Eu, hippie

Testezinho interessante: “20 Questions to a Better Personality“.

Meus resultados, errados como sempre, são os seguintes:

Wackiness: 32/100
Rationality: 32/100
Constructiveness: 80/100
Leadership: 48/100

You are an SECF–Sober Emotional Constructive Follower. This makes you a hippie. You are passionate about your causes and steadfast in your commitments. Once you’ve made up your mind, no one can convince you otherwise. Your politics are left-leaning, and your lifestyle choices decidedly temperate and chaste.

You do tremendous work when focused, but usually you operate somewhat distracted. You blow hot and cold, and while you normally endeavor on the side of goodness and truth, you have a massive mean streak which is not to be taken lightly. You don’t get mad, you get even.

Please don’t get even with this web site.

Carlos Alberto

De madrugada, vindo do bar do Pinto com os bolsos vazios como de costume, Carlos Alberto senta à máquina e declara ao resto da redação:

— Tem um concurso de poesia vindo aí. Tô precisando de dinheiro. Vou fazer um poema pra ganhar o primeiro prêmio.

Faz.

— Agora vou fazer um pra ganhar o segundo prêmio.

Faz.

— Agora, o terceiro.

Faz.

Vence o primeiro e o terceiro lugares. Mas as Parcas insistem em cortar o fio da sua empáfia, como farão repetidas vezes com seus descendentes, e o segundo prêmio vai para outra pessoa.

***

Nega Lia vive sendo presa. E um dia Carlos Alberto lhe dá algumas dicas sobre o que fazer quando lhe prenderem.

Em sua próxima prisão, Nega Lia segue à risca o conselho.

Lambuza o corpo inteiro de merda e sai andando, tranqüila, em direção à porta. Conforme a previsão, ninguém tem coragem de pará-la. E então ela avisa que vai cumprir a última parte do roteiro que lhe foi dado:

— Agora vou dar um abraço no secretário de Segurança.

Os policiais entendem que isso é demais. E avisam que ela pode ir ambora, mas se subir à sala do secretário eles atiram.

Com um mínimo de sensatez, ela sai da Secretaria de Segurança. Na porta se vira e começa a fazer escândalo.

— Vocês são um bando de merdas. É tudo burro. Foi Chatô quem me disse o que fazer. Chatô é mais inteligente que vocês todos.

E nos próximos dias Carlos Alberto tem que ouvir as reclamações do pessoal, que acha que alguns conselhos não devem ser dados.

***

Noite de sexta-feira, Carlos Alberto e Marcelo sobem a ladeira da Barra chutando lata, reclamando dos bolsos vazios.

De repente uma vernissage, e Carlos Alberto descobre onde beber.

Entra, se aproxima de um quadro e começa a fazer comentários elogiosos e aparentemente eruditos sobre a peça. O marchand se aproxima, deliciado. Agora o uísque e os canapés chegam a eles com fartura e pontualidade.

— Passe na agência segunda à tarde, para entregar o quadro e pegar o cheque.

E então a noite está liberada, e mais uísques e mais canapés.

Segunda-feira e o marchand bate na agência, trazendo o quadro embrulhado para presente numa Kombi.

— Carlos Alberto, tem um sujeito aí fora dizendo que veio entregar um quadro que você comprou.

Ele sai e vê o sujeito.

— Pois não, meu amigo?

— O quadro que o senhor comprou…

— Eu não comprei quadro nenhum. Eu nem conheço o senhor.

— Como não? O senhor foi à vernissage na sexta, comprou o quadro, bebeu uísque…

— O senhor me deu uísque? Então tá explicado. Mas vai, mostra aí o quadro.

O sujeito desembrulha seu pacote.

— Esse quadro é uma merda. Eu nunca compraria uma coisa ruim dessas.

E volta a entrar na agência.

***

O prazo para apresentação do anúncio está chegando ao fim, mas Duda olha em volta e não tem anúncio e não tem Carlos Alberto.

A agência, a esta hora, está desesperada. As secretárias choram.

Carlos Alberto chega na agência e Duda lhe dá um esporro:

— Porra, Jesus, cadê o anúncio?

— Duda, eu deixei na sua mesa ontem.

