Acontece

Saio de casa para comprar uma sandália e resolver alguns assuntos com um amigo. Acabo pulando de bar em bar, e terminando num show do Skank, sabe Deus como. A vida tem umas coisas estranhas. Acontece.

De repente percebo que não conheço mais ninguém em Aracaju. O que é uma pena, porque a droga do camarote tem a maior concentração de mulher bonita que esta cidade já viu. Encontro, claro, algumas pessoas conhecidas, mas são políticos e estão, de certa forma, trabalhando; ou então é gente cuja mão eu me recuso a apertar, e deixo isso bem claro. Na verdade é um filho da puta específico, o mesmo todas as vezes, que por artes do destino eu continuo encontrando nos lugares e horários mais improváveis. Acontece.

Não sou fã do Skank, mas dou uma olhada neles e vejo que um dos músicos toca uma Rickenbacker de 12 cordas; e eu, por alguma razão, admiro qualquer um que toque essa guitarra. Acontece.

1:30 e eu não agüento mais de sono. Saio do show e um sujeito, na portaria, se oferece para comprar a minha camisa, para aproveitar o show da Daniela Mercury. Pelo menos o meu táxi está pago. Acontece.

1:50 e eu, zonzo e em pé há 23 horas, finalmente consegui escrever um post real time, e agora posso me considerar um blogueiro de verdade, que finalmente compreendeu a droga do espírito dessa coisa. This is blogging. This is boring. Acontece.

Acontece também que eu vou dormir, finalmente. Amanhã tenho que estar no aeroporto pela manhã.

A prova de que Rafael Galvão é mau, muito mau

   R    A   F   A   E    L   G   A    L   V    A   O
 82 65 70 65 69 76 71 65 76 86 65 79   – em valores ASCII
   1    2   7   2   6    4    8   2   4    5    2    7    – soma dos números
  _____/ _____/ _____/ _____/
          1                3               5               5            – soma dos números

Logo, “Rafael Galvão” é 1355.

Subtraia 7, o número sagrado dos Illuminati. O resultado será 1348.

Multiplique por 17, o símbolo da dominação — o número agora é 22916.

Adicione 1979, o ano que a Sociedade da Eutanásia Voluntária publicou seu manual do suicídio — o resultado é 24895.

Adicione 93 — o símbolo da doença, escrito ao contrário — e você terá 24988.

Subtraia 1778, o ano em que Oliver Pollock inventou o ‘$’, o símbolo da exploração, sofrimento e injustiça. O resultado será 23210.

Esse número, quando lido de trás para a frente, dá 01232.

No sistema octal é 666. O número da Besta.

Evil Finder

Horóscopo definitivo

Recebi isso há algum tempo por e-mail ou achei em algum lugar, sei lá. A quem quer que seja o responsável por essa peça, meus agradecimentos: finalmente passei a acreditar em horóscopos.

Áries (21/03 a 20/04)
Você tem uma imaginacão fértil e freqüentemente pensa que está sendo seguido pela polícia. Você não consegue realmente influenciar ninguém, apesar de ficar o tempo todo tentando exibir seu poder. Você não tem autoconfiança e é em geral um merda.

Touro (21/04 a 20/05)
Você é prático e persistente. Você tem uma determinação canina e trabalha como um condenado. A maioria das pessoas pensa que você é um teimoso cabeça-dura. Você não é nada além de um maldito comunista.

Gêmeos (21/05 a 20/06)
Você tem um raciocínio rápido e é inteligente. As pessoas gostam de você porque é bissexual. Você tem tendência a esperar muito de muito pouco. Isto significa que você é um filho da mãe barato. Geminianos costumam ter muito sucesso no incesto.

Câncer (21/06 a 21/07)
Você é solidário e compreensivo com os problemas das outras pessoas, o que faz de você um xarope. Você sempre está pondo as coisas para fora. É por isso que você está sempre numa boa, apesar de não valer nada. Todo mundo na prisão é de câncer.

