Indo para Pasárgada

A partir de hoje, este é um blog de oposição.

Durante todos esses últimos meses este blog apoiou o governo Lula, apesar de todas as denúncias, apesar de todos os indícios, apesar de todos os fatos, por ter uma compreensão própria e menos ingênua de política e por admitir que este tem, sim, sido um bom governo.

Mas agora vou deixar de achar que Lula será um bom presidente a partir de 2007 porque, se eu for da oposição, eu sei que vou ter sorte.

Vou casar porque sei que minha mulher vai ganhar vestidos. Dados assim, sem nenhuma intenção. Dados por um estilista que dá tão pouco valor ao seu tempo e ao seu trabalho que, para ele, 40 vestidos e 400 são exatamente a mesma coisa. E se eu não souber me explicar direito, isso não vai significar muita coisa, porque afinal de contas, sem sorte é o governo.

Se eu for para a oposição vou ter sorte como o Francenildo teve.

Porque é preciso ser uma pessoa que nasceu com a bunda virada para a lua para que um pai que nunca lhe viu, e nunca sequer lhe assumiu, lhe dê de mão beijada 25 mil reais, por sorte e coincidência na véspera de um depoimento importante. Mais ainda: com a sorte do Francenildo eu também vou arranjar um advogado metrossexual que vai tentar fazer o Estado me pagar dezenas de milhões de reais pelas pequenas e grandes sacanagens que me fez.

É por não ter essa sorte que só bendiz a oposição que aquele pessoal do governo se envolve em tantas confusões, que é acusado de crimes eleitorais e de esquemas de compra de votos. Ao longo deste último ano, pelo menos de uma coisa eu passei a ter certeza: se o pessoal do governo tivesse a sorte que a oposição tem, não teria que se envolver com os Marcos Valérios da vida. O governo precisa fazer caixa 2; a oposição simplesmente ganha as coisas porque, bem, tem sorte.

É isso. Vou para a oposição porque andar com gente sem sorte não traz coisa boa. Eu quero a sorte que nos faz ganhar coisas e que não nos obriga a compromissos com gente como Roberto Jefferson.

Cada vez mais admiro esta oposição com tanto trabalho nas costas, com a honestidade única e inquestionável que só aqueles com sorte podem ter, com as mãos limpas e ostentando uma probidade que muitos céticos, como eu fui um dia, julgavam impossível. Vou virar um oposicionista ferrenho porque lá nossas máculas são automaticamente limpas, e o passado não nos condena mais. A partir de hoje, este é um blog de oposição, e eu estou indo para Pasárgada.

E como Marco Antônio naquela peça inglesa, eu vou poder dizer de todos os políticos que vou defender: For he is an honourable man; so are they all; all honourable men.

19 thoughts on “Indo para Pasárgada

  1. Quanta besteira Rafael. O fato dos outros fazerem a mesmíssima coisa não tira qualquer responsabilidade do PT. Pode fazer sentido se você é um militante (e fé a gente não destrói). MAs se você é crítico, quer a condenação de todos os criminosos.

    Quando você coloca toda a “oposição” no saco PSDB só demonstra a pequenez do seu raciocínio. O PT não fez o que partidos como PSDB faz há anos? Então, tudo do mesmo saco. Sem dúvida, se você defende o PT, pode muito bem defender o PSDB pois as políticas são iguais do começo ao fim.

    Mas dobre a língua se quer dirigir-se aos críticos dessas quadrilhas que ai estão. Sabe, tem gente que não é nem do CV nem do PCC.

    A maioria dessas discussões partidárias parece briga de quadrilhas. Gente tentando demonstrar que uma quadrilha é melhor que a outra.

    Nem todo mundo é bandido. Lembre-se disso. Só não temos para onde ir. Se correr o bicho pega e se ficar ele come.

    Por isso, e licença para utilizar uma metáfora, é bom ter uma calibre 12 na mão nessas situações.

  2. Você tentar equiparar o assalto ao Estado (com tentáculos bem distribuídos em todas as instâncias públicas) com a doação de 40/400 vestidos por parte de um amigo estilista SEM NENHUMA LIGAÇÃO COM DINHEIRO PÚBLICO.
    Desista de vir para a oposição, Rafael. Nós não te queremos aqui.

  3. Ê, Rafaé, como esperado a discussão política vai se prender a vestidos e Land Rovers e ao bom coração de nossos políticos que abonariam milhares para Francenildo e milhões para Lulinha-Cá-o-Meu. Eis que o mundo gira, gira e temos de novo gente votando em quem rouba mas faz (e viva a competência ruminante). Além do mais, meu amigo, este novo realismo político (afinal chega-se à conclusão, somos todos iguais mesmo) está bem próximo do realismo fantástico, veja-se a sublimação da bufunfa pública. O resto é chamar cavalo de quadrúpede.

