Minhas Copas do Mundo

Da Copa de 78 eu só lembro de Zico cobrando e perdendo uma falta, dos campos cheios de papel, de alguém querendo entrar em campo com o braço engessado, da expectativa pelo resultado de Argentina x Peru e da comemoração portenha pelo título. Eu não gostava de futebol na época.

Mas em 82 foi diferente, porque eu tinha mudado. Tinha certeza absoluta de que o Brasil iria ganhar aquela Copa. Não havia nenhuma seleção que sequer se aproximasse do talento e da beleza daquele time. Mesmo tendo perdido o Mundialito de 80, eu não tinha dúvidas de que ganharíamos aquela copa. Ninguém tinha, acho. Deu no que deu, e até hoje o nome de Paolo Rossi me incomoda. Não só o dele: durante a copa, eu não sabia por que Waldir Perez e Serginho estavam naquele time, e Nunes, Leão, Careca e Roberto Dinamite não. Carlos, goleiro, estava no banco. Até hoje não consigo engolir aquela cena que se repetia a cada jogo: Serginho perdia um gol e saía rindo. (Eu teria minha vingança na final do Campeonato Brasileiro de 83, quando o Flamengo colocou o Santos dele e de Rodolfo Rodriguez em seu devido lugar. Aqui se faz, aqui se paga.)

Em 86 as coisas estavam diferentes. Eu não tinha muita fé naquele time. Os bons jogadores eram velhos, os novos eram ruins. Alguém lembra de Alemão? De Elzo? Mas à medida que a Copa ia trancorrendo, que Josimar fazia aqueles belíssimos gols, que Carlos mostrava um talento que eu nunca tinha visto no gol brasileiro, que Júlio César curava meus traumas da zaga brasileira, eu começava a achar que teríamos uma chance, sim. Nunca tivemos; seria impossível ganhar da Argentina, mas isso não importava. No fim das contas eu não esperava ser eliminado pela França. De boas lembranças ficaram o belo time de Maradona (não, isso não é uma boa lembrança) e a mais bela torcida da Dinamarca.

Em 90 eu tinha certeza de que não ganharíamos a Copa. O que o Lazarento montou não era um time, era uma vergonha para um país que se orgulhava de seu futebol. Acho que é por aquele timeco ser tão ruim que só consigo me lembrar de Caniggia correndo em direção ao gol do Brasil. É suficiente. E já escrevi demais sobre algo que não merece sequer uma linha.

Em 94 as coisas tinham voltado aos seus lugares. Eu sabia que iríamos ganhar aquela Copa. Tinha duas razões para isso. A primeira era o fato de termos, pela primeira vez em muito tempo, um bom plantel. Não sei se alguém se lembra, mas entre o início da debandada de jogadores para a Europa, a partir do sucesso da geração de 82, e o começo dos anos 90, vivemos uma entressafra terrível de craques. Em 94 finalmente voltamos a ter bons jogadores suficientes para ganhar uma Copa, ainda que Parreira não percebesse. E tínhamos tido dois grandes times, o São Paulo bicampeão do mundo e o Palmeiras de Edmundo. A segunda razão era simples: não havia uma seleção à altura. Só isso. A Copa de 94 foi a primeira que pude comemorar. É uma sensação deliciosa.

Em 98 as coisas eram um pouco mais incertas. Eu não achava que aquele time fosse bom mas, de novo, não havia uma seleção à altura. E quando conseguimos passar da Holanda eu poderia apostar qualquer coisa que seríamos campeões. Quando vi que a final seria contra a França tive certeza de que ganharíamos. Ainda bem que não apostei. A impressão que tenho até hoje é que a França não ganhou aquela copa; nós que a perdemos. A Copa de 98 também me deixou com uma certeza eterna: o meu craque preferido, Zico, era um tremendo de um pé frio. Vocês vão ver o que vai acontecer com o Japão em 2006.

Antes da Copa de 2002 eu jamais acreditaria que pudéssemos ganhar. Tinha certeza de que aquela copa era argentina. Sabia que passaríamos às quartas de final, por causa da chave absurdamente fácil que pegamos, mas as eliminatórias tinham mostrado um time tão vagabundo — Tinga? Eduardo Costa? Leomar? — que seria muita sorte conseguirmos chegar às semi-finais.

É, demos sorte. Ninguém tira da minha cabeça que só conseguimos chegar tão longe — e jogar tão bem — porque a Providência tirou Emerson de campo. Morro achando que fomos campeões a despeito de Felipão. Pela primeira vez em 20 anos eu não vi os primeiros jogos, trancado em um hotel por uma pré-campanha para governador. Mas quando passamos, quando a Argentina deu aquele vexame (que me alegra tanto quanto uma vitória nossa), eu não pude deixar de ver. Mas só quando soube que nosso adversário na final seria a Alemanha tive certeza de que iríamos ganhar. Nunca entendi por que falam tanto dos chucrutes, porque aquilo que chamam de futebol é feio — e há 30 anos não é sequer eficiente. Eu tinha certeza de que o pentacampeonato viria; veio, e com um brinde: o frango de Kahn.

