As alegrias que o Google me dá (XVIII)

macumba para voltar com o namorado
Você não tem vergonha nessa sua cara mesmo, não é? Ele já te deu um pé na bunda e você fica aí, toda chorosa pelos cantos, querendo voltar. Se respeite, menina, honre as décadas de luta de feministas feias e com sovacos cabeludos. Essas mulheres se ferraram para que você tivesse uma vida melhor e mais digna.

site www.galvao.org nietzsche
Veja bem: minha formação é marxista-leninista. Para nós, velhos dinossauros com complexo de tio Sukita (foi a Carol quem disse) Nietzsche era um irracionalista cuja contribuição prática para a sociedade é nula. E é por isso que a frase dele de que mais gosto é algo como “se vais ter com mulheres, não esqueçais o chicote”. Você não imagina o quanto eu rio quando vejo mulheres citando o bigodudo.

submundo das surubas
É, sempre tem aquele sujeito desonesto que pega uma garota de programa e leva pro clube. Um safado que quer pegar a mulher dos outros sem a contrapartida necessária. O bônus sem o ônus. Gente profundamente desonesta, o pior tipo de todos, o que esculhamba a esculhambação.

rafael galvão cartinha papai noel
Mandei algumas praquele miserável e ele nunca me trouxe nada. Até hoje espero um pônei, um Stratus, um mini-buggy e um chapéu de guaxinim igual àquele do Daniel Boone.

quanto tempo demorar para um ovo de passarinho se desenvolver
Depende da competência da cobra.

como fazer gato no relogio de energia eletrica
No relógio é difícil. Preste atenção aos fios, meu rapaz.

como empalhar peixe
Sei como comer. Com e sem talher de peixe. Posso ensinar, desde que você pague o almoço.

minha esposa nua
Onde, onde? Se você se chamar Michael Douglas, posso ver também?

resumo do que caracteriza a criança que apresenta timidez.
Ah, moço… Eu fico sem jeito de dizer…

de quer que as mulheres mais reclama na cama
Faça uma auto-análise, rapaz; para isso você não precisa de Google, não. Lembre-se daquela expressão de surpresa que Maria fez enquanto perguntava “já?”. Lembre-se da expressão de desânimo de Joana quando você tirou a roupa. Lembre-se do nariz torcido de Carla quando ela se aproximou do seu pescoço.

comunidade sobre encoxadas
Finalmente alguém achou uma utilidade real para o Orkut: um lugar onde todos os seus objetos de taras se reúnem. Assim facilita o trabalho. Facilita ainda mais se disserem que linha costumam pegar, não é?

pessoas que criticam os evangélicos
Sao pessoas horrorosas. Tenho horror a elas. É gente que não percebe a beleza de uma iniciativa altruísta como a Igreja Rafaélica de Todos os Tostões.

xuxa demonio
Demônio? Não. Ela não tem bunda nem sal, nem mesmo quando se contorce sobre um menino em “Amor Estranho Amor”. De demônio ela não tem nada.

classificados sou afrodita
Não, você é analfabeto.

poster do flamengo com zico
Senta aqui do meu lado, senta… Vamos chorar juntos…

anos 70 tunel do tempo
Tony e Doug, hein? Eu gostava mais do Tony com seu suéter. Ele era mais bonito e mais jovem e parecia mais descolado, embora fosse mais burro.

flamengo ja foi rebaixado para segunda divisão?
Você deve ser um botafoguense ou um tricolor despeitado. Ah, se você pudesse ver o meu sorriso de superioridade triste…

como conviver com marido traindo voce?
Depende. Leve em consideração o contexto: ele é bom marido? É bom pai? É bom provedor? Se for, minha filha, aceite o conselho: é melhor dividir um prato de caviar do que roer osso sozinha.

preservativo cueca elefantinho
Uai, e precisa? Assim que ela vir sua cuequinha de elefantinho, vai dar uma gargalhada tão grande que a sua broxada vai entrar para a história.

adolescente gosta de pornografia?
Não. Gostar é uma coisa; ser viciado é outra. Foge ao seu controle, sabe? É mais forte que você. E por isso você passa por situações vexatórias que depois se esforça em esquecer, mas nem sempre consegue.

origem da familia italiana minto
Seu avô mitômano que dizia que tinha comido a Gina Lollobrigida, a Claudia Cardinale e a Sophia Loren. Ao mesmo tempo.