  4. Alexandre,

    Até parece que foi só o PT a se envolver com problemas no gerenciamento no Estado. O PSDB agora é o partido mais honesto da história do Brasil. Foi por isso que eu pensei em ir praí, uai.

    Mas eu tô começando a repensar o caso. Não porque você não me quer por aí, que isso não conta nada, não é? Mas porque, ao que tudo indica, aqui em Sergipe o seu PSDB vai apoiar o PT. Se Maomé não vai à montanha…

    Lefebvre,

    Primeiro, o que é “toda a oposição no saco PSDB”? Ainda que colocasse, eu diria que o PSDB ainda é um partido, no geral, muito melhor que o PFL. Se coloquei, eu fiz um elogio.
    Onde você leu que todo mundo é bandido? É mais do que óbvio que há exceções e muitas vezes são a maioria: nem todo mundo é bandido, nem todo mundo no PSDB roubou, nem todo mundo no PT recebeu dinheiro de Marcos Valério — aliás, nem todo mundo no governo.

    Precisa mesmo lembrar disso? Eu, pelo menos, costumo contar com a inteligência dos leitores.

    Você foi rápido em defender a “oposição”, mas, se generalizei, não generalizei só sobre ela. Eu tô com a impressão de que você apenas aproveitou o post pra dar uma opinião geral sobre as coisas.

    Mas eu, no seu lugar, releria o texto antes de falar besteira.

  5. rafael, o teu texto tá muito claro. só não entendeu quem não quis. mas esse é o tipo da coisa que nem milagre resolve.

  6. me orgulha saber q um publicitário como vc tem opiniões formadas e sabe bem contradizê-las em seus textos.
    sofro com isso diariamente. sou vista na facul de jornalismo sempre como publicitária q não sabe escrever…vou mostrar seu site pros meus “colegas” de classe. uma ótima semana pra vc.

  7. Pra mim continua a mesma coisa: lulistas ou não, governistas ou não, a descrença tomou conta de mim…”não acredito em ninguém com 32 dentes”!
    Abraço

  8. Rafael, já que você vai para a oposição, eu que estava indeciso, acho que vou ficar para apagar a luz. Não acho que esse governo tenha sido bom. Acho que foi mediocre, no sentido etimológico da palavra. Causou decepções, apenas isso. Como ele teria se comportado no caso de crises mundiais como ocorreram no governo FHC. Ter sido o segundo pior índice de crescimento nas Américas é um dado preocupante. Teria sido o governo do possivel, ou não teve coragem de ousar mais. Enquanto continuarmos com essa dicotomia PT/PSDB não vamos evoluir. Uma coalizão de ambos, já que as políticas foram/são tão parecidas, não seria a evolução natural e o que faria o eleitorado perceber que os interesses do país estão acima dos partidários?
    Mas, infelizmente, o jogo sujo de ambos os lados é o que vai prevalecer.

  9. Depois de vinte anos de discurso ético, acho muito engraçado, divertido mesmo, ver os petistas saindo com a lógica do “sou, mas quem não é”, do “rouba, mas faz”. Isso lembra o Maluf, quem diria! Vinte anos de Eliot Ness pra passar quatro como Al Capone … é muita miséria, muita inglória. Mas nada como um “tutto è buona gente” pra esconder a decepção, não é mesmo? Alivia, eu sei, serve de mantra, de preparação para ouvir o que sempre se gostou de ouvir, de reforço àquilo no que sempre se acreditou. (Agora vai, agora vai ser diferente, aprendemos com os “erros” e será melhor como nunca.) Só não entendo como alguém que pensasse assim tivesse “uma compreensão menos ingênua de política”… Reeleição é prêmio, é continuidade. Mas premiar o quê, continuar o quê em um governo apenas mediano na gestão pública, mas que atentou, em extensão e profundidade nunca antes vistas, contra todas as instituições do país? Se, como dizem, a opção é entre a Máfia e a Cosa Nostra, por que não a alternância? A alternância areja as coisas, ao menos dá um alento assim psicológico, uma esperança de que, se não melhorar, piorar não vai. E acho que o brasileiro precisa desse alento, precisa sim. Mas muito mais do que isso – e, aqui, um depoimento pessoal -, me livra do constrangimento de explicar essa lógica torta à minha mãe e da enorme vergonha de ensiná-la ao meu filho. Nenhuma “realpolitik” vale o estupro ético do meu filho. Nenhuma!

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