Notícias estranhas em um blog esquisito (XVII)

Protestantes em Pamplona tiraram a roupa para protestar contra a corrida de touros que a cidade realiza todo ano. Eles a julgam, obviamente, um atentado aos animais.

Sou só eu que acha essa mania européia de tirar a roupa para protestar contra qualquer coisa um saco? Parece aqueles abraços na Lagoa — que continua imunda — ou as passeatas do Viva Rio.

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Da série “agora eu entendo por que debocham tanto dos canadenses”: o TSE de lá avisou aos eleitores que não comessem suas cédulas eleitorais, o que fizeram nas últimas eleições em protesto contra a falta de candidatos decentes.

Não é por nada, não, mas nem na cidadezinha mais miserável do Piauí ou de Alagoas a gente anda comendo nossos votos.

A gente troca por dentadura. Que os safados nem sempre entregam.

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Um terapeuta do Nebraska teve sua licença cassada por ter atirado em um recado que o irritou.

O que comprova a minha teoria de que terapeutas, psicólogos, psicanalistas e psiquiatras são, normalmente, mais malucos do que eu.

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Segundo o Instituto da Felicidade australiano, você não precisa de milhões de dólares para ser feliz. Uns duzentinhos já quebram bastante o galho.

Povinho barato, esse.

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O prefeito de uma cidade do Quênia mandou matar 500 porcos porque eles andavam fazendo saliência com cachorros viralatas.

Sujeito insensível. A gente vive pedindo que os homens se confraternizem uns com os outros, independente de sexo, raça ou credo. Por que isso não vale para o reino animal?

E cachorro, como dizia o Magri, também é gente.

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Um casal de iranianos não agüentou. Apesar do Corão não simpatizar muito com o sexo antes do casamento, os jovens enamorados perceberam que a carne é fraca. Muito fraca. Depois, em vez de virar para o lado e dormir, se viram consumidos pela culpa, fizeram um pacto de morte. Ela cumpriu sua parte; ele não.

Foi preso. Mas pelo menos está vivo.

E a besta que acreditou nele pela segunda vez está mortinha da silva. Ela devia ter aprendido a lição da primeira vez, quando ele falou “eu não vou fazer nada que você não queira…”

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Um inglês que atirou acidentalmente em seus próprios testículos (depois de beber 15 canecas de cerveja) foi preso e condenado a cinco anos. A razão: porte ilegal de arma.

Não sei como é na velha Albion, mas aqui, quando o réu sofre efeitos tão duros, julga-se que já houve castigo suficiente.

De qualquer forma, para ele não deve fazer diferença. Agora tanto faz.

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Parece que aquela história de que esportes mantêm as pessoas longe das drogas é verdade, mesmo.

Um helicóptero que seguia a tocha olímpica, em Creta, achou uma fazenda de plantação de maconha.

Contos de fadas, reloaded

Alguém veio parar aqui procurando pela combinação de palavras Chapeuzinho Vermelho e canibalismo.

É um ângulo interessante sob o qual olhar a história, mas o canibalismo que me vem à cabeça é outro.

Para mim (e para o Neil Jordan, que fez um filme inteiro sobre isso), as entrelinhas dizem respeito à sexualidade, e não a hábitos alimentares lecterianos.

Descobrir as delícias do sexo extra-marital — e os horrores da condenação social — é o que acontece a quem não ouve os conselhos de sua mãe. Cabe à Chapeuzinho não repetir o erro da vovó, enganada por lobo semelhante em sua juventude. Lobos são uns cafajestes. Pedem, prometem tudo, até amor.

Mas isso importa pouco. Talvez seja uma teimosia burra, mas por várias razões tento não deixar que o que acho hoje sobre essas histórias atrapalhe a visão mágica que já tive deles.

Eu já sei que Rapunzel é a vítima alegre de uma velha lésbica, que resolveu trancar a pobrezinha numa torre para poder desfrutar sozinha de seus encantos sáficos. Rapunzel, no entanto, se encantou com a beleza fálica do príncipe e renegou a pobre bruxa, que estava velha e desdentada (mulheres desdentadas, como se sabe, são mais úteis para a felação que para a cunilíngua). Coladoras de velcro, desde que não masculinizadas, podem e devem ser recuperadas.

Sei que “Quero Ver” é a melô do sexo anal.

Que os Três Porquinhos são uma maneira simples de incutir nas crianças a ética protestante do trabalho.

Sei que a Dona Baratinha mostra que mulher que escolhe muito acaba no caritó, e que não tem o direito de querer algo melhor do que ela. Deve se contentar com o pouco que se lhe oferece.

Que o Gato de Botas, além de uma lição de alpinismo social, ensina que para subir na vida o importante é mentir e ser esperto, porque isto aqui é uma eterna luta de classes e os ricos são o inimigo a ser vencido, ao mesmo tempo que o prêmio a ser conquistado.

