E afinal, o que foi mesmo que o PSDB/DEM fez até agora?

O sistema de saúde nacional é municipalizado. No entanto, o Governo de Sergipe (é, aquele que eu ajudei a eleger, para quem ainda se lembra) está construindo 102 clínicas de saúde da família em 74 dos 75 municípios sergipanos, com exceção da capital. Além de construir as clínicas, o governo também repassa recursos para a sua manutenção.

Fez isso porque tem consciência de que as prefeituras desses municípios não têm condições de construir unidades de saúde com esse nível de qualidade.

Se o governo de Sergipe fosse do PSDB/DEM, e não do PT, o discurso no entanto provavelmente seria outro. O governo criticaria os municípios por não oferecerem saúde de qualidade aos seus moradores. Ou, talvez, beneficiasse apenas os municípios de seus aliados políticos. O PSDB/DEM — como bem soube a Prefeitura de Aracaju nos anos FHC — nunca foi um grande entusiasta da ideia de republicanismo, ao menos fora do seu discurso.

Se a história do William incomoda a algumas pessoas, como o Vinícius, é em parte porque eles se recusam a admitir a questão central que ela ilustra: o governo de São Paulo, que hoje se pretende tão esperto e tão preocupado com o social, e que passou os últimos 8 anos atacando uma política social que inegavelmente deu mais que certo, não apresentou absolutamente nada no Governo de São Paulo que pudesse minimamente soar como alternativa.

Para quem chama o Bolsa Família de Bolsa Esmola — e só idiotas, verdadeiros idiotas, comparam o Bolsa Escola ao Bolsa Família; há um resumo sucinto das diferenças entre os dois em um dos posts linkados abaixo, mas não parece que alguém tenha se dado ao trabalho de ler — o mínimo que se poderia esperar é que apresentassem algo que pudesse fazer diferença.

O probema é que, mesmo tendo, uma estrutura de poder consolidada ao longo de 15 anos no governo de São Paulo, o PSDB/DEM não se mostrou capaz de realizar ou mesmo formular uma alternativa concreta.

Além disso, não soube trabalhar de maneira complementar às iniciativas do Governo Federal. Não que seja algo dificílimo de se fazer — tanto que o Governo de Sergipe faz. E Sergipe é o menor Estado da Federação, com recursos parcos e uma história associada às oligarquias e ao coronelismo. Fez isso em 3 anos, ao mesmo tempo em que destruía uma estrutura de Estado viciada e corrupta, fortalecida ao longo de mais de 40 anos.

Se o Governo de Sergipe pode fazer isso, o Governo de São Paulo também poderia fazer.

Mas não fez.

É por isso PSDB/DEM não tem estatura moral para criticar ou propor melhorias — coisa que, aliás, não faz — à política social do governo do PT. Eles declaram aos quatro cantos que vão cobrar competência de Dilma? Deviam, antes, se preocupar em mostrar competência eles mesmos, mostrar o que fizeram em São Paulo, por exemplo. Porque eles são oposição apenas em termos. Controlam há 15 anos o maior Estado da federação, e o segundo maior orçamento. Tiveram tempo e dinheiro suficientes para implementar mudanças significativas na forma como se comporta o Estado em relação a questões fundamentais.

E isso suscita outro ponto.

Todos nós podemos apontar grandes diferenças entre o governo Lula e o governo FHC. Na política social, na política externa, no incentivo à economia. São diferenças tão grandes que Lula acaba de ser eleito o líder político mais influente do mundo, o que me deixa preocupado com a sanidade mental de FHC.

Agora eu gostaria que algum desses defensores (e por favor, não estou cobrando isso de leitores que deixam comentários sem parecer ter lido o post; não seria justo exigir tanto assim dos bichinhos) apontasse diferenças significativas entre a era PSDB/DEM em São Paulo e a era Quércia/Fleury.

Mas, já me antecipando, deixa eu fazer uma pergunta: então são esses que se consideram capazes de substituir um dos governos mais bem sucedidos da história do país? São esses que, incapazes de apresentar alternativas concretas quando têm a chance, se consideram mais capazes de governar um país que pela primeira vez em muitas décadas encontrou uma maneira de combinar desenvolvimento econômico, respeito externo e promoção social?

A palavra é de vocês.

***

Dos comentários ao último post, um deles me fez rir muito: o do Roberto Berlim, praticamente afirmando que foi Íris Rezende que ensinou o PT a fazer política social.

Mas pensando bem, combina com o pensamento alucinado PSDB/DEM: afinal, eles acham que criaram todos os fundamentos econômicos; nada mais coerente que se achem também donos de todas as políticas sociais, aquelas que até hoje eles não conseguiram compreender.

19 thoughts on “E afinal, o que foi mesmo que o PSDB/DEM fez até agora?

  1. Sinceramente, acho que hoje o PSDB é um partido perdido, sem um projeto político consistente e que prefere fazer campanha amparado nos meritos e demeritos dos outros. E sejamos sensatos, se Serra quer melhorias no social, ele primeiro terá de explicar o vergonhoso indice Gini de São Paulo.

