Decadência e queda da era da imprensa

Tanto o Sergio Leo quanto o Pedro Dória estão discutindo questões semelhantes em seus blogs: a situação de decadência e provável queda da imprensa.

É mais que sintomático que o grande palco dessas discussões seja a blogosfera, e não os jornais. Recentemente a Time tocou no assunto, mostrando incompreensão acerca do mundo que se anuncia propondo micro-pagamentos. Chegou atrasadíssima à discussão; e quem acompanhou o BuzzMachine de Jeff Jarvis nos últimos 5 anos tem uma sensação de dejà-vu.

Este post não pretende discutir propriamente o tema. Jornalistas e diretamente interessados na questão, o Pedro e o Sergio abordam o assunto com mais propriedade do que eu. Mas um ponto defendido pelo Pedro me chamou a atenção. Ele disse que a “imprensa é fundamental para a democracia”.

Isso era uma verdade absoluta até há uns 10 anos, e há uma infinidade de exemplos para provar isso: Watergate, Correio da Manhã, Eriberto, tantos outros. Mas a cada dia essa verdade se torna mais relativa, e está caminhando para ser não mais que uma lembrança de velhos tempos passados.

A imprensa era fundamental por uma razão simples: a propriedade dos meios de produção e distribuição de informação pertencia a poucos. Era caro ter uma prensa, como ainda hoje é caro possuir uma emissora de TV ou mesmo uma rádio. Mas a partir do momento em que, como definiu bem o Pedro, puseram uma rotativa nas mãos de cada cidadão, esse monopólio deixa de existir.

Essa mudança tem sido muito mais rápida do que jornalistas gostariam, e isso é mostrado por uma certa reação à novidade. Por enquanto, os momentos em que blogs trouxeram à tona casos importantes ou mesmo derrubaram jornalistas consagrados como Dan Rather são levados em consideração como casos isolados. São, mesmo. Mas é preciso ter uma coisa em mente: essa é uma mídia que mal completou dez anos. Qual outra teve impacto tão grande em tão pouco tempo, no aspecto da defesa da democracia e de influência política?

Há dois pontos fundamentais, aqui, que deveriam ser analisados de maneira isolada. Uma é a questão da distribuição. À medida que a internet tornou jornais impressos caros e defasados, é natural e inevitável que eles migrem completamente para o meio eletrônico. Esta semana o Seattle Post-Intelligencer, um jornal tradicional, com 146 anos de história, anunciou que vai encerrar sua versão impressa. Recentemente, o Los Angeles Times anunciou que a receita com internet já paga seu corpo editorial, o que permite antever o fim de sua versão impressa em poucos anos.

Até aí a mudança seria razoavelmente pouco importante. Seria apenas tecnológica, e não deveria assustar muita gente. Mas há a questão da produção, também. Essa é assustadora.

A partir do momento em que jornais começarem a disputar com milhares, talvez milhões de outros produtores de informação, a notícia tende a se tornar uma commodity. E é aí que a coisa complica de verdade.

O cerne da questão é que imprensa é, basicamente, a sociedade falando para si mesma. Até agora, era necessária a intermediação de uma classe específica. Essa intermediação, no entanto, começa a se tornar redundante. É a própria função social da imprensa que está desaparecendo.

Essa conclusão é óbvia e já se tornou ponto pacífico: a internet está tornando obsoleto o antigo modelo de jornalismo. Por exemplo, quem vai perder tempo tendo o caderno de arquitetura e decoração do New York Times se, nos blogspots e wordpresses da vida, gratuitamente e por gente muitas vezes muito mais qualificada do que jornalistas, há uma infinidade de excelentes blogs sobre o assunto?

