Erro médico

Uma equipe de médicos americanos e romenos extirpou de uma mulher um tumor pesando 80 quilos. A operação durou 10 horas.

Meu conhecimento médico se resume a me auto-receitar Tylenol para dor de cabeça, mas estou absolutamente convencido de que fizeram tudo errado. É um caso de crasso erro médico, do tipo que dá processo.

Não era a mulher que tinha um tumor.

Era o tumor que tinha uma mulher.

Só para lembrar

Criminoso, genocida, ladrão — todos esses adjetivos se aplicam a Saddam Hussein.

Mas é bom não esquecer que nos últimos 40 anos o Iraque teve, pelo menos, uma sociedade secular. Mulheres tinham direitos que em outros países islâmicos seriam motivo para apedrejamento. Havia um certo tipo de liberdade de costumes que não é comum no Oriente Médio.

Os xiitas são maioria no Iraque, e agora, com Saddam e o Ba’ath fora do caminho, é mais que provável que cheguem ao poder.

Sei não, mas tenho a impressão de que as coisas vão ficar cada vez mais complicadas.

Retratos da vida

O que é a vida.

Eu aqui preocupado com as eleições americanas, perdendo tempo em apregoar o que julgo ser o início de uma nova era, o DNAS perdendo tempo discordando, e os americanos mais preocupados com outras coisas:

46% dos americanos acham que Al Sharpton tem um troço maior;

43% acham que ele é o candidato que teve mais parceiras sexuais — o mesmo número de gente que acha que ele já se meteu em surubas;

25% acham que Bush é melhor de cama;

30% acreditam que Bush já teve experiências homossexuais.

Notícia completa aqui.

Nunca se sabe

Sejamos realistas: por menor que seja, há a possibilidade hipotética de um dia você precisar se libertar de um jacaré. Ou escapar de um tubarão.

Não estou rogando praga, mas quantas vezes você disse “dessa água não beberei” e acabou encharcado?

É para esses momentos que existe um site chamado Worst-Case Scenarios, cheio de dicas importantes e fundamentais para que você consiga se safar do improvável. Como sobreviver caso o seu pára-quedas não abrir. Ou como pousar um avião. Ou ainda como escapar de uma abdução por ETs.

Fale a verdade: como você pôde viver todo esse tempo sem todas essas dicas?

E caso você esteja rindo aí da inutilidade de tudo isso, bem, há também uma seção dedicada à sobrevivência a encontros e sexo.

Filmes em liquidação

Da Wired: um sujeito fez um longa-metragem em seu iMac por exatos 218.32 dólares. O filme foi exibido no Sundance Festival.

À parte o exagero (o custo real do filme é muito maior; alguém teve que comprar a câmera, pagar a revelação, pagar a iluminação, etc.), o filme levanta duas questões interessantes, apontadas pelo TechDirt.

A primeira é a de que cada vez mais filmes com esse tipo de custo de produção vão aparecer. O que quer dizer uma fragmentação cada vez maior da mídia, com filmes direcionados a nichos específicos e pequenos.

A outra é: vai ser cada vez mais difícil distinguir entre o bom e o imprestável.

Eu, por exemplo, me empolguei com a perspectiva. E estou me preparando para escrever e dirigir o meu primeiro longa, em S-VHS. Vai se chamar “A Estranha Tentação de Willames Roberval”, um filme misturando filosofia, zen-budismo, uma visão foucaultiana do sexo, Kierkegaard, Marx, Freud, Heidegger, axé music, forró e Odair José. Vai ser um épico comparável a “Intolerância”, de Grifitth, e vai ter sucesso onde o Cinema Novo falhou, ao fazer uma releitura literária da trajetória brasileira.

“A Estranha Tentação de Willames Roberval” será a grande narrativa da epopéia brasileira, e colocará o meu nome no panteão dos grandes cineastas. Só falta um ator para fazer o papel do namorado do jumento.

A difícil vida fácil da Irlanda

A Irlanda é a atual presidente da União Européia.

E acabou de avisar que vai lançar uma proposta para banir o pagamento por sexo em toda a Europa.

Pois é. Como se não bastassem os tantos empregos e profissões desaparecendo diante da revolução tecnológica, ainda aparece um país querendo acabar com a prostituição.

As associações de prostitutas de toda a Europa deveriam se unir para acabar com esse absurdo. Aqui vão algumas sugestões.

1 – Consigam o apoio de cidades como Hamburgo e Amsterdam. Sem a prostituição o turismo em Amsterdam vai ficar restrito aos freqüentadores dos bares de haxixe e maconha. Hamburgo, nem isso.

2 – Invoquem o respeito à história universal. A Europa é o berço da civilização ocidental. E a prostituição é a profissão mais antiga do mundo. Combinam como pão e manteiga.

3 – Usem Maria Madalena como símbolo. Se Jesus a perdoou e talvez a tenha até amado, quem é a Irlanda para acabar com suas discípulas?

4 – Veiculem comerciais apocalípticos, racistas, o que for necessário. Por exemplo, mostrem um imigrante turco, de mãe marroquina e pai judeu, negro, muçulmano, feio, pobre, desdentado e se possível em andrajos. Em off, o locutor avisa: “Sem putas, este homem vai comer a sua filha”.

5 – Lembrem à Irlanda que, durante a grande fome da década de 1840, as tataravós de muitos dos parlamentares faziam “pequenos serviços” do gênero para conseguir batatas e matar a fome.

6 – Apelem para seu senso de auto-preservação: se acabarem as putas, onde vão arranjar políticos?

7 – Utilizem a rede de organizações não-governamentais e distribuam camisas e adesivos num grande esforço de “buzz marketing”. Algumas sugestões: “Quer comer de graça, vá aos restaurantes do Garotinho”, “O que é bom custa caro”, “Mais barato que um divórcio”, “Sua mulher dá de graça. Vale a pena?”, “O mundo já tem manequins demais”.

