Perguntas

— Papai, como você nasceu?

— Numa noite, uma estrela brilhou no céu. O vovô e a vovó estavam num estábulo, e o papai nasceu numa manjedoura. Três reis magos trouxeram ouro, incenso e mirra de presente para o papai.

Ela olha para mim, séria. Continua olhando.

— Vovó, como o papai nasceu?

“Mãe, é isso que eu faço”

O presidente da Vésper diz que “a empresa passou a imagem errada”.

Bidu.

Ainda lembro da campanha de lançamento da Vésper, em 98 ou 99. Imagens belíssimas de formiguinhas trabalhando, o grandioso espetáculo da natureza saído diretamente de um documentário de Walt Disney. E no final, um sujeito dizia emocionado: “Mãe, é isso que eu faço”.

Equivalia a dizer: “Mãe, eu sou um vagabundo e não faço droga nenhuma; sou fiscal da natureza”.

O comercial, criado pela W/Brasil, era muito bonito, muito gracinha, mas absolutamente equivocado. Não dizia absolutamente nada. Não informava absolutamente nada. Quem via o comercial continuava sem saber que a Vésper era uma empresa de telefonia. Aquele comercial era um presente para a beleza em nossas redes de TV, mas um desserviço à empresa que pagou a conta.

Ao contrário de outras empresas de telefonia leiloadas naquela época, a Vésper nascia do nada. Tinha que construir toda a sua infra-estrutura. Se a Telerj, por exemplo, colocasse sua marca nesse comercial faria mais sentido: seria um bom institucional, embora ainda assim talvez pouco pertinente, porque a hora era de redefinição de mercado e início de uma era mais complicada para as empresas.

Isso quer dizer que a Vésper, que já começava o jogo em desvantagem, jogou para o alto a chance de se posicionar. Alguém, naquele momento, resolveu que era o momento de ser criativo demais e bonito. Mas criatividade fora de lugar é a coisa mais prejudicial que se pode imaginar, é a sua antítese. Naquele momento, a propaganda da Vésper deveria ser simples, direta, informativa e, se possível, indicar quaisquer vantagens que pudesse ter sobre as outras teles. Se para isso fosse necessário um comunicado grosseiro, daqueles com lettering subindo tela da TV acima, que assim fosse.

A primeira idéia da Vésper foi tentar empurrar umas linhas vagabundas para as classes mais baixas, achando que porque o sujeito é pobre vai se contentar com um serviço abaixo do aceitável. Não deu certo. Depois se tornou uma espécie de mistura de telefonia fixa com móvel; e essa foi uma boa idéia, mas algo deu errado e agora eles estão entrando no mercado de satélites.

Pode dar certo, pode não dar. Mas nada vai tirar da minha cabeça que as coisas mostraram que dariam errado quando a Vésper colocou aquele comercial no ar.

 

Filha de peixe

Salvador, 23 de março de 1981

Querida Vovó.

(…)

Sábado mamãe comprou para mim O Meu Pé de Laranja-Lima e li-o em 2 horas.

Vi um livro, Cinco semanas em um balão por 10 cruzeiros. Aí eu escondi atrás de umas revistas, porque na hora estava sem dinheiro, para comprar depois.

O mais provável é que eu tivesse saído do cinema — Guarani ou Tamoio — e ido esperar o ônibus quando achei o livro, numa banca na Praça Castro Alves. Não lembro disso, mas lembro de ter comprado o livro mais tarde.

23 anos e 4 meses depois, no supermercado com minha filha, ela pediu uma boneca e eu expliquei que não tinha dinheiro naquela hora. Imediatamente ela se abaixou, pegou a caixa e colocou atrás de outras bonecas. E deu um sorriso de quem se acha muito esperta.

Alguns hábitos são herdados sem nenhuma explicação.

A diferença é que ela tinha cinco anos, enquanto eu tinha dez quando fiz algo parecido. Eu sempre disse que ela é muito, muito mais inteligente do que eu.

“Os Incríveis” em tópicos

“Os Incríveis” é o melhor desenho infantil para adultos já feito.

***

Todo o hype sobre o último filme da Disney/Pixar é merecido. “Os Incríveis” é brilhante, em animação, arte e roteiro.