biografia de natasha saint pierre
Deixa ver… Pelo nome é atriz de filme de putaria, daquelas que fazem sanduíche e tudo, acertei? Se for, atrizes pornô não costumam ter biografias. Têm filmografias, normalmente curtas, que duram enquanto os peitos não caem.

como tirar espinhas
Primeiro arranje um namorado. Pode ser qualquer um, nem precisa ser grande coisa. Se tiver muitas espinhas nas costas, melhor. Depois de algum tempo, vocês vão achar que o ato dele deitar no seu colo e você afiar suas unhas no lombo do coitado fazem parte de um ritual de intimidade. Ambos estarão enganados, mas não é o amor uma grande e bela ilusão?

filmes da epoca medieval
Em 1431, o Vaticano processou o famoso cineasta Carolus Godardus, por fazer um snuff movie com vítimas da Peste Negra. O filme foi parar na biblioteca de um mosteiro beneditino em Lyon, e esquecido; ficou apenas a lenda sobre ele. Recentemente um grupo de estudantes de cinema da Sorbonne achou o filme por acaso, e fizeram uma descoberta fascinante: na verdade o filme tinha sido proibido por mostrar uma Joana d’Arc ardendo de desejo.

peitinho de menina
Basta! Todo mundo vem para cá atrás de peitinhos. Peitinhos, peitinhos, peitinhos! Enquanto isso, os peitões ficam aí, jogados ao léu, esquecidos. Tanto esforço, tantos hectolitros de silicone para que você nem ligue? isso é grosseria. No mínimo.

mulheres cariocas que querem dar a boceta de graça
Ahn, acho que todas as mulheres normais. Mesmo as prostitutas, que não dão de graça mas sonham com o homem de quem não precisarão cobrar. Mas sabe o que é pior? É que do jeito que a coisa vai, até você vai conseguir se dar bem.

caracala biografia
Imperador romano que matou o irmão e era tão chegado na sacanagem que chegou a construir suas próprias termas, e como eram termas de imperador, nenhuma delegada desocupada deu uma batida lá.

eu estava algemada
Olha, amiga, você deve ser bem bonitinha. Deve ser gente boa. Deve ser inteligente. Mas eu não tenho nada a ver com suas taras. Este é um blog baiano em espírito e em carne. Rede, não algemas.

historias de menino de 12 a 15 comendo a empregada a tia ou sua prima
O sujeito que escreveu isso certamente não acredita que as fotos são verdadeiras. Portanto, a única razão para procurar essas fotos seria material fresquinho para seus tributos a Onan. Como é bastante improvável que ele imprima essas fotos — amigo, eu não quero nem chegar perto do seu teclado.

vereadora fortaleza puta
Foi a mais votada na cidade. Ainda estou tentando compreender a razão. Até agora só consegui pensar em umas poucas hipóteses: e a que mais me empolga é a que diz que, depois de decidirem que seus filhos não deram certo como políticos, resolveram votar nas mães.

la entrega de la dentadura al paciente
É assim: primeiro o cabo eleitoral cadastra o eleitor.

fotos de penis mole gratis
Ah, tem que ser de graça, mesmo. Porque pagar para ver um pinto flácido e cabisbaixo é demais.

gosto mulheres fumam fotos
Eu também gosto. Se achar alguma, pode mandar a foto para mim, sim?

foto com himen avantajado
Você deve ter querido dizer clítoris avantajado. Nossinhora, você não sabe mesmo o que é uma mulher, hein?

zoofilia con hamsters
E assim você acabou de arranjar o que fazer com seu pinto pequeno. Pequeno, mesmo. Rapazes, sigam o líder.

simpatia dos orixas
Eu não diria que Omolu é exatamente simpático, mas o que seria do amarelo se todos gostassem da cor de burro quando foge?

fotos de posições sexuais mais gostosa para mulheres
Ela deitada, pernas entreabertas, e você a dez quilômetros de distância.

blog dos garotos do axé music
25 de janeiro
Ioiô, hoje eu fui pro Pelô, muito axé, neguinha!
26 de janeiro
Tira o pé do chão, galera! Ioiô, esse suíngue maneiro, essa levada nagô…
E por aí vai.

