A Vila

“A Vila” recebeu duas críticas maravilhosas, do Inagaki e do Biajoni.

Eles viram dois aspectos importantes no filme, que eu não vi. O Ina percebeu a metáfora sobre a Busholândia de hoje, um elemento que por si só dá uma dimensão muito maior ao filme; se eu disse que o filme não tinha profundidade, falei uma enorme bobagem.

O Bia apontou a sua subversão dos contos de fadas, outro elemento interessantíssimo e que eu, mais uma vez, falhei em perceber. Chapeuzinho Vermelho. Lobo Mau. Rafael Bobo.

Isso não altera o fato de Shyamalan se mostrar preso a uma fórmula desgastada; e que a ênfase nesses plot twists prejudica sua obra.

Mas esse acaba se tornando um aspecto menor quando o filme tem muito mais a oferecer, e acaba dizendo muito a respeito da forma como eu o vi. Depois de ler o Ina e o Bia, percebi o que deveria ter percebido antes: me ative ao óbvio, apenas, e embora não estivesse errado, era muito pouco.

Eu não escrevo mais sobre cinema.

Duas revistas e talvez outras três

Já devo ter dito aqui que não sou lá grande apreciador das revistas brasileiras. Se não disse, deveria. Porque não sou.

As revistas semanais, como Veja e IstoÉ, me dão preguiça; da Época nunca gostei sequer do layout de Focus, para começar. A Veja pelo menos tem o mérito de pautar a discussão nacional. A Época, nem isso. A IstoÉ fica no meio.

Também não gosto muito de jornais. Se estou no Rio leio O Globo diariamente; se não, nem isso. Sempre detestei o texto da Folha de S. Paulo — aquilo não é texto, é manual de como escrever telegramas – e o Estadão sempre foi paulista demais para este pobre paraíba. O resto é cópia de um ou outro.

Quanto às revistas mensais, que me perdoem os jornalistas pátrios, mas quase nenhuma delas resiste a uma comparação com suas irmãs americanas ou inglesas. É aí que está o seu problema. Se você quer informação sobre o país, leia um bom jornal. Se você quer outro tipo de informação, leia inglês. A minha preferida é a Atlantic Monthly, a propósito. Abro uma exceção para a Primeira Leitura, uma das revistas mais inteligentes do país, mesmo que eu nem sempre concorde com ela — mas se concordasse ela teria a medida exata da minha burrice, e não seria exatamente inteligente.

(Ainda sobre o problema das revistas brasileiras: uma teoria rafaeliana diz que para qualquer revista brasileira há uma contrapartida americana anglo-saxã, e melhor. A Você S. A. é a Fast Company piorada. A Caras é a People dirigida a um povo miserável. E por aí vai.)

Dia desses comprei uma Bravo. Tinha comprado a primeira e última em 97 ou 98, sei lá; achei chata, como acho a maior parte da arte moderna. Mas dia desses, como ia dizendo, comprei uma Bravo. Não é uma revista que me encha os olhos, mesmo com o seu formato de Wired. A revista mudou nesses anos. Sua diagramação, que era pesada e antiga, é talvez a melhor do país, moderna, leve. É uma Wired para analógicos que se pretendem intelectuais. Mas continua igualmente chata. Deve ser o assunto. Estou cada vez mais parecido com Göring, sinto informar.

Por acaso comecei a ler a Carta Capital. Já tinha lido a revista quando foi lançada, e era ruim. Alguns anos depois, e achei insuficiente.

Mas agora ela está boa. Muito boa. Tem provavelmente a melhor diagramação de uma revista semanal brasileira, depois da última reformulação há algumas semanas. Tem boa informação e um amor ao bom texto, longe de ser padronizado como ainda é o da Veja.

Só discordo de uma coisa. Ela se diz “um novo conceito de revista semanal de informação”. E isso está errado. Porque, pelo menos para mim, ela lembra cada vez mais a antiga Senhor, que Mino Carta também editava. Mas isso está longe de ser uma ofensa.

E para quem acha que isso é elitismo, só uma informação: a assinatura da Carta Capital custa 92 dólares. Enquanto isso, a assinatura da New Yorker, também semanal, para um brasileiro custa 112 dólares.

Loucura

Um site oferece um teste para que você saiba que tipo de gênio louco é.

