Linux, here we come

Ninguém tem mais dúvidas de que o o MacOS é um morto-vivo, um zumbi que ainda não se deu conta de que está morto. 2% de market share não é nada.

Mas é provável que ninguém perdesse dinheiro apostando no Linux contra o Windows.

Não que o Linux seja melhor. Digam o que quiserem os seus defensores, ele não é. Embora tenha ficado muito mais fácil nos últimos anos, e o Red Hat Linux seja uma belezinha, ele ainda é complicado demais. Eu instalei o Red Hat 8 aqui, e fiquei impressionado. O problema é que, além de uma série de deficiências (fontes tipográficas, por exemplo), o Linux simplesmente não tem aplicativos realmente decentes para outro uso que não o da Internet e, em menor grau, de aplicativos de escritório (Mozilla, OpenOffice, etc.).

Mas se eu fosse fazer uma aposta para dizer de quem é o futuro, eu apostaria no Linux.

A razão é simples. Aos poucos, está se formando uma correlação de forças desleal: a Microsoft de um lado e todo mundo do outro. A Novell acabou de anunciar que vai comprar a Ximian, que tem um bom cliente de email e está desenvolvendo uma plataforma semelhante ao Microsoft .NET. A IBM aposta tudo no Linux, até porque o tombo que levou da Microsoft com o DOS, no início dos anos 80, e o fim do OS/2, aí pelos 90, devem ter ensinado alguma coisa a ela. Não deve demorar muito até a Sun abandonar o Solaris, se é que já não abandonou.

É uma questão de tempo — na verdade, muito tempo — até que o Linux, que vem crescendo rapidamente no mercado de servidores, chegue também aos desktops. Isso, claro, vai demorar para acontecer. É preciso adquirir massa crítica no mercado de servidores. Mas que é bem provável que aconteça um dia, ah, isso é.

Lolita

O que mais me fascina em “Lolita” é, acima de tudo, a linguagem.

É tão clara a delícia que Nabokov sente em escrever, é quase uma ode ao idioma inglês. Qualquer leitor sente que aquele russo simplesmente adora estar escrevendo no idioma de Shakespeare, e brinca com as palavras, e se prontifica a realizar brincadeiras bobas nas quais um americano ou inglês se recusaria a entrar, por infantis demais. Humble Humbert, Hummering Humbert… Talvez seja preciso um estrangeiro para se apaixonar tão perdidamente por um idioma.

Ao contrário de Conrad, para quem o inglês era apenas o meio escolhido para contar suas histórias, para Nabokov o principal assunto de seu livro é a língua.

Além disso, há o brilhantismo como Nabokov apresenta H. Ele é sórdido, é doente, é repulsivo; mas descreve seu crime e sua maldade com tamanha elegância, com um falso pedido de desculpas repleto de orgulho arrogante, que muitas vezes é fácil esquecer quão hediondo ele é, como pôde aproveitar a paixão adolescente de Lolita para praticamente destroçá-la. A sensualidade de Lolita só existe na mente perturbada de Humbert — e no entanto é ela a ninfeta demoníaca. Porque H. não se considera doente; ele é, antes de tudo, um artista, um esteta.

Em todo o livro (fora algo que ainda não entendi: a “ninfeta primordial” no início do livro se chama Annabel Leigh, uma referência nada sutil à personagem de “O Corvo” de Poe; mas aí pelo meio do livro ele se refere a ela sem o disfarce, como Annabel Lee. É proposital?), eu só faria uma ressalva. Boba, mas ainda assim uma ressalva.

As pequenas expressões em francês, ditas de vez em quando por Humbert, soam falsas. É improvável que alguém como ele usasse o francês para dizer coisas que podem ser perfeitamente ditas em inglês. Se fosse para expressões que não tivessem tradução em inglês, tudo bem. Mas é sempre para coisas banais, expressões que também em inglês têm seu equivalente deliciosamente sonoro. É como se Nabokov dissesse “bom dia” em russo todo o tempo. E isso destoa, de uma forma intrigante, do amor sentido por H. pelo idioma que adotou.