Um exemplo claro da diferença que essa possibilidade de produção de informação faz está no crescente questionamento que se vem fazendo ultimamente sobre a ética dos meios tradicionais de comunicação. Um trecho do post do Pedro explica os padrões ideais dos jornalistas:

Alguns princípios são sacrossantos para nós, jornalistas. Um deles é a separação entre Igreja e Estado: quem mexe com publicidade, nas grandes empresas, não dá pitaco na redação. Os anunciantes não podem achar que têm o poder de intervir. Quando esse tipo de interferência ocorre, em geral nos jornais que cheiram mal, nós jornalistas olhamos com desdém.

O problema é que o produto final, que não depende apenas de repórteres, é bem mais que isso. O fato de jornalistas olharem com desdém esses episódios não impede que eles aconteçam — nem que redefinam a imagem da imprensa perante a sociedade. O Pedro e o Sergio que me desculpem, mas vejo tantas matérias pagas ou “politicamente alinhadas” nesses grandes meios de comunicação que se tornou quase um passatempo descobrir quais são as matérias pagas em um jornal ou revista e por que ela foi veiculada.

Não é apenas nos que “cheiram mal”. Na maior revista do país há uma matéria antológica — aí do final de 2003 — em que disfarçada de reportagem estava um imenso press release da Monsanto. Um grande jornal nacional publicou, há pouco mais de dois anos, uma matéria sobre Sergipe obviamente paga, ainda que assinada, com o agravante de o mesmo teor da matéria já ter sido publicado alguns meses antes, por uma dessas revistas de negócios. O jornal levou um furo até mesmo em matéria paga. Nas vésperas das eleições municipais do ano passado a Exame publicou uma matéria mais que elogiosa — e tão óbvia que chega a ser eufemismo falar em “suspeita” de interesses comerciais por trás — sobre o prefeito de Porto Alegre.

Esses exemplos são os que me vêm à cabeça agora; há uma infinidade deles. Mas as coisas podem piorar, e pioram. Até aqui se falou apenas nos jornalões, revistas e grandes redes nacionais de TV. Se passarmos para os outros 99% de meios de comunicação em todo o país, a situação chega a dar medo. O que o Sergio Leo chama de imprensa regional sobrevive de achaques, chantagens claras ou veladas, de propaganda disfarçada de jornalismo, com equipes reduzidas que acabam se tornando craques no que se costumava chamar de “tesourapress”. Costuma ter uma intimidade nociva e prejudicial com o Estado, independente de quem está no governo. Nessa categoria se enquadram, sem dúvida, 98% dos periódicos nacionais. E não se pode falar em “estado da imprensa”  sem mencioná-los.

Até há pouco, nada disso sofria grandes questionamentos fora de certos círculos sociais. A imagem pública da imprensa era aquela que ela fazia de si mesma — porque afinal de contas ela detinha o monopólio da informação. Mas a internet mudou isso, e é cada dia mais claro que essa mudança é irreversível e inexorável.

É essa democratização da produção de informação que começa a tornar a imprensa redundante e não mais fundamental. Não vai demorar muitas décadas até o momento em que os grandes debates nacionais dispensem os jornais. E se alguém precisar de um marco que simbolize o momento de ruptura, pode dizer que foi quando os blgos começaram a questionar a própria necessidade da imprensa tradicional.

21 thoughts on “Decadência e queda da era da imprensa

  1. Discordo profundamente, velhinho, é claro. Não sei se li num dos links do Dória um exemplo expressivo: o New York Times fechou o acesso a umas colunas deles. Abriu, depois de notar que as colunas deixavam de repercutir.

    O exemplo é torto, e me explico: há uma tendência, na Internet e na blogosfera, à formação de comunidades, em torno de interesses. Essa socieade que fala para ela mesma, sem intermediários, em geral, querido Rafael, fala em grupos, dentro dos grupos. Zé com zé, e poucos levantam as cabeças para ler/ver o que grupos diferentes estão dizendo.

    Isso é bacana, fortalece a cidadania, a capacidade de mobilização para defesa de interesses de grupos, pessoas, ideais.

