Joel Silveira

Achei o livro num sebo da Sete de Setembro. No saldão, sempre a seção mais interessante de qualquer sebo, cinco livros por três reais (e Norman Mailer, e Stephen Crane, e Chico Anysio e Graham Greene).

Eu já conhecia o Joel Silveira jornalista. Desde os anos 80, na verdade, na Revista Nacional que circulava encartada em alguns jornais em todo o país e que me parecia ser um dos últimos vestígios de uma época em que o Rio de Janeiro era o centro do Brasil. Eu não gostava dele. Me parecia um sujeito com uma língua muito malvada. Mas aos 15 anos, bobo como todos os que têm 15 anos, eu estava mais preocupado com Jack Kerouac.

Foi só há pouco tempo que descobri o homem que conquistou o ódio eterno dos granfinos de São Paulo, o correspondente de guerra na Itália. Foi quando conheci de verdade o seu estilo, algo que o coloca acima do jornalista comum: em “A Feijoada que Derrubou o Governo”. Aprendi a respeitar o sujeito ali.

Mas eu não sabia que ele era contista.

Da Sete de Setembro fui para a Colombo comer o de sempre, bomba de creme e viradinho de banana. E li o livro quase inteiro ali, porque é um livro curto que pode ser lido numa daquelas mesinhas. Por coincidência o lugar tinha uns paralelos interessantes com o livro. A Colombo é o que restou do Rio antediluviano; o livro traz os resíduos de uma Aracaju que morreu há muito tempo.

O livro que achei no balcão de saldos tem uma capa em preto e rosa, paupérrima, e um título indigente: “Vamos Ler Joel Silveira”. É uma coletânea esquisita, quase inexplicável. Pela data, 1982, e pelas características, parece ser obra de um editor que arranjou algum bom esquema com o MEC, durante a bagunça do governo Figueiredo, e ajudou alguns amigos. O livro foi lançado pela Editora Cátedra / Pró-Memória / Instituto Nacional do Livro.

Há um tom fúnebre nos contos de Joel Silveira, uma nostalgia mórbida e desesperançada, e a seleção neste livro reforça esse aspecto. Todos os contos são aparentemente autobiográficos; e talvez um freudiano qualquer ressaltasse neles a necessidade edipiana em Silveira de matar seu pai e de matar, também, a Aracaju que ele conheceu — Joel Silveira, cansado de brigas constantes com o pai, foi para o Rio com 18 anos. Talvez, mas isso não interessa. Nesses contos, seu alter-ego Jorginho é um adolescente às voltas com o fim do mundo que conhecia e a necessidade de enfrentar um mundo novo. O que há ali é um escritor interessante, talentoso, econômico para a época — um tempo em que o Brasil não conhecia Hemingway, ainda.

Se não há grande profundidade psicológica em seus personagens, seus atos e a descrição do ambiente são suficientemente marcantes para que as histórias fiquem martelando em sua cabeça; mas, principalmente, há uma verdade em tudo o que está ali que não é comum. Vários dos contos estão carregados de sexo; mas não é aquela lenga-lenga da descoberta do corpo feminino numa província esquecida por Deus. Está cheia de vivência real, que sem descuidar dos aspectos exteriores que condicionam os relacionamentos tampouco esquece que tudo aquilo, afinal, é mais antigo que o velho solar que vive seus últimos dias e assistem à desintegração de uma família. Nada é tirado de seu contexto e nada perde o que lhes faz verdadeiros. A impressão que fica é a de que o jornalista Joel Silveira alimenta e fortalece o contista. Nisso ele é um mais que legítimo autor da geração de 30.

Joel Silveira lançou dois livros de contos e duas novelas. Há ainda um de crônicas, mas esse é provavelmente mais próximo do jornalismo que da literatura. Não faço idéia de onde se possa achar esses livros, e não seria má idéia para Sergipe, onde Silveira já foi Secretário de Cultura, reeditá-los agora. Sergipe é pobre em bons escritores, e ainda cai no erro de valorizar apenas uns poucos, os inegáveis como Tobias Barreto, Silvio Romero, Manoel Bonfim, o brilhantíssimo e pouco conhecido poeta simbolista Hermes Fontes e, mais recentemente, Francisco Dantas e Antônio Carlos Viana. Enquanto isso ficcionistas com talento também inegável — e esse é o caso de Joel Silveira, como deve ser o de vários outros — vagueiam em um limbo injusto, enquanto esperam que uma posteridade imaginária lhes faça uma justiça que, provavelmente, não virá.

É uma pena. Porque o que Joel Silveira conta nessas poucas histórias é o panorama de uma Aracaju em que as pessoas moravam no centro e a cidade morria na colina de Santo Antônio, de um lado, e na Barão de Maroim, de outro. Uma cidade que ainda não tinha se aventurado além da rua Lagarto e que respeitava, como ainda hoje, os limites do rio Sergipe. Ainda com bondes, ainda com o Alto da Areia que já foi desmontado há tanto tempo. É uma cidade da qual, hoje, só restam fantasmas murmurejando em quase silêncio nos ouvidos dos mais velhos, que esperam sentados em cadeiras na porta de casa a hora de finalmente seguir o caminho dessa Aracaju que conheceram mas que morreu há muito, muito tempo.