Eis a definição de loucura do site:

“E o que é um autêntico louco? É um homem que preferiu ficar louco, no sentido socialmente aceito, em vez de trair uma determinada idéia superior de honra humana. Assim, a sociedade mandou estrangular nos seus manicômios todos aqueles dos quais queria desembaraçar-se ou defender-se porque se recusavam a ser cúmplices em algumas imensas sujeiras. Pois o louco é o homem que a sociedade não quer ouvir e que é impedido de enunciar certas verdades intoleráveis.”

Mesmo levando-se em conta que essa frase parece tirada do seu contexto, essa é uma das grandes bobagens que as pessoas falam sobre loucos. Parece que vêm na loucura um certo glamour outsider, uma espécie de protesto contra uma sociedade que julgam idiota porque nem sempre concorda com elas.

Essas pessoas que vêm tantos atrativos na loucura nunca visitaram um manicômio.

Porque se visitassem veriam que não há beleza, não há glória, não há nada na loucura. Há apenas degradação e, principalmente, solidão.

A solidão da mulher bonita que anda nua pela clínica e, brinquedo sexual dos outros loucos, pare anualmente como quem defeca — acocora-se, pare e sai andando, esquecida do que deixou para trás.

Do homem vestido apenas com uma camisa, boca aberta mostrando os poucos dentes cariados e pênis semi-ereto que avança em direção ao visitantes sem realmente os ver.

Da velha com pernas cheias de feridas sentada no chão e encostada à parede, olhando ausente para as pessoas que passam.

Do homem que come as próprias fezes e as dos outros.

Pois não há graça na loucura, não há. E, principalmente, ela não é uma questão de escolha. Ninguém “prefere ficar louco”, e essa é a principal mentira dita pela frase. As pessoas enlouquecem a despeito de si próprias, a despeito da vontade de serem normais. Loucura é, acima de tudo, sinônimo de solidão, de alheamento. Loucura é a negação de tudo o que nos faz humanos. É a retirada de toda e qualquer dignidade individual.

Que me desculpem esses poetastros que se pretendem loucos quando não são mais que absolutamente, mediocremente normais, mas loucura não tem beleza nenhuma. Para eles a loucura parece ser uma forma de alcançar a genialidade que um Shakespeare, um Balzac alcançou dentro da mais comum normalidade, mas que para eles deve ser praticamente impossível de alcançar. Falam do que não conhecem, do que se recusariam a conhecer, e a realidade seria um balde de água gelada em seus delírios ignorantes.

Só falam porque nunca visitaram um manicômio.

As alegrias que o Google me dá (VIII)

qual o melhor maneira de se ajudar um usuario de cocaína
Garantindo que ele tenha acesso a pó de boa qualidade, com razoável grau de pureza e por preços competitivos, com fornecimento regular e de fácil acesso. Agora, ajudar o sujeito a largar o hábito é outra conversa.

sexo bizarro de grassa
E a bizarrice graça solta pelo submundo da internet.

fotos de exames ginecológicos eróticos
Adolescente, tenho certeza. Só um adolescente ansioso para achar que a vida de ginecologista é essa maravilha, trabalhando no playground dos outros. Que muitas vezes está meio bagunçado.

a historia completa da branca de neve e os sete anões
Pessoa perspicaz, que percebeu que a história não podia terminar ali, daquele jeito. Pois eu posso contar para você essa história triste, meu amigo. Depois que o príncipe levou a Branca de Neve, os anões ficaram meio desarvorados. A casa ficou bagunçada, a presença de Branca de Neve passou a fazer falta. Os passarinhos nunca mais voltaram lá. Então foram morar no palácio com sua princesa. Mas a economia do reino passava por momentos difíceis, Branca de Neve tinha voltado a fazer faxina, e o príncipe andava bebendo muito e expulsando correspondentes estrangeiros do país. Os anões, que esperavam uma vida de aspone de ministério, tiveram que se virar. O ministro da Previdência Social colocou o Mestre numa fila e ele morreu ali, por causa do sol. Dunga aproveitou um engano da CBF e tentou jogar na Seleção Brasileira, mas descobriram e acabou jogando no Íbis. Soneca virou piloto de testes da Ortobom. Zangado morreu numa briga de bar, causada porque alguém tinha ousado falar mal de Branca de Neve — foi numa época em que o príncipe tinha deixado de usar a aliança e as pessoas falavam que ela tinha um caso com um bombeiro. Atchim arranjou um emprego de anão de jardim. Dengoso foi quem teve melhor sorte: arranjou um namorado que trabalhava no Banco do Brasil. E Feliz, coitado, morreu ao cair no banheiro, enquanto tomava banho.