    Mas tende a reduzir o escopo de informação que circula nesses grupos. Não empobrece, mas limita. Como no grupo de assinantes das colunas do NYT — e estou falando de um jornalão com tradição e audiência, não de algum blogueiro popular, mas com uma dezena de milhares de leitores.

    Daí que a sociedade vai sempre precisar de uma instância que se pretenda imparcial, generalista, abrangente, com capacidade de apurar e divulgar rapidamente fatos em todo o globo e nas vizinhanças mais próximas. O nome disso é jornal, midia tradicional, não importa se larguem o papel fora e passem a usar apenas as páginas eletrônicas.

    Vão precisar de dinheiro, esquema empresarial (ainda que devam aproveitar as redes espontâneas e informais formadas na Internet, como o Twitter e congeneres) e de jornalistas, gente formada para apurar e escrever matérias, segundo critérios de desejada objetividade e imparcialidade.

    Ah, a midia tradicional é ruim, viciada, viesada, incompetente. É. Mas melhorou muito e vai continuar se aperfeiçoando, sob vigilância da sociedade mais poderosa graças à Internet.

    beijundas

  2. Ótimo texto Rafael! Me lembrou uma reportagem que vi no programa Observatório da Imprensa, gravado na Argentina. O editor do jornal Página 12 falou algo muito interessante; todos os dias, em torno de 11 horas da noite, a versão impressa do dia seguinte está on-line, com acesso gratuito. Então o entrevistador perguntou o porque de imprimir se já estava tudo na internet, e a resposta foi simples: “Porque o Poder ainda lê o impresso!” Achei um ponto de vista interessante e, lendo o seu texto, penso que ele não poderia estar mais certo, e creio que a única coisa que pode manter os jornais impressos é o tal do Poder.
    Espero que não tenha ficado muito confuso, abraços!

  3. Relendo, um acréscimo: Rafa, você tem toda razão quando fala da imprensa regional. Nesses lugares, tem sido fundamental o papel da Internet, de repórteres e cidadãos que assumem em blogues a tarefa de contar o que a elite não quer.

    mas nem só de notícias locais vive o leitor…

  4. Sergio,

    Beleza. Eu concordo que há necessidade de uma estrutura profissional para o tratamento da notícia. E concordo que a estrutura jornalística, como a conhecemos hoje, é adequada a

    Também concordaria se você lembrasse que a indústria fonográfica possibilitou o desenvolvimento artístico da música no século XX. Que ela foi necessária e fundamental. Sem uma indústria fonográfica forte não haveria o rock and roll, os Beatles, etc.

    No entanto, essa indústria está indo pro buraco porque o tempo a está superando.

    O ponto aqui é que acho que você está discutindo em termos de “o que é necessário”, quando talvez fosse mais sensato discutir “o que é possível”. Eu não discordo do que você disse. Sö nàoa credito que as coisas estejam caminhando nessa direção.

    Acho que há exemplos demais de um fenômeno ainda em gestação que indicam caminhos não muito interessantes para a estrutura do jornalismo tradicional. E dinheiro aí é um aspecto fundamental para a manutenção do modelo.

    Aconteça o que acontecer, o dinheiro para empresas jornalísticas vai ser muito mais curto. A estrutura milionária dos grandes jornais — aqueles que dão dignidade ao nome “Imprensa” — não deve continuar existindo. Milhares de cidades deixarão de ter os seus jornais diários e semanais (curiosamente, esse processo vai ser mais lento onde a imprensa “cheira pior”; o Estado dará uma sobrevida maior a eles).

    Alguns jornais sobrevivendo na internet ou não, o modelo de negócios vai mudar irreversivelmente, provavelmente a ponto de não s epoder mais falar em “indústria jornalística”. Do ponto de vista da influência, pode até ser que alguns jornais saiam fortalecidos, porque se tornarão hubs importantes, mas é mais ou menos como fabricantes de discos em vinil: há espaço, mas não para muita gente. (E eu apostaria mais em um modelo com uma infinidade de “jornais de um homem só”, com sua importância multiplicada pelas redes.)