Originalmente publicado em 24 de novembro de 2007. O texto já estava programado para ser publicado hoje, quando veio a notícia da morte de Joel Silveira. Coincidência interessante.

No Natal de 1914

O último sobrevivente aliado da trégua do Natal de 1914, durante a I Guerra Mundial, morreu ontem. Ele tinha 109 anos.

O episódio é um dos mais famosos da guerra: britânicos e alemães interromperam o morticínio, apertaram-se as mãos, trocaram pequenos presentes e até jogaram futebol no dia 25 de dezembro de 1914. Fãs dos Beatles conhecem o episódio, lembrado por Paul McCartney no videoclipe de Pipes of Peace. A trégua ressalta a imbecilidade da guerra e lembra que não é o povo que a quer. A guerra é decidida por gente que não morre nela.

Aquela trégua foi, provavelmente, o último suspiro da era vitoriana, em um momento de crise em que noções arcaicas de honra e humanidade eram subjugados, definitivamente, pelas novas armas de destruição em massa e por uma nova concepção de guerra. Vista assim, a trégua foi um anacronismo. Não havia mais espaço para o cavalheirismo em um mundo povoado por tanques, aviões e metralhadoras, um tempo em que as mortes causadas pelo homem, pela primeira vez na história ocidental, se contavam na casa das dezenas de milhões.

Costumamos nos lembrar, principalmente, da II Guerra Mundial. Pelas dimensões, pelos 60 milhões de mortos, pela exacerbação do mal contida no nazismo, e porque é relativamente recente. Mas a I Guerra, sob vários aspectos, foi a mais importante da história. Marcou a ruptura entre dois mundos diferentes, o final da era vitoriana e o início de um um novo tempo. Por mais aterradora que tenha sido a II Guerra, e mesmo levando em consideração que o mundo que emergiu dali era bem diferente, ela não forjou esse novo mundo: ele nasceu ali, nas trincheiras da Bélgica. Foi a I Guerra quem deu origem à União Soviética e elevou os Estados Unidos à categoria de potência econômica e bélica. Acima de tudo, foi a I Guerra que mostrou à humanidade que o horror podia não ter limites.

O mundo que emergiu da I Guerra era outro. Em 1914 os alemães saudaram os soldados que partiam para a frente de batalha com pétalas de flores. Eram ainda felizes descendentes de Frederico II da Prússia, ainda aqueles que viam na guerra um sentido para uma vida. 25 anos depois, os mesmos alemães olharam taciturnos suas tropas marchando em direção à Polônia. Não havia mais alegria ou orgulho. Eles já conheciam o horror da guerra. E essa transformação, essa perda definitiva da inocência — algo que não pertence apenas aos alemães, mas a toda a Europa; os franceses justificaram sua covardia em 1939 com essa lembrança — se devem a 1914.

No ano em que comemoramos os 60 anos da II Guerra, seria bom olhar um pouco mais para trás e lembrar das verdadeiras mudanças. A II Guerra Mundial, para quem a viu nascer, era pouco mais que o segundo turno da I, com um intervalo de 20 anos. Hitler, em parte, foi cria de Versalhes; e se a guerra do Holocausto e de Hiroshima chama a atenção pelos extremos de ódio e de capacidade de destruição a que se chegou, a primeira foi ainda mais importante por ter descortinado uma era de trevas possíveis, e todos então perceberam que os limites haviam acabado.

A morte do último sobrevivente aliado daquela trégua é também um lembrete de que, a cada dia que passa, mais e mais pedaços de um passado não tão distante desaparecem. O mundo vitoriano pode ter acabado em 1914, mas enquanto houver sobreviventes daquela trégua, daquele pequeno momento de sanidade em meio à barbárie, ele ainda é mais que umas letras arrumadas em um livro qualquer de história, ainda que apenas nas lembranças de uns poucos. E talvez seja essa a sua verdadeira importância.

(A foto deste post faz parte de uma belíssima coleção de fotos coloridas da I Guerra.)

Originalmente publicado em 22 de novembro de 2005

As alegrias que o MSN me dá – Mônica

Rafael diz:
Arroz?

Mônica diz:
Integral, pra nós ficar legal.

Rafael diz:
Eu comi muito uma época.

Rafael diz:
Hoje não aguento mais.

Mônica diz:
(essa foi podre)

Mônica diz:
Eu como raramente. Mas acho bom.

Rafael diz:
Foi legal.

Rafael diz:
Mas não fenomenal.

Mônica diz:
Ah, Rafael… vá tomar no meio do seu orifício anal…

Rafael diz:
Uma rima apenas circunstancial.