E começa a procurar. Duda corre, chama as secretárias, colocam a sala de pernas para o ar.

A essa altura Carlos Alberto já saiu. Vai para sua sala, senta à máquina, escreve o anúncio e volta para a sala de Duda. Disfarçadamente coloca os papéis no meio da bagunça e espera acharem.

Quando acham — e aquela é uma bela peça — é a vez de Carlos Alberto comentar:

— Sabe qual é o problema, Duda? É essa bagunça em que a sua sala vive. Você devia ser mais organizado.

***

Antigamente era muito pior, mas ainda hoje, de vez em quando, me apresentam a gente da velha guarda:

— Esse daqui é o filho de Carlos Alberto.

Há muito me acostumei a fazer uma pequena correção.

— Não é bem assim. Carlos Alberto é o pai de Rafael Galvão.

A ordem dos fatores altera o produto.

Post levemente machista

Mesa de bar: um amigo se declara podólatra e uma amiga se assusta.

Como sói acontecer às donzelas deste país, ela se apressa em dizer que mulheres não têm essas taras esquisitas.

Aí se levanta a questão: e essa tara feminina em bundas de homens, é o quê?

Bunda de homem não presta para nada. Nada. Peito de mulher presta para alguma coisa, bunda de mulher é amortecedor. Mas bunda de homem é só um apêndice inútil que está ali por estar, prova da evolução imperfeita da raça.

E tenho dito.

My Sweet Lord

Ouvindo All Things Must Pass com atenção pela primeira vez em muito tempo. É o disco que George Harrison lançou logo depois de sair dos Beatles. Antes achava excessivo, achava que a crítica era exagerada e ele daria um bom álbum duplo, ou um álbum simples brilhante. Eu, como acontece mais vezes do que gosto de admitir, estava errado. O disco é genial. É o melhor álbum triplo de todos os tempos. É uma obra prima.

O que me chama atenção é My Sweet Lord. Até agora, eu cantava a música com despreocupação. Preferia rir do fato de ela ser um plágio de He’s so Fine, das Chiffons, e achava aquele monte de “Aleluia” e “Hare Khrishna” bonitinhos. Era uma bela canção, belos violões de Peter Fampton, boa produção de Phil “Shoot Me” Spector, bons solos de Harrison, e só. Ela estava no domínio do pop, e esse é um domínio que, embora o meu preferido, não ultrapassa tantos limites.

Só agora vejo que a música não está na frase “my sweet Lord“. Está em “but it takes so long“. De repente a música adquire uma intensidade angustiada que eu não reconhecia nela.

Alguma coisa aconteceu ao longo de todos esses anos. E tenho a impressão incômoda de que foi comigo.

Cara de bobo

Dou à moça o número do meu segundo celular, o de Aracaju, e ela comenta, comparando com o do Rio:

— Você escolhe a dedo os números dos seus celulares?

— Nunca escolhi nenhum. É que as atendentes sempre vão com minha cara. Olho pra elas com cara de menino ingênuo pensando “você é gostosa” e elas cuidam de mim. Sempre funciona. E ainda perguntam se quero trocar o número. Eu nunca troco. Não faria uma desfeita dessas com moças tão gentis.

O pastor

Quando vejo o entusiasmo com que o Marmota espera as Olimpíadas, fico pensando no meu próprio desinteresse.

Que provavelmente vem do fato de minhas habilidades esportivas se limitarem a xingar o juiz quando aquele ladrão não marca uma falta para o Flamengo. Jogos não são a minha praia.

Não é que eu não goste de competir; eu não gosto é da possibilidade de perder. Deve ser por isso que participei de relativamente poucas competições esportivas em minha vida.

A primeira de que me lembro foram Jogos da Primavera de 1982, em Aracaju. Eram uma competição interescolar nos moldes do torneio de mesmo nome criados pelo Mário Rodrigues Filho, no Rio. Eu tinha acabado de chegar à cidade e o clima olímpico me contagiou.

Como eu não tinha exatamente muitas aptidões esportivas, participei da competição na equipe de xadrez do meu colégio. E daí que o xadrez seja um jogo que serve apenas para desenvolver a capacidade das pessoas jogarem xadrez? Eu estava participando e perfeitamente integrado a uma cidade que não conhecia e que, cá para nós, detestava.