    Vê só: recentemente, um juiz ou juíza americano abriu jurisprudência desobrigando empresas a veicularem publicidade legal em jornais, por julgar que não mais o único meio para isso. Você sabe que isso acontecer aqui no Brasil 90% dos jornais fecham as portas imediatamente.

    De qualquer forma, será justamente a rede possibilitada pela internet que dará peso a quem sobreviver. É aí que reside a questão de a imprensa tradicional estar caminhando rapidamente para perder seu aspecto basilar.

    Por isso eu acho que você está subestimando a força das redes. Há a limitação a que você se referiu, sim, e nisso você está certo. Mas elas também têm transcendido tudo isso e possibilitando coisas que até a imprensa tradicional não conseguia.

    Não sei se você viu, mas a Época mencionou a crise política na Nova Guiné apenas como pano de fundo para falar — em uma notinha — de Frederick Forsythe, que estava lá. Em vez do noticiário político, coluna social. Enquanto isso, o Pedro Dória — com uma estrutura muito menor do que a da Época, sem dúvida — fez uma cobertura muito melhor, inclusive dando testemunhos de gente que estava lá.

    E o Idelber foi um dos poucos a fazer reportagem — pode-se até chamar de parcial, mas independente disso ele trouxe fatos novos — sobre o outro lado dos ataques israelenses à Palestina.

    Tanto o Pedro quanto o Idelber conseguiram isso graças à rede possibilitada pela internet. O Idelber simplesmente foi ao Facebook e conversou com palestinos, conseguindo uma cobertura melhor que a possibilitada pelos “correspondentes internacionais” da Globo, sempre localizados a milhares de quilômetros de distância. O Jeff Jarvis defini reportagem como “conseguir informação que as pessoas não sabem e/ou não querem compartilhar. Acho a definição perfeita. E isso tanto o Pedro e o Idelber fizeram melhor que a mídia tradicional.

    PS, depois de ler seu último comentário: a menção à “imprensa local” foi apenas para lembrar que a grande maioria da imprensa não está nos grandes meios de comunicação. De qualquer forma eu discordaria de você: para a maioria dos brasileiros, que não vê seus Estados ou cidades nos grandes jornais, a imprensa local é fundamental. O que quer dizer que a maioria dos cidadãos brasileiros tem mais interesse em jornais locais do que nos nacionais. (O mesmo, claro, não se aplica à TV. Mas se aplica ao rádio.)

  5. O Sérgio Leo e o Pedro Doria estão defendendo o mercado deles, e não “abordam o assunto com mais propriedade” não.

    Não acho que a imprensa tenha sido fundamental para a democracia em algum momento. Ela tem sido fundamental para defender interesses de certos grupos sociais.

    Veja, por exemplo o papel que o Estadão e a Tribuna da Imprensa tiveram em relação ao governo Vargas.

    O que a imprensa fez com o Collor (neste caso com a nossa conivência) também foi deplorável. Semelhante à ridícula cobertura sobre o “mensalão”. Por aí vai.

    Nos EUA quem acabou com a imprensa tradicional não foram os blogs, mas a burrice generalizada e o mau jornalismo dos neo-cons.

    Assino embaixo do que você escreve sobre os jornais regionais. Aqui em Curitiba a coisa é sofrível. Durante algum tempo li a Folha de São Paulo como alternativa. Já não dá mais.

    Sobra a Carta Capital – um caso à parte na imprensa brasileira.

    Eu sou entusiasta da internet como meio de informação.

    Acho que não vai substituir o livro impresso. Mas os jornais, que são uma coisa pra ler e jogar no lixo, tendem a acabar. Ainda mais se insistirem tanto em ficar cada vez piores, cada vez mais dispensáveis.