Mônica diz:
E isso lá faz mal?

Rafael diz:
Não, mas tampouco um bem total.

Mônica diz:
Pô. Tô sem idéia pra continuar nas rimas. Tô me sentindo pouco genial.

Rafael diz:
E você acha isso normal?

Mônica diz:
Ah, sim. É um caso banal.

Rafael diz:
Que poderia ter sido sensacional.

Mônica diz:
Não cobre tanto desta menina que não é a tal…

Rafael diz:
Pois bem, então esse é o final?

Mônica diz:
Talvez. O fim das coisas, infelizmente, nunca é algo excepcional…

Originalmente publicado em 10 de novembro de 2005

No sodalício dos imortais

Sou pontual ao chegar ao auditório, enfiado na minha roupa multi-uso — aquela que envergo em missa de sétimo dia, aniversário de parente distante, exame de fezes e casamento de pobre onde ternos parecem esnobes demais.

É a posse de um amigo na Academia.

Uma das tantas coisas que aprendi com ele foi a não levar a sério essas coisas. Fazem um bem danado à vaidade, é verdade, mas não são muito mais que isso. Graças ao que aprendi com o exemplo do sujeito olho para tudo com uma certa ironia, porque não pode haver nada mais engraçado que um bando de velhinhos falando em imortalidade.

O Estado inteiro estava lá. Só de ex-governadores contei quatro, incluindo um dos acadêmicos. Ministro, prefeito, deputados, desembargadores, um bocado de ex-professores meus. Se alguém ainda tinha alguma dúvida de que academias têm pouco ou nada a ver com letras e muito a ver com poder, basta ir a uma dessas cerimônias. É isso que faz delas algo interessante.

A verdade é que se fosse só um bando de escritores, uma academia não teria interesse nenhum. Escritores são chatos, a começar por sua mania de dizer as coisas para quem não precisa ouvi-las e a pose que costumam adotar para disfarçar sua profunda incompetência para viver e os sapos esquisitos que são obrigados a engolir dia após dia. Escritores são profundamente desinteressantes, são como adolescentes espinhentos que não perceberam ainda que as únicas pessoas que gostam dos seus wisecracks são outros adolescentes espinhentos que gostam de wisecracks.

Mas uma Academia de Letras é outra coisa. Diz respeito à estrutura de poder de um lugar. Diz respeito a política, e é por isso que o governador não está na posse do meu amigo, porque os dois são inimigos. É algo muito, muito mais interessante que um bando de bobos discutindo Balzac. Academias de letras, se fossem mesmo só de letras, seriam organismos mortos e absolutamente irrelevantes. Mas falam de política, falam de futuro e da maneira como ele é moldado, e é isso que lhes dá vida. Aqueles que reclamam da política na Academia não a entendem e não a merecem.

Fazia muito tempo que eu não via tantos políticos, advogados, juízes e promotores juntos em um lugar só. Não que eu seja um sujeito desconfiado, mas por via das dúvidas coloco a mão sobre o bolso onde está minha carteira. Prudência nunca fez mal a ninguém.

A cerimônia começa. Os velhinhos entram em fila indiana. Imagino que se somarmos a idade de cada um deles — e são muitos — o número final deve ser muito maior que a idade da primeira prensa de Gutemberg, talvez remetam ao tempo das Acta Diurna. Há alguns acadêmicos semi-novos, é verdade, mas são minoria; a imortalidade parece só admitir, curiosamente, aqueles que estão às portas da morte.

Há algo de muito ruim em mim, percebo agora. O sujeito que está tomando posse costumava me chamar de “deletério”, aparentemente sem razão; mas agora me sinto mesmo deletério, porque os pensamentos que passam pela minha cabeça só podem ser chamados por esse nome. Eu não tenho controle sobre eles. Não consigo evitar o seu sadismo. Enquanto vejo os velhinhos atravessando devagar o auditório para chegar à mesa, fico imaginando o que aconteceria se um deles — digamos que aquele ali, o encolhidinho e encurvado apoiado em uma bengala com castão de ouro — tivesse um piripaque e caísse durinho no chão. A mente prega umas peças esquisitas na gente. Eu devo ser uma pessoa muito má. Mas não morre ninguém, não agora. Meu amigo não merece isso.

Eles usam uma capinha de seda preta, chique no último. Só que eu não sei o nome do bagulho, e pergunto ao pessoal em volta de mim. Ninguém sabe, e minha ignorância se sente acompanhada. À minha volta há editores, jornalistas e até gente normal, mas ninguém sabe que coisa esquisita é aquela. Então alguém arrisca: aquilo é um solidéu.

Epa. Se não me engano solidéu é quipá de quem tem o pinto inteiro e mesmo assim não usa, mas se estão dizendo deve ser, mesmo. Solidéu. Vou me acostumar a esse nome.