farol aracaju trajetória
Primeiro o farol estava na praia de Atalaia. O aluguel ficou caro, e as putas que migraram da praça Fausto Cardoso para os hotéis da Orla começaram a incomodar o velho de brilho próprio. Então ele se mudou para a Coroa do Meio. Por causa do condomínio, que lhe custava os olhos da cara, se mudou para o Siqueira Campos. Hoje ele mora no Morro do Péla Porco, em Salvador, vivendo graças a uma pensão militar. Mora num barraco sem água ou luz encanada, e lembra com saudade dos tempos em que evitava graves acidentes náuticos. Triste trajetória de decadência, a dele.

putas com fartura
A frase mais poética que já vi. É quase bíblica.

pigmeus de bengala
Os Bandar? Guran? Na verdade, não há pigmeus em Bengala. Aliás, não há sequer Bengala na África. Só nas revistinhas do Fantasma.

origem do verbo judiar
Vem dos muçulmanos, como se pode perceber.

fichamento dos delitos e das penas
O Sérgio que me perdoe mas, Deus do céu, são esses os advogados que estamos produzindo. O que deixa no ar a pergunta mais difícil de responder desde que o homem percebeu que o ovo veio antes da galinha: o que é pior, um mau advogado ou um advogado bom demais?

como_masturbar_mulheres
É um conselho que você está me pedindo? Se for, sinto, mas não posso responder. Eu sou celibatário. Mas acho que tem algo a ver com caranguejos. Ou siris.

os melhores jogadores de futebol do mundo 2004
Não sei, mas Jacozinho, o orgulho de Pernambuco, tem que estar na lista. Mesmo que não jogue mais.

blogger yoko ono nua
Favor procurar na seção de artigos bizarros.

putaria em sergipe Aracaju
Ah, meu filho, onde, onde? Eu também quero saber.

porque londrina é chamada a cidade dos príncipes
Bem… Não seria porque seus habitantes perderam todo e qualquer senso de modéstia e realidade?

psicopatas espécies
Bem, posso falar apenas daqueles que escrevem blogs. São uma espécie em franca expansão, pelo que ouço dizer. Mas só ouço, porque eu sou normal e não faço essas coisas.

keanu reeves retardado qi
Nossa, quanto ódio.

doenças venereas impinge
Vamos deixar claro: não foi porque você comeu aquela moça que você pegou impingem. Foi porque andou se esfregando antes com ela, talvez até tenha beijado na boca. Ou com um cachorro, talvez?

olimpiada dos anos seguintes 1896 a 2004
A olimpíada de 1897 aconteceu em Cabrobó. Teve a participação do Barão de Coubertin e do grande atleta brasileiro Mané de Tobias, que ficou em segundo lugar na prova de cuspe à distância, mesmo concorrendo sozinho. A olimpíada de 2005, a não ser que eu tenha passado alguns meses em coma e não tenham me avisado, ainda não aconteceu.

bonecas de silicone
As lojas Rafael Galvão de Plena Realização Sexual oferecem vários modelos para o seu prazer. De modelos toy, como o Giovanna Antonelli e o Carolina Ferraz, a modelos GG, como o procuradíssimo Pamela Anderson, favorita no mercado espanhol. Temos também alguns modelos vintage, como o Dolly Parton e o brasileiríssimo Fafá de Belém. Favor mandar dinheiro ao fazer seu pedido.

para maquiar um palhaços
E para descabelar, também.

consolado australiano no Brasil
Olha a que ponto eu cheguei: debochar de erros de português. Mas vamos lá que eu ando sem assunto. Consolado por quê? O que fizeram a ele? E quem o consolou?

artesanato imitando o dia dia da vida nordestina
É muito interessante. Uns homens magros, mortos de fome, comendo teiús (não os teiús que adolescentes urbanos comem, mas teiús de verdade, os lagartos) e mocós, andando de bicicleta e sonhando com uma moto, tudo desenhado pelo mestre Vitalino.

analise filosofica do filme os miseráveis
Eu, que reclamo tanto dos absurdos que trazem as pessoas aqui, fico sem jeito quando alguém inteligente vem parar neste pouco humilde blog procurando resposta a uma pergunta séria. Estou começando a ficar com vergonha.

messala nua
Salvo engano, Messala é personagem de “Ben-Hur”. Mas não era mulher, apesar dos esforços em contrário do roteirista do filme, Gore Vidal. Explique-se melhor.

telefone de prostitutas da Bahia
Faça o seguinte: ligue para a Assembléia Legislativa do Estado da Bahia. Peça os telefones das mães dos deputados. Pronto.