  6. Rafael, concordo com muita coisa que vc disse e gostaria de acrescentar [ou talvez enfatizar] um ponto importante. Essa idéia de um “alcance nacional” da grande mídia de RJ e SP é um mito. Essa mídia tem alcance na medida em que chega mais longe [embora não tão longe assim – vai tentar achar a FSP fora das cidades grandes e você percebe isso claramente] mas não reflete minimamente um país do tamanho do Brasil como um todo. As pessoas que vivem [e sempre viveram] em SP e RJ [caso de muitos jornalistas da grande imprensa] têm uma tendência a achar que o Brasil [ou pelo menos o Brasil que interessa] é o Brasil deles. Em outras palavras essas pessoas tendem a achar que a experiência deles é “a” experiência do Brasil. Acontece que o Brasil, e nesse ponto somos bem diferentes, por exemplo, da Argentina, tem uma vida cultural/política/social [e até econômica] bem mais rica do que isso. Nesse caso eu acho muito mais interessante e mais abrangente ler um bando de blogues que são feitos por pessoas de várias partes do Brasil [claro que não estou falando de bairrismo nem provincianismo; mas isso tem em qualquer lugar] ou mesmo blogs que são feitos por brasileiros que vivem em outros lugares do que ficar lendo a grande mídia que pensa que uma briguinha de namorados [ou de vereadores] na Avenida Paulista ou em Ipanema tem relevância nacional.
    Claro que não estamos falando de Rede Globo, não é mesmo? Porque poder parecido com o da Rede Globo de televisão emissora, NENHUMA emissora nos EUA sonha em ter…

  7. E só uma última coisa: não é muito melhor ler um blogue que não esconde suas “parcialidades” [sua posição política] do que ficar engulindo propaganda [política e de negócios] disfarçada de “imparcialidade” – coisa que é, paradoxalmente, o cúmulo da desonestidade? Nesse ponto eu sempre admirei a imprensa inglesa: Guardian para a esquerda, Telegraph para a direita e assim por diante, sem hipocrisia e sem desonestidade…

  8. André, você acusa a mim e ao Dória de desonestidade intelectual, como se nossas posições fossem ditadas por uma defes de emprego e não pautada por nossa experiência como profissionais no ramo da comunicação. Para quem acredita que a Carta capital é a única fonte confiável de informação na imprensa, faz sentido. V. deve amar uma teoria conspiratória, e parece considerar vilões quem não pensa como você, tem de etr alguma razão escusa para que não compartilhem de suas opiniões.

    Eu, que gosto muito dos jornalistas lá e já trabalhei com alguns, aprecio o amor que os leitores têm pela Carta. Mas também acho divertido saber que gtente como voc~e ficaria decepcionadíssima ao descobrir como se faz a revista e o quanto ela depende de informações também produzidas por essa midia que ataca tanto.

    Paulo Moreira, lamento informar que essa imprensa regional e local, hoje, reproduz em massa material dos grandes grupos de comunicação sediados no Rio e em São Paulo. Dê uma conferida nos créditos, quando os jornais os dão. É agência Folha, Ag~encia Globo e Agência estado para todo lado, até em materias sobre políticos locais. O Brasil não é o Brasil de quem mora nos grandes centros, como eu; mas infelizmente as notícias do Brasil rpeercutem mais quando passam pelos funis da grande midia. Não digo isso com orgulho, nem satisfação.

    Rafael, suas reflexões sobre o impacto desse novo mundo no modelo de negócios dos jroanis são interessantíssimas, você tem razão em muuito do que diz. Mas a discussão é longa para ficar alugando sua caixa de comentários. Vou ver se faço algo sobre isso lá no Sítio.

    faz falta na imprensa gente como você. (-;

  9. rapaz, quando a gente tenta escrever telegraficamente fica besta a pampa, hein? Meus palpites ficam parceendo sentenças solenes. Perdoe o mau jeito. discussãozinha boa essa que você ressuscitou.

  10. Tal como você, também discordo das lamentações do Pedro e do Leo. Pedro já alegou que seria um pena a perda de uma imprensa “técnica”. Aqui, Leo questiona quem fará as grandes coberturas, o trabalho de grandes equipes. É o capitalismo, sinto muito.