Mas não é exatamente um filme infantil. É um filme para adultos. Sua crônica das frustrações da classe média é excelente, mas passa longe do universo infantil.

E no entanto o filme agrada enormemente às crianças.

É uma característica que tem aparecido em vários outros desenhos animados nos últimos tempos. “Shrek 2”, por exemplo, é uma delícia — mas é mais para quem consegue entender aquele montão de piadas internas e referências.

Clássicos como “Branca de Neve e os Sete Anões”, e até mesmo “Rei Leão”, apelavam aos adultos pelo que tinham de infantil. Era no reconhecimento dessa beleza infantil que estava seu atrativo. Mas as coisas mudaram.

***

Outra curiosidade: em determinados momentos não dá para diferenciar aquele filme, oficialmente um desenho animado, da maioria dos filmes de ação recentes. A razão: o uso cada vez mais intensivo de CGI nos filmes “comuns”.

Daqui a pouco atores não vão fazer falta, cinegrafistas trabalharão diante de um computador, e o Actor’s Guild of America vai produzir um documentário chamado Final Nightmare.

***

“Os Incríveis” tem uma coisa maravilhosa, que pouca gente notou: finalmente deixaram de lado aquela mania de usar estrelas de TV como dubladores e deixaram o assunto com os profissionais. Não dá para explicar o que é ouvir a voz maravilhosa do Marcio Seixas — amigo de muitas e muitas “Disneylândias” distantes — como o Beto.

***

Outro sinal dos tempos: o curta que antecede “Os Incríveis” é extremamente reminiscente da fase áurea da Disney, aí pela década de 50. No entanto, é decepcionante. Decididamente, a Pixar não é a Disney. Na verdade, nem a Disney é mais a Disney.

***

Os prognósticos, no entanto, são esquisitos. O que talvez seja o último filme da parceria Disney/Pixar, Cars, cujo primeiro teaser aparece antes do início de “Os Incríveis”, é uma tragédia em termos de animação. Dura, mal feita. Muito abaixo do nível da Pixar e da Disney. Inferior até mesmo a Wheelie and the Chopper Bunch, desenho animado da Hanna-Barbera dos anos 70.

As alegrias que o Google me dá (XVII)

macumbeiros que faça consulta pela internet
www.pairubensdeiansan.com.br. Traz a pessoa amada em 3 dias, via MSN, ICQ e IRC. Despachos digitais para Exu, sem os inconvenientes de bodes e galinhas sangrando. Aceita-se pagamento por cartão de crédito, boleto bancário e PayPal.

porque o cristianismo incomodava os romanos ?
O cristianismo não incomodava os romanos. Os cristãos é que se incomodavam com tudo, com aqueles romanos ímpios. Aí eles chegaram ao poder e arrebentaram romanos, índios, negros, judeus, muçulmanos — tudo o que não era cristão. Aliás, pensando bem, arrebentaram alguns cristãos, também.

chihuahuas que comem fezes
Chihuahuas canibais são uma aberração e devem ser sumariamente eliminados. Com dor, de preferência.

alguns nomes para cachorras
Goreth, Shirley, Sheila, Tati Quebra-Barraco…

problema teclados notebook limpeza
Ah, esse é sério, mesmo. Minha sugestão é a seguinte: primeiro use uma escova de dentes para tirar o grosso da sujeira, como fios de cabelo. Depois solte o teclado e bata o danado para expelir as partes mais pesadas. (É sério. Eu também tenho esse problema. Não custa ajudar.)

para que que o coliseu era usado?
Saneamento básico. Ali se despediam daqueles cristãos enjoados. Mas os romanos, perdidos em sua decadência, foram incompetentes. Tivessem feito um trabalho mais limpo e mais eficiente e o mundo hoje seria bem melhor.

ninfetas perdem a virgindade
A não ser que dêm muito azar na vida, perdem, sim.

fotos de lesbiquinhas
Que lindinho… É tão masculino, isso, esse jeitinho carinhoso de ver duas mulheres em embates amorosos… Esses adjetivos carinhosinhos são as coisinha mais machistinha que euzinho já vi.

sites de musicas de celula que mandam de graca as musicas para o celular
“Eu Te Amo Por Osmose”, “Quero Fazer Uma Fagocitose Com Você”, “Meu Linfócito e Seu Citoplasma”, entre outros grandes sucessos na voz de Johnny Ameba e os Protozoários, você encontra em www.biomusica.com.br.