E antes que perguntem, ainda é cedo pra fazer previsões sobre 2006. Pouco antes da Copa começar me perguntem de novo.

Jogando por música

Durante a copa de 98 um desses canais esportivos exibiu todos os jogos do Brasil na Copa de 70.

E há alguns anos pude rever alguns da Copa de 82 num canal educativo.

Pude então comparar as duas seleções. E, por incrível que pareça, eu prefiro a de 82.

Claro que foram épocas diferentes, em circunstâncias diferentes. Em 70 tínhamos Pelé e um grupo de talentos individuais — Tostão, Gérson, Rivelino, Jairzinho, Carlos Alberto — que nunca mais se repetiu, tão extraordinário que se sobrepunha a qualquer deficiência tática ou organizacional.

Mas em 82 nós tínhamos a seleção mais entrosada que eu já vi. E não faltavam jogadores legendários: Zico, Falcão, Leandro, Júnior. A forma como eles tocavam a bola, como se posicionavam no campo, era mais bonita que a de 70. Parecia uma máquina bem azeitada, funcionando perfeitamente. Tinha um entrosamento que jamais vi em nenhum outro lugar. Como diziam na época, eles jogavam por música.

Talvez seja injusto comparar as duas seleções, porque o futebol tinha mudado bastante. Mas comparo mesmo assim e, para mim, a seleção de Zico jogava mais bonito.

Aquele time estava em um momento especial da história. Era um momento de transição. Ela jogava rápido, quase tão rápido quanto hoje. Mas mantinha o mesmo carinho no trato da bola que se via na Copa de 70, que pode ser personificado na elegância com que Falcão conduzia a bola. Mesmo hoje, 22 anos depois, ainda é uma delícia ver aquele time jogar.

Mas a de 70 foi campeã e a de 82 não. Talvez o diferencial seja simples sorte. Na final de 70, Clodoaldo deu de bandeja o gol da Itália. O time conseguiu se recuperar. Em 82, Toninho Cerezzo entregou o ouro a Paolo Rossi e viemos para casa. Mas isso não tira seu brilho e sua beleza. Porque é impossível esquecer momentos como Sócrates abrindo as pernas e deixando a bola passar para que Éder a levantasse com o pé direito e soltasse, com o esquerdo, aquela bomba que Dasaev mal conseguiu ver entrar no gol da URSS.

Como atrair pessoas extremamente perturbadas

Este blog continua sendo visitado por todos os tipos de aberrações sociais e sexuais. Normalmente me contento em imaginar sua decepção ao ver o tempo perdido ao vasculharem este blog, e isso acaba sem me incomodar.

Mas uma pesquisa do Google que incluiu esta página em sua lista de resultados me chamou a atenção:

fotos de estupro pedofilia necrofilia

.

Perdi alguns minutos tentando descobrir se essa pessoa (hesitei bastante antes de chamá-la assim) deixou escapar alguma aberração. Deixou: faltou incesto.

Se por um lado seu complexo de Édipo (ou Electra; deixemos de ser sexistas e de achar que só porque é doente é homem) é evidenciado pelo interesse em pedofilia, por outro não consigo deixar de imaginar que a mulher que cometeu essa criatura não é exatamente bem aquinhoada de formosura.

As alegrias que o Google me dá (II)

qualidades dos produtos vendido nos camelos
É nisso que dá comprar bolsa Louis Vuitton a 300 reais em frente à General Osório. Depois fica aí, procurando um jeito de fazer com que as pessoas não percebam.

goiania garotos programa gay
Deve ser horroroso fazer programa com michê em Goiânia. Deve ser horroroso ser michê em Goiânia. Deve ser horroroso estar em Goiânia.

Fotos dos Mamonas Assassinas carbonizados mortos
Esse quer tanto ver a bagaceira que fez questão de reforçar: carbonizados e mortos. Faltou o “picadinhos”.

peitões de preta
Há frase mais canalha do que esta? É a mais concreta prova de que aquele pensamento racista dos tempos coloniais está vivo na imaginação perturbada de alguns idiotas. E esse aí sequer pode alegar ter tido uma ama de leite negra.

putas de Aracaju
Esta aqui está em recesso. Mas volta a fazer programas a partir de março. Por favor, deixe nome, telefone de contato e um sinal para que retornemos sua ligação. Avisamos de antemão, entretanto, que não beijamos na boca.