alongamento do pênis natural grátis
Normalmente o palavreado dos que estão insatisfeitos com sua anatomia é um pouco menos educado. Fico pensando no sujeito que escreveu isso. Um homem tranqüilo, dono de bom vocabulário, que vive imerso em livros e de repete, ao tomar banho, percebe que talvez o tamanho daquilo ali no meio de suas pernas talvez seja insuficiente. E então, fleumático e racional, senta-se ao computador e pergunta ao Google como é que se resolve isso.

rasputin era bem dotado
Mas morreu. De que adiantou todo aquele portento? Por isso, caro internauta que aderna até aqui em busca de soluções para suas limitações, lembre-se da moral da história: mais valem 10 centímetros na mão do que 30 no caixão.

evangelicos solteiros e a masturbaçao
Eis um ponto sobre o qual teólogos de todas as vertentes protestantes se debruçam sem chegar a um consenso. Para alguns é sacrilégio, porque já que é sexo com quem você mais ama você está blasfemando. Isso quer dizer que você não ama a Deus acima de todas as coisas. Você é um herege ímpio e nem todo o dízimo do mundo lhe conseguirá a salvação. Uma vertente mais pragmática, no entanto, diz que é melhor cair na mão do que andar com vulgívagas.

a morte cansada fritz lang
“O que mais me irrita, mesmo, é aquele retrato horroroso que fazem de mim, aquela caveirona vestida de preto. Olha, eu tive uns probleminhas de anorexia, sim, foi uma época difícil, eu tava mal, com uns problemas em casa, mas isso já passou. Gosto mais quando me representam como o Brad Pitt — pitéu, né? Mal posso esperar até ter um tête-a-tête com ele — e aquela sapata gatinha do Neil Gaiman. Ela me dá umas idéias que eu tenho vergonha de confessar, mas que não posso negar. Dá uma coisa aqui. Mas mesmo isso tem me cansado, sabe? Olha pra mim. Posso não ser a Giselle Bündchen, mas eu dou pro gasto, não dou? Eu me cuido.

“Parece que o tesão tá indo embora. Antigamente era mais interessante, mesmo na época da Peste Negra e na II Guerra, quando eu quase morria de stress. Quando acabavam eu ficava de cama, sabia? — e aí vinha a merda, vinham aqueles baby booms e o trabalho aumentava de novo 50 anos depois. Mas agora nada disso me faz levantar de manhã com alegria. É muito tempo ouvindo a mesma coisa. Sabe esse pessoal que passa a vida dizendo que não tem medo de morrer? Na hora do pega pra capar, mesmo, é a mesma merda. Eu queria era que todo mundo morresse dormindo, sabe? Eu ia lá, pegava e entregava. Caput.

“Às vezes, sabe, o sujeito tem uma vida de merda, vida de hiena, mas nem assim quer largar o osso. O sujeito mora debaixo da ponte, se enrola em papelão pra agüentar aquele frio desgraçado; mas se eu chego lá ele começa a gritar, a se lamuriar, a dizer que quer mais uma chance. Depois que Jesus aprontou aquela palhaçada ficou mais fácil, eu consigo enrolar alguns falando da ressurreição. Mas já teve dias de eu ter que dar uma porrada em uns aí, porque não tava mais agüentando. Sério. Agora imagine o que os sujeitos não fazem pra que eu, uma profissional com tantos milhões de anos de experiência, perca a cabeça desse jeito. É barra.

“Quer saber? O que eu queria era que esses merdas desses seres humanos acabassem de uma vez. E eu ia voltar a pegar esses bichos que não reclamam, não fazem auê, que não tentam voltar, que não acham que estão abandonando uma vida maravilhosa. Basta que eu chegue e o vale de lágrimas se transforma nos verdes pastos.

“Eu sei que é só um sonho, mesmo, essas pestes não somem tão cedo — garçom, outro Bloody Mary, por favor — e se sumirem vêm outros, aí eu vou ter que aturar uns baratões de metro e meio gritando ‘Não, eu não quero morrer, eu tenho família pra sustentar’. E com tudo isso eu ainda tenho que agüentar um Marido que não me entende. Olha, até hoje eu não engoli aquela Maria. Sabe o que é pior? É que ela virou santa — virgem! Virgem! A mulher do corno do José é virgem, olha que piada! — e eu sou a indesejada das gentes. Ele não me respeita como mulher, não me respeita como Sua companheira. Sou eu quem boto dinheiro naquela casa, droga! Sem mim Ele não seria nada! Você não imagina os paus que quebrei com Ele, sabe? Olha, se fosse só o casinho eu até entendia, até perdoava. Mas Ele tinha que fazer um filho nela? A gente tentando há tanto tempo, e Ele vai e faz um filho nela?