    1) Há muito os jornais pouco apostam em grandes coberturas. No recente genocídio em Gaza, foram os blogs, com depoimentos locais, de quem lá estava, em cima do fato, onde melhor aconteceu a reportagem. Nossos jornalões escorregaram em sua dependência de agências. Aqui no Rio, foi lamentável a cobertura do Globo. Parecia editado pelo departamento de estado americano.

    2) É um mito a independência jornalística. E ela só poderia existir em um cenário com concorrência. Os principais jornais se transformaram em um único cartel, com negócios em comum, as mesmas pautas, seguindo as orientações do seu único grupo político.

    3) Foi a prática de cartel que quebrou os jornais, a internet não pode ser acusada por oferecer uma alternativa. Os jornais americanos tiveram um papel vergonhoso nos 8 anos de Bush. Saíram com as mãos sujas de sangue e petróleo. O NYT levou 4 anos para se desculpar por não ter apurado corretamente e acreditado em armas químicas de Saddam, e o fez de forma discreta.

    4) No Brasil não é diferente, com o cartel envolvido em derrubar o atual governo e eleger um de seus representantes. A prática é vergonhosa. E nada tão diferente dos jornais regionais, daí que é bom o ponto levantado pelo Paulo Moreira. Os grandes jornais, os “técnicos”. já tiveram sonhos de alcance nacional. Tinham em seu âmago o preconceito com a imprensa regional brasileira, nas mãos das oligarquias locais, vivendo das velhas práticas do achaque. O projeto se foi. Fora do eixo Rio-SP e do latifúndio da RBS predomina o interesse local. Dou um exemplo. De férias em Natal, vi a primeira página de seu principal jornal com a notícia do atentado em Madri, no 11/3/2004. A manchete, e ocupando mais da metade da página, era para um assalto a banco na cidade. Madri ficou no pé, numa simples nota.

  11. Há alguns anos atrás li lá no antigo blog do Sérgio Leo; uma defessa sobre o YouTube ser a tv do futuro.
    Muito me espanta o desprendimento na constatação da possível derrocada da tv e o comedimento em sua opinião sobre a derrocada dos jornais tradicionais.
    Esta comparação não me tira da cabeça a palavra corporativismo.
    Ao afirmar que os blogs falam para eles mesmo, de ‘Zé com zé…’, por que tem interesses específicos de cada comunidade e tem como conseqüência a limitação, e nos fazer supor que é na imprensa tradicional que deviríamos encontrar a pluralidade, só pode ser uma brincadeira.
    Como argumento Sleo defende que é, exatamente, a imprensa tradicional, imparcial, generalista, abrangente, com capacidade de apurar e divulgar rapidamente fatos em todo o globo e nas vizinhanças mais próximas, e por estas suas ‘características’, que manterá o estofo.
    Me desculpe, mas os termos da defesa me pareceu muito mais uma descrição do trabalho que vem fazendo os blogs.
    A imprensa tradicional não o faz.
    Ou melhor, o que nós leitores ansiamos a imprensa tradicional já não é capaz.
    Vide o caso recente do massacre de Gaza.
    Talvez não queiramos mais esse tipo de opinião ‘imparcial’ e ‘abrangente’.
    Num comentário seu lá no Idelber; http://www.idelberavelar.com/archives/2009/02/nos_200_anos_da_imprensa_no_brasil.php#commentsBiscoito Fino e a Massa : Nos 200 anos da imprensa no Brasil, você observa; ‘… (embora a Veja, com toda sua má qualidade, é bom lembrar, ainda venda mais de um milhão de exemplares semanais, marca invejada por qualquer blogueiro ou comunicador de massa)’.
    Ora, se fosse blogueiro, não invejaria esses números, pois ele é insignificante diante de uma população de aproximadamente 180 milhões de pessoas. Que desconte ai os que não sabem, ou os que ainda não podem ler.
    Mas é isso que você chama de estofo? Uma revista que vende sua opinião forjada na má qualidade a um milhão de ‘zés,’ e num país em que a população é de 180 milhões de habitantes. E este ”Zés’ ainda pagam, e muitas vezes nem por isso pagam (vide o caso das revistas enviadas ‘gratuitamente’ para professores da rede publica do estado de são Paulo)?
    Mas é indispensável uma pergunta, esta sim relevante; Porque uma revista com toda má qualidade ainda tenha uma comunidade de um milhão de leitores?
    Se é que tem todos esses leitores. Porque esses são os números de ‘vendas’.
    Acho que qualquer resposta, sem dúvida, justifique os que falem entre si, os ‘zés’ dos blogs.
    Por isso os ”Zés’ comentam em blogs.
    Ao contrário de um milhão de ‘zés’ que compram as opiniões imparciais, generalista, abrangente, com capacidade de apurar e (principalmente) divulgar opiniões convenientes.
    De qualquer forma, se os blogs não fossem importantes você não estaria aqui comentando a favor dos jornais.

