Bobagem em temperatura de fervura

“Presságio” é um dos piores filmes feitos por Hollywood nos últimos tempos.

Perto de “Presságio” “O Dia Depois de Amanhã” é um grande filme, “Eu Sou a Lenda” é um clássico e M. Night Shyamalan é Ingmar Bergman em “O Sétimo Selo”. “Presságio”, estrelado por Nicholas Cage, é uma grande bobagem criacionista, provavelmente escrita por alguém que cresceu assistindo aos programas de Jimmy Swaggart e Rex Hubbard nas manhãs de sábado e que tentou pegar uma caroninha nos filmes tipo The Mist ou aquele último do Shyamalan.

Oficialmente a sinopse do filme é a seguinte: astrofísico que perdeu a mulher há pouco tempo e cria sozinho o filho encontra um papel, escrito 50 anos atrás por uma menina que ouve vozes e colocado numa cápsula do tempo, em que estão previstas boa parte das grandes tragédias sofridas pelo mundo no último meio século. Ele decifra o código e tenta evitar que as últimas tragédias antecipadas ali aconteçam.

Essa é a versão que pessoas mal intencionadas passariam. Gente que não quer o seu bem e que, inconformada por terem caído nessa pegadinha, quer que você caia também. Mas o filme pode ser descrito de outra forma, mais verdadeira e mais caridosa com as pobres almas que porventura tenham a infelicidade de pensar em assisti-lo.

“Presságio” conta a história de um pé-frio que aonde vai leva destruição e morte. A desculpa para isso são as tais profecias — mas é mentira, o sujeito é que é agourento, mesmo. Depois que ele acha o papel, uns sujeitos com caras de fantasmas passam a seguir seu filho — um monte de tarados pedófilos que andam com umas pedrinhas pretas, talvez símbolo fálico disfarçado, eu não sei. Mas mesmo o medo do que possa vir a acontecer ao seu filho não o impede de causar acidentes onde passa: derruba um avião, descarrilha o metrô de Nova York — e o pior é que o desgraçado nunca morre. Em busca da verdade, ele vai atrás da filha da doidinha que escreveu as profecias meio século atrás, outra grande pé-frio que, pelo menos, tem a decência de morrer antes que todo mundo — mas que como praga se reproduz exponencialmente, deixa uma filha que também ouve vozes.

Nesse meio tempo Nicholas Cage faz o que faz melhor: aproveita cada chance disponível para ficar parado com as pernas abertas e com cara de sofredor meio atarantado.

Finalmente ele descobre que a última profecia se refere ao fim do mundo: uma explosão solar vai destruir o planeta e não há nada que se possa fazer para evitar isso. Então o mistério dos sujeitos com caras de fantasmas é revelado: eles são ETs que acompanham os escolhidos para serem salvos do fim do mundo. O filho de Cage e a filha da maluca são levados em uma nave espacial com seres de luz que parecem anjos para outro planeta, onde poderão recomeçar a humanidade. Levam consigo dois coelhinhos, símbolos pascais de fertilidade e indicativos do que aqueles dois meninos farão a partir dali. (Só por isso os autores do filme deveriam ser processados por pornografia infantil.)

Depois de entregar o filho aos ETs com jeito de anjos high-tech, Nicholas Cage vai para a casa dos pais, com quem não falava há anos, e enquanto grandes labaredas engolem Nova York eles se abraçam e morrem felizes e conformados, na melhor metáfora do churrasquinho familiar do fim de semana que o cinema já produziu.

A última cena, bastante onírica, mostra os dois meninos correndo em direção a uma grande árvore, a Árvore da Vida ou do Conhecimento, como preferir. Os coelhinhos já devem ter ficado cruzando em algum lugar, que coelho você sabe como é, né? Só não se sabe onde está o diabo da Serpente.

E aí o filme acaba e você vai correndo para a bilheteria, bater na moça que lhe vendeu o ingresso e exigir que aquela cachorra lhe devolva o dinheiro que você gastou.

Isso é tudo. Se você ficou com raiva por eu ter contado o final do filme, não fique. Eu prestei um serviço de utilidade pública, e um grande favor a você. Conhecendo o final, você pode se poupar o desprazer de assistir a uma imbecilidade confusa como essa. Em vez de gastar seu dinheiro nesse filme, vá às Lojas Americanas e compre um DVD qualquer de 12,99. Porque depois de ver tamanho amontoado de bobagens, a única lição que fica você provavelmente já sabia: use protetor solar.

7 thoughts on “Bobagem em temperatura de fervura

  1. Esse consegue ser pior do que aquele “O Sol de Cada Manhã” (ou “O homem do tempo”), também com o Nicolas Cage?

  2. Eu só sei que, de uns anos pra cá, Nicholas Cage transformou-se no ator mais canastrão de Hollywood. É impressionante a série de bombas que o cara interpreta. Talvez seja um caso da arte imitando a vida – um pé-frio para filmes interpretando um pé-frio de catástrofes.

    []’s!

  3. Eu adorava quando o Nicholas Cage aparecia “…parado com as pernas abertas e com cara de sofredor meio atarantado.”
    Eu achava tão sensual…
    O filme conseguiu acabar tudo isso. 🙁

  4. Pior que o Cage já fez uns filmes bonzinhos. Mas peraí:

    “Os dois meninos são levados em uma nave espacial com seres de luz que parecem anjos para outro planeta, onde poderão recomeçar a humanidade. Levam consigo dois coelhinhos, símbolos pascais de fertilidade e indicativos do que aqueles dois meninos farão a partir dali. Só por isso os autores do filme deveriam ser processados por pornografia infantil.”

    Como é que dois meninos vão recomeçar a Humanidade? O filme é uma utopia gay? 🙂

  5. Você simplismente escreveu o que eu senti ao ver essa porcaria, principalmente no seguinte trecho: “E aí o filme acaba e você vai correndo para a bilheteria, bater na moça que lhe vendeu o ingresso e exigir que aquela cachorra lhe devolva o dinheiro que você gastou.”
    Bom… só não fiz isso porque eu realmente sei controlar a minha fúria!
    Abraço! (seu blog é ótimo)

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