Notícias estranhas em um blog esquisito (III)

A Suécia, modelo de civilização, finalmente aqueceu os corações de tantos machos desamparados ao redor do mundo.

Uma recepcionista sueca foi sumariamente demitida por assédio sexual quando seu chefe a ouviu elogiar a aparência de um cliente.

É a vingança que todos nós esperávamos. O pagamento por não podermos mais elogiar uma mulher no trabalho, por não podermos passar a mão na bunda da secretária, por não podermos olhar os peitos da recepcionista, por não podermos encoxar aquela colega gostosa na copa.

Vamos pegar nossas cervejas e, enquanto assistimos à final do campeonato, arrotar e rir da cara da secretária que provou do veneno que as mal-amadas vieram destilando nos últimos anos.

(A decisão do chefe sueco — que ou é apaixonado pela recepcionista ou absolutamente demente — é uma idiotice, claro. Assim como é idiotice boa parte dos processos femininos por assédio sexual nos países lá de cima.)

***

Mais de 20,000 dólares em jóias foram roubados de um cadáver em um mausoléu do Kentucky, EUA. Cinco suspeitos foram presos pelo roubo.

As leis são esquisitas. Esse tipo de crime é previsto em lei e portanto indiscutível; mas a verdade é que a principal interessada no caso — a defunta — jamais daria queixa. Ela não estava nem aí.

***

Amanda Booker queria matar seu marido mas não tinha dinheiro para pagar o pistoleiro que contratou (na verdade um policial disfarçado). Pagou então em jóias. E uma delas era a sua aliança de casamento.

Tão simbólico, isso. Nelson Rodrigues puro.

***

Um recém nascido foi jogado por sua mãe do quarto andar de um motel da Coréia do Sul, logo após o parto.

Quebrou apenas uma perna.

Se o termo “sobrevivente” se aplica a alguém, é a esse bebê. E das duas uma: ou é uma criança abençoada ou é o anti-cristo.

E essa mulher não serve para absolutamente nada: nem para mãe, nem para infanticida.

***

Um menino de 5 anos levou um pacote de maconha para a escola, em Miami.

Estava espalhando a erva sobre a lasanha de um coleguinha, como orégano, quando descobriram.

No mesmo dia, em Indianápolis, um menino de 4 anos levou para a escola um pacote de cocaína, que segundo a polícia valia 10 mil dólares, e mostrou aos colegas dizendo que era farinha. Os professores perceberam que era coca e confiscaram a mercadoria.

O menino estava errado. Ainda não era farinha. Ao que parece, papai ainda não tinha tido tempo de malhar o pó.

Essas notícias, afinal, provam uma antiga suspeita: eu sempre soube que aquela história de colocar drogas na pipoca das crianças no colégio não era mentira.

O comentário de uma tal de Nina

Em novembro, publiquei este post no blog antigo:

Rápida declaração de racismo
Não gosto de negros. Não gosto de brancos. Não gosto de amarelos. Não gosto de vermelhos. E se inventarem um verde, eu também não vou gostar.

Uma tal de Nina, pessoa inteligente e que enche de orgulho todos os movimentos raciais do país, deixou ontem estes comentários estupidamente brilhantes:

RACISTA NOJENTO FILHO DA PUTA LAZARENTO
Nina | Email | 27.03.04 – 2:51 pm | #

Infelizmente, como fazem todos os bobos deste mundo, ela não deixou um endereço de e-mail para que eu possa responder a ela (deixou apenas um tal de thebets.zip.net, que não leva a lugar nenhum).

Portanto, na esperança de que ela volte para ver o quanto me magoou, deixo aqui o e-mail que mandaria a ela:

Nina,

Depois de ler o seu belo poeminha deixado para mim, com rimas tão bonitas e escrito em linguagem tão bela e delicada, como deve ser próprio da sua personalidade fascinante, cheguei a uma conclusão triste.

Puta que pariu, além de mal educada você é burra pra caralho, hein?

Benza Deus.

Um beijo,
Rafael

O IP da moça, a quem interessar possa, é 200.98.58.201.

O QI da moça, a quem interessar possa, é 0.

Vita brevis

Não sei quantas vezes já disse que não gosto de Hemingway. Não gosto, digo de novo.

Mas há um conto dele que me dá calafrios, porque de vez em quando o gênio é tão fragrante, tão óbvio que até eu o reconheço quando vejo. Eis aqui o conto completo:

For sale. Baby shoes. Never worn.

Para Arthur C. Clarke, esse é o menor conto que Hemingway escreveu.

Discordo. Esse é o melhor e maior conto que alguém não escreveu.

No dia em que eu quiser me suicidar

Nunca consegui entender direito a idéia de suicídio.

Não que eu ache covardia, como já achei, ou o recrimine por ser uma maneira burra de chamar a atenção, como é na maioria dos casos. Acontece que se o mundo se tornou um lugar tão insuportável para mim a ponto de me fazer considerar a opção de sair de cena, é porque alguém fez isso. E como a virtude que mais prezo no mundo é a justiça, por ser conseqüência de uma série de outras virtudes, não acho certo que o mundo se veja privado deste ser maravilhoso e narcisista enquanto os ímpios grassam impunemente.