8 – Mandem os irlandeses à puta que os pariu.

Currupaco — testemunha viva da história

Notícia curiosíssima sobre o papagaio de Churchill. O psitacídeo ainda está vivo, aos 104 anos.

Mas a idade tem feito mal a ele. Conhecido pela boca suja, o pobre papagaio mal fala hoje em dia. Velho além do que podia esperar, chegou à conclusão que as únicas palavras que valem a pena serem ditas são “oi “e “bom dia”.

A idade, carrasco insensível, não poupa nem papagaios. Mas parece gostar do papagaio da boca suja.

A velha onda do kinemanacional

Assisti a um filme brasileiro dos anos 80 — primeira metade, provavelmente, a julgar pelos figurinos, pela juventude de Carla Camuratti e da então divina Vera Zimmerman e por uma foto de Figueiredo numa parede — chamado “Onda Nova”.

Nunca tinha ouvido falar. Poderia continuar sem ouvir.

Se é que consegui entender, “Onda Nova” gira em torno de um time de futebol feminino. É pior que uma partida de verdade.

O filme é nada mais que um portfólio de todas as falhas que se encontrava no kinemanacional da época. Uma dublagem horrorosa, ausência completa de efeitos sonoros (é como se ao fazer a dublagem eles esquecessem a trilha com o som ambiente; pelo visto não podiam gravar com som direto e o editor de som só se preocupou com os diálogos, esquecendo o resto), uma tendência a ser episódico demais, interpretações toscas, um roteiro correndo atrás do próprio rabo, diálogos famélicos e um gosto patológico por palavrões e cenas de sexo dispensáveis. Há detalhes hilários como um grupo de mulheres decidindo um aborto como se estivessem escolhendo a roupa com que iam sair naquela noite, e uma participação inexplicável de Regina Casé. Em todo o filme, há apenas uma boa cena: Patrício Bisso subindo em uma cadeira para pegar sua peruca no lustre, jogada ali por sua filha.

Há algum tempo ouvi alguém falando que a edição de som no kinemanacional sempre foi tão boa quanto a americana; a gente é que não percebia que o som deles também era ruim, porque estávamos ocupados lendo as legendas. “Onda Nova” prova que não. Há uma infinidade de detalhes de uma mediocridade tão estrondosa que se tornam gritantes. De modo geral geral, os erros são tantos e de uma diversidade tão grande que conseguem desagradar a gregos e troianos.

Eu, pessoalmente, não tenho nada contra a “globificação” do kinemanacional, acusada por Ela (aliás, qual o nome d’Ela?). Não que o padrão Globo seja o melhor do mundo, ou mesmo transportável para o cinema. Mas é um padrão mínimo. O desafio do grosso do cinema nacional ainda não é ser criativo: é ser tecnicamente correto, é saber construir, acima de tudo, uma boa narrativa. Se pelo menos alcançassem o padrão Globo, todos eles, já seria uma boa. Se, por exemplo, “A Paixão de Jacobina” tivesse a qualidade narrativa de “O Tempo e o Vento”, minissérie global de quase 20 anos atrás, teria sido uma vergonha menor para seu autor e para sua protagonista.

“Onda Nova” serve ao para derrubar um mito que a intelligentzia nacional criou: a de que o fim da Embrafilme em 1990 representou o fim do kinemanacional. Nada mais equivocado: o cinema estava morto havia muito tempo, sobrevivendo graças ao pulmão artificial decadente dos Trapalhões, fazendo aqui e ali filmes desgraçadamente trash como “Onda Nova” e, raramente, produções mais ricas mas também ruins — “Quarup”, por exemplo.

Serve também para atestar que o kinemanacional evoluiu assustadoramente em poucos anos.

Mesmo assim, mesmo que ele sirva apenas como referencial histórico e um aviso aos infantes (“olha, se você não comer espinafre vai acabar que nem esse filme), e embora eu não tenha tido a coragem de assistir até o fim, talvez assistisse de novo. Vera Zimmerman, novinha, faz uma lésbica — não é preconceito; é que o seu papel se restringe a isso, ser lésbica e colar velcro em um táxi — absurdamente deliciosa. A visão de sua beleza pós-adolescente — e da marca de uma operação de apendicite muito, muito sexy — torna o suplício quase suportável.

Manhattan Connection

Finalmente assisti a uma edição do Manhattan Connection, agora sob nova direção.

Os maus pressentimentos que tive quando anunciaram a saída de Arnaldo Jabor se confirmaram, e da pior forma possível.

Caio Blinder continua incapaz de um pensamento original, Lúcia Guimarães continua fazendo a Missa do Galo rezada por João Paulo II parecer o encontro de trios na praça Castro Alves, e Lucas Mendes continua administrando a decadência do programa.

Por alguma ziquizira, até o Diogo Mainardi está insosso no programa. Eu tenho certa resistência a ele, mas esperava pelo menos o mesmo galo de briga que se vê na Veja. Jamais seria capaz de imaginar que o sujeito ficaria tão sem graça com seu leve sotaque italiano.

(Parece que tem outro rapaz no programa, mas deve ser só ilusão dos meus sentidos. Se não for, é o mais sensato e inteligente de todos eles.)

O MC já foi um dos melhores programas da TV a cabo. Também um dos mais inteligentes, quando contava com o brilho de Paulo Francis e a leveza de Nelson Motta. No ano passado quase saiu do ar, por falta de patrocinadores; voltou com um dos maiores índices de alienação já vistos neste país, salvando-se apenas Arnaldo Jabor. Hoje é cada vez mais irrelevante. Eu não apostaria na sobrevivência do programa por muito tempo mais.