Leão (22/07 a 22/08)
Você se considera um líder natural. Os outros acham você um idiota completo. A maioria dos leoninos são agressivos. Você é vaidoso e não suporta críticas. Sua arrogância é enojante. As pessoas de leão são ladrões e filhos da mãe.

Virgem (23/08 a 22/09)
Você é do tipo lógico e odeia desordem. Sua atitude de cata-merdas é enojante para seus amigos e colegas de trabalho. Você é frio, não tem emoções e freqüentemente dorme enquanto está trepando. Virginianos dão bons motoristas de ônibus e cafetões.

Libra (23/09 a 22/10)
Você é do tipo artístico e tem dificuldades em lidar com a realidade. Se é homem provavelmente é meio veado. Suas chances de sucesso profissional e fortuna são nulas. A maioria das mulheres de libra são prostitutas. Todos os librianos morrem de doenças venéreas.

Escorpião (23/10 a 21/11)
Você é o pior de todos. Você é traiçoeiro nos negócios e ninguém deve confiar em você. Você talvez atinja o sucesso financeiro através da sua total falta de ética. Você é o perfeito filho da mãe. A maioria dos escorpiões deveria ser eliminada.

Sagitário (22/11 a 21/12)
Você é otimista e entusiástico. Você tem uma forte tendência a confiar na sorte, uma vez que não possui nenhum talento. A maioria dos sagitarianos é composta de bêbados. Você não vale um pedaço de merda.

Capricórnio (22/12 a 20/01)
Você é conservador e tem medo de correr riscos. Você é basicamente um merda. Nunca houve um capricorniano que tivesse qualquer importância.Você devia se suicidar.

Aquário (21/01 a 19/02)
Você tem uma mente inventiva e dirigida para o progresso. Você mente um monte. Você comete os mesmos erros repetidamente porque é estúpido. Todo mundo acha que você é o mais completo idiota.

Peixes (20/02 a 20/03)
Você é do tipo pioneiro e pensa que a maioria dos outros são uns cabeças de bagre. Você é rápido para reprimir os outros, impaciente e cheio de conselhos. Você não faz nada além de encher o saco de todos que se aproximam de você. Você é o cabeça de bagre.

Neópolis

Conheci Neópolis no ano passado. Rápido, coisa de uma hora, mais ou menos.

A cidade fica na margem sergipana do São Francisco. Viveu dias mais prósperos no início do século XX; hoje é só uma cidade que se arrasta no tempo à beira do rio. Do outro lado, em Alagoas, fica Penedo, também decadente — mas decai de tempos ainda mais opulentos, e portanto é maior e abriga mais vestígios de sua riqueza passada.

Dos tempos de riqueza de Neópolis restam apenas uma fábrica de juta em ruínas e casas antigas que contam a lenda de uma longa história. No bar em que parei para tomar um refrigerante a estrutura da construção denuncia um edifício do século XIX, no máximo: as grandes e sólidas vigas no teto, as muitas portas que se abrem de par em par. O número de portas mostram que o bar já foi uma casa comercial de prestígio, provavelmente um armazém, um entreposto comercial. Mas agora, para seus moradores, ela é apenas uma casa, o lugar onde moram e trabalham, e auxiliados pelo tempo vão imprimindo marcas que tornam cada vez mais difícil distinguir sua idade. As casas aos poucos se tornam eternas.

Acostumado à desconfiança carioca, tentei pagar o refrigerante antes mesmo que a mulher que veio de dentro da casa com vagareza o pegasse no freezer. Mas o seu código de ética comercial é outro, e ela só espera receber o dinheiro depois que o serviço que me prestou se houver consumado. É assim que as coisas são, e as pessoas não costumam lhe dar motivos para ela veja alguma necessidade de mudança.