jamais subestime a inteligencia de uma mulher
Jamais superestime, tampouco. Principalmente quando ela estiver com TPM.

homens nús fazendo sexo.
São homens normais. Homens vestidos fazendo sexo são artistas e devem ser reverenciados como guias espirituais da humanidade.

dialogos de pessoas solitarias blog
“Oi. Oi? Eu disse oi. Ah, não quer brincar, tudo bem.” E sai da frente do espelho.

explique o titulo memórias póstumas de brás cubas
Não, não.. Você não entenderia.

fotos de indios africanos com saco grande
Eu já vi uma foto dessas, há muito tempo. Era tudo culpa das africanas. As burras pensavam que era para soprar.

peitinho
Peitão não?

didatica para educadores cristaos
Não é muito difícil. Acene com os horrores dos círculos mais baixos do inferno a todo aluno que não prestar atenção às aulas. E lembre a todos eles que o espírito de Torquemada continua vivo no fundo de cada catequista.

videos de sexo com maduras
Ô Madureira, o que você anda fazendo?

armas de leve e pequeno porte na chechenia
Você quer ser chamado de florzinha, de frouxo? Sêje macho, cabra. Na Chechência o mínimo admitido são fuzis semi-automáticos.

julio cesar em roma quem tacou fogo em roma
Julio César não teve nada a ver com isso. Foram os cristãos. (Sério. É o que eu acho.)

mulheres nuas com muito pentelho
Não sei se você ainda encontra fotos da Claudia Ohana por aí, mas não custa tentar.

uma sensação gostosa de sentir minha terra com toda sua baianidade
Sei. Tu tá falando do negão do Curuzu te fazendo um carinho, né?

propaganda ideologica dos beatles
Repórter: Qual a sua mensagem para a juventude americana?
Paul McCartney: Comprem mais discos dos Beatles.

contos eroticos com mulheres fazendo sexo com foto
Túrgida, a foto se aproximou de Margarete. Seu olhar irradiava um magnetismo animal que a atordoava. Lentamente, a foto desabotou os botões da sua blusa, expondo seus seios alabastrinos. Margarete, ofegante, olhou para a foto, lábios entreabertos, olhar convidativo. E então um filho da mãe abriu a porta e acendeu a luz, e a foto broxou, quer dizer, velou. Por isso que eu gosto de fotos digitais.

ideologia e burocracia como defesas sociais contra a agressão
“O senhor quer me bater? Por favor, preencha este formulário em três vias e pague o DARF no Banco do Brasil.”

mensagem subliminar nota de 20 dólares
Você é pobre, cucaracho… Você é pobre, cucaracho… Você é pobre, cucaracho… (A mensagem é mais clara na nota de 5 mil dólares.)

roxana de alexandre – o grande
Alexandre não tinha roxana, ele era menino.

rafael anjo avesso
Muito obrigado pela parte que me toca. Mas, para me chamar de anjo, você tem certeza de que não é a minha mãe?

transexuais sexo dando a bunda
Há uma certa ironia aqui. Tanto esforço, meu Deus… Tanto dinheiro gasto. Mas os velhos prazeres nunca perdem sua força.

a ditadura pulou fora da política e como a dita é cuja é crica foi grudar bem na cultura nova forma de censura pobre cultura como pode se segura mesmo assim mais um pouquinho e seu nome será amargura ruptura sepultura
Pare de fumar esse troço. Até porque, pelo visto, o prazo de validade do tal troço venceu em 1978.

site que tenha fotos e história que mostre os homens que tem os maiores pênis
Há uns 20 anos, nós procurávamos filmes de sacanagem que tivessem história. Porque éramos muito sensíveis, porque precisava haver um contexto em que toda aquela beleza desabrochasse. Mudaram as mídias, mas a sensibilidade masculina continua exatamente a mesma. Você não imagina como isso é reconfortante.

fotos pornograficas mostrando so metade das bundas das mulheres
Um meio tarado. Interessante.

fazer espanhola
É assim, ó: quando ela estiver para parir, viaje para a Espanha. Com sorte você faz uma espanhola. Mas se vier um espanhol, no fundo dá no mesmo. O importante é que venha com saúde, que o resto a gente ajeita.

