Agonalto

Hoje conheci Agonalto Pacheco.

A história é meio longa. O professor Euton, candidato a vereador pelo PCB, chega à produtora para gravar alguns programas. Traz consigo metade da Juventude Comunista.

Conheço Euton há mais tempo do que gostaria de lembrar. Fizemos movimento estudantil juntos, em lados opostos. Paro para conversar com ele, lembrar que no meu tempo não havia tanta mulher em volta. Ele lembra que só havia uma mulher realmente bonita, que namorei. Depois me pede para escrever um texto para os dois homens que vão falar no seu programa. Estou recitando a primeira versão do texto para ele (“Vote no Euton, aquele filho da mãe revisionista que combati no movimento estudantil!”) quando dois velhos, os homens que vão falar em seu programa, entram e falam com ele.

Pergunto quem são e ele diz: Agonalto Pacheco e Matos, presidente estadual do PCB. Imediatamente vou atrás do Agonalto. Sempre quis conhecê-lo.

Converso rapidamente com o Matos, velho intransigente e exaltado. Orgulhosamente lembra que é militante do PCB desde 1937, que só foi preso durante o governo de Dutra, prisão rápida e boba. Me lembra um pouco o que eu seria se continuasse comunista, e não é uma hipótese agradável. Mas com o canto do olho não perco Agonalto de vista.

Agonalto é uma das lendas da esquerda sergipana. Foi um dos presos políticos libertados em troca do embaixador Charles Elbrick, em 1969. Ferroviário, é um sujeito alto, magro. Suas roupas são muito, muito simples, talvez um pouco além do limite do ascetismo. Converso com ele sobre um assunto simples, um documentário, e ele concorda em participar e me dá seu telefone. Há uma série de outras perguntas que eu gostaria de fazer, mas há um tempo para plantar e um tempo para colher. Eu vou voltar a falar com Agonalto daqui a algumas semanas.

É interessante olhar a foto dos presos prestes a serem exilados (faltam dois que seriam pegos numa escala em Recife, entre eles Gregório Bezerra) e ver o que foi feito deles. Boa parte morreu, como Luiz Travassos, o primeiro em pé a partir da esquerda. O segundo é hoje o Richelieu do Brasil e atende pelo nome de José Dirceu. Outros envolvidos no episódio, como Fernando Gabeira e Franklin Martins, sao muito conhecidos para que se fale neles. Agonalto é o segundo a partir da esquerda, agachado e algemado como os outros.

Enquanto isso Agonalto leva sua vida simples em Aracaju. Tem dez filhos, e uma tranqüilidade que me impressiona. É um homem simples, uma lenda que não faz questão de ser lenda, nem liga para isso.

Pietro

Pietro liga para o pai, Paulo Lobo, choramingando. Ele tem quatro anos.

Ele reclama que sua babá o chamou de bebê.

Paulinho explica ao filho que ela o chamou assim por carinho, porque gosta dele.

Mas Pietro não se consola.

— Eu não sou bebê. Eu já sou um homem.

E, ainda choramingando, cobra providências do pai.

Chechênia

O artigo ponderado do Antônio Carlos sobre a tragédia na escola russa é excelente: informativo e com um excelente ponto de vista.

O único comentário a se fazer é sobre a imbecilidade de uma opinião como a de Emir Sader, citado no post do AC. O que se nota é a condenação da atitude de Putin praticamente a priori, enquanto se deixa de lado a questão principal: terroristas invadiram uma escola e fizeram de centenas de crianças reféns. Esse complexo de esquerdistinha do terceiro mundo faz com que, às vezes, consigamos perder a noção do que é certo ou errado. Talvez a ação da repressão tenha sido canalha, provavelmente foi equivocada, certamente foi incompetente — mas não foram eles quem fizeram de crianças reféns.

Não interessa quem é Putin ou o que é o problema checheno. O que interessa é que, ao invadir uma escola, terroristas deixam de ter quaisquer razões que possam alegar, porque deixam de ser humanas. Ultrapassam um limite que não pode ser ultrapassado. Os tais terroristas são monstros, ponto. Não merecem absolutamente nada. E depois que isso for reconhecido, aí, sim, se pode começar a discutir qualquer outra coisa.

Ao reclamar que “as potências ocidentais concentrarão a condenação nos ‘terroristas'”– assim mesmo, entre aspas –, o Emir Sader, homem com história respeitável, se torna um idiota.