Havia chovido, aquela chuva de verão, e o ar estava límpido e fresco. Sentei na calçada e olhei para as pessoas que passavam. Me perguntei por que elas moram aqui — meio-dia na praça, homens fortes e acostumados ao trabalho braçal apenas conversando sob a sombra, se escondendo do calor de janeiro. No século XVIII, quando as diferenças tecnológicas entre grandes e pequenas cidades eram menores, ainda assim as pessoas iam embora, buscavam a exuberância dos grandes centros; como um Lucien de Rubempré correu para Paris, achando-se maior, muito maior que Angoulême.

Os homens usavam as mesmas roupas de 30 anos atrás — camisas de manga curta e tecido fino, calças largas, chapéus de feltro, alpercatas de couro. O mito do caldeirão racial brasileiro não existe aqui, porque todos eles, homens e mulheres, têm a mesma cor de rio, a mesma pele curtida, o mesmo sorriso desconfiado.

Elas passavam em motos e bicicletas. Notei o número alto de carros velhos, e finalmente percebi para onde vão os automóveis que as cidades maiores e mais ricas abandonam em favor de modelos mais novos: vão para o interior custando cada vez menos, e nelas continuam representando o mesmo símbolo de status que representaram em seus anos de glória; são como circos decadentes que precisam de cidades cada vez menores, cada vez mais atrasadas para levantarem os ohs e ahs de admiração que um dia ouviram de platéias mais sofisticadas, cuja memória aos poucos vai se perdendo.

Então vi que a pergunta que eu fazia não tem sentido, porque o que as faz continuar ali é o mesmo que fez as pessoas, ao longo dos séculos, continuarem em suas cidades, e nascerem e morrerem com as mesmas perspectivas modestas, e mais certezas do que dúvidas. A resposta é tão simples: elas não se acham maiores que Neópolis.

Talvez ninguém seja. Paguei meu refrigerante e fui embora.

O quinto poder

As fotos dos prisioneiros iraquianos na prisão de Abu Ghraib (Mario Sergio Conti faz uma análise primorosa delas em nomínimo) não são somente a documentação definitiva da bestialidade dos soldados americanos.

Elas indicam que, numa guerra em que a imprensa se tornou apenas mais uma das armas do governo, em que toda a credibilidade que a CNN conquistou em 20 anos foi por água abaixo, a democratização da informação — atavés de rupturas tecnológicas como a fotografia digital e internet — representou talvez a principal força capaz de mostrar a verdade ao mundo.

A imprensa ajudou a acabar com a Guerra do Vietnã ao mostrar aos americanos a verdade da guerra — corporificada na menina correndo nua, braços abertos, queimaduras de napalm. Mas em 2003 se tornou a grande agência de relações públicas do exército americano. O quarto poder se tornou um apêndice servil do primeiro, encarapitada em tanques de guerra e torcendo para que o fato de sua cobertura se dar em tempo real escondesse a vergonha de ser controlada e dirigida. Durante a invasão do Iraque, a imprensa foi um filme com roteiro fraco e bons efeitos especiais.

Sempre se disse que não há democracia sem imprensa livre. Se esse axioma continua sendo verdadeiro, perde cada vez mais sua importância. Em outros tempos, não haveria alternativa a uma situação como a que se enfrenta durante a invasão do Iraque. Mas agora o cidadão prescinde cada vez menos dela, porque tem as ferramentas necessárias em suas mãos. Precisa cada vez menos de porta-vozes, e não há democracia maior que essa.

As fotos de Abu Ghraib foram tiradas por pessoas comuns e enviadas via internet. Muitas delas para que bestas iguais aos torturadores se deliciassem com a humilhação daquele povo esquisito. Mas outras, certamente, chegaram aos Estados Unidos movidas pela indignação e pela consciência de que se devia fazer alguma coisa — e foram espalhadas internet afora por essa razão.

O que importa é que sem elas não haveria, dentro dos Estados Unidos, a aceleração na mudança da opinião pública que provavelmente se verá a partir de agora. E em que pesem os sentimentos do resto do mundo, é o único lugar que realmente importa, porque só os americanos podem tirar aquele genocida do poder.