soteropolitano cachorro
É a mãe.

olavo de carvalho picareta
Acho engraçada a maneira como as pessoas vão ao Google não em busca de respostas, mas de confirmações ao que já sabem ou pensam que sabem.

galistas
São mais simpáticos que gaullistas. E certamente mais simpáticos que esse trocadalho do carilho absolutamente imbecil que acabei de fazer.

simpatia para achar dinheiro
Já tentei todas, compadre, e nenhuma funciona. Só sobrou uma, um tal de trabalho, mas eu me recuso. Me recuso.

blogs de nossa senhora da gloria em aracaju com lilian
N. Sra. da Glória fica no início do sertão sergipano. Não em Aracaju. E eu sei lá quem é Lilian?

masturbar cria peitos
O que quer dizer que a Dolly Parton não parava, né? O tempo todo.

frases ditas por rambo com sylvester stallone
Grrrr… Grunf… Aurrrr… Arrr… E semelhantes.

tamanho do penis 23 anos
Aos 23 anos, dizem os médicos, seu pintin… ops, seu pênis já está do tamanho definitivo. Mais que isso ele não cresce. Portanto, vá direto ao penúltimo item destas “Alegrias” e veja as sugestões que eu tenho para dar no seu caso.

tudo sobre pombagira espanhola
Mi nombre es Carmen. Más puedes llamar-me de Carmencita, si yo gostar de ti.

moro no farol da barra em salvador
Entao você é uma coruja. Ou um morcego.

fotos de homens nús acima de 40 anos de idade
Quer dizer que você é daqueles que acreditam que panela velha é que faz comida boa, hein? Certo. Daqui a uns dez anos acho que vou concordar com você. Vou precisar. Mas por enquanto tudo que posso dizer é que pode até fazer, mas demora mais. Isso quando o fogo acende.

www.galvao artista
Aí pelo início dos anos 80, no banheiro da casa de minha bisavó, numa espécie de mezanino sobre a privada, meu tio costumava guardar uma sela. Obviamente, eu subia lá e, sentado na sela, brincava de cavalgar — enquanto atirava em uns bandidos filhos da mãe que raptavam a mocinha. Minha bisavó gritava para eu descer dali. “Pára de fazer arte, menino.” E aquela foi a última vez que alguém me chamou de artista.

duvidas filhos de pais brancos e bebe dos orgaos genitais escuros
Se você for um otimista, o seu filho tem aquilo roxo. É um cabra macho, puxou ao pai, pode até chegar a presidente. Se você for pessimista, no entanto, olhe em volta. E preste muita atenção àquele negão que freqüenta tanto a sua casa.

o que fazer com penis pequeno?
01 – Pedir esmola, exibindo a chaga aos que passam e esperando que se condoam de sua triste situação.
02 – Se fantasiar de anjinho de igreja no carnaval.
03 – Andar nu. Ninguém vai notar nada.
04 – Dizer que isso não é um pênis, é só o seu umbigo com hérnia.
05 – Entrar para o circo e estrelar um número ao lado da mulher barbada.
06 – Descolar um trocado trabalhando como modelo vivo para estudantes de arte que estudem o período clássico grego.
07 – Se tornar famoso ao iniciar um grande movimento para obrigar a Johnson & Johnson a fabricar camisinhas mais apropriadas.
08 – Transformar em vantagem a adversidade. É mais fácil convencer as mulheres a, err… variar um pouco. Elas vão acreditar quando você disser que não vai doer.
09 – Fingir que é criança e tentar se dar bem com pedófilas.
10 – Conformar-se.

desabafo de casais evangelicos que não são feliz na vida sexo
Ela termina de orar — porque evangélicos não rezam, evangélicos oram — e olha para ele, em pé no templo, cabeça baixa e mãos em súplica. Os últimos acordes da canção de louvor ecoam ainda, e ela pensa que talvez não devesse ter pedido saúde para os dois filhos, talvez devesse ter pedido que ele voltasse a ser o homem dos tempos em que namoravam, em que, apesar de saber que aquilo era pecado, suas mãos vagavam nervosas pelo seu corpo, em que ela sentia o volume quente pressionando a sua barriga.

Enquanto voltam para casa, ela olha para o homem que ainda ama. Vê o seu semblante carregado, os vincos em sua testa, e percebe que qualquer coisa que fale será o motivo de mais uma explosão.