Sei também que Cinderela é a prova de que, se você for uma pessoa humílima e comer o pão que o diabo amassou, um dia Deus se apieda e lhe manda uma fada madrinha para fazer com que você deixe de morder beira de penico dizendo que é biscoito. Recomenda-se apenas que você seja bonita, porque Deus não tem dó das feias.

E que a Bela e a Fera mostram que, mesmo que você tenha um pai covarde, egoísta e venal, é melhor aceitar o casamento por interesse que ele te arranja com um homem detestável, porque embaixo daquela máscara de grosseria e maus modos pode haver o doce consolo de uma alma nobre ou, sendo mais realista, um sujeito que que sustente você e o vagabundo do seu pai.

É, eu já sei de todos esses detalhes. O mundo, no entanto, não fica melhor por isso.

Fica combinado assim: Chapeuzinho Vermelho, et nunc et semper, é só a história de uma menina que mora na fímbria da floresta e que, certo dia, vai levar uma cesta de doces para a vovozinha.

Raio X

Via Boing Boing: Daryl Miller, de saco cheio dos procedimentos anti-terroristas nos aeroportos, não agüentou e baixou as calças. Estava sem cuecas. Foi preso, claro, mas expôs — e bem — seu ponto de vista.

Para quem tem que enfrentar aeroportos aqui em Pindorama, onde o terrorismo é praticado apenas por políticos que dão carteiradas e tiram lugares de criancinhas, Miller é um ícone a ser reverenciado.

Um dia arranjo coragem e faço isso também. Devia ter feito ano passado quando, voltando de Fortaleza para o Rio, numa conexão em São Paulo, os idiotas de Cumbica me fizeram entrar na fila de checagem de passaporte, só porque o avião ia para Buenos Aires.

Mas eu confio na parvoíce deles. Minha chance há de chegar.

Uma caixinha de surpresas chamada Abu Ghraib

Via Ed Cone: o jornalista Seymour Hersh diz que o governo americano tem video-tapes de garotos sendo sodomizados em Abu Ghraib.

O pior, segundo Hersh, é a trilha sonora, que consiste basicamente nos urros dos rapazes.

Obviamente, para esses garotos, viver sob a invasão americana é muito melhor que sob a ditadura sanguinária de Saddam. Sem falar naqueles que se vêm no meio do fogo cruzado entre soldados bonzinhos e terroristas compassivos.

Viva a liberdade e a democracia.

Porto da Barra

Eu não gosto de praia. Não consigo lembrar quando foi a última vez que fui a uma.

Não foi sempre assim, no entanto. Fui criado no Porto da Barra, e como estudava à tarde ia para lá todas as manhãs.

Porto da BarraA Barra é uma praia especial. É uma praia de baía, que ainda por cima fica numa enseada e tem, para completar, um velho ancoradouro que funciona como quebra-mar. É uma praia tranqüila, espremida entre rochas, e com uma concentração mais alta de sal; é por isso que é a única praia em que consigo boiar.

Foi lá que aprendi a nadar. Foi onde dei meus primeiros e últimos passos na chatíssima arte de pescar. Peguei um baiacu pequenininho, antes que uma moréia mastigasse meu anzol, e com exceção de umas traíras muitos anos depois, foi o único peixe que peguei até hoje.

Talvez tenha deixado de gostar de praia quando vim morar em Aracaju, começo da década de 80. Além da fealdade das praias sergipanas, Aracaju não tem a cultura de praia que se vê na Barra ou em Ipanema. Provavelmente por ser uma cidade que cresceu às margens de um rio, Aracaju não via a praia como uma coisa cotidiana, tão próxima. Na verdade, até há uns 50 anos aracajuanos iam veranear na praia de Atalaia. Ir à praia em Aracaju significa se preparar para passar a maior parte do dia fora, sentar numa mesa de bar, comer caranguejo ou qualquer outra coisa, e então voltar para casa com a sensação de que realmente aproveitou seu dia.

A minha cultura específica era sair de casa andando, passar algumas horas na praia, tomar um mate (no Rio; em Salvador não tinha mate gelado), uma limonada ou um picolé, e voltar aí pelas 11 da manhã. A diferença de abordagem deve ter tirado toda a graça da praia para mim. A praia deixou de ser uma parte do cotidiano para se tornar um evento semanal. Já não era a mesma coisa.

No Porto da Barra havia os pescadores que chegavam e me davam os peixes menores, com os quais eu inventava brincadeiras. Uma vez fiquei empolgado ao pedir e ganhar uma cabeça de tubarão. Peguei aquilo e levei para casa, junto ao peito, para no dia seguinte descobrir o estrago que a pele dele fez em mim. A cabeça, por minha insistência, ficou no congelador por alguns dias, até que alguém chegou à conclusão que mais valia me traumatizar do que continuar com aquela coisa inútil entulhando tudo.

E não, eu não fazia idéia do que fazer com aquela cabeça de tubarão. Acho que a melhor idéia que tive foi empalhar aquilo. Eu via filmes demais.