Eram 13 competidores. Fiquei em décimo-segundo lugar. A humilhação só não foi maior porque alguém ficou em décimo-terceiro. Eu, pelo menos, ganhei um jogo.

Na verdade fui a apenas três. Perdi o primeiro rapidinho. A gota d’água foi quando, no terceiro jogo, o sujeito me derrotou em 2 minutos. Com o “pastor”.

Para quem não conhece, essa é uma das jogadas mais básicas do xadrez. Uma das mais fáceis de se bloquear, também — basta mover o cavalo, se não me engano. A situação foi tão humilhante que meu oponente, penalizado, parou para me ensinar o que fazer, depois que ganhou.

(O sujeito era melhor que eu. No seu lugar eu teria tripudiado do idiota que se atrevia a encarar aquilo sem saber sequer o básico.)

Não voltei mais àquele antro de perversidades. Por isso minha surpresa quando vi que não era o último colocado, ao final dos Jogos.

Ganhei o segundo por W-O, de um sujeito que não deu as caras. E até hoje acho que tinham aplicado o pastor nele, um ano antes.

Porque o Orkut fala português

A notícia vem criando certo orgulho ufanista na internet brasileira: nós, tupinambás, somos maioria individual no Orkut. Talvez não demore até nos tornarmos maioria absoluta, mesmo que 7 vezes mais americanos usem a internet. Seguros de nossa inesperada superioridade, incorporando Davis que venceram Golias numa guerra inexistente, debochamos dos americanos incomodados — infelizmente menos do que gostaríamos — com a inculta, bela e última flor do Lácio.

Mas não é essa a questão.

Enquanto corremos ansiosa e alegremente para simpáticas perdas de tempo como o Orkut, iniciativas conseqüentes e realmente importantes como a Wikipedia, que tem uma versão em português, são o objeto do nosso mais profundo desprezo.

A Wikipedia é uma das melhores invenções da Internet porque usa o poder da rede e da capacidade criadora coletiva para criar um repositório confiável de conhecimento. É uma enciclopédia criada e mantida por usuários. Qualquer um pode escrever um verbete, qualquer um pode revisá-lo, todos podem acrescentar algo. O resultado está se tornando maior e mais abrangente que qualquer enciclopédia em toda a história da humanidade jamais pôde almejar ser. Mas eu não uso a versão em português da Wikipedia porque ela é insuficiente. Não há bastante brasileiros interessados o suficiente em criar, compartilhar e consolidar conhecimento. Se preciso saber alguma coisa, vou direto à versão em inglês.

Preferimos perder tempo no Orkut.

Para nós, a idéia de comunidade é interessante quando significa carnaval. Mas quando o assunto é sério, somos individualistas. Compartilhamos alegremente nosso ócio e nosso lazer. Conhecimento de verdade é outra coisa.

Ultimamente temos falado muito em software livre, em inclusão digital e outras coisas do gênero. De modo geral as pessoas parecem não perceber que a verdadeira vantagem do software livre não é a gratuidade, é a possibilidade de também desenvolvermos tecnologia e sair da periferia. Isso quer dizer produzir conhecimento, e aí a analogia com a Wikipedia é inevitável. Inclusão digital sem acesso ao conhecimento é como dar uma enxada a quem não tem terra. O conhecimento estará restrito àqueles que falam inglês; a patuléia estará alijada, como sempre — mas não vai se importar porque estará ocupada esperando que o CDI instale um computador em sua favela, para finalmente entrar no Orkut e poder dizer que sim, que não é mais excluída digital.

Podemos ter até orgulho de ser maioria nas comunidades do Orkut, aquelas significativas como “Eu não faço sexo oral” ou “Eu tenho peitão”. Podemos perder tempo detonando o Diogo Mainardi, o homem que todos amam odiar, ou dizendo que amamos Chorrochó, no sertão da Bahia. Entretanto, no que é realmente importante, no que vai realmente permanecer e ser considerado uma verdadeira contribuição à humanidade, somos minoria. Não importa o nosso orgulho pela crescente lusofonia do Orkut: na hora que realmente precisarmos desta joça aqui vamos ter que recorrer ao velho the book is on the table.