Depois que as crianças dormem ela se junta a ele no sofá, enquanto assistem a um programa qualquer. Ela coloca a mão sobre a sua, e ele apenas a aceita. Mais uns minutos, apenas, e ela vai para a cama. toma banho, solta os cabelos, passa um pouco de perfume. Olha para o seu corpo, as estrias na barriga, a pele não tão firme quanto antes do segundo filho, os seios envergonhados olhando para baixo. Talvez seja isso.

Quando ele finalmente vem para o quarto um último brilho de esperança. Mas ele se senta na cama, se deita, passa a mão em seu braço enquanto diz um “boa noite”, e se vira para o lado. É ela quem tem que encostar-se nele, e mesmo os seus seios decadentes ainda podem excitá-lo. Ele se vira, beija sua boca, aperta seus seios, monta em cima dela. Sua cabeça afundada em seu pescoço, os movimentos de sempre, ele nem sente as pernas dela enlaçando sua cintura, não sente as mãos dela deixando marcas em suas costas. É rápido. Sempre é rápido.

Ele vira para o lado e pousa sua mão sobre seu braço, antes posse do que paixão. Ela volta a se lembrar dos tempos de antes do casamento. A sensação de pecado. Enquanto seus olhos se fecham para um sono cheio de sonhos agitados, ela se lembra que talvez seja isso. O pecado. Talvez, se ela…

Virada de costas, ela se encosta nele e rebola, em um oferecimento mudo.

Os e-mails espirituosos e reacionários do pândego Biajoni

E-mail enviado para o Bia por este ofendido blogueiro.

Bia,

Olha o tipo de comentários que eu ando recebendo. 🙂

Eu fico impressionado com o número de idiotas que vêm para cá através do Google, se ofendem com qualquer besteira e saem destilando suas fantasias sexuais. 🙂

Nossinhora.

MT-Blacklist has forced moderation of a comment made by an an unregistered user on Rafael Galvão, on entry #394 (As alegrias que o Google me dá (II)).
IP Address: 201.2.51.166
Name: Nobody
Email Address: fuckyou@ass.com
Comment:
Morar ou estar em Goiânia não é ruim, pelo contrário seu idiota. Morar ou estar aqui é um privilégio e é bom que boçais como você fiquem bem longe mesmo. Para sua informação, poucas cidades no mundo concentram tantas mulheres maravilhosas, que além de lindas não são nem um pouco arrogantes. Isso tudo aliado a uma excelente qualidade de vida com baixo custo.
Fique longe, seu babaca! Procure os michês da sua cidade e deixe eles te foderem até seu cú virar do avesso, filho de um corno! Morra de tanto ser arrombado, até caber o pau de um jumento no seu rabo! Aliás, provavelmente você gostaria porque quem se preocupa tanto com os gays de outras cidades só pode ser boiola, talvez enrustido…
Sai do armário, Rafael Galvão! Ou melhor, Rafaela.

E a resposta do Bia:

se vc visse os comentários que tive de excluir do tq por causa do KISS!

bom, se o cara fosse educado não era fã do KISS, vai dizer?

agora… goiana é tudo PUTA. pode ver! em todo puteiro que eu vou (e eu sou um CUSTOMER de POUTEIROS) as MAIS putas são sempre GOIANA!!!

malditos seres que não servem nem para BOURGEOISES!

O Bia, deixa eu ressaltar, freqüenta puteiros por razões estritamente antropológicas.

Fazendo a feira

É sempre igual: eu chego a Fortaleza e antes mesmo de ir ao hotel vou à Livro Técnico da Floriano Peixoto, que sempre tem livros em promoção. Foi o que fiz dia 3.

Cheguei lá e a loja estava fechada, com o aviso pregado na porta: “Abriremos às 10 horas. Motivo: falecimento da genitora do proprietário”. Três palavras que detesto: falecimento é morte, genitora é mãe, proprietário é dono. Já passaram das 10 horas, e vejo que vai demorar. Lá vou rodar o centro da cidade enquanto espero abrir.

A espera foi recompensada com uma boa colheita. Muitos livros novos em promoção, o paraíso para mim.