Nunca ganhei uma cabeça de tubarão em qualquer outra praia. E essa é outra explicação para o fato de eu não gostar delas.

Escravos de Jó

Admito ter uma tendência incontrolável a inventar bobagens.

Há alguns anos resolvi convencer uma moça, numa manhã meio tediosa, de que a música infantil “Escravos de Jó” era uma ode ao homossexualismo que já estava aí por mais de dois mil anos.

Segundo a minha explicação, a cantiga vinha dos acampamentos militares espartanos, famosos por incentivar namoros entre seus soldados, que assim lutariam com mais bravura. Esses soldados eram normalmente recrutados entre os escravos. Jó teria sido um famoso general, amante de Péricles numa das mais belas páginas da história antiga devido à rivalidade entre suas cidades. Ele escrevera alguns livros, hoje perdidos, estabelecendo a relação entre guerra e homossexualismo.

Era fácil. O verso “Escravos de Jó jogavam caxangá” significava que os escravos sexuais de Jó faziam brincadeiras entre eles. Caxangá, em grego vulgar arcaico, era uma dança sensual, vinda da Turquia, em que os órgãos sexuais dos dançarinos se tocavam.

“Tira, bota deixa o zabelê (ou Zé Pereira) entrar” — referência clara à penetração e à necessária permissão da parte passiva.

“Guerreiros com guerreiros fazem zig-zig-zá” — novamente, referências aos jogos sexuais; aqui está configurada uma orgia, realizada alegremente nos acampamentos dos valorosos espartanos.

Ela acreditou.

Por isso a minha tese de que é fácil convencer as pessoas de quaisquer absurdos que você queira. Basta que alguém não conheça o assunto e você reforce sua teoria com alguns dados pretensamente históricos: elas normalmente têm preguiça de checar. É mais fácil acreditar em você. As pessoas partem do princípio de que ninguém é tão idiota a ponto de inventar uma história dessas.

Tadinhas.

Esse foi o mais próximo da semiótica que já cheguei em toda a minha vida. Uma besteira combina com a outra.

Tiro e Queda, Ano III

O Tiro e Queda, site do qual o Bia, menos que idealizador e um dos principais motores, é o síndico, está completando 2 anos.

O TQ é é uma espécie de tribuna livre de Limeira, cidade do interior de São Paulo. Não é um site político ou literário; é, basicamente, um lugar onde um bocado de gente boa pode falar.

O mais interessante é que nesses 3 anos, pela sua importância no cotidiano da cidade, o TQ já se tornou um referencial, a ponto de merecer citação em monografia e de ser o tema de trabalhos finais de curso. Isso não é pouco. É provavelmente o maior elogio que se pode fazer a uma meio de comunicação (e talvez uma vitória do Bia, que não é bacharel em jornalismo, mas é jornalista).

Criou sua cota de barulho, também. Dá para imaginar a importância que o site adquiriu na cidade; esse tipo de provocação intelectual é importante, principalmente em cidades pequenas.

O que faz a diferença do TQ é a liberdade dada pelo Bia. A Mônica, que escreve quando Deus dá bom tempo, tem um depoimento simples a dar sobre sua experiência no TQ; e as dezenas de outros colaboradores e colunistas podem falar o mesmo.

O Tiro e Queda, que vem se sustentando sem anunciantes ou patrocínio, está precisando de dinheiro. Se você não tem, leia, divulgue. Já é um começo. E mesmo que Limeira não lhe interesse, esse é o tipo de coisa que é sempre necessária. Em qualquer lugar.

Moqueca

Do UOL Notícias:

Um simples limão pode conter resposta para a prevenção da Aids, permitindo a elaboração de um gel vaginal capaz de destruir o HIV, protegendo milhões de mulheres durante as relações sexuais, de acordo com a pesquisa de uma equipe australiana, inspirada nas antigas tradições rurais do sudeste asiático. Na região, o suco de limão é usado como contraceptivo pelas mulheres, pois sua acidez mata os espermatozóides.

Peixe sempre foi bem com limão.

B. O.

— Eu queria registrar uma ocorrência. Furtaram minha carteira, com todos os meus documentos.

— Certo. Nome, por favor?

— Rafael Galvão.

— Tem algum documento aí?

— Minha carteira…

— Ah, claro. Data de nascimento?

— 20/02/71.

— Idade?

— …

— Idade?

— 33 anos.

— Residência?

— Blá blá blá, Ed. Stephanie.

— E… S…

— Não. S-T-E-P-H-A-N-I-E.

— OK. O que tinha na carteira?

— Isso, aquilo, um cartão de crédito Diners, aquilo, isso.

— Eu não sei escrever Diners.

— D-I-N-E-R-S.

E digitando lentamente, lentamente, lentamente, as unhas muito sujas, aliança no anular direito, ele escreveu que moro no edifício Esphane.