Último post sobre marketing político

E O Globo decretou o fim do meu ganha-pão.

Alguém tem um emprego para um pobre redator que fuma muito e bebe pouco, que gosta de Balzac e do Batman, que troca o dia pela noite, que conhece Casablanca de cor e que tem uma filha absurdamente linda para criar e evitar que se torne publicitária também?

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De qualquer forma tenho uns comentários a fazer.

Primeiro, algumas informações estão erradas. “A ausência de Duda da capital paulista a dez dias da eleição mostrou que não era tão relevante sua participação na campanha da prefeita Marta Suplicy” é uma meia-verdade, porque com o pau comendo na campanha Duda já se havia afastado há muito tempo. E Nizan Guanaes não é o maior concorrente de Duda Mendonça. Pelo contrário, como sabe qualquer um que já tenha estado em Brasília. Nizan, aliás, não é muito dedicado ao marketing político, e já tinha anunciado antes sua intenção de não fazer mais campanhas.

As críticas ao Lavareda talvez sejam justas, talvez não. Mas o Lavareda é principalmente um homem de pesquisa, tem um perfil diferente do de um Duda, por exemplo. São funções diferentes. Talvez não seja justo cobrar dele o que estão cobrando. Talvez seja. De qualquer forma, o conselho para tirar o Ronaldo Cézar Coelho estava equivocado. Fazer algo assim é dar razão e vantagem ao concorrente, é admitir um erro desnecessário. César Maia — que segundo a lenda é um grande leitor de pesquisas e tem excelente tirocínio político — estava certo.

Discordo apenas da opinião do quase-parente (um dos meus sobrenomes é Maia) de que os “marqueteiros de nome prejudicam as campanhas hoje porque fazem várias ao mesmo tempo”. Não é isso que prejudica. É a má formação de equipes e, principalmente, a má qualidade da coordenação política do candidato. Um Duda Mendonça, um Nelson Biondi têm uma contribuição imensa a dar, em qualquer situação, apenas pelo acúmulo absurdo de experiência e de criatividade. Eles são brilhantes, ponto. E gente brilhante não se encontra em qualquer esquina.

Um bom exemplo é o que parece estar acontecendo em São Paulo: a coordenação política resolveu dar uma orientação que, a propósito, não é reconhecida por funcionar, inclusive contra a opinião do Duda. Foi isso que prejudicou a campanha da Marta, não foi o fato de o Duda estar ou não fazendo outras campanhas.

Outra coisa que prejudica é essa fixação da imprensa nos publicitários durante a campanha. Dão aos “marqueteiros” quase a mesma importância que deveriam dar aos candidatos. Já falei sobre isso, essa coisa de classe média que se acha mais esperta porque sabe que publicitários elaboram os porgramas. É uma distorção da realidade por culpa única e exclusiva dos jornalistas; mais ou menos como responsabilizar o Nizan ou o Eduardo Fischer pelo gosto bom ou ruim da Brahma e da Nova Schin. Deificam simples profissionais, confundem técnica de forma com conteúdo, e depois reclamam que eles são estrelas e apontam sua decadência. É uma herança dos tempos de Collor que as redações não souberam jogar fora.

Por isso a posição do Déda está corretíssima, assim como a do Rui Rodrigues. Publicitários são auxiliares, a estrela é o candidato. Isso é tão óbvio que não mereceria sequer ser lembrado.

Quanto ao relacionamento entre o Humberto Farias e a Luizianne Lins, mostrado como exceção e como prova de que o relacionamento entre políticos e “marqueteiros” tem mudado muito em detrimento destes últimos, só demonstra uma coisa: que quem escreveu a matéria não sabia absolutamente nada sobre como funciona uma campanha eleitoral.

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Agora chega. Esse assunto já está chato e a eleição, pelo menos para mim, já passou.

3 thoughts on “Último post sobre marketing político

  1. Meus dois centavos: o maior problema da campanha da Marta não é o Duda, não é o Lula, não foram os galos, nem o Maluf. A campanha dela é sexista. Dede quando “ser mulher” é um atributo pra usar em campanha política como qualidade de governo? Hello? Bom dia??? Ela demonstra que tem uma mentalidade mais tacanha que todos os seus adversários, nenhum deles usou o mote “vote em um homem”. Não precisaria de mais nenhum motivo pra NÃO votar nela.

  2. Rafael, é bom observar o imediatismo do pensamento (existe?) da imprensa brasileira. Pouco atrás elevaram os “marqueteiros” (acho pejorativo. Publicitário é o certo?) à condição de milagreiros eleitorais, hoje coloca todos em desgraça. E há o efeito manada. De repente todos os jornais falam no mesmo tom. A ladainha vai longe.

  3. Não existe estratégia de marketing que dê jeito em cerveja ruim: O povo bebe enquanto for de graça. Passado o oba-oba, quando tem que meter a mão no bolso pra tomar, todo mundo volta à cerveja preferida e só fica quem não entender nada de cerveja. Botar a culpa no publicitário também não vai melhorar o produto.
    Ciao.

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