Desta vez trouxe nove, fora alguns infantis:

  • A Luta, Norman Mailer;
  • Eu, o Júri, Mickey Spillane;
  • Púbis Angelical, Manuel Puig;
  • Trevas de Luz, Richard Zimler;
  • Ripley Debaixo D’Água, Patricia Highsmith
  • América, T. Coraghessan Boyle;
  • Grana, Martin Amis;
  • A Declaração, Brian Moore;
  • Os Jornalistas, Balzac

O livro da Highsmith comprei porque gosto da série de Ripley, do Brian Moore porque o acho um bom escritor menor, do Spillane para tirar uma dúvida, o Balzac porque compro qualquer Balzac de olhos fechados, e o resto porque nunca li nada deles e estava na hora de conhecer. Com exceção de Puig e de Mailer, comprei porque estavam ali. Tem gente que escala o Everest porque ele está lá, como disse a Lucia Malla. Eu compro livros sem certezade que são bons porque estão lá e são baratos; prefiro comprar 20 livros desses a dar 100 reais em “Sobrados e Mucambos”, porque é desaforo. Cada louco com sua mania. Teria trazido mais, mas daqui a dois meses vou estar lá novamente e quero ter algo para comprar. Sou um homem de hábitos e profundamente consumista, como se pode perceber.

***

Brian Moore, como já disse, é um bom escritor menor. Já tinha lido dois livros dele, dois thrillers também comprados nesse esquema de saldão. Este é o melhor. Conta a história de um velho, criminoso de guerra na França de Vichy, e sua fuga de gente que precisa da sua morte.

O mais interessante no livro é que é um dos poucos que conheço que falam da ambigüidade inerente ao colaboracionismo francês durante a II Guerra. Não se prende a estereótipos do tipo “Resistência boa, colaboracionistas maus”, mas não se perde no relativismo ético de achar que colaboracionistas eram excelentes pessoas. Apenas mostra que tudo sempre foi mais complexo do que parece, que aquilo tinha raízes profundas na sociedade. Moore escreve um bom thriller, que vale a pena ler.

***

O livro de Highsmith é bonzinho, como qualquer Ripley, mas é mais fraco do que o outro da série que li. Só isso. Bom entretenimento, e só.

***

O livro de Mailer é maravilhoso. É uma belíssima reportagem sobre a luta de Muhammad Ali e George Foreman no Congo, então Zaire, em 1974. É brilhante em sua forma, honesta ao assumir que torce por Muhammad Ali (e quem não torcia?). E foi um livro que me deu algumas idéias.

***

O livro de Spillane apenas confirma que ele é inegavelmente ruim, e assim minha dúvida é dirimida. É curioso, porque estruturalmente ele é um bom escritor noir. Está tudo ali, tudo nos lugares certos. Tem a qualidade de fazer seu herói — um detetive particular, o que mais? — ser amigo da polícia, o que parece mais plausível que os eternos detetives marginais de praticamente todos os outros livros. Suas femme fatales são muito boas; a deste livro quase se compara a Brigid O’Shaughnessy.

Mas isso é tudo. O resto é um sadismo e uma quase onipotência de Mike Hammer que, já na segunda página, o tornam pouco crível. Qualquer pessoa que se comportasse de maneira tão canalha com todo mundo seria morta em 2 dias, mas Spillane parece não perceber isso. Mike Hammer não passa de uma caricatura grotesca em um gênero necessariamente esquemático. É melhor do que a maioria do noir que se faz hoje em dia. Mas muito pior do que o que se fazia em sua época.

O livro é de 1947. Hammett já tinha escrito o Antigo Testamento do noir, Chandler estava escrevendo o Evangelho, MacDonald começava o seu Apocalipse. Spillane conseguiu escrever a “Cartilha do Dízimo”.

Por que falo mal dos anos 80

Matéria no Globo (via Neosaldina com Coca-Cola) cita o autor de um livro sobre aqueles anos:

Quem falava mal da década de 80 tinha dor-de-cotovelo. Especialmente os que viveram os anos 70 e começaram trabalhar e a ter responsabilidades nos 80. A geração dos 80 foi a primeira que não teve uma expressão ideológica. Foi uma década de pouca preocupação e muito divertimento para a juventude – avalia Alzer, que saiu dos anos 80 com 19 anos.