“Vou te falar a verdade. Tem horas em que eu queria mesmo era morrer.”

The Beasties

No dia 25 de fevereiro de 2004, grande parte da internet se vestiu de cinza, fazendo parte da Grey Tuesday.

Era um protesto contra a imbecilidade da Apple ou EMI, não lembro direito, mandando o DJ Danger Mouse tirar do ar o seu Grey Album, um disco com remixes de músicas do “Album Branco”, dos Beatles.

Acima de tudo, aquilo era uma imbecilidade. Contra a liberdade de criação, mas principalmente contra eles mesmos: a ordem virou contra eles e de repente todo mundo fez daquilo, com justiça, um ato de desobediência civil, um cavalo de batalha em defesa

A confusão ajudou a esconder o fato simples: o disco era ruim de doer. Muito antes da ordem judicial eu já havia baixado duas canções e desistido. Em uma palavra, medíocre. Ou lixo, se preferirem. É chato ter que

Agora é a vez do DJ BC apresentar The Beasties. E este é tudo o que o outro deveria ser. É muito, muito bom: uma boa mistura de Beatles e Beastie Boys, especialmente as faixas 8, 2, 7 e 9.

Por esse, sim, valeria a pena armar um fuzuê.

Os 100 piores filmes

O Julius, que eu não conheço, me mandou um e-mail com uma sugestão: fazer uma lista dos 100 piores filmes, mais ou menos como fiz uma daqueles que acho os melhores.

A idéia é boa. O problema é que não sei como começar. Porque quando um filme é ruim, ele é geralmente muito parecido com tantos outros; é como se depois que decidíssemos que aquele filme é ruim, não percamos mais tempo julgando esse ou aquele detalhe.

Consegui pensar em alguns. Tem o óbvio, como Plan 9 From Outer Space — que não consegui assistir, de tão ruim que é. “Falcão, o Campeão dos Campeões”. Tecnicamente, uma olhada nas filmografias de gente como Steven Seagal dá um bom número de filmes para a lista. Os últimos do Godard, também.

Sei, pelo menos, qual eu elegeria o pior filme de todos os tempos, pelo menos para mim: “O Último Americano Virgem”. Nunca, em tempo algum, um filme me irritou tanto quanto aquele. E há outro do mesmo Boaz Davidson, diretor que denigre de forma irreparável o cinema feito em Tel Aviv, Lemon Popsicle.

O resultado é que, por incrível que pareça, definir os 100 melhores filmes é relativamente fácil. Mas escolher os piores é dificílimo. Eles abundam. Com trocadilho e tudo.

Rio abaixo

Parece que ninguém percebeu a gravidade da manchete d’O Globo do último domingo, em que o jornal avisa que os bárbaros estão às portas da cidade: o tráfico do Rio passou a vender crack. Parece que o destino das capivaras é mais interessante. Deve ser, mesmo.

Por mais paradoxal que seja, o mesmo tráfico que promovia a violência quase imensurável do Rio era responsável pelo seu controle. Parece deboche, mas é verdade: crack não era vendido no Rio, não em larga escala, porque suas margens de lucro mais baixas não interessavam ao tráfico.

Quem mora no Rio já conhece os códigos da violência e sempre usou isso como consolo. O tráfico tirava o pequeno marginal da rua, que descobria ser mais lucrativo ganhar 300 reais para empinar pipa no morro. Agora, com a liberação do crack, nem mesmo isso.

Mais que qualquer outra droga, o crack é um desagregador social importante, e muito rápido. Se torna muito facilmente combustível de meninos de rua. A cocaína podia ser o motor da violência entre gangues no Rio, que atingia o sujeito comum quase como efeito colateral; o crack pode se tornar o motor da violência nas esquinas, que faz do cidadão o seu próprio objetivo.

