Janckel Yacha

E não falei do Fla-Flu de domingo.

No Maraca, esperando o jogo começar.

De repente aparece em campo um bocado de ex-jogadores, numa homenagem aos 40 anos da maior bilheteria do estádio. Gérson, Carlos Alberto, Edinho, um monte de velhinhos que um dia correram brilhantemente atrás da bola.

Um velhinho de cabelos brancos, vestindo calção azul e camisa amarela, ficava o tempo todo tirando fotos e andando de um lado para o outro com uma bola, um andar de velho ansioso.

Fiquei me perguntando quem seria aquele sujeito. Ex-jogador, claro; numa pindaíba de fazer gosto, claro, para estar pagando aquele mico no frio que fazia no Maracanã.

Demorou um pouco até o placar esclarecer a identidade do macróbio. “A Suderj homenageia o sr. Janckel Yacha pelos 5 anos sem deixar a bola cair em embaixadas no Maracanã”.

O velhinho até recebeu uma medalha. E até deu uma volta olímpica, mostrando sua medalha ao público.

Mas do meu lado, na torcida do Mengão, onde quem tem um dente é rei, um gaiato não parou de gritar: “Velho safado! Velho Safado!”.

Acho que o sr. Yacha é tricolor.

Mais Estados Unidos

Está havendo uma confusão aqui entre princípios e práticas.

O Plataformista questiona os princípios americanos em função de sua prática imperialista. O problema é que princípios e práticas nem sempre são semelhantes. Do contrário iríamos questionar os princípios da Revolução Francesa, que degenerou nas maluquices do Diretório e Robespierre, assim como os ideais marxistas, por terem resultado nos expurgos daquele georgiano cotó, o bom e velho Iossif.

O fato do ideal constitucional americano não ser traduzido na sua política externa não quer dizer que ele seja ruim. De qualquer forma, no período de construção e solidificação do país, que vai a independência até a reconstrução posterior à Guerra de Secessão, foram princípios válidos e que determinaram a forma que tomaria o país. É isso que importa.

Mas o Plataformista me deixou com uma dúvida: sobre o quê falava Marx naquela referência aos Estados Unidos. Isso me obrigou a fazer uma coisa que tenho evitado fazer, e fui dar uma olhada em “Rumo à Estação Finlândia”, onde achava que tinha visto essa referência.

Tá lá:

Marx, em seus últimos anos de vida, começou a admitir que, em países democráticos como Inglaterra, Estados Unidos e Holanda, talvez a revolução socialista pudesse se dar através de métodos parlamentares pacíficos.

É a respeito da liberdade, mesmo, já que o diferencial aqui é a democracia e não o desenvolvimento econômico trazido pelo capitalismo.

Mas agora chega. O fato de eu ter ido procurar algo num livro em que não toco há mais de 10 anos é um mau sinal. Esses pensamentos aqui são mal passados. Ou, melhor dizendo: são um amontoado de besteiras inconseqüentes. Não valem uma discussão sobre teoria política.

Bushit

Parece que todo mundo considera a reeleição de Bush inevitável.

O comentarista internacional Rafael Galvão não tem tanta certeza assim.

Argumentos contra Bush:

1 – Guerras desastrosas costumam derrubar presidentes americanos. A Guerra da Coréia derrubou Truman. O Vietnã acabou com as chances de Johnson.

2 – A cada dia cresce a certeza entre os americanos de que entraram numa guerra complicada baseados em mentiras. A oposição, embora ainda pequena, não pára de crescer.

3 – Se a economia não melhorar, Bush vai ficar na mesma posição que o pai dele.

4 – Quem disse que Bush foi eleito da primeira vez?

Mas Bush tem seus argumentos a favor:

1 – 11 de setembro. Bin Laden talvez não saiba, mas é o principal cabo eleitoral de Bush. Esta razão, sozinha, talvez seja mais forte que qualquer outra.

2 – Quem pode enfrentar Bush? Lieberman?

3 – Aquele é um povo absolutamente imbecil.

4 – Quem disse que Bush foi eleito da primeira vez?

Agora é ver no que dá.

Anti-americanismo

Uma pesquisa mostrou que 2 em cada 3 pessoas no mundo está desenvolvendo uma posição anti-americana.

Eu sou a terceira pessoa.

Não estou falando das políticas de Estado do país nos últimos anos, ou melhor, no último século. Mas do legado que os Estados Unidos deixaram para a humanidade.