A idéia é simples: se é para alguém morrer, que seja o filho da puta que está fazendo da minha vida um inferno.

Os heróis que não foram

Almoçando com um amigo, a conversa foi parar em Canudos e Lampião, dois dos símbolos máximos da identidade nordestina.

Ele foi taxativo: considera Lampião um bandido e o episódio de Canudos um retrato do atraso. Quanto a Lampião, tudo bem; só quem não conhece a história dele o considera um herói. Mas sua opinião sobre Canudos me surpreendeu, porque não é comum entre a esquerda nordestina.

Ao longo do século XX Virgulino Ferreira e Antônio Conselheiro foram alçados à categoria de heróis regionais. Uma parte da sociologia nacional os considera referenciais e produtos de um sistema social injusto.

O que facilita a criação de uma imagem heróica para Conselheiro e para Canudos é o fato de eles terem sido trucidados pelo Estado. Nada, de fato, justifica aquilo; mas a guerra ajuda a esconder o fato de que Canudos se organizou em função de uma ideologia atrasada e reacionária, de monarquistas fundamentalistas que não compreendiam a mudança e evolução da sociedade do seu país. Pode-se chamar Conselheiro de mártir, sim; mas seu martírio foi pelos motivos errados.

Quanto a Lampião, sua história é só a de um marginal que tomou ares de herói.

Lampião nunca passou de um bandido. Se se pode tentar explicá-lo como um produto da injustiça social, é bem mais óbvio que em pouco tempo ele se tornou um elemento importante na perpetuação da injustiça. Lampião roubava cidades, tomava dos pobres. Sua relação com as elites era simples: aqueles que o aceitavam, por medo ou oportunismo, eram poupados e se tornavam coiteiros; os outros se tornavam vítimas.

Não há nada de Robin Hood em Lampião, ou de Cristo em Antônio Conselheiro. Mas a lenda se perpetua, cresce, e talvez um dia, como sabia Goebbels, se torne verdade.

O hemisfério contra-ataca

O bispo Macedo comprou uma TV e está negociando uma estação de rádio nos EUA, segundo a coluna do Ancelmo Góis.

Isso. Agora eles vão ver o que é bom. Vamos mostrar àqueles gringos que em vez de temer a Al Qaeda eles deviam prestar atenção em seus verdadeiros inimigos: nós. Enquanto brigavam com uns mascates do nariz pontudo, enquanto tentavam entender seus salamaleques e se viam à mercê de seus métodos sanguinários e arcaicos, nós silenciosamente corroíamos as bases do seu sistema.

Essa é a vingança dos miseráveis. Vamos fazer o que gerações de revolucionários e idealistas não conseguiram.

Vamos cobrar o dízimo dos gringos.

As voltas que a vida dá

A vida é engraçada.

Há algum tempo reclamei que meu blog (o outro, aquele que abandonei calhorda e impiedosamente) só era notado pelo Google, que mandava tarados para lá com uma freqüência assustadora. Cheguei a pensar em abrir uma Casa dos Horrores e dividir o lucro com eles. O Yahoo e o Altavista me esnobavam impiedosamente.

As coisas mudaram, no entanto.

Hoje, o blog velho é a primeira referência que aparece ao se digitar “Rafael Galvão” no Yahoo (e também no MSN e no Lycos).

É sempre assim. Um profeta só é reconhecido após a morte.

Menos pelo Altavista, que continua fingindo que não existo.

Livros quase imaginários

No Pensar Enlouquece, o Inagaki citou uma lista feita por Calvino. Não gosto do italiano, mas a lista é interessante. E resolvi dar minhas respostas:

Livros que todo mundo leu e é como se você também os tivesse lido:
Essa é fácil: “Diário de um Mago”, de Paulo Coelho.

Livros que sempre fingiu ter lido e que já seria hora de decidir-se a ler realmente:
Ahn… Os meus livros de escola?

Livros demasiados caros que podem esperar para ser comprados quando forem revendidos pela metade do preço:
Quase todos; eu gosto é de sebo.”Sobrados e Mocambos”, do Gilberto Freyre, está custando 98 reais. Eu não compro.

Livros que de repente lhe inspiram uma curiosidade frenética e não claramente justificada:
“O Novo Mundo”, de Antonello Gerbi. Comprei porque por 5 reais eu compro até livro de poesia de gente que não conheço, e encostei na estante. Só depois de alguns anos comecei a ler, nunca soube por quê. Muito interessante, e pode ser visto como o complemento perfeito a “Visão do Paraíso”, de Sergio Buarque.

Livros, que, se você tivesse mais vidas para viver, certamente leria de boa vontade, mas infelizmente os dias que lhe restam para viver não são tantos assim:
Moleza: “O Ser e o Nada”, de Sartre. Ganhei de presente de alguém que certamente me achou bem mais inteligente do que realmente sou; cada vez que bato o olho nele me convenço de minha burrice atávica.