Com a queda dessa última barreira, tudo indica que o nível de violência cotidiana — o sujeito que lhe assalta na rua para lhe tomar o relógio e vender por quaisquer 30 reais — vai aumentar, e muito, no Rio. A situação já estava feia: os tiroteios noturnos já vinham se aproximando de bastiões como Ipanema, e os jornais do Rio já haviam estampado, este ano, sua indignação com o fato de os marginais terem ousado conspurcar o Leblon e seu IDH de país europeu.

Pelo visto, a coisa vai ficar ainda pior. E tinha gente que não pensava que isso fosse possível.

Arendt

Ano passado comecei a ler “As Origens do Totalitarismo”. Nas melhores condições possíveis: beira de piscina, sombra, sem hora para sair. Começar a ler um livro dessa forma e não conseguir terminar só pode ter uma razão: o livro é realmente esquisito.

Evitei durante anos porque porque a idéia de que o fascismo, o totalitarismo e o anti-semitismo eram “os três pilares do mal” me incomodava. Primeiro porque seria verdade para o nazismo, mas não para o fascismo — e eles são muito diferentes.

Depois porque 50 milhões de negros foram socados em tumbeiros e escravizados, quando não davam a sorte de morrer no caminho; esquecê-los é desrespeito à humanidade.

Eu sou brasileiro. A escravidão africana na América — racista, sim, já que não ouvi falar de holandeses de cabelos louros-quase-brancos suando os dias nos canaviais de Pernambuco e sofrendo as noites acorrentados em senzalas — diz mais respeito a mim do que a tragédia judaica numa Europa cada vez mais distante. Nenhum parente meu morreu em um campo de concentração (na verdade, nenhum sequer lutou na guerra; somos frouxos e temos orgulho disso); mas algum tataravô meu foi escravo, e essa herança faz parte de mim.

Acontece que Arendt é considerada uma das grandes pensadoras do século XX. A sensação de que estava continuando nas trevas da ignorância por mera teimosia me incomodava.

Consegui avançar pelas primeiras dezenas de páginas, mesmo incomodado com a ênfase na defesa dos “judeus ricos”; “coitadinhos, só porque tinham dinheiro eram odiados, mesmo tendo prestado tantos serviços à Alemanha”.

Para começar, rico tem é que ser odiado, mesmo. Seja judeu, muçulmano, católico, budista — são todos um bando de filhos da mãe incapazes de dividir a bem-aventurança comigo. Mas recalques à parte, minha impressão era a de que a Arendt tinha caído na armadilha de partir do princípio de que as alegações nazistas tinham um bom fundo de verdade. Que ela me desculpe, mas não tinham nenhum. A explicação do Goldhagen para isso é mais sensata: essa conversa de riqueza era mito decorrente do preconceito insano contra os judeus, só isso. A esmagadora maioria — como alemães, brasileiros ou americanos — era pobre e vivia como podia. A Arendt tentou justificar o que não precisava ser justificado.

Mas foi quando ela inventou o conceito de “riqueza que não explora” que eu fechei o livro com um suspiro de cansaço, para não abrir mais. Porque auto-piedade tem limite, o da realidade; aquilo que chamam de dissonância cognitiva e que eu chamo de cara-de-pau. Riqueza que não explora só existe na cabeça da Arendt. Toda riqueza explora, de uma forma ou de outra. É simples assim, tão simples que não deveria sequer ser levado em consideração. Mas ela tem que evitar dar algum tipo de justificativa aos bolcheviques comedores de criancinhas, o terceiro pilar do mal, e por isso se vê forçada a inventar conceitos absurdos.

Eu vou continuar ignorante, feliz da vida.

Barbie, quem diria, terminou em Venice Beach

Quando anunciaram a separação da Barbie do Ken, eu não tive dúvidas de que ela ia cair na gandaia.

Cena tão comum, já clássica: mulher de meia idade se separa e passa a acreditar que passou em branco pela revolução sexual, convenientemente esquecida de tudo o que fez na juventude, recurso usado durante tanto tempo para garantir aquela dignidade madura sobre a qual se edificam tantas reputações familiares.