A noção de democracia e república modernas se devem, basicamente, àquele país. Falam muito da Revolução Francesa, mas a experiência americana é algo muito mais profundo e mais duradouro.

Os comunistas falam muito das massas, mas quem criou o mercado de massas, a cultura de massas foram os americanos.

Que isso tenha derivado para o mais deslavado imperialismo é inegável. Mas é inegável também que, sem os princípios que norteiam a constituição americana, este seria um mundo muito pior.

Franceses grelhados

Cerca de 3 mil franceses morreram com a onda de calor que assolou a Gália no verão de 2003.

Imagino que parte disso se deva ao fato de morarem num país com baixa necessidade de ar-condicionado, e terem sido pegos de calças curtas quando o calorzão bateu.

Mas minha persona xenófoba encontrou outra razão para a mortandade de descendentes de Obelix.

Como qualquer brasileiro sabe, uma das formas de se combater o calor é com bons e demorados banhos.

Agora, vai convencer um francês a tomar banho, vai.

Mulheres de todo o mundo, uni-vos!

O comentário da Sula Cover apenas reforça a minha tese.

Mulheres dividirem o mesmo homem é algo antigo, patriarcal e até mesmo demodê. Chique mesmo, avant garde, é cada mulher ter vários homens.

Elas precisam ver que assumir posturas masculinas pela metade é um desserviço ao seu sexo. Se vão assumir, que assumam de uma vez.

Enquanto isso, o futuro continua masculino.

Ainda os Estados Unidos

Oi, Plataformista. 🙂

Discordar é legal. Eu vivo discordando. Mas acho que, infelizmente, gosto tanto que acabo sempre discordando de quem discorda.

Quanto ao “se”, você tem razão. Mas eu gosto de pensar que a história é uma sucessão de “ses” que se tornaram realidade. Parece poético. Independente disso, a importância da Revolução Americana é inegável. Ela não é exatamente menos estudada que a Francesa; é apenas menos estudada aqui. Tem uma coisa engraçada que dizem a respeito da banda Velvet Underground, considerada uma das mais influentes do rock: quase ninguém comprou o disco de estréia deles — mas todo mundo que comprou montou uma banda. O mesmo vale para os Estados Unidos. Bolívar se inspirou, por exemplo, no exemplo americano. Que também inspirou a Revolução Francesa.

Além disso, não se deve confundir a ignorância crassa do americano médio com os princípios da Constituição deles. Primeiro porque a informação é assim mesmo, corre dos países mais desenvolvidos em direção aos fins de mundo; não é uma via de mão dupla. Você sabe dizer, de primeira, qual a capital do Burundi? É, eu também não. Não sabemos porque não nos interessa, porque essa informação não faz diferença para as nossas vidas cotidianas, ou mesmo para o que consideramos intelectualmente relevante. Para os americanos, tanto faz se a capital do Brasil é Buenos Aires: é tudo um buraco pitoresco só. Até hoje só houve duas ondas de “brasilianismo” nos Estados Unidos, no pós-guerra como reflexo da política de boa vizinhança, e com a explosão da bossa nova após o show no Carnegie Hall, provavelmente a mais influente. Houve também uma tentativa de colonização da Amazônia no século XIX, mas isso é outra história.

Quanto aos princípios consitucionais, aí é outra conversa. É preciso comparar o momento da Declaração de Indepedência com a situação da Europa na época. Para começar, é fácil esquecer que originalmente os Estados Unidos eram uma experiência totalmente nova. Basicamente, estavam mais próximos da Comunidade Européia, com uma série de Estados — no sentido de países — federados do que, por exemplo, do Brasil (cuja república originalmente se chamava Estados Unidos do Brasil e tinha, em vez de governadores de estado, Presidentes; mas já era um sistema totalmente deturpado em relação ao original), ou mesmo dos próprios Estados Unidos atualmente. Esse espírito só foi acabar definitivamente quando Lincoln rasgou a constituição e impediu a secessão dos estados do Sul.

E tem a questão da liberdade. Para a época, aquilo era o máximo a que se podia aspirar, e mesmo hoje são princípios absolutamente válidos. Aquele era um lugar onde não se precisava de autorização para ir e vir, onde a liberdade de iniciativa era tolerada e incentivada. Não tinha nada a ver com Estados militarizados como a Prússia, por exemplo.