Eles se referem à Academia como sodalício. Sodalício é um nome bonito, muito bonito; lembra um inglês falando sod off, mas uma expressão saxônica dessas me soaria profundamente inadequada neste momento. Sodalício significa “reunião de pessoas que vivem em comum”; me parece apenas um nome complicado, usado apenas porque esse pessoal chegado numa imortalidade gosta de falar difícil. É sinônimo de contubérnio; e então percebo que é melhor mesmo falar sodalício, porque a alternativa é muito pior.

Meu amigo faz o seu discurso. O filho da puta está emocionado. Eu não sabia que ele iria ficar tão movido por isso, mas não posso dizer que fico muito surpreso quando, em muitos momentos, ele tem que parar, com a voz embargada e os olhos marejados. Se não levo a sério a tal imortalidade porque tenho a impressão de que todo mundo ali, assim como eu, vai bater as botas um dia, levo a alegria e a emoção do sujeito. Isso me deixa feliz.

Ele começa se justificando, porque aparentemente é esquisito que um jornalista sem livros publicados seja alçado à imortalidade. Seu discurso é afável, sem palavras difíceis como o tal contubérnio e bastante firme na defesa da liberdade de imprensa. Ele fala ainda mais uma vez sobre a sua estranha condição, como homem educado que é. Mas eu não sou, e poderia dizer que sou fã do que ele escreve e não leria dois parágrafos da maioria dos acadêmicos sentados ali. Melhor milhares de bons artigos de jornal nunca publicados em livro do que um só livro ruim — pior ainda se for de poesia.

Depois é a vez de o ministro fazer o seu discurso. Foi ele que indicou o meu amigo e é ele quem faz o discurso de recepção. O sujeito anda com o moral alto, principalmente depois que acabou com as esperanças de alguns deputados do mesmo PT a que foi filiado um dia e que o indicou ao cargo que ocupa. Eu esperaria dele um discurso meio embolorado, porque a única coisa que espero de bacharéis são mesóclises, mas até que o jurista é bem leve.

E então o presidente da Academia avisa que podem colocar o capelo no novo imortal.

Capelo, merda. O grupo onde estou se agita. Capelo. Era esse o nome que todos nós, ignorantíssimos, desconhecíamos. Definitivamente, não merecemos mesmo uma glória como essa. E já que nossas esperanças de imortalidade foram para as picas porque não fazíamos idéia do que era um capelo (talvez não tão ignorantes: desconfio que uma certa jornalista perto de mim leu, em algum momento da vida, “Fernão Capelo Gaivota”), nos resta apenas esperar o coquetel que vem a seguir. Nós nos contentamos com muito pouco.

Estamos chegando ao fim e eles cantam o Hino Nacional. Olho em volta e vejo o pessoal com a mão no peito. Ah, não. Ninguém vai me pegar nessa. Isso é só um truque para me fazer tirar a mão do bolso onde está a minha carteira. O Hino Nacional que se foda, eu é que não boto a mão no peito. Eu tenho uma perfeita noção de onde estou. Minha mão vai continuar protegendo meu bolso.

A cerimônia se encerra. O auditório se levanta. E o pessoal pode ser importante, alguns deles podem ser imortais, mas não é essa característica sobre-humana que vai fazê-los rejeitar um 0800. O bom de ter tantos velhinhos em um sodalício só é que as chances de uma nova boca livre nos próximos meses são sempre grandes. Eles devem esperar — eu esperaria, pelo menos — que um dos outros velhinhos bata as botas para indicar outro imortal e garantir outro coquetel desses.

Mas talvez não, talvez eu esteja sendo injusto. A idade provecta deve tornar aqueles imortais mais conscientes de sua própria mortalidade. E a morte de qualquer deles deve servir para lembrar que a próxima pode ser a sua. Com essas coisas não se brinca. E embora eu não tenha dúvidas de que cada um prefira rezar o cadáver do outro, para que não lhe rezem o seu, ao mesmo tempo compreendo que deva haver entre eles um profundo senso de solidariedade.

É o novel acadêmico quem paga as despesas do coquetel; e ele pelo visto valoriza sua novel imortalidade, porque o que passa a ser servido é Grant’s. Certo, não é um Blue Label; mas em seu lugar eu teria comprado Teacher’s, no máximo, e o pessoal deveria se dar por feliz por não se ver obrigado a castigar um Old Eight.

De longe vejo uma antiga professora minha. Antiga nos dois sentidos. A mulher está bonita, e lembro dos tempos em que ela me dava carona para casa e um ou outro desgraçado insinuava que eu estava pegando a macróbia (mentira vil e soez, coisa de advogados. Eu só dei em cima de uma professora, e não foi essa. Só desci a esse ponto para evitar ser reprovado por faltar à segunda prova. Não adiantou, mas a infeliz também não ganhou doce. Aposto que ela precisava mais do que eu. E tudo o que aprendi é que devia haver uma maneira mais fácil de cursar direito). Como eu disse ela está bonita; mas tão esticada, tão esticada que ainda bem que tem motorista particular, porque se tivesse que chamar um táxi, quando levantasse o braço a perna levantaria também.