Mas isso não vai importar, vai? Porque o Orkut fala a nossa língua.

Enquanto isso, já que falei na tal última flor do Lácio, na Wikipedia Olavo Bilac é verbete na língua do bardo, mas não na sua própria.

Notícias estranhas em um blog esquisito (XIX)

Uma alemã, depois de uma briga por telefone com o marido, pegou uma marreta e foi “remodelar” o seu carro.

O estrago foi grande. O único problema é que ela errou o alvo e destruiu o carro de outra pessoa.

Parece que a briga começou quando o marido a chamou de burra.

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Biólogos ingleses deram para falar com seus animais.

Ora, mas por que o espanto? Eles são ingleses, dammit!

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Um professor de auto-escola alemão, que ensinou mais de mil pessoas a dirigir, diz que nunca tirou sua habilitação, porque bombou no primeiro teste e ficou nervoso demais para tentar uma segunda vez. Isso foi há 43 anos.

Eu sempre digo que esses alemães têm um cérebro que funciona de maneira meio esquisita, não digo?

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Conscritos — eu adoro essa palava — finlandeses estão conseguindo dispensa do serviço militar alegando que são viciados em internet.

Pena que não houvesse internet quando tive que me alistar. Eu não teria levado cartinha para comandante nenhum, nem pensado seriamente em alegar que era um comunista homossexual terrorista psicótico arrimo de família.

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Sherelle Purnell, de 18 anos, roubou 4.52 dólares em gasolina. Foi pega e condenada em Salisbury a ficar parada no posto, usando uma dessas placas de homem-sanduíche, com os dizeres “Fui pega roubando gasolina“.

Como ela chegou hora e meia atrasada para o cumprimento de sua sentença, a maior parte da multidão alegre, que tinha levado os filhos para ver a humilhação pública, já tinha se dispersado.

Daí a estrelas de Davi amarelas obrigatoriamente pregadas nas roupas é só um passo.

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O padre tem 43 anos; a freira tem 26. E juntos resolveram que o êxtase espiritual de se entregar a Jesus não era suficiente para aplacar o desejo que queimava sua carne, fraca carne. Foram pegos obedecendo à palavra de Deus, que disse há muito tempo “crescei e multiplicai-vos“, em um Corolla estacionado perto do aeroporto. Passaram a noite na cadeia, infelizmente separados, mas as queixas foram retiradas.

Pecadores. Eles deviam seguir o exemplo dos padres de Boston, que fazem as coisas escondidos.

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Na Inglaterra, um cão farejador de drogas morreu de overdose.

Quando eu parar de rir, comento.

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A moça entrou no sex-shop em busca de emprego e preencheu uma ficha.

Deve ter achado que não iria conseguir, porque roubou alguns brinquedinhos. Infelizmente o alarme tocou, ela jogou tudo no chão e saiu correndo.

Mas como tinha preenchido a ficha com nome e endereço reais, não foi difícil achá-la.

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Uma mulher foi presa numa estação do metrô em Washington. Foi algemada e passou 3 horas detida.

Seu crime: estava comendo doce na estação.

Essa notícia me alegrou o coração. Eu avisei, eu avisei. Bem feito. Quando começaram a perseguir o cigarro, adverti que teria conseqüências drásticas, porque zelotes calvinistas nunca se contentam com pouco. Bem feito. Ha. Ha. Ha. Aqui se faz, aqui se paga.

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Um museu sul-africano vai realizar uma exposição de mestres da pintura holandesa do século XVII (o que inclui Van Dick, entre outros) na Cidade do Cabo.

O detalhe é que as telas vão ser expostas viradas para a parede.

O curador, o gênio revolucionário mundialmente conhecido e idolatrado Andrew Lamprecht, diz que isso é uma “intervenção conceitual artística”. Quer forçar os visitantes a reconsiderarem suas concepções da arte e seu legado na África do Sul.

Ele já conseguiu: me fez perder todo e qualquer respeito que eu porventura viesse a ter pela arte sul-africana. E me lembrou que John Lennon (“Avant-garde é merda em francês”) e Göring (“Quando ouço a palavra ‘cultura’ eu saco minha Browning”) tinham lá suas razões.