metido
Obrigado pelos parabéns, mas tenho duas correçõezinhas a fazer.
A primeira é que meu aniversário não é hoje.
A segunda é que, até a meia-noite, eu tenho 33 anos.
Fora isso, obrigado. 🙂
Cheguei agora de um programa de TV local, onde participei de uma espécie de mesa redonda — aliás, é esse o formato do programa — sobre blogs, internet e mídia. (Na verdade, cheguei agora do bar que se seguiu ao programa.)
Esse programas têm uma dialética curiosa. Acabei defendendo um ponto sobre o qual, para falar a verdade, nunca tinha pensado a fundo: internet, blogs e RSS podem representar o fim — ou pelo menos a redundância — dos jornais diários impressos.
O pior é que faz sentido. Mídias mais ágeis já acabaram com suas predecessoras, como o cinejornal e os jornais vespertinos. E a impressão que eu passei a ter é a de que os jornais ficarão meio perdidos entre a maior profundidade das revistas semanais e a maior rapidez da internet.
É.
Pode ser.