virgindade meninas vida sexual início atividade 18 25
Tão terno. A moça está cansada de ser chamada de “a virgem da turma”. Todas as amigas já deram e ficam gozando a cara dela, escondendo o fato de que vez por outra passam pelas mãos de cafajestes insensíveis. Agora ela encontrou um homem a quem finalmente dará sua flor, um que a pegará no colo, que a deitará no solo e a fará mulher. Com vergonha de falar com sua ginecologista, temendo um sermão de sua mãe (“você não vai dar praquele vagabundo!”), ela prefere procurar as informações necessárias na Internet. Será que vai doer? E se ele me deixar depois? Essa prova de amor que ele pede não pode ser um passeio em Búzios?

filminho porno nacional
Um nacionalista! Um homem que respeita e admira a produção cultural de seu torrão natal! Fico imaginando um velho coronel em seu apartamento em Copacabana, que passa os dias de pijama lembrando os tempos em que era convidado a assistir a esses filmes nas sessões da Censura. Um velho admirador de Juan Bajón e Sady Baby, um homem incompreendido cujo grande sonho foi ser David Cardoso, e não Napoleão ou o Duque de Caxias. E que por causa desse conflito que o consumia descia o sarrafo naqueles comunistas safados.

punheteiros gay
O que diferencia um onanista gay de um hetero, pelo menos na aparência?

historias eroticas para bater punheta
Há outro tipo? Alguém lê a Fórum (ainda existe?) por causa do estilo dos autores?

sites com fotos de aberrações humanas
Só coloquei uma foto minha aqui, e já faz tempo. Ele devia procurar nos arquivos.

Rafael Galvão
Eu não disse? O nível das taras continua baixando. Cada vez mais.

garotos japoneses nús
“São tantas coisinhas miúdas…”

conto corno
É uma triste história. A história do conto traído sordidamente pelo grande amor de sua vida, a novela, que fugiu com aquele romance enorme sem ao menos deixar um poema de despedida.

Por que acho Borges um ceguinho escroto

Fiquei calado durante meses porque se eu voltasse a falar de Jorge Luis Borges o Bia era capaz de ir até Nictheroy me encher de porrada.

Mas como agora estou bem mais longe, cercado de cabras delicados cujos lemas existenciais são “Eu não mato. Eu só faço o furo, quem mata é Deus” e “Eu só dou uns risquinho, os cabra é que é morredor”, eu posso explicar.

Borges é ceguinho porque, afinal de contas o sujeito era mesmo cego. Visualmente prejudicado, como dizem os politicamente corretos.

Escroto porque o jeito como ele incitou e depois apoiou a ditadura argentina, muito mais canalha e criminosa que a brasileira, não pode ser definida de outra forma. Em seu campo, ele foi um criminoso contra o seu país e seu povo.

E, finalmente, acho o sujeito um ceguinho escroto porque sou incapaz de pronunciar seu nome corretamente.

Yankees go home

Eu escrevi um post sobre o “cadastramento” dos americanos nos aeroportos brasileiros e apaguei. Depois, quando vi o branquelo Colin Powell reclamando do Brasil ousar se considerar igual aos EUA, pensei em escrever novamente, mas achei que já tinha tanta gente falando do assunto que não valia a pena.

Um artigo do Elio Gaspari que eu botei na cabeça que vi no blog da Mônica Japiassú, mas que foi no da Suraya, deixa as coisas bem claras. Assumir uma postura de igualdade é o mínimo que um país que se respeite pode fazer. A postura do Brasil é um exemplo simples de vergonha na cara.

Há só duas questões a serem levantadas nesse imbroglio todo.

O primeiro é reconhecer que não há muitos casos de americanos tentando imigrar legalmente para o Brasil. E essa é a verdadeira razão para o fichamento lá. O procedimento brasileiro é justo, mas é retaliação.

O segundo é a sensação de invenção da roda que de repente acometeu os governistas. É como se só a partir de agora o Brasil começasse a assumir uma postura soberana no cenário internacional.

A postura do governo Lula é praticamente irrepreensível. Em discurso e em atitudes, tem mostrado que o Brasil é um país que se acha digno desse nome.

Mas essa atitude, digamos, orgulhosa, não começou agora. Estão esquecendo que no governo passado houve pelo menos três momentos em que o Brasil se recusou a baixar a cabeça: o caso da disputa Embraer x Bombardier, o caso da carne com o Canadá e a batalha do Ministério da Saúde em torno das patentes dos remédios contra a Aids.

O Governo Lula tem pontos positivos em número suficiente para não precisar subestimar as conquistas do governo FHC. Até porque, em tantos aspectos, é bem parecido com ele.