  12. “Daí que a sociedade vai sempre precisar de uma instância que se pretenda imparcial, generalista, abrangente, com capacidade de apurar e divulgar rapidamente fatos em todo o globo”

    Parei de ler ai, nao aguentei de tanta garlhada que dei depois do imparcial, generalista e blablabla hsuashuashuahsuahsuahsua

  13. Sobre a imprensa como instância imparcial em um país onde a grande mídia toda pertence a cinco famílias eu vou me abster de comentar, porque não consigo teclar e gargalhar ao mesmo tempo.

    Mas acho que o ponto do Sérgio Léo se perde nos “Zés”. Será que um milhão de zés martelando teclados aleatoriamente acabam escrevendo o Hamlet? Não necessariamente, mas o importante é que agora os “Zés” conseguem se encontrar e conversar, descobrir suas afinidades e diferenças. Antes, cada Zé lia a Folha ou Estado ou o Globo e achava que os outros todos estavam lendo igual. Agora há a possibilidade do encontro.

    E mais, acho extremamente simplista achar que as pessoas vão se restringir a ler unicamente aquilo que concordam ou gostam. Simplista do ponto de vista humano (as pessoas não são unidimensionais) e do ponto de vista da dinâmica sociológica – eu posso até começar a ler os blogs porque a uma ex-namorada me diz “Você é tão idiota, parece aquele Rafael Galvão, você devia ler o blog dele”. Mas um dia vou começar a clicar no blogroll ali do lado. Mais que isto, não me custa nada ler o Rafael, o Sérgio Léo, o Hermenauta, o Reinaldo Azevedo, passar os olhos pelo Noblat, ouvir o programa humoristíco do Olavão, etc, etc, sd nauseam.

    Claro que precisamos de gente treinada a “apurar e divulgar a informação” (nem é um treinamento tão complexo). Mas, origens à parte, “jornalista” não implica mais “jornal”. Daqui a duas ou três gerações vamos ter que explicar para as crianças porque chamamos alguém de “jornalista” do mesmo jeito que temos que explicar hoje porque a gente chama CD de disco e música de faixa…

  14. A vantagem dos blogs é que eles permitem o comentário de gente que normalmente não escreve nos jornais. Os melhores blogs que conheço são aqueles escritos por professores universitários gringos sobre áreas de sua especialidade: isso significa informação impecável, mesmo que apenas sobre um assunto ou área.