E mesmo gostando tanto de letras, mesmo gostando tanto de uísque, o coquetel não parece atraente o suficiente a este gigolô do beletrismo, e vou embora depois de cumprimentar alguns amigos e beber uma coca-cola. Porque aqui quase não há bundas, e as que há já tiveram, se tiveram, o seu tempo de glória. E de que valem todos os livros e todas as honras e toda a imortalidade deste mundo se não há uma bunda grande, uma bunda redonda pontilhada de celulite sobre a qual repousar a perna enquanto nos aventuramos, digamos, nas brenhas de “O Ser e o Nada”? Meu amor aos livros, de resto muito pequeno, não consegue superar coisas tão comezinhas.

Mas ir a uma posse de acadêmico, ao ingresso de um grande amigo na Grande Planície da Imortalidade, me deixou achando tudo isso muito bonitinho. Me deu vontade de ser imortal também. Não sei se os daqui, como os da ABL, têm direito a mausoléu chique; mas mesmo que não tenham, mesmo que não tenham chá das cinco eu gostaria de ser acadêmico. Eu ainda tenho uns contos escritos quando tinha uns 20 anos; vou dar um jeito de publicar um livro com aquelas coisas ruins e me preparar para adentrar a glória eterna.

Se eu conseguir fazer com que não leiam este texto, podem apostar que ainda vão ouvir falar muito de mim nos séculos que virão.

Originalmente publicado em 27 de outubro de 2005

A sorte de um amor tranqüilo

Notting Hill é o típico filme de que as pessoas têm vergonha de gostar — eu incluído.

Muita gente o compara a Pretty Woman, talvez por serem ambos comédias românticas, talvez por serem estrelados por Julia Roberts, ou porque os dois falam de uma história de amor entre pessoas sem nada em comum. Mas são filmes muito diferentes entre si.

Talvez a diferença esteja nos dois protagonistas masculinos. O personagem de Richard Gere é o sujeito que todo mundo gostaria de ser: bonito, rico, absolutamente seguro de si e do que representa na cadeia alimentar. É o sujeito acrofóbico que fica na cobertura porque não aceita menos que o melhor. E é homem o suficiente para casar com uma prostituta — embora isso só seja possível porque ela tem bons sentimentos, sente a verdade na ópera e, no banheiro, usa fio dental em vez de fumar crack. Ela pode ser puta, mas sua alma é a de uma dama.

O problema é que o único jeito de ser Richard Gere é nascer Richard Gere.

Mas em Notting Hill o personagem de Hugh Grant é exatamente o contrário. Um sujeito normal, com uns tantos fracassos na vida; inseguro, mas tranqüilo em relação à vida que leva; e extremamente capaz de amar. Ao contrário de Gere, o personagem de Grant não perdeu sua humanidade e sua fragilidade. Qualquer pessoa honesta se identificaria mais facilmente com Grant que com Gere. Mas além de tudo isso há um pequeno detalhe, que faz toda a diferença aí: William Thacker é também um vencedor, a seu modo. Não é inseguro demais; é confiante o suficiente para ir atrás de uma mulher que qualquer um julgaria impossível. É esse equilíbrio que faz dele um modelo melhor: ele é mais acessível, sem deixar de ser invejável. Lá no fundo você sente que não pode ser Richard Gere; mas pode ser Hugh Grant — e nem precisa gaguejar.

Pretty Woman não se eleva acima do seu amontoado de clichês. Notting Hill é uma das melhores comédias românticas feitas em muito, muito tempo. É, para começar, um dos filmes menos sexuais dos últimos anos. William Thacker e Anna Scott vão para a cama; mas é um não-evento, e na manhã seguinte não se vê nenhum deles cantando loas ao desempenho do outro. Sexo, aí, é entendido como apenas parte do amor, algo belo mas que não precisa ser supervalorizado, e talvez seja assim que deve ser.

Talvez o segredo de Notting Hill esteja no final.

Eu teria terminado o filme na cena da entrevista coletiva. Terminaria nos dois sorrisos, o de Julia Roberts e o de Hugh Grant. É assim que se encerram os filmes hoje em dia. É algo semi-aberto, que oferece apenas a promessa de uma possibilidade de futuro. As pessoas acreditam cada vez menos em finais felizes. Nos tornamos céticos e carregamos nossas cicatrizes com uma certa vergonha e muito medo de abri-las novamente.

É assim, por exemplo, que Pretty Woman termina. Em uma cena clichê e exagerada, mas adequada ao que o filme veio construindo, com o personagem de Gere dando uma de príncipe e vencendo suas limitações pelo amor de Julia Roberts. Ninguém sabe o que vai ser deles; mas ninguém se importa, porque naquele momento o amor se realizou completamente, e nestes tempos em que isso nunca acontece, em que as pessoas têm medo de dizer “eu te amo”, talvez não seja sábio esperar que sejam felizes para sempre.