Ocupações

Mas a Júlia acertou em um ponto: eu não tenho porra nenhuma para fazer aqui, na Terra do Sol, eu que odeio sol e calor, como todo gordo que se preza. Detesto areia, também.

De qualquer forma, arranjei o que fazer hoje. Minha carteira de motorista é daqui; só tirei porque minha ex-mulher, às vésperas de parir, não podia mais ser minha motorista. E a habilitação venceu há poucos dias. Aproveitei que estava aqui para renovar.

Só tem um problema: eu só posso renovar no Rio.

Crescimento exponencial

Este blog dobrou seu número de leitores em apenas um dia.

Agora, além da Júlia, tem também a Mônica, a rainha dos postos de gasolina das Alterosas. Pau a pau com a Sula Miranda.

A Júlia aproveitou para comprar uma briga: conseguiu comparar os Beatles aos Menudos da vida. Blasfêmia. Heresia. Não se fala uma sandice dessas para Rafael Galvão. Eu começo a espumar e a me debater no chão.

Há uma diferença fundamental, Júlia: os NKOTB são (ou eram? Já acabaram?) uma banda pop de encomenda, formada por um empresário, por meninos sem outro talento que não dançar e cantar mal. São fabricados para isso, e jamais demonstraram capacidade para mais que um ou dois hits movidos a jabá. Não há democracia, há um empresário. Não há talento, há marketing. Não há inovação, e portanto duraram uma ou duas temporadas. Não consta que soubessem tocar instrumentos, muito menos revolucioná-los. Os Beatles estão aí há 40 anos — algumas dessas boy bands dura mais que um? E no dia em que um deles conseguir compor uma música como Something ou Across the Universe, Rafinha se despede deste mundo, porque então não haverá mais nada para ver.

Eu volto a falar no assunto se a Júlia me mostrar a influência dos N’Sync na música popular mundial.

Cabras machos

O sotaque cearense é, definitivamente, engraçado. A musicalidade, o tom de quem está sempre espantado, faz dele o único sotaque que ninguém tem direito a achar feio ou bonito — só engraçado.

Mas tem uma coisa que me intriga: é a mania do cearense de falar com homens chamando-os de macho. Não é “cara”, “bicho”, “brother”, “mermão”; é macho. “Diz aí, macho”, “Que é isso, macho”, “Arre égua, macho”.

Todo homem cearense tem seus machos. Mas cada um deles tem seu macho preferido.

Terminator 3

É, fui ver “O Exterminador do Futuro 3 – A Rebelião das Máquinas”. Eu estou em Fortaleza, não tinha o que fazer, queriam o quê?

Assim como Terminator 2 – Judgement Day, seu grande trunfo são os efeitos especiais. Mas, ao contrário do filme de James Cameron (este é dirigido por um Jonathan Não-Sei-Das-Quantas), a este falta o estilo que fez daquele filme quase um divisor de águas. Os efeitos de T2 eram inovadores, brilhantes, descerravam um mundo novo no campo dos FX; os de T3 são quase perfeitos, mas são algo conhecido, e quase uma demonstração de força bruta. Há uma compensação nisso, talvez; mas é a vantagem que um artesão tem sobre um artista. Para critérios menos exigentes, T2 é quase um clássico do gênero; T3 é só entretenimento.

Há dois pontos interessantes. O primeiro deles é a nítida tentativa de estabelecer uma série a partir daí, os moldes de Star Wars; imagine Terminator 25 – Apellation Day. No entanto, ao contrário daquela, que se passa em uma galáxia distante, este parte de uma premissa que o coloca em terreno mais frágil: parte da premissa de que o mundo foi destruído, o que, pelo que posso ver olhando pela janela, não aconteceu. Com isso, perde um pouco daquela quase-veracidade que os anteriores da série tinham. Em compensação pode-se esperar que esse passado seja alterado num futuro filme da série.

O outro é que T3 é uma das melhores provas de que o futuro é sempre uma projeção do presente. Por exemplo, o que causa a destruição do mundo é a Internet. Como na época em que T2 foi feito a rede não era popular, isso sequer era cogitado.