Agora consegui a prova fotográfica do desvario da moça, que eu antevia com desgosto, pressentindo sua degradação moral. Tudo correu mesmo como imaginei: a coroa acha que tem 19 anos novamente. Abandona-se languidamente em menages a trois à beira da piscina, ela e dois mocetões da juventude dourada de El Pueblo de Nuestra Señora la Reina de los Angeles de Porciúncula. Não deve demorar muito até aparecerem os primeiros relatos de baderna, de escândalos ligados a drogas, e da Barbie batendo calçada para sustentar seu vício. E então, em uma última e desesperada tentativa de recuperar sua popularidade, ela vai lançar o modelo Courtney Love.

A cada dia mais me impressiona a raça humana em sua previsibilidade. E fico cada vez mais curioso para saber o que aconteceu com o Ken.

A filha do rei

Lisa Marie Presley, filha de você-sabe-quem, está vendendo 85% dos bens do seu pai.

Entre eles estão os direitos de nome e imagem do pai. É uma estupidez; não tenho dúvidas de que McCartney se arrepende até hoje de não ter comprado os direitos das músicas dos Beatles por cerca de 50 milhões de dólares, em 1985. Hoje elas valem pelo menos 20 vezes mais.

Pensando bem, a menina nunca primou por ter juízo. Ela foi casada com Michael Jackson, diabo.

Um dia de verão

Janeiro de 1994.

Andando pela rua, debaixo de um sol lancinante. Uma mulher pára na minha frente.

— Você é bonito.

Olho espantado para a mulher, agradeço sem jeito.

— Você é bonito.

É louca, louca. Agradeço mais uma vez e saio andando.

Mas ela vem andando ao meu lado.

— Você até parece aquele cantor, Leandro e Leonardo (não, não pareço). Alto, cabelo bom. Sabe, eu tenho uma irmã de treze anos que é quase do seu tamanho. Mas ela quer me bater quando eu tô em casa.

— Ah, não. Não deixe. Ela tem que respeitar os mais velhos.

E, conversando um monólogo só dela, a moça foi andando comigo por dois quarteirões.

Provocação na Cuba dos outros

Ah, a notícia é uma delícia para não ser comentada.

Os Estados Unidos, que fazem de um buraco como Cuba a grande pedra no seu sapato evangelista do tipo “vamos enfiar democracia por suas goelas abaixo, quer você queira, quer não queira”, colocou em sua representação diplomática na ilha um outdoor com motivos de Natal que formam o número 75 — o número de dissidentes presos pelo regime castrista em 2003.

Cuba, claro, não gostou — você gostaria se isso fosse no seu país? — e exigiu que os EUA retirassem o outdoor. Obviamente, os cowboys fizeram ouvidos de mercador. Cuba se irritou e avisou que haveria conseqüências.

Oh, disseram os americanos, eles estão nos ameaçando! Secretamente parecem ter dado graças a Deus; o governo Bush é o mais hostil a Cuba em toda a história, e talvez isso fosse um bom motivo para criar caso.

A represália cubana, no entanto, foi digna do Prêmio Berzoini de Crueldade: os cubanos colocaram o seu próprio outdoor em frente à representação americana, com cenas de tortura em Abu Ghraib, uma suástica e uma frase: “Fascistas”.

Digam o que quiserem do bom e velho Fidel. Reclamem o quanto for, e até mesmo eu tenho algumas restrições ao sujeito. Mas que ele é uma figura, ah, isso ele é.

Link (via Boing Boing)

Lazio's last flower

Post n’O Biscoito Fino e a Massa, comentário no Liberal Libertário Libertino, e o assunto — que eu pensava que tinha sido esquecido e engavetado na seção “Leis que não pegaram” — volta à baila: o projeto de lei do hoje ministro Aldo Rebelo em defesa do idioma português.

Eu já ri muito do projeto, aqui, ali, e acolá. Mas o tempo passou e eu descobri alguns pontos curiosos.

Até terça-feira eu não tinha lido o projeto. Li seguindo um link no blog do Idelber.

Como está escrito é um primor de idiotice. É burro, mal escrito, faz ameaças que não pode cumprir, é contraditório. Algumas pérolas se destacam. O projeto reitera itens que já estão na constituição, entre outras bobagens e perda de tempo. Nem mesmo prevê punições.

Mas segundo um assessor do ministro, o verdadeiro objetivo do projeto era obrigar o Estado a controlar o uso do idioma português pelo seu próprio aparato. Ele deu um exemplo muito bom. O site do Banco do Brasil era repleto de expressões estrangeiras, como é comum no jargão bancário. Logo depois que a lei passou, o site apareceu escrito em português cristalino.