Mas Notting Hill não tem vergonha de ser piegas, de se assumir romântico até as últimas consequências e de espalhar, sem medo de parecer bobo, os seus desejos. Talvez seja essa a grande força do filme. E por isso nós vemos o casamento de Anna e William, porque quando duas pessoas se amam sorrisos de parte a parte não bastam mais, elas querem ficar juntas; e então vem a belíssima cena final, com os dois no banco de um parque particular, ele lendo um livro, ela grávida, os dois se dando as mãos.

O que vemos ali, por alguns poucos segundos, é o que Cazuza chamou de a sorte de um amor tranqüilo. E por mais que as pessoas se digam modernas, por mais que elas assumam suas individualidades endurecidas e respeitem o espaço do outro, ainda é isso, afinal, que todos querem.

Originalmente publicado em 25 de outubro de 2005

O homem da cabeça de repolho

A primeira vez que ouvi falar de verdade a respeito de Serge Gainsbourg foi em 1998, em um documentário qualquer exibido pelo Multishow.

Como todo mundo, eu conhecia Gainsbourg desde sempre, mesmo sem saber: através de Je T’Aime, Moi Non Plus, a “melô do motel”. E como todo mundo, eu tinha um desprezo enorme pelo sujeito, porque ele, claro, era apenas um palhaço brega, autor de uma piada que deu certo.

Foi aquele documentário, apresentando uma perspectiva diferente, mais abrangente e principalmente mais informada, que me fez ver que as coisas não eram bem assim. Na verdade, Gainsbourg era brilhante e eu não era tão inteligente quanto pensava.

Agora leio “Um Punhado de Gitanes“, de Sylvie Simmons, e minha opinião muda novamente. Gainsbourg era um gênio e eu, por não reconhecer isso com a presteza necesssária, sou um idiota. Simples assim.

Não foi à toa que Gainsbourg se tornou ídolo na França. Quase uma instituição — meio torta, é verdade, mas ainda assim uma instituição. Talvez um pouco disso seja pelas mulheres que teve: Brigitte Bardot, naquela época, era um acréscimo e tanto ao currículo de qualquer um. Mas seria diminuir Gainsbourg creditar sua fama a isso: ele conseguiu mais, e fez excelente música com ela. Em Comic Strip, por exemplo, o que o sujeito faz é fantástico: coloca BB para fazer os sons das onomatopéias dos quadrinhos. É brilhante, absolutamente brilhante.

Depois veio Jane Birkin, a mulher que praticamente se tornou a outra metade de Gainsbourg.

É difícil saber qual o maior talento de Gainsbourg. Talvez seja o de letrista. A delicadeza de letras como a de Comment Te Dire Adieu (Mon coeur de silex vite prend feu / Ton coeur de pyrex resiste au feu (…) Sous aucun prétexte je ne veux / Devant toi surexposer mes yeux / Derrière un Kleenex je saurais mieux) mostram que o sujeito tinha um talento descomunal para jogos de palavras e para o inusitado — rimar Silex, Pirex e Kleenex, e ainda aparecer com um prétexte e um surexposer belamente desconstruídos, não é para todo mundo. Mas pouca gente no Brasil sabe disso. É essa a nossa triste sina: a anglofilia idiota e compulsória pós-1964 impede que uma letra instigante como a de Je T’Aime, Moi Non Plus (que significa algo como “Eu te amo, eu também não”) seja compreendida, e então um conjunto brilhante (acordes repetitivos, interpretação com conotação fortemente sexual, letra cheia de duplo sentido) é relegado a isso, a “música de motel”.

Gainsbourg tinha uma qualidade rara: para ele, cada canção era uma canção. É o que explica sua trajetória errática, do jazz ao reggae, passando por virtualmente todos os gêneros da música popular. Algo em Gainsbourg fazia com que ele estivesse sempre atrás do que havia de mais atual na música. E não era só isso: ele tinha também uma concepção própria da arte e da música, mais elaborada do que os escândalos que protagonizava poderiam fazer pensar.

Mas foi durante os anos 70 que Gainsbourg se tornou realmente grande. Ao talento natural do compositor ele acrescentou uma maturidade como artista que, de longe, o transformou no maior músico francês, e uma seqüência de grandes discos apareceu a partir daí.

O primeiro é o Histoire de Melody Nelson, de 1971, um álbum conceitual que conta a história da paixão de um francês de meia idade por uma garota inglesa, e que, como a história semelhante contada por Nabokov, só pode acabar em tragédia. A última faixa, Cargo Culte, é uma das mais tragicômicas de um sujeito qeu se especializou nisso.

Depois vem Vu de L’Extérieur. Se alguém ficou encantado com o “Secreções, Excreções e Desatinos” de Rubem Fonseca deveria escutar esse disco, uma ode à escatologia em canções como Des Vents Des Pets Des Poums e na belíssima Sensuelle et Sans Suite (Une histoire sensuelle et sans suite / Ça fait crac ça fait pschtt). Quando lembram do talento de Cazuza ao encaixar “desminlingüido” numa canção, eu penso em como Gainsbourg conseguiu fazer poesia com os sons que saem do traseiro de alguém.