As alegrias que o Google me dá (VII)

video putas brasileiras dando na rua nos eua
Nossinhora, assim, na rua? Com todo mundo vendo? Quer dizer que todos os relatos são falsos e a Busholândia é o paraíso do hedonismo e da tolerância sexual?

como se masturbar
Essa frasezinha, que vem aparecendo com freqüência, já mereceu um post só para ela. Mas não deixo de me espantar com a ansiedade de pré-adolescentes, ansiosos na busca de conhecimento, provavelmente inseguros quanto ao que andam fazendo. Já imaginei de tudo. Já pensei em recém-egressas de um internato religioso; já pensei em meninas criadas num ambiente sufocante por pais absolutamente castradores e pudicos. Mas é verdade é que é um sintoma de um fenômeno interessante e cada vez mais forte, a banalização do sexo. De repente, as pessoas parecem achar que aquela sensação de lassidão, aquela dorzinha sutil são muito pouco para o auê que criam em torno disso; e a petit meurt se torna insuficiente e é preciso que haja algo além disso. Ou estão achando que há alguma coisa errada, porque suas mãos não criaram cabelo.

amante de pericles
Você tem que se explicar melhor. Está falando de Aspásia ou dos garotinhos imberbes com que o estratego se divertia?

couxas
Pouxa, me desculpe, mas acaubou (é, fraquinha essa, né? Na próxima vou ver se melhoro).

animais fodem com mulheres e eu vejo de graça
Garoto esperto, hein? Aposto que seu psiquiatra também acha.

definição de encruzilhada na lingua portuguesa
Substantivo feminino
Ponto de convergência entre dois caminhos perpendiculares onde macumbeiros colocam ebós para Exu.

sou brasileiro não desisto nunca comercial
E eu agora só consigo visualizar Romário dizendo isso.

receita cha abortivo
O sujeito (ou a sujeita) tem acesso a computador. Deve ter dinheiro para comprar algum tipo de anticoncepcional. Mas, mesmo assim, além de não usar, fica procurando uma solução barata. Sinceramente, não sei se rio ou choro.

abortivo veterinário
Descobri: eu rio.

a geografia dos índios cinta-larga
Ao norte está a cabeça, encimada por cabelos pretos e lisos. Alguns centímetros abaixo está o rosto, normalmente largo, olhos escuros. Na região central fica o tronco, curiosamente apto a desenvolver barriga. No extremo sul ficam os pés. E em algum lugar entre essas extremidades estao os machetes e rifles com que tiram o couro de garimpeiros.

foto de dolls que demonstrem vocacao
Entendi não. Mas se o sujeito está se referindo especificamente a real dolls, talvez seja esperar um pouquinho demais dela, né? Mas quem sou eu para falar da loucura humana.

o que fazer se alguem descobre que errou a profissão
Bater a cabeça na parede não adianta. Experimente um tiro na boca. Ou então faça como uma pessoa de juízo e tente uma nova profissão.

socialite algemada
Confesso: algumas taras são interessantes. Mas essa não é: parece uma mistura de sadismo com complexo de inferioridade social, em um roteiro de filme pornô de quinta.

autobiografia de agatha christie
Eu nem sabia que a velha dama indigna tinha uma autobiografia. Como todos os seus livros têm um impostor, eu aposto que era ela.

resumo livro 3 mosqueteiros
Ih, rapaz, sinto te decepcionar, mas eram 4: três mosqueteiros e um guarda real. Conta a história de um pós-adolescente chato, D’Artagnan, um corno chamado Athos, um viadinho chamado Aramis e um retardado chamado Porthos. Bando de desocupados sem escrúpulos em se aproveitar dos outros, fazem merda em dois países mas acabam se dando bem. O livro tem duas continuações ruins, “Vinte Anos Depois” e “O Máscara de Ferro”.

fotos das mensagens mensagens subliminares nos desenhos da disney
Fora as pernas arreganhadas da Jessica Rabbit (sem calcinha e imberbe), e uns peitinhos em “Bernardo e Bianca”, eu não lembro de nenhum. Mas ficar procurando “mensagem subliminar” em filme da Disney só é mais bobo que não entender que tudo isso não passa de pequenas sacanagens dos animadores.

mensagem subliminar pornografica
Essa não dá para resistir, e me perdoem pela grosseria: “foda-se”.

porque a maratona e a prova mais importante nas olimpiadas
Porque é preciso ser uma pessoa muito, muito, muito chata para agüentar ver uns sujeitos correndo por horas e horas.

paginas em ingles sober as olimpiadas
Tente “pages in English about the Olympics”. Você vai ter mais chances de achar alguma coisa.

putas aracaju
Esta aqui anda muito ocupada. Volte em outubro. Mas em outubro eu vou estar entre Rio e Fortaleza. Volte em novembro, então, mas marque hora antes. E não espere beijo na boca.

as olimpiadas fodem acabar ?
É um dos mais interessantes atos falhos que já vi. Principalmente porque foram duas vezes.

rafael galvão
Eles continuam aí. Me vigiando. Me espreitando. Silenciosos. Esperando um beco escuro. E meu psiquiatra continua sem acreditar em mim.

Bola fora

No Saia Justa, do GNT, a Monica Waldvogel falou que a bola é “um símbolo fálico”.

