A idéia do martírio do cristãos em Roma é bisonha.
Os cristãos (com exceção daquele breve período sob Nero) só foram perseguidos de verdade no final do império de Décio. A perseguição durou relativamente pouco tempo, com bispos mortos e exilados e a proibição de eleição de um novo bispo por 16 meses.
Depois disso, só no finalzinho do período de Deocleciano — e dessa vez o cacete comeu durante 10 anos. Ainda assim, é pouco tempo. E os números são menos imponentes do que os cristãos gostariam: 9 bispos foram mortos, e cerca de 2000 cristãos foram encontrar o Senhor mais cedo. Se os leões do Coliseu fossem depender de cristãos para sobreviver, morreriam de fome.
Os cristãos, no entanto, tinham um ladinho meio masoquista. Gibbon: “O gosto dos primeiros cristãos pelo martírio era tão grande que eles por vezes supriam pela sua própria confissão espontânea a falta de um acusador, perturbando rudemente a celebração pública do culto pagão; pediam ao magistrado que pronunciasse e aplicasse a sentença da lei e então pulavam prazerosamente dentro do fogo aceso para consumi-los — até os bispos condenarem essa prática.” E fizeram o procônsul da Ásia se lamentar: “Homens desditosos!, que estais tão fartos de vossas vidas, será tão difícil assim achar cordas e precipícios?”
Que o Papa me perdôe, mas tenho a impressão de que toda aquela lenga-lenga de sofrimento é só justificativa barata para as perseguições aos judeus e muçulmanos e hereges e viadinhos e bruxas e índios e japoneses e budistas e etc. e etc…