E L’Homme À Tête de Chou, para muita gente um de seus melhores discos.

Aux Armes Et Caetera, de 1979, é, acima de tudo, um grande disco de reggae. Não podia ser diferente, com Sly Dunbar e Robbie Shakespeare na cozinha, e Rita Marley nos backing vocals como parte do The I Three. A faixa-título causou escândalo na França por ser uma versão reggae da Marselhesa, as outras deixaram Bob Marley puto ao descobrir que sua mulher tinha cantado letras eróticas sem saber, e o disco consolidou a imagem de Gainsbourg para sempre.

“Um Punhado de Gitanes”, no entanto, é parcial. Embora se pretenda apenas um apanhado geral sobre a vida e a obra de Gainsbourg, e tenha bastante sucesso nisso, falha em deixar mais claro que, a partir dos anos 80, a trajetória de Gainsbourg foi de decadência absoluta, tanto pessoal quanto musical. O Serge Gainsbourg que aparecia nos programas de entrevistas, aquela tradição francesa insuportável, era apenas uma sombra de um artista que havia sido realmente grande. Seus discos passaram a ser ruins, medíocres; sua vida se tornou ainda mais caótica. Seus vocais falados se tornaram caricaturas. O homem que morreu em 1991, um mês antes de completar 63 anos, estava doente e quase cego, com apenas um terço de seu fígado. Mas aquele era o homem que, para tanta gente, ofereceu mais contribuições à língua francesa no século passado. E, mesmo decadente, era o sujeito que em um daqueles tais programas disse — e repetiu em outra lingua, para que não ficasse dúvida — em alto e bom som para uma Whitney Houston escandalizada: “Eu quero foder você.”

Meus ídolos são velhos. São os mesmos há anos. É um alívio encontrar, depois de tanto tempo, um sujeito que foi adolescente até os 63 anos, que manteve, para o bem e para o mal, a pureza idiota e caótica de uma puberdade que não queria passar e que se manifestava não apenas em Gitanes sucessivos, mas em música de qualidade e poesia inteligente. Meu panteão de heróis, de repente, se renova.

Originalmente publicado em 24 de outubro de 2005

Um dia na vida

Foi assim, ó:

Primeiro entra a banda, desencontrada no primeiro compasso, mas a bateria de Osie Johnson faz com que ela se encontre rápido; eles sabem como, quando e o que tocar. São todos grandes músicos: Roy Eldridge, Doc Cheatham, Vic Dickenson, Mal Waldron, Danny Barker e Milt Hinton. Principalmente, ali estão Lester Young, Ben Webster, Gerry Mulligan e Coleman Hawkins.

Da apoteose inicial em que estabelecem a cadência da música eles se acalmam, em expectativa mal disfarçada. Eles sabem que agora é a hora dela entrar, e que mesmo heróis mitológicos, cujas lendas são contadas de pai para filho por gerações, sabem quando se calar diante de deuses.

My man don’t love me, he treats me oh so mean
My man he don’t love me, he treats me awfully mean
He’s the lowest man that I’ve ever seen

E é uma deusa tão incomum, com seu rabo de cavalo, a voz que já tinha sido de menina agora rascante e profunda.

Ela se cala e espera que seus devotos façam suas orações. O primeiro é Ben Webster. Suave. Tranqüilo. Ele tenta fazer o seu saxofone soar no mesmo timbre de abandono da voz da deusa diante dele, e consegue. As notas que produz vão do melancólico ao angustiado, e pode-se sentir a agonia que o possui. Se você não sente olhe à direita de Webster, ali está Gerry Mulligan balançando-se de olhos fechados, em transe, e você vai saber, embora deva se lamentar por não sentir.

Agora é a vez de Lester Young. O presidente está doente, não come mais, apenas bebe; ele não agüenta ficar em pé muito tempo, mas ainda não sabe que morrerá em pouco mais de um ano. Até aqui ele assistiu a tudo sentado, talvez uma concessão que a deusa lhe fez. Mas é sua hora, e ele se levanta e encara a câmera que filma tudo aquilo. O presidente tem olhos tristes e cínicos, mas o jeito como trata o seu sax é outro, é o som de quem conhece cada curva daquilo quem tem em suas mãos e em sua boca, sabe onde deve tocar. Por isso o som é macio, suave, doce, como uma mão descendo desapercebida das costas para a cintura, e então aperta as suas ancas. Diante do presidente a deusa balança a cabeça, primeiro em um sim, depois em um não que quer dizer sim, mas o que ela pensa pode ser visto no seu sorriso satisfeito.