Que me perdoe a bela senhora, mas é só lembrar dos apelidos da bola — gorduchinha, redondinha — para ver que é justamente o contrário.

E isso é mais fácil de explicar do que o que é impedimento.

A bola é um símbolo bundálico.

Auto-estima

Uma amiga discutiu comigo a respeito da auto-estima do brasileiro. Ela é psicóloga e trabalha com crianças de áreas de risco, que é como quem ganha a vida dessa forma chama aqueles buracos onde o ser humano é triturado (a nomenclatura é legal. Orfanato é abrigo, menor é “criança e adolescente”, ação social voltou a ser assistência social, e órfão é “sem vínculos familiares”. Semântica é tudo, nesses tempos). Ela tem uma visão específica do problema, definida por sua própria experiência de classe média, e pelas características que condicionam seu contato com esse pessoal.

Para ela, esse pessoal das “comunidades”, sem acesso à cidadania, perde toda a sua auto-estima.

Eu discordei. Para mim, o brasileiro tem uma auto-estima grande, talvez grande demais, até. Esse mesmo povo “carente” é capaz de se divertir horas a fio, se acha melhor do que os outros. O Alexandre escreveu um belo post sobre isso.

De qualquer forma a questão ficou na minha cabeça. Cheguei a pensar que estivéssemos falando de aspectos diferentes de auto-estima.

Dia desses, sabatinando a secretária de assistência social de Aracaju, aproveitei para fazer minha consulta grátis. A princípio ela concordou com minha amiga, disse que o sujeito que mora numa palafita não tem mais nada. Mas o resto da equipe discordou: disseram que era impressionante o jeito como eles, ao menor sinal de chance de andar com as próprias pernas, mudavam completamente, adquiriam nova luz.

Eles têm auto-estima, sim. Pode até parecer que não, mas ela está lá, aflorando nas horas em que podem esquecer a vida que levam. Num samba de roda, num boteco em volta de algumas garrafas de cerveja. Este é um povo que tem muita alegria, e não tem vida difícil que destrua isso nele.

Longe dos processos oficiais de adoção, é nas classes mais baixas que o povo tem coração bom o suficiente para acolher o filho da vizinha que morreu, para acolher aquele menino abandonado na porta. Fazem isso sem se vangloriar, sem esperar uma recompensa que sabem que não virá; simplesmente fazem.

Podem alegar que isso é humanidade e solidariedade, não auto-estima. Talvez. Mas eu, pelo menos, não sei se se pode distinguir uns do outro. É preciso uma confiança muito grande em si mesmo, ter uma certeza de que se vai conseguir viver apesar de tudo, para que alguém se disponha a dividir o pouco que tem.

É nos cortiços da Saúde, em Salvador, que 3 gerações de uma mesma família se amontoam num único quarto construído 2 séculos atrás e desde então nunca reformado. É nas favelas de qualquer cidade do país que as pessoas não se importam em colocar um pouco de água no feijão e dividir o pouco que têm porque acham que têm um pouco mais de sorte que um semelhante.

Se isso não é auto-estima, eu não sei o que é.

Bia, o cearense

Este é um mundo pequeno: o sujeito chega pra mim e diz que uma amiga tinha lhe contado que um amigo de um amigo dela viria de fora para fazer a campanha de Marcelo Déda. O imigrante se chamava Rafael Galvão.

Esse amigo da amiga é de Campinas, ele diz, e eu respondo que não conheço ninguém ali. Deve ser outro Rafael Galvão; aqui mesmo há uma versão pirata, mais recente, que lançava esse belo nome na lama ao se acabar atrás dos trios elétricos da vida, sempre empapuçado em doses excessivas de cerveja (se fosse uísque, vodca ou cachaça, tudo bem; mas gente que fica bêbada com cerveja não merece o meu respeito). Nunca conheci o sujeito e, por causa do seu nome, prefiro não conhecer. A existência de outro Rafael Galvão é um golpe duro na minha ilusão de que sou único neste mundo.

Só algumas horas depois é que percebo que o tal amigo de Campinas, na verdade, é de Limeira/Americana, e que só pode ser o Biajoni.

O Bia é pior que cearense: tem amigo em tudo quanto é buraco deste mundo.

Rusgas

Muito tempo atrás.

Ela tinha uns feminismos esquisitos, que não condiziam com este arquétipo do troglodita paraíba que vos escreve. E se levava muito a sério, pecado mortal que só determinados atributos — que não têm nada a ver com essas coisas de filosofia — tornam tolerável.

Dia chato, tedioso, dia de mormaço, ela com aquelas conversas mortalmente chatas sobre a tal mulher moderna. Terminou com uma mezzo-pergunta, mezzo-afirmação: “…porque, afinal: como as mulheres se vêm hoje em dia”?

“No espelho, enquanto se maquiam.”

Eu podia perder a namorada, mas não podia perder a piada.

E então descobri que feministas engolem a piada, mas não perdem o namorado.