A questão: se havia palavras em português, por que um órgão do Estado tem que usar palavras inglesas? Não faz sentido.

Eu uso as palavras que quiser, e é esse problema da lei, querer controlar o que não pode. Mas até prova em contrário, a língua oficial deste país é o português. Espera-se que o governo redija seus documentos oficiais nessa língua. Foi isso o que me explicaram (estavam errados e condescendentes demais com uma lei estúpida), e é esse espírito que defendo.

Dizer que o Estado não deve se imiscuir nesses assuntos é só parcialmente verdade, como é também dizer que os EUA não estão preocupados com isso. Não estão agora, depois de terem obrigado seus índios a falarem o inglês, e de estabelecer com ministérios da educação de todo o mundo programas de divulgação da sua própria língua, e sentados confortavelmente sobre seu domínio econômico.

Há uns 15 anos, todos os lançamentos imobiliários em Salvador tinham nomes em inglês. Por exemplo, se o edifício ficava na 8 de Dezembro, uma ladeira na Graça, o prédio se chamaria Grace Hills (eu sei porque quem deu esse nome fui eu, um em uma lista imensa fornecida à construtora).

Aí podem alegar: poxa, deixe que a sociedade resolve. Mas isso não existe, é papo de liberal ingênuo. Porque a função do Estado é mediar conflitos, e sem ele manda quem pode: a construtora botava o nome que queria, mexendo de maneira definitiva no ordenamento urbano porque seus executivos, imersos no típico mundo colonizado das classes médias brasileiras, achavam esses nomes chiques; e o povo tinha que engolir — até porque está pouco se lixando: nego procura é o melhor apartamento que puder pagar, se chame ele Pumpkin ou Jerimum. Em vários casos, o discurso que busca uma analogia com as leis de mercado apenas mascara a imposição de uma classe imbecil que prefere dizer 50% off em vez de 50% de desconto, porque o off lhes faz sentir que estão em Caipirópolis — perdão, Miami.

A Câmara dos Vereadores acabou aprovando uma lei (e não, não foi iniciativa de um stalinista qualquer, foi de um bom e velho capitalista, mesmo) proibindo isso, por causa dos excessos a que chegaram. E o mais interessante é que em Aracaju, onde não houve lei semelhante mas se comporta como quintal de Salvador, os edifícios hoje são batizados de maneira bem mais sensata.

Moral: é a sociedade quem resolve o que fazer. Mas de vez em quando uma intervenção do Estado pode ser providencial.

No fim das contas, essa é uma discussão legal para a classe média, e só para ela. Porque o povo não está nem aí, ele que nem português sabe, quanto mais inglês. Enquanto a classe média, orgulhosa por freqüentar as casas de muamba de Miami, se irrita além do necessário (quantas pessoas, como eu, xingaram o projeto sem o ter lido?), a patuléia está que nem aquele português da piada, que não aprendeu o novo idioma e esqueceu o antigo.

Dois exemplos: montei uma agência, há muito tempo, e batizei como Zoo. Sem acento por questões de aparência gráfica; obviamente, todo mundo chamava a agência de Zu. Outra: minha filha chega para mim e diz: papai, sabe como se escreve Coragem [para quem não lembra, o Cão Covarde]? C-o-u-r-a-g-e.

O nível de leitura da minha filha é basicamente o mesmo de milhões de adultos brasileiros. E é por isso que, pelo menos em seus aparelhos, o Estado tem a obrigação de defender sua língua.

***

Há alguns meses, fui a uma recepção em que estava o Aldo Rebelo. Ele obviamente não tinha lido este blog, mas em conversas com seus correligionários eu não fazia questão de esconder que achava o projeto uma palhaçada. Na verdade, meu passatempo com o pessoal do PCdoB é dizer que estou esperando eles se tornarem sociais-democratas como eu, que sou a vanguarda do marxismo internacional e um dia eles vão perceber isso e erigir uma estátua para mim. Eu já tinha enchido tanto o saco do pessoal que era bem capaz que eles me dedurassem. Dei um jeito de me esconder do Aldo (claro, não estava preocupado comigo, nem sabia que eu existia, mas por que arriscar?), porque minha coragem não vai a tanto. E os salgadinhos, rapaz, estavam muito bons.