O sujeito deu uma definição esquisita daqueles anos. Foi nos anos 80 que o movimento sindical renasceu, que a ditadura militar se esfacelou, que o Muro de Berlim caiu — e não tiveram expressão ideológica? Os anos 80 foram os anos da vitória definitiva do capitalismo e o fim da utopia para muitos, e possibilitou a loucos como Francis Fukuyama proclamarem “o fim da História”.

Passei boa parte dos anos 80 envolvido com política estudantil, e obviamente sou suspeito para falar; para mim, a alienação é um prêmio duramente conquistado. Mas a verdade é que a segunda metade dos anos 80 foi uma época de agitação política, em que o país se reencontrava com a democracia. E muita gente boa participou dela. E não custa lembrar da crise econômica. A coisa ficou tão braba naqueles anos que se colocou em desuso uma palavra — carestia — porque ela já não dava conta do que acontecia. A tal alienação encontrava o seu limite no bolso.

O fato é que qualquer década é de pouca preocupação e muito divertimento para quem é adolescente, e mesmo quando não é acaba se tornando algo do tipo, porque a memória vai selecionando os fatos passados e transformando uma época miserável, como costuma ser a adolescência, nos tempos mais felizes que se viveu. Mas daí a fazer uma comparação tão boba vai uma distância muito grande. Os sujeitos provavelmente imaginam que todo adolescente nos anos 70 pegou em armas, e esquecem — ou não sabem — que a maior explosão de hedonismo aconteceu justamente naquela década: a discoteca. Eles não foram considerados “a década do eu” à toa.

Na verdade, o que se viu nos anos 80 foi outra coisa: um processo de fragmentação social irreversível, aprofundado nos anos posteriores. No caso dos autores do livro, sua “tribo” específica podia ser tudo isso: alienada, inconseqüente, talvez fútil. Mas ela não respresenta os anos 80.

Além disso o livro tem alguns erros. O computador não se popularizou nos 80, e sim nos 90; durante aquela década computadores eram caros, para ricos e para uns poucos aficcionados. Os anos 80 apenas viram a chegada dos micro-computadores ao mercado brasileiro. E Kichutes eram mais usados nos anos 70; os 80 viram seu ocaso.

Por mim, eu continuo falando mal dos anos 80. Eu evitava ouvir rádio porque não suportava a música — até hoje aquele som de bateria, com caixa muito amplificada, me dá arrepios, e apenas uma cresceu com o tempo: Like a Virgin, de Madonna, é uma bela canção pop –, só via televisão tarde da noite (com exceção de algumas minisséries como “Anos Dourados”). Era velho demais para gostar de Xuxa ou do Balão Mágico. Não vi Top Gun, Rambo II, The Breakfast Club ou Ferry Bueller’s Day Off no cinema — e com exceção dos dois últimos, achei tudo um lixo (mas assisti a “Eu”, de Walter Hugo Khouri, e fiquei sabendo que o avô de Marcelo tinha um belo e invejável slogan: “Io se non chiavo non mi diverto“). Um dos meus orgulhos é ter passado incólume pela moda daqueles anos: acho que descobri cedo demais que jeans, camiseta branca (na época com dizeres tipo “Liberdade para Lamia”) e tênis são atemporais. Não usei calça verde-limão, roupa da OP ou tênis quadriculados. Meu passado, que me condena em tantas coisas, me inocenta desses pecados.

Para mim os anos 80 foram chatos, só isso.

De arquitetos e de estantes

Sempre reclamei de uma coisa simples: arquitetos, pelo que se vê nas revistas de decoração, não sabem desenhar estantes.

É impressionante. Fazem coisas desproporcionais, pouco práticas, feitas para quem não tem o costume de ler mas quer mostrar seus livros. Por isso a melhor estante que vi até hoje nessas revistas de decoração não foi desenhada por um arquiteto, e sim por um jornalista. Prateleiras grossas para agüentar o peso dos livros, portas corrediças de vidro fosco (para diminuir a incidência de luz e a poeira, inimigos eternos), e armários embaixo porque quem lê um pouco costuma guardar papéis — não me perguntem por quê. As outras, desenhadas por arquitetos, costumam ser basicamente mostruários de uns poucos livros de mesa e objetos de decoração.

Mas dia desses, lendo uma revista, cheguei à conclusão de que não é culpa exclusiva deles.