  2. Respondendo à pergunta que nomeia este post:
    PCC, pedágios (centenas deles) a cada 30 KM com preços mais caros que nas highways européias (e estradas esburacadas), 0,5 Km de metro por ano (cortesia Alstom), parque aquático São Paulo (também conhecido como Aquassab), pior salário das polícias e professores do país, ICMS com substituição e antecipação tributária (quer dizer, o comerciante paga antes de receber – e vender – a mercadoria . Este masoquismo, podemos dizer, é pioneiro no mundo) e …bom, pra começar a lista ta bom. Depois continuo.

  3. Pior salário de professor e policial uma pinóia, só se for em termos relativos (X custo da cesta básica, mas mesmo assim acho difícil). Do Rio pra cima eu não sei, mas no Centro-Sul, tal honra fica com os gaúchos mesmo, cujo gov também é do PSDB (ops…)

  4. Rafael, incomodei-me com seu texto e não com a história em si. Uma ida rápida ao meu blog mostraria o quão, digamos, descontente estou com o governo do PSDB em São Paulo. A questão, nos meus comentários, não foi essa, e sim o modo pouco substantivo com que você tratou os fatos, apelando a uma estética muito Michael Moore. Acho não só desnecessário, como desonesto: repetindo, há histórias semelhantes em tudo quanto é lugar deste país, eu posso contar uma historinha de qualquer governo, até do mais virtuoso e capaz.

    Neste post agora você se apresentou melhor, dando a diferença entre os governos de SP e SE e, veja só, não me incomodei. Exceto com a menção desonrosa e equivocada ao meu nome, evidentemente – quem vê pensa que sou um tucaninho desconsolado, o que está bem longe da verdade.

  5. calma rafael. calma. é preciso mesmo ter muita calma neste momento. de nada adianta vc reagir assim com tanta raiva e ódio neste coração rubro. todo governo tem seu lado positivo e seu lado negativo. uns mais e outros menos. governos do PT, do DEM, do PTB, do PSDB, do PSB e de todos outros partidos promovem avanços e retrocessos. mas vc precisa entender e aceitar q a madrugada mudou. e a alternância de poder é salutar para a história de uma nação. a gente percebe q vc está meio amargurado com as perspectivas eleitorais nada promissoras de Dilma. mas a vida tem dessas, meu caro. bola pra frente. ânimo, rapaz. vc tem o mundo pela frente… um cordial abraço

  6. O PSDB é uma peça, mercadoria para o marketing. Uma trombeta da oposição, anunciando o fim do mundo.

    O que parece mais evidente é sua especialidade em repasses. Orçamentos, obras e a distribuição do erário público. Tudo legal, carimbado por auditores e TC.

    Começa com o superfaturamento e termina, na distribuição da PLR.

    Outro jeitinho é o da verba publicitária. Como são caridosos com a mídia. Daí esse convívio simbiótico. Esse apego, quase paixão, da imprensa corporativa pelas coisas, obras e idéias do PSDB.

    Assim respira esse partido, como uma obra de ficção, boa produção, bela plástica e maquiagem conveniente. Por isso ainda vendem e enganam, essa gente de boa fé, que gosta muito de religião e futebol. Nem tanto de informação.

  7. Achei ótima essa auto-definição do vinicius: tucaninho desconsolado.

    Tá cheio deles por aí, numa revoada sem rumo, batendo cabeça sem pouso e sem destino. CAiu o muro onde viviam pousados. Agora é bola ou búlica!

    Comheço vários, alguns até são meus amigos. É uma direitazinha civilizada mas que ainda não se acostumou a idéia de que um retirtante nordestino pôs o país nos trilhos.

    Como bons cristãos jamis poderiam ser contra que alguém aplacasse a fome de desnutridos mas – caramba!- tudo tem um limite! Agora querem terra pra plantar e (a que ponto chegamos) cotas pra frequenrtar universidades, crédito pra compra computador, geladeira, tres e um e por aí vai…

    Pra serra, FHC e sua turma não há mais espaço nesse país que se redesenha. Mas pra seus (ex) eleitores, se quiserem aprender a conviver com os ex-miseráveis, quem sabe, aind há uma espereança.

    Como gente honesta, ordeira e trabalhadora que são, não há deser uma tarefa tão difícil.

  8. Concordo com o titulo do post PSDB/DEM

    Espero que o próximo seja: Lula/Sarney/Collor/Ahmadinejad (Irã)/ Castro/Chaves, etc.

    Seria coerente e justo.

  9. Algumas diferenças entre o Geraldo/Serra e Quércia/Fleury:
    1) Na época do Quércia/Fleury as estradas que estavam nas mãos do estado, em geral, eram de boa qualidade, algumas tinham pedágios. Na época do Geraldo/Serra as estradas que restam na mão do estado, em geral, não têm pedágios nem qualidade.
    2) FHC/Quércia/Fleury quebraram o Banespa, Geraldo/Serra não quebraram o Banespa.
    3) A política educacional do Quércia/Fleury não dava guinadas de 163 graus a cada novo secretário da educação.
    4) O Quércia não apoiava o Quércia por motivos eleitoreiros.

