Filha de peixe

Salvador, 23 de março de 1981

Querida Vovó.

(…)

Sábado mamãe comprou para mim O Meu Pé de Laranja-Lima e li-o em 2 horas.

Vi um livro, Cinco semanas em um balão por 10 cruzeiros. Aí eu escondi atrás de umas revistas, porque na hora estava sem dinheiro, para comprar depois.

O mais provável é que eu tivesse saído do cinema — Guarani ou Tamoio — e ido esperar o ônibus quando achei o livro, numa banca na Praça Castro Alves. Não lembro disso, mas lembro de ter comprado o livro mais tarde.

23 anos e 4 meses depois, no supermercado com minha filha, ela pediu uma boneca e eu expliquei que não tinha dinheiro naquela hora. Imediatamente ela se abaixou, pegou a caixa e colocou atrás de outras bonecas. E deu um sorriso de quem se acha muito esperta.

Alguns hábitos são herdados sem nenhuma explicação.

A diferença é que ela tinha cinco anos, enquanto eu tinha dez quando fiz algo parecido. Eu sempre disse que ela é muito, muito mais inteligente do que eu.

4 thoughts on “Filha de peixe

  1. Só pra constar: tua observação sobre a questão da lingua portuguesa, citada no post “Policiando o Português da Patuléia” do LLL é bastante pertinente. Vc defende a mesma posiçao q eu.

    Um abç,

    UNA

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