O apartamento mostrado é o de uma assessora de imprensa. Nas estantes alguns livros, talvez não cheguem a 100. Uma olhada com atenção mostra que a moça, afinal, pode viver de escrever, mas não lê absolutamente nada.

Entre os livros, a maioria são didáticos, inclusive uma coleção de literatura que praticamente todos os estudantes usaram no segundo grau no final dos anos 80, e livros típicos da faculdade. Alguns livros de referência, como um antigo dicionário do MEC de inglês — o número de manuais e dicionários de inglês mostram que ela fez curso, e levou muito a sério; talvez trabalhe em uma empresa onde inglês seja realmente necessário. Fascículos encardenados, desses que acompanham revistas ou jornais. Um tiquinho de auto-ajuda, nada que comprometa a dignidade de ninguém. Uma constituição, daquelas de bolso distribuídas a rodo em 1988 (sempre que as vejo lembro que a minha é mais chique: é encadernada com uma inscrição com o meu nome, “Acadêmico Rafael Galvão”, e dedicatória de um dos constituintes). Uma edição de “Hans Staden”, o indefectível “Brasil: Nunca Mais”, as (excelentes) biografias de Assis Chateaubriand e do Barão de Mauá, uma edição antiga de “Olga”, um livro de Nelson Rodrigues.

Os livros da mulher, embora delatem sua idade — tem lá seus 35, 40 anos –, são o que se poderia chamar de corretos. E é justamente aí que está o seu problema.

Eles não passam disso. São os livros que todo mundo leu, que fizeram parte das conversas de bar. Livros que se lê como quem lê jornal, para se manter atualizado. Mas nem esses são garantidos. Às vezes fica a impressão de que a mulher não lê absolutamente nada.

A pista está em uma coleção que O Globo e a Folha de S. Paulo lançaram ano passado. É provavelmente a melhor dessas coleções que acompanham periódicos, e que a indústria conhece genericamente como fascículos. Capa dura, belo projeto visual nas sobrecapas, excelentes traduções, e uma seleção que mais acerta do que erra (“Cem Anos de Solidão”, “Lolita”, etc.).

É uma bela coleção. Tão bela que ela sequer tirou o plástico que os envolve.

A culpa pelas estantes pouco funcionais, definitivamente, não é apenas dos arquitetos.

Arrufos

O casal de namorados chega à piscina, ela na frente, ele atrás. Calados, cabeças baixas, olhos duros. Ela se senta na borda, ele mergulha e vai para o outro lado, para a parte funda, e fica de costas para ela, queixo e braços apoiados na borda, dez metros de água azul entre eles.

Sentada, balançando os pés na água, ela olha para o namorado que lhe dá as costas ostensivamente. Ela funga algumas vezes, controlando o choro.

Imóvel, ele continua do outro lado da piscina, de costas para ela.

Fecho o livro e tiro o olho da minha filha e da minha sobrinha que brincam perto dela. Olho para os dois, ele imóvel, ela de cabeça baixa olhando para ele.

O que está em jogo agora é quem vai ceder primeiro, quem dará o passo para a reconciliação. Ele está apenas negociando sua rendição, vendendo mais caro a reconciliação em troca da mágoa que ela talvez lhe tenha causado. Mas continua imóvel, fingindo uma dor maior que a que sente.

Ela não agüenta muito tempo. Entra na piscina e vai até ele. Fica do seu lado, faz um carinho em sua cabeça, fala alguma coisa, beija seu ombro. Passa a mão em suas costas, sorri entre triste e acanhada, beija novamente seu ombro.

E então ele se rende, sabendo-se vencedor da pequena guerra sem importância, agora homem e feliz por seu blefe ter funcionado. Beija a namorada com carinho, com um olhar apaixonado e grato. Talvez, durante aqueles poucos minutos em que uma piscina representou a maior distância que pode separar um casal de namorados adolescentes, eles tenham julgado que tudo tinha acabado, e cada um desempenhou o seu papel com a maestria instintiva dos apaixonados.

Minha câmera está na minha mão, mas não tenho coragem de fotografar o casal. A beleza em tudo isso é justamente o fato de que, sem uma foto, essa pequena briga nunca existiu, e por isso se repete, dia após dia, casal após casal, e sempre tão igual.