É esse o mal das previsões sobre o futuro. A mente humana funciona de maneira linear, e se baseia no que há à sua volta; e é por isso que nunca consegue prever o futuro.

Cearenses no Rio

Há alguns anos, minha ex-sogra conheceu o Rio de Janeiro.

E falou que não viu gente bonita no Rio.

Da primeira vez deixei passar. Mas da segunda não deu:

“É que vocês só foram para lugares freqüentados por turistas, como o Corcovado e o Pão de Açúcar. Lá não tem carioca. Lá só tem turista cearense.”

Os Beatles continuariam tão bons?

Antigamente eu fazia parte da corrente que acreditava que os Beatles terminaram na hora certa, quando os anos 60 chegavam ao fim. Achava que teriam se tornado redundantes. Muita gente pega o trabalho solo dos Beatles para apontar uma possível decadência.

Hoje eu discordo disso. Em primeiro lugar, discordo de quem acha que a qualidade de Lennon e McCartney, como compositores, caiu. Para mim, continuou a mesma, até melhorou. A diferença é que, se em cada disco dos Beatles cada um deles contribuía com uma média de 6 músicas, a partir do fim da banda tiveram que encher discos inteiros. Aquelas canções meia-bomba que eram automaticaticamente ejetadas no processo de seleção acabaram sendo gravadas.

Para comprovar isso, basta pegar um disco de McCartney e outro de Lennon, selecionar 6 música de cada (e mais umas 3 de George Harrison) e juntar em um só disco.

Só isso já bastaria, mas ainda tem mais. Em cada uma dessas gravações falta, em primeiro lugar, a colaboração de Lennon ou McCartney, sempre decisiva, mesmo quando pequena, e toda a dinâmica da banda, com insights de cada membro — as batidas de Ringo, os solos de George Harrison, essas coisas.

Ainda assim, continuo acreditando que os Beatles fatalmente se tornariam ultrapassados. E isso se daria em 1977, quando estourasse o punk. Mas isso é outra história.

Por que os Beatles terminaram?

Conheço dezenas de fãs dos Beatles que não se conformam com o fim da banda. E geralmente culpam Yoko Ono, a preferida, McCartney (que anunciou o fim da banda), ou Lennon, que saiu em setembro de 1969 e selou o fim (Ringo e George tinham saído antes, e voltado; de qualquer forma, todos sabiam que a banda poderia continuar sem eles, o que seria impossível sem Lennon ou McCartney).

As coisas são bem mais complexas do que isso. Mas se é para apontar uma única causa, o mais correto seria dizer que “porque eles cresceram”. É só isso. Todo o resto — os problemas financeiros, os conflitos de ego, o desinteresse de Lennon catalisado por Yoko Ono — é mera conseqüência.

Quem era o líder dos Beatles?

É engraçado que quase todo mundo que fala dos Beatles se refira a Lennon como o líder, ou a McCartney, como querem os revisionistas.

Eu acho que a questão não é tão simples.

A banda foi iniciada por Lennon, e ele foi, certamente, a figura de frente da banda por muito tempo. Durante a “segunda fase” dos Beatles, McCartney era claramente o motor da banda; era quem coordenava, quem praticamente produzia ao lado de George Martin. Eram suas as iniciativas. Foi ele quem manteve o grupo unido, e sua ascensão como compositor levou os Beatles à sua fase mais criativa. Foi dele, por exemplo, a idéia do Sgt. Pepper’s, o disco mais influente de todos os tempos (e de gafes monumentais como o filme Magical Mystery Tour).

Mas isso não quer dizer que um deles fosse necessariamente o líder.

Eu costumo comparar os Beatles à monarquia inglesa. Havia um rei, Lennon, que não governava mas era, decididamente, a liderança moral da banda. Havia o primeiro ministro, McCartney, o sujeito que efetivamente tomava conta da administração. A Câmara dos Lordes, personificada por George Harrison. E a Câmara dos Comuns, o velho e bom Ringo.

Mesmo essa classificação, no entanto, é falha, esquemática. A verdade é que os Beatles eram uma democracia. Só isso.