Ela volta. Ela tem que voltar. E se aquela primeira estrofe parecia algo do outro mundo, ah, nós ainda não sabíamos de nada, porque algo acontece quando ela canta o segundo really yellow, e estende a palavra até além dos limites do possível.

He wears high trimmed pans, stripes are really yellow
He wears high trimmed pans, stripes are really yellow
But when he starts into love me, he is so fine and mellow

Vic Dickenson apresenta o seu trombone. Não, ele não é Satchmo, nem Dizzy Gillespie, nem Miles Davis, nem seu instrumento permite que seja. Mas assim como Ben Webster ele sabe transformar em ausência de palavras tudo o que a deusa cantou antes dele, e mais não se pode pedir de ninguém.

Gerry Mulligan passa à frente, cabelo louro cortado à escovinha, terno xadrez. Ele sabe que seu sax barítono é gordo, é pesado, é grave, mas que se não pode subir às alturas de um trumpete pode descer às fundações daquilo que estão construindo sem planta, apenas sob os olhares de uma mestre de obras, sabe que pode dar a solidez de que todos os outros precisam.

Agora é a vez dela, novamente, e ela sabe o que vai cantar. Vai lembrar a sua história: puta, bêbada, viciada em heroína, uma cirrose lhe corroendo o fígado naquele exato instante — e uma vida inteira de amores complicados. E enquanto ela canta Doc Cheatham vai cantar também, mas a voz do seu trumpete é outra, é generosa e apenas ilumina o lamento da deusa.

Love will make you drink and gamble, make you stay out all night long
Love will make you drink and gamble, make you stay out all night long
Love will make you do things that you know is wrong

Coleman Hawkins, agora. À sua esquerda se vê novamente Gerry Mulligan, generoso, balançando ao ritmo sincopado da música, tendo tanto prazer em tocar quanto de simplesmente ouvir um dos grandes, como ele. Hawkins também sabe que não precisa dizer mais nada, que não precisa inventar palavras. Diz o que já foi dito, mas do seu jeito, sob os olhos dela e sob o seu sorriso.

Por isso agora, na vez de Roy Eldridge, não há mais palavras. Mas Eldridge nunca precisou delas, não vai ser agora que vai precisar. Então o seu trumpete grita, esquece de tudo, apenas grita. E depois que solta o grito que está dentro de cada grande trumpetista, ele volta às orações que todos estão dizendo.

A deusa está de volta, e finalizará o seu sermão com uma prece para que seus devotos continuem adorando-a, e ameaçando eventual abandono porque ela sabe o que é o amor, a fé e a devoção.

Treat me right baby, and I’ll stay home everyday
Just treat me right baby, and I’ll stay home night and day
But you’re mean to me, baby, I know you’re gonna drive me away

Love is just like a faucet, it turns off and on
Love is like a faucet, it turns off and on
Sometimes when you think it’s on, baby, it has turned off and gone

E agora não há mais nada a dizer, resta à banda fazer seus cumprimentos finais e se despedir, apenas colocar o ponto final em um lembrete de que, de vez em quando, deuses cantam e se juntam aos seus fiéis. E que essa obra divina é tão superior aos pássaros.

***

Era a noite de 8 de dezembro de 1957. Foram apenas 8 minutos no programa The Sound of Jazz, transmitido ao vivo pela CBS. E nos últimos 16 anos eu não consigo pensar em outro instante em que o jazz tenha alcançado esse nível absolutamente divino, em que Deus cantou para mortais com um olhar inocente que jamais conseguiria trair todo o sofrimento que continha, ainda sem saber que era mulher, que era negra, que morreria em menos de dois anos e que se chamava Billie Holiday.

Billie Holiday cantando Fine and Mellow em The Sound of Jazz.

Originalmente publicado em 26 de setembro de 2005

Para aquelas que chamei de pseudo-feministas

Eu gostaria de pedir desculpas a todas as feministas pelas agressões e barbaridades que andei dizendo ultimamente neste blog.

Eu me desculpo, em parte, lembrando que minha implicância não é contra as feministas, de modo geral. Não contra aquelas que lidam com problemas reais, como discriminação no trabalho ou violência contra a mulher — questões sérias de verdade e que, ao contrário das levantadas pela maior parte daquelas com que eu brigava, são problemas sociais que precisam de uma abordagem dura por parte do Estado e da sociedade. Minha implicância se dirigia basicamente àquelas que eu julgava histéricas, que vêem misoginia em tudo, que adotam aquela militância radical e boba e que fazem uma profissão de fé a partir da vitimização feminina.

Continuo discordando delas. Mas ando correndo de briga, como vivo dizendo neste blog. E acho que está na hora de fazer as pazes.

Por isso estou oferecendo a todas as mulheres que chamei de pseudo-feministas, mesmo achando que o seu discurso é equivocado, um pequeno vídeo que demonstra de maneira bastante didática essas questões, e que me fez pensar bastante no assunto.

O download pode ser feito aqui.

Amigos, agora?

originalmente publicado em 5 de setembro de 2005