Com o tempo vai-se dando mais ênfase ao outro lado da história. Por exemplo, a abertura dos territórios onde hoje é Oklahoma (tem um filme do Tom Cruise e da Nicole Kidman que fala sobre isso; o filme é uma droga, tanto do ponto artístico como histórico, mas ilustra bem o caso) sempre foi propagandeada como uma prova da democracia e liberdade americanas. Aí vem o outro lado e diz: “é, mas só funcionava para quem tinha cavalos ou carroções”, ou seja, para a classe média em diante. Os dois lados não deixam de estar certos. Mas o fato é que é um sistema muito mais democrático, por exemplo, que o sistema de capitanias hereditárias brasileiro, que até hoje tem seqüelas. Ou o sistema aristocrático europeu, que acabou implodindo após a Revolução Francesa.

Aí pela metade do século XIX Marx dizia que os Estados Unidos poderiam oferecer uma alternativa interessante. Certamente não era a respeito do sistema econômico que ele se referia, e sim ao conceito de liberdade.

É fácil dizer que é um país hipócrita, principalmente depois que os EUA entraram em sua fase imperialista a partir de Ted Roosevelt. E hoje até que é, mesmo; o que assusta é que a onda neo-conservadora, que vem desde Reagan, tenha perdido toda e qualquer vergonha de mascarar sob um véu de humanismo seus interesses econômicos. Mas mesmo isso não deve nos fazer esquecer que a idéia de liberdade individual acima de qualquer coisa é uma conquista histórica muito, muito importante.

A vingança da Legião de Onan

Para que um homem tenha realmente dificuldades em arranjar mulher, ele precisa ser o infeliz dono de uma combinação perversa: adolescente, sem dinheiro e sem um lugar aonde levá-las. Se não tiver uma dessas variáveis, ele tem grandes chances de se dar bem regularmente.

Isso, claro, lembra a todos nós os péssimos tempos da adolescência, em que normalmente somos obrigados a nos voltar para soluções, digamos, pouco ortodoxas para resolver o problema da carência sexual. Essa fase negra costuma passar a partir do momento em que chegamos à casa dos 20; até lá é um martírio comparável ao de Tântalo, que só o otimismo crônico e ignorante da adolescência consegue fazer suportável.

Mas hoje percebi que todos nós, adolescentes um dia alistados na Legião de Onan, como a batizou Luís Fernando Veríssimo, temos um bom motivo para nos considerar vingados.

A nossa via-crúcis começa e termina na adolescência, e passamos por ela com mãos calejadas, espinhas na cara e cheiro de perfume barato, de preferência Avon ou comprado naqueles catálogos da Hermes, que nos impregnam a partir das empregadas domésticas que encoxamos nas escadas, nas ruas escuras e debaixo das árvores. Mas a redenção chega assim que passamos a ter um mínimo de experiência e segurança.

E é justamente então que o calvário feminino começa.

Olhe à sua volta. Você vai ver o número cada vez maior de mulheres em torno dos 30, cada vez mais ansiosas e preocupadas porque acham que “não há mais homem no mundo”. Para elas, metade não presta. Outra parte está casada. E o resto tem preferências sexuais ainda mais heterodoxas que as dos adolescentes.

Se — generalizando e correndo o risco inerente a qualquer generalização — uma mulher não está casada ao se aproximar dos 30 anos, a percepção de que suas chances de estabilização diminuem a cada novo dia, a cada nova ruga, a cada aproximação dos seios em direção à terra, a cada nova protuberância de celulite a deixa completamente angustiada.

O pior é que, à medida que o tempo passa, a angústia vai aumentando. Além do que dizem ser a escassez masculina, elas ainda continuam escolhendo bastante — esse não dá porque é baixinho, esse não tem futuro, esse… E, paradoxalmente, quando escolhem, escolhem errado. O resultado é o aumento da descrença no sexo oposto, que infelizmente cresce no mesmo ritmo que a certeza de que é impossível viver sem eles.

Não sei se a miséria do gênero feminino, e sua progressiva vulnerabilidade, é propriamente uma vingança; é algo que não dá para racionalizar. Mas, lá dentro, aquele adolescente com marcas de batom vagabundo no pescoço e os dedos calejados pelas acrobacias sob incontáveis sutiãs dá uma risadinha cruel e satisfeita.