como que matavam os inimigos romanos do coliseu?
Com gládios? Com leões? Com os gritinhos de Heliogábalo?

surubas de homens casados
Só de homens? Favor procurar no item “enrustidos”.

papel higienico inventor
Não sei se teve propriamente um inventor. Mas, se teve, eu posso assegurar que era um inventorzinho de merda.

fanatismo prejudicando a saude para se tornar modelo ?
Normalmente prejudica, sim, porque o fanatismo faz com que as muçulmanas talibans usem o xador. Usando, a gente não pode avaliar seus dotes. E sem isso, sem que se exponham no mercado de carne, não existe modelo.

conceito definicão senso estético
Uma pessoa com bom senso estético é aquela que concorda com o que eu penso.

adolescentes de 14 anos imitando Tarzan
Esses eu quero ver também. Já tentou procurar por “idiotas”?

estado de direito d maiúsculo
Fale a verdade: ditaram enquanto você digitava, não é? Ainda bem que não ditaram “vírgula”.

teste para dislexicos on line
Odne? Odne?

artistas brasileiros de classe baixa que conseguiram sucesso através da dança
Alguns. O resto simplesmente dançou.

paris frança alugar casa
Bem, desejo boa sorte. E desejo também um convite para hospedagem, se possível.

rafael viado
É a vagabunda da sua mãe.

Da arte de dar bons conselhos

Fulana diz:
Eu queria ganhar dinheiro conversando. O problema é que não existe muita gente com saco pros meus assuntos.

Rafael diz:
HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA!!!

Fulana diz:
O legal é que eu digito super rápido. Então, daria para atender vários clientes ao mesmo tempo.

Rafael diz:
Ué, faz um MessengerSex. Não tem phone sex? Daqui a pouco os tarados vão pagar pra fazer sexo virtual. Nunca subestime essas coisas.

Fulana diz:
HEHEHEHEHE!!!! Que idéia boa!!!

Fulana diz:
Se bem que eu correria o risco de enjoar de sexo. Principalmente se os caras fossem burrões, se escrevessem muito errado…

Rafael diz:
Enjoa não.

Rafael diz:
Se fosse assim puta não se apaixonava.

Fulana diz:
Ah, mas você acha que eu ia ter algum cliente de alto nível? Até parece! Imagina eu me apaixonando por alguém que escreve: “oi putinha eu sinto uma tezaum enorme por vc. quero tranzar com vc, gostoza.”

***

Beltrana diz:
Rafa… qual o segredo prum cara se apaixonar? De verdade?

Rafael diz:
Um bom boquete.

Beltrana diz:
Não entendo onde é que eu erro.

Beltrana diz:
hauahuahuahuahuah

Beltrana diz:
não hehehe

Beltrana diz:
pra ele querer que eu seja dele, e de mais ninguém hehehe

Rafael diz:
Ah, aí só dando a bundinha.

Sério? Eu só queria saber o que faz uma pessoa me pedir conselhos a essa altura da minha vida.

Ser todo lábios

Tão bela a frase de Maiakóvski: “Melhor morrer de vodca que morrer de tédio”.

Mais bela porque ele não escolheu nem uma morte, nem outra: enfiou uma bala na cabeça, porque era poeta mas era revolucionário.

Mais, mais bela ainda porque ele é o único sujeito que conseguiu me fazer escrever um poema em uma agenda antiga.

Ó delicados!
vós que pousais o amor sobre ternos violinos
ou, grosseiros que o pousais sobre metais!
Vós outros não podeis fazer como eu,
virar-vos pelo avesso
e ser todo lábios

Festa estranha com gente esquisita

Artigo em nominimo mostra a brincadeira que é fazer política Brasil afora.

Parece haver um certo deboche em relação ao Nordeste: a maioria dos candidatos mencionados no artigo pertence a essa região. Não que eles não existam, claro, mas se não me engano Paulinho Vesgo é de Bagé, assim como vários outros cujos santinhos vêm sido distribuídos em um e-mail que está circulando a internet ultimamente. E pelo amor de Deus: o número de absurdos que vejo no Rio é de fazer inveja a qualquer manicômio.

Só um detalhe: o candidato Chico Buchinho — com o qual não tenho nenhuma relação além de cumprimentos educados e em quem, en passant, não votarei — é um político sério, com uma longa história de luta política e cultural, muito longe do folclore que parece mover candidatos como Shana, o já legendário Rôla e um que a reportagem esqueceu: Jabá.