  10. Sr. Oliveira sua sugestão para título do post comete alguns equívocos:

    Salvo engano,
    1) Sarney também fez parte da base aliada de FHC, o mesmo Sarney que não era nem mais nem menos santo do que agora.
    2) Quanto ao Collor, talvez ficasse melhor Globo/Collor, pra definir bem o que seja fabricar idéias e llíderes (ou o senhor já se esqueceu do que foi o grande momento Globo/Collor em 1989).
    3) Nenhum país do mundo norteia sua política externa por princípios ideológicos, basta remexer a história pra descobrir quem alimentou a liderança do Sr. Sadam Hussein.
    4) O alinhamento do Brasil com a América do Sul visando fortalecer o continente nas negociações com os países desenvolvidos, é uma das mais bem sucedidas ações da política externa deste nosso país, e isto inclui conversar com Chavez, Castro.
    Pra finalizar o que a política de alinhamento automático com os EUA, praticada pelo FHC trouxe de bom para o Brasil????!!!

  11. Sra. Lourdes:

    Respondo suas perguntas abaixo seguindo sua numeração respectivamente.

    1)Porque o FHC fez o Lula também pode fazer não é um bom argumento; o FHC era um retardado e o Lula era a solução para todos os problemas e, até onde se sabia, infinitamente mais honesto.
    2) O Lula não poderia nem chegar perto do Collor, por uma questão e coerência e vergonha pelas corr6encia do passado.
    3) Quem “alimentou a liderança do Sr. Sadam Hussein” não serve de exemplo nenhum governo honesto de esquerda. Vai discutir isso?
    4) O Alinhamento do Brasil com a América do Sul não serviu pra nada; só pra sermos humilhados e pilhados pelo ditador do Chaves, dono do Chile e achacados pelo Lugo, do Paraguay; hoje, 03/05/10, está acontecendo de novo.

    Pra finalizar o alinhamento com os EUA serviu para, entre tantas outras coisas, viabilizar desenvolvimento tecnológico, por exemplo, essa internet que te permite falar essas coisas é invenção deles, e principalmente para desenvolver o comercio com o maior comprador do mundo das todos os nossos produtos e serviços: isso é inquestionável.

    Abraço!

  12. Bom, helio jesuíno, se você acha que eu sou pró-PSDB, quem sou eu para convencer você?

    Eu só não gosto de proselitismo bobo, de apelar ao emocional sempre que se vai criticar o adversário político.

    “É uma direitazinha civilizada mas que ainda não se acostumou a idéia de que um retirtante nordestino pôs o país nos trilhos.”

    Eu não sou de uma “direitazinha civilizada” – sou um libertário de centro, acho, se é que dá para se definir assim. Para mim não faz a menor diferença o Lula ser um retirante nordestino, e sim se ele “põe o país nos trilhos”. E eu acho que ele fez isso em parte. E só em parte, regredindo em outros pontos.

  13. Mídia.
    Só ela poderia fazer o Ministro do Planejamento de FHC ganhar. O homem que planejou o apagão e que era segundo FHC o maior incentivador para privatizar a vale (vide a Veja [argh]).
    Vinícius compara RG à Michale Moore, como se isto fosse pejorativo…

    Ahhh que isso elas estão descontroladas…

  14. Sr Oliveira,
    questão 1,2, política é a arte do possível e se baseia em relações pautadas não pelo gosto pessoal, mas por regras civilizadas de educação se o Lula tivesse feito um governo só com petistas não teria sobrevivido um dia no poder.
    Imagine-se a reação se ele hostilizasse o Collor!! Assim como no nosso emprego somos obrigados a conviver educadamente com colegas e chefes que não suportamos, suponho que o mesmo ocorra num governo.
    questão 3, parece que não fui entendida, a questão não é defender quem alimentou a liderança do Sr. Sadam Hussein, mas constatar que política externa se faz com interesses comerciais e princípios constitucionais, no nosso caso um deles é autodeterminação dos povos, o que pressupõe respeito aos governos constituídos.
    4) Quanto à política externa de aproximação com os países da América do Sul não ter servido de nada, basta pesquisar em quanto cresceu nosso comércio aqui no continente.
    Finalmente não precisamos depender apenas dos EUA para termos acesso à tecnologia e à Internet, aliás acho que é disso (dependência) que devemos fugir.
    De qualquer modo foi um prazer trocar idéia com alguém que discorda, mas é educado e argumenta.

  15. Sra. Lourdes:

    Eu relação a sua contra argumentaçào, na suposição que você tenha razão, só posso parafrasear o desiludido personagem do Daniel Day, Lewis, William “Bill the Butcher” Cutting, em Gangues de Nova York: “nào quero fazer parte desta sujeira!”.

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