  15. Só para me explicar, falei sobre gostar de ler blogs com perspectivas de fora do eixo, não da imprensa local, que obviamente reproduz as notícias que os jornais ditos nacionais reproduzem das agências estrangeiras em grande medida. Tenho anos de contato com o que apelidamos por aqui de “Estrago de Minas”, auto-entitulado “O Jornal dos Mineiros” e conheço a falta de qualidade dos jornais locais. Estava falando de gente que vive fora do eixo RJ/SP [até fora do Brasil] e que obviamente não tem mentalidade provinciana…

  16. Acho que vc acerta a mão principalmente quando diz que é possível chegar a sites e blogs que discutam determinado assunto – arquitetura, por exemplo – de forma mais sistemática e contundente, afinal, um profissional da área que seja articulado, terá uma possibilidade maior de produzir textos de qualidade.
    Fico me lembrando do documentário “Além do Ciddão Kane”, onde a despeito do maniqueísmo ingênuo presente, mostra cenas interessantes em relação a manipulação da informação. Um exemplo disso foi a cena em que o Jornal Nacional afirma que as pessoas aglutinadas para o comício das Diretas Já!, em 1984, estavam ali por conta do aniversário de São Paulo.
    Isso seria impensável hoje, com blogs, twitter, emails. Esse nível de manipulação agora é impossível e isso me anima.
    Particuparmente, creio que ainda que a imprensa sobreviva – e acredito que isso acontecerá – terá que mudar diametralmente seus paradigmas.

  17. Caros,
    sou jornalista das antigas, então desculpem o desvio profissional. Mas me pergunto, lendo as mensagens, quem tem mais medo de quem. Os jornalistas dos blogueiros ou os blogueiros dos jornalistas. Os cenários são basicamente maniqueístas: acaba o jornal e sobrevivem os bloques ou o inverso. Nem tanto ao mar nem tanto à terra. Que os blogs são importantes, são fonte de informação e, mais, fonte e meio importante de manifestação das pessoas e que vieram para ficar, é claro. QUe os jornais vão continuar existindo e com eles os jornalistas, idem. Que vai ter jornalista (e jornal) que viverão do mundo virtual, também. Mas, acho, em todos os casos ficará uma questão: credibilidade da notícia. POr mais vendidos que sejam alguns veículos, como dizem aqui, por mais tendenciosos, a mídia impressa tem um modelo de certificação da informação, se podemos chamar assim ( é a tal estrutura profissional a que se refere o S. Leo e o R. Galvão). Ok, ok, a divisão Igreja / Estado que o Pedro defende está deixando de existir e de caso pensado? Sim. Mas os blogs também não convenceram as pessoas da veracidade da informação disponível. É questão de tempo? Possivelmente, assim como é questão de tempo ver que se manterão em pé, tanto do lado dos jornais quanto dos blogs. Concordo com o Paulo quando diz que as pessoas não vão se restringir a ler o que concordam ou gostam. Mas não acho que jornal deixará de existir. Na essência, me parece que o Sérgio Leo não está de todo errado. Acho também que a imprensa é fundamental para a democracia, como diz o Pedro. Seja a imprensa via prensa, seja via digital. De qualquer forma, o debate é muito bem vindo para fazer os jornalistas se mexerem.

  18. Escrever rápido dá nó nas idéias. na frase: “Possivelmente, assim como é questão de tempo ver que se manterão em pé, tanto do lado dos jornais quanto dos blogs.” Quis dizer que blogs e jornais se manterão em pé.

  19. Não são os blogs que estão matando os jornais americanos, são os sites de anúncio pela internet tipo Craiglist e EBay, que mataram o classificado. Também há uma quantidade menor de pessoas com disposição de consumir informação e claro, para informações como de ações, loteria, previsão do tempo e resultados esportivos o jornal tem um espaço bem menor.

    E há outros problemas, como o fato dos jornais gringos INSISTIREM no formato broadsheet. Por exemplo, o Chicago Tribune: o jornal é publicado numa região em que muitas pessoas viajam longos percursos de trem ou de ônibus para trabalhar, mas mesmo assim é publicado no broadsheet(Ou seja, eles perdem um dos principais mercados, já que ler esse tipo de jornal num trem é muito dificil). Isso sem contar que a maioria desses jornais que estão com problemas tem sites MUITO ruins. Os jornais ingleses e os jornais espanhois, que estão em situação menos pior, são publicados em formato menor e contam com sites bem elaborados.

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