Dois anos

Passei dois anos lendo quase nada, vendo quase nenhum filme, ouvindo quase nenhuma música, indo a quase nenhum lugar.

Dois anos em que meu motorista repetia que ia estudar para ficar muito rico, e então ia me contratar e foder comigo, porque já não agüentava mais almoçar às 4, 5 da tarde.

Foram dois anos em que cheguei a pifar uma ou duas vezes, por estafa. Dois anos em que desenvolvi ojeriza ao toque do celular, até que aprendi que não precisava atender todo mundo que queria vender, pedir ou cobrar alguma coisa, e podia simplesmente silenciar uma ligação sem ficar me culpando depois.

Foram dois anos em que o meu hobby predileto, o meu blog, foi deixado meio de lado. Como a modéstia não me cai bem, gostaria de lembrar que aqui e ali alguns bons posts viam a luz do dia, porque afinal de contas eu escrevo direitinho — como já disse antes, escrever é uma das duas únicas coisas que sei fazer bem, e a única com a qual posso ganhar a vida, porque a outra é imoral; mas já não é o blog de uns anos atrás. Isso me deixa triste.

Dois anos em que simplesmente deixei de escrever sobre política, porque fazer é muito melhor que escrever, e sobre atualidades, porque eu sabia pouco do que se passava no mundo e não poderia entrar em polêmicas porque me faltaria tempo.

Dois anos em que eu quis começar a colocar no ar um site sobre os meus 100 melhores filmes mas não pude porque não tinha tempo ou paciência para rever aqueles filmes e pensar com mais cuidado sobre eles.

Foram dois anos em que a fila de livros comprados e não lidos foi se avolumando nas minhas estantes, me dando a quase certeza de que alguns deles não serão lidos jamais, porque serão atropelados que outros que virão.

Dois anos em que, pelas minhas contas, consumi 700 litros de café e 29 mil cigarros.

Dois anos longos, em que ainda arranjei tempo para largar aquela vida e casar, para escrever uma coisa aqui e outra ali, para passar uns fins de semana viajando para Salvador fazendo uma pequena consultoria, como se a semana já não me cansasse em excesso.

Mas quer saber de uma coisa? Esses dois anos valeram a pena. Foi para isso que ralamos tanto, que nos angustiamos, que nos irritamos e rimos um bocado.

Edvaldo ganhou a eleição. Primeiro turno. Nada mal para quem no começo do ano do ano passado era um virtual desconhecido e em janeiro tinha apenas 29% das intenções de voto.

Que se foda a modéstia, que eu nunca fui muito com a cara daquela vadia, mesmo. O fato, puro e simples, é que fizemos uma grande campanha. Mais uma. Déda prefeito, Déda governador, Edvaldo prefeito. E podem dar os parabéns, que a gente merece.

26 thoughts on “Dois anos

  1. Acabou de cair na tela a vitória (matemática) do Edvaldo.

    PARABÉNS!!! Você é o cara.

    Tome um garrafa de Romanée Contin pela gente :^P

  2. O dia que você transformar a Jandira em senadora, o Gabeira em governador e o Molon em prefeito, eu tiro o chapéu pra você. Agora pára de trabalhar em vem tomar uma água de coco na praia de Ipanema…

  3. rafa, fiquei ligada no resultado das eleiçoes… e de olho ai em aracaju, e achei O MÁXIMO! eu SABIA que vcs iam ganhar, mas desse jeitinho foi muito mais!
    parabens orgulho do profissional e do amigo e raiva do fumante!
    mas eu bebo um jack daniels por vc aqui no paraná!
    e desta vez eu juro que vou te visitar ai !!!
    beijocaaaaaaa
    lulu

  4. Rafael,

    você tem uma audiência legal, rapaz! Os dois anos passaram, é hora de fazer os próximos dois valer a pena! Eu já me diverti com teus textos e tenho certeza que outros ótimos virão!

    Descansa e desencanta, cara!

    Um abraço!

  5. Todo sacrificio é bom, quando vale a pena.
    Não estou “por dentro” da politica do seu Estado, mas se você trabalhou pra chegar lá, parabéns!!

  6. Parabéns, viu!
    É muito gostoso mesmo ver o resultado de tanto trabalho.
    Só não concordo que o blog não tá bom, pra mim tá sempre ótimo.
    Bjo

  7. Quando vi o resultado das eleições na semana passada, vibrei!
    Pelo desmonte das oligarquias e pela vitória de vocês. Agora – quanto ao blog – desencana!
    Como leitor quase cotidiano, nada tenho a reclamar – muito pelo contrário. Abraços.

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