“Doce Novembro” é o remake de 2001 de um pequeno grande filme de 1968, “Sweet November“. Fã da primeira versão, evitei ao máximo assistir à refilmagem. Mas a curiosidade falou mais alto.
Sweet November falava de uma mulher, Sara Deever, que a cada mês se dedicava de corpo e alma a um homem que ela julgasse ter problemas. Ela conhece Charlie Blake, um pequeno industrial workaholic, e pasam o mês de novembro juntos. Obviamente Charlie Blake se apaixona por Sara, e fica sabendo que ela age assim porque tem uma doença incurável e essa foi a forma que encontrou de fazer o máximo do tempo que lhe sobrou, de sobreviver na memória daqueles que a conheceram. Mesmo apaixonada por Charlie, Sara continua em seu projeto de (resto de) vida. O filme termina com Charlie indo embora enquanto Sara recebe o seu dezembro. Ele é forçado a respeitar a vontade de Sara. E finalmente compreende o que tudo aquilo significou, para ele e para ela.
A versão atual teve seu título traduzido literalmente, enquanto o original ficou conhecido por aqui como “Por Toda a Minha Vida”. E, pelo menos no começo, tem até alguns pontos melhor resolvidos que o original, e durante essa parte as atualizações da trama são aceitáveis. Mas o filme não demora a cair no excessivamente piegas, no velho cinemão de Hollywood.
Eu não queria ver o remake porque achava inacreditável que, em 2001, um filme sobre amor livre fizesse algum sentido. Se “Por Toda a Minha Vida” era um dramalhão, como querem alguns, ao menos estava perfeitamente inserido no contexto de sua época, em que se questionava a moral sexual vigente. Querendo ou não, “Por Toda a Minha Vida” defendia um ponto: o de que sexo podia ser bom e saudável, mas não era, decididamente, a coisa mais importante do mundo. Para um mundo que saía da moral hipocritamente rígida dos anos 50, era algo que fazia todo o sentido.
33 anos depois houve uma inversão em tudo isso, e para pior. Desde o início, a questão sexual é tratada com cuidado excessivo. Por exemplo, Sara não pega um homem diferente a cada mês. É uma forma de preservá-la, de torná-la menos promíscua — o que, por si só, mostra que o enfoque é totalmente diferente do original.
O filme mostra também o início do fim de Sara, deixando claro Nelson Moss será o último homem em sua vida. Se nos anos 50 era importante ser o primeiro, nos anos 2000 importante mesmo parece ser o último — o porto seguro, o fim da jornada. A morte de Sara Deever santificará o seu amor.
Essa é apenas uma inversão da moral sexual dos anos 50, e não uma transformação real, como pretendida durante a revolução sexual. De certa forma, a visão do século XXI é tão conservadora quanto a da era Eisenhower. Talvez mais. É isso o que torna “Doce Novembro” um filme ruim. É uma enorme traição ao filme original, e a destruição de tudo o que fazia daquele filme algo curioso e interessante.
(O filme, o original, é um dos meus preferidos. Mas Roger Ebert não pensa assim. O New York Times também não. A Rolling Stone também não. Pensou em mais alguém? Pois é, ele também não gostou.)