Essa mudança nos papéis e na relevância da imprensa e dos cidadãos é importante, provavelmente uma das mais importantes dos últimos anos. Pela primeira vez a tecnologia e a internet desempenharam um papel fundamental e claramente identificável na garantia da liberdade. Este é um momento histórico e que não deve ser esquecido.

Lynddie England

Dia desses estava vendo Lynddie England, a torturadora de iraquianos e atual dominatrix dos sonhos de 10 entre 10 masoquistas, se desculpando na TV.

Sua covardia em assumir seus atos me deixou menos impressionado que a sua desfaçatez em culpar exclusivamente superiores, quando todos viram o seu imenso prazer em fazer de prisioneiros seus brinquedos de estupidez sádica. Ver a sua expressão compungida, cara de santa puta hipócrita, me irritou profundamente.

Eu devo ser muito burro para me impressionar assim. Que mais se podia esperar daquilo?

Calúnia

Eu queria saber o que faz as pessoas pegarem um texto qualquer e tascarem uma assinatura de alguém famoso. Recebo coisas assim diariamente em meu e-mail.

É batata. Se é um texto cômico, é do Luiz Fernando Veríssimo. Se é um poema bonitinho, é do Mário Quintana.

Basta uma leiturazinha rápida e dá para saber que a assinatura não corresponde à autoria do texto. No caso do Veríssimo é fácil, porque atribuem a ele coisas escritas em estilo menos fluido e normalmente mais grosseiras. No caso do Quintana é mais difícil, mas um bom princípio é o de que ele é um escritor leve, e não piegas.

No caso do Veríssimo, tudo bem: ele está aqui e pode, em último caso, restabelecer a verdade. Mas o Mário Quintana morreu há 10 anos e não pode se defender das tragédias que algum desocupado impinge a ele.

É uma das coisas neste mundo, vasto mundo, de poucas raimundas e muitos raimundos que eu não consigo entender. É o anti-plágio, e se eu consigo entender o mecanismo da admiração e inveja que move um plagiador, não sei por que cargas d’água alguém escreveria algo e o assinaria com o nome de alguém famoso por ter um estilo parecido.

Mas, como dizia meu bisavô, tem gente para tudo neste mundo — e ainda sobra um para comer merda.

Notícias estranhas em um blog esquisito (X)

Guias turísticos são úteis, sempre.

Mas Cingapura está lançando um guia que deixará todos os outros no chinelo: um guia de banheiros.

Quem já esteve num lugar desconhecido e de repente ouviu o chamado imperioso da natureza sabe o que é correr os banheiro fétidos dos bares. Quem não conhece assista a Trainspotting e terá uma boa noção da tragédia que isso significa.

Esse guia deveria receber o Nobel da Paz.

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Uma tragédia abalou a Noruega esses dias.

De repente, não mais que de repente, do riso fez-se o pranto, e o papel higiênico estava em falta. Eles tiveram que importar, às pressas, papel da Dinamarca.

Imagino que só uma grande feijoada nacional, e seus respectivos efeitos, para criar uma situação de calamidade pública dessas.

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Continuando este post escatológico, um ladrão foi pego em flagrante porque, durante o roubo da casa de um sujeito, parou para usar o banheiro e, educadamente — ladrão, sim, porco não –, deu descarga. O dono da casa acordou e, obviamente, deu merda.

O ladrão cagão pode pegar alguns anos de cadeia.

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A primavera é linda e é a estação ideal para enterros.

Pelo menos no Alaska.

Com a chegada da primavera o solo da região fica menos duro. E os cemitérios estão se preparando para enterrar, agora, pessoas que morreram nos últimos 7 meses.

Deve ser curioso morar num lugar onde, além de não poder morrer no inverno, você tem que entrar na fila para ser enterrado.

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Festival religioso numa cidadezinha no México.

Uns copos a mais e a confusão começa. A discussão sai de controle, um empurra o outro, soco daqui, soco dali — e então um deles puxa a arma e mata o adversário.

O morto era o prefeito da cidadezinha.

O assassino era o padre local.

Que provavelmente não esqueceu de dar a extrema unção.