Poder para as massas

10 anos depois de a internet ter se transformado em uma mídia popular, até há pouco tempo eu continuava relativamente cético quanto às transformações políticas que os sábios prometiam vir do uso da rede. A visão era simples: a internet colocaria mais poder nas mãos da pessoa comum, tornaria o mundo mais complexo e mais democrático.

Eu achava tudo isso exagero, provavelmente por ter sido criado em uma era em que o grande meio de comunicação era a TV. Tinha plena certeza de que as coisas estavam mudando, e me maravilhava com isso — mas não sabia que seria tão rápido, nem tão radical.

Nas últimas semanas um concurso de comerciais anti-Bush talvez tenha representado a ruptura final. Uma série de comerciais foi produzida por gente comum, e conseguiram tanta publicidade que o vencedor talvez consiga ser apresentado no Superbowl — o equivalente nos EUA a uma final de Copa do Mundo entre Brasil e Argentina. A maneira como as pessoas interagem com a política sofre, agora, uma mudança importante. A partir de agora as coisas jamais voltarão a ser as mesmas.

Essa é uma mudança real, a primeira realmente significativa desde o início da mídia de massas. O que parecia remoto e visionário já é uma realidade. Esse é o momento realmente importante, o marco zero de uma nova era; o que vem de agora em diante é apenas a evolução. A Bastilha já começou a cair.

A moralidade dos Corleone

Em uma chamada para um programa sobre Diane Keaton no GNT, um crítico americano de cinema diz que seu papel em “O Poderoso Chefão” é uma espécie de ilha moral em um mundo imoral, ou amoral.

Donde se conclui que o sujeito não entendeu nada sobre a saga de Vito Corleone.

O que Kay representava não era o exemplo de moralidade frente à imoralidade dos Corleone. Era, simplesmente, uma outra visão moral, anglo-saxã e legalista, e que do ponto de vista do imigrante italiano é feita especificamente para impedir sua ascensão social.

Moralidade ou imoralidade são conceitos relativos, na maior parte das vezes. Bigamia é imoral, mas não sob o Islã ou entre os mórmons. Biquíni é algo normal, mas desfile assim no Iêmen e você será apedrejada, o que é recomendado apenas para quem tem vocação para Maria Madalena (embora virar puta seja mais simples e mais prazeroso).

Para Vito Corleone, o que ele fazia era simples: seu dever era cuidar de sua família da melhor forma possível, e vencer um mundo hostil. Seus conceitos de moralidade são sólidos, firmes, baseados em um sistema patriarcal que se impõe, sempre, pela força. São antigos como a própria máfia siciliana. A máfia, do jeito que é retratada no filme, não é imoral. É justamente o contrário, de tão arcaica.

A máxima concessão que se pode fazer à saga dos Corleone é que ela se torna a história da decadência moral da família a partir do segundo episódio, marcada pelo assassinato de Fredo e que condena para sempre Michael Corleone (o assassinato de Carlo Rizzi, ao contrário, é uma reafirmação do código moral dos Corleone). E ainda assim Kay não é exatamente um rochedo moral acossado pela vaga de imoralidade dos Corleone (ainda menos se considerarmos que, embora se recusando a fazer parte daquilo, ela não se exime de viver muito bem com a pensão de Michael). É, no máximo, um contraponto.

E, cá para nós, há algumas horas em que eu bem que gostaria de ter a moralidade dos Corleone.

A marca Brasil

Todo mundo fala que o Brasil precisa de uma marca que personalize e valorize suas exportações. È vero.

Mas antes de decidir qual marca utilizar, é sempre bom definir qual o conceito que se quer dar a essa marca. Um pouquinho de planejamento nunca é ruim.

Talvez o conceito tenha sido dado pelas Havaianas, de acordo com a Advertising Age.

Não sei se foi a equipe de RP da Havaianas ou a própria AdAge, mas a definição que a revista deu do Brasil é mais que perfeita: “casual but fashion-conscious tropical country“.

É uma descrição acurada do que a imagem do país deve ser. Define de maneira absoluta todos os atrativos que o país pode ter em praticamente todos os campos. Um país elegante mas despojado, alegre mas sutilmente sério, perfeito para aqueles europeus e americanos frios e formais. Um lugar exótico, mas confiável.

Eu nunca entendi a idéia de lançarem a Benetton por aqui, porque o que ela oferecia a nós era um boiler no inferno (adorava os outdoors do Toscani, entretanto). Agora nós podemos oferecer ao resto deste pobre mundo a verdadeira cor, a alegria legítima. É uma abordagem que serve para turismo, exportação de algo mais que commodities, para praticamente tudo: porque é a melhor definição do que o Brasil deve e sonha em ser.

É minha pequena contribuição ao futuro do país. E quando, daqui a alguns meses, alguém aparecer com essa proposição e outros disserem que é brilhante, é bom lembrar que aqui foi dito primeiro.