Viva — A Vida Em Um Ato

Só a estréia da peça do Cauê, na última quinta-feira, poderia tirar de casa este eremita em véspera de viagem.

“Viva — A Vida Em Um Ato” é a estréia do Cauê como dramaturgo, uma peça escrita há cerca de 15 anos, como fico sabendo após o final. É um monólogo de Benedito, um soropositivo interpretado por Luiz Carlos Reis que recapitula a sua história, a partir do momento em que se descobre portador do vírus da Aids.

Os principais problemas da peça se revelam logo nos primeiros 10 minutos. O texto é excessivamente literário. É um belo texto — se lido. Mas ouvido, com todos aqueles “paras” e construções pouco coloquiais, ele se torna artificial, forçado.

O “para” é uma implicância pessoal, e que se repete durante toda a peça. Ninguém fala “para”, fala “pra”.

Talvez um ator com um desempenho melhor pudesse evitar algumas das armadilhas apresentadas pela forma do texto. Mas esse não é o caso de Luiz Carlos Reis. Seu desempenho é ruim, é típico de teatro amador. É artificial, brinca pouco com o texto. Ele se entrega pouco, e interpretação depende fundamentalmente disso.

A peça cresce, no entanto, quando deixa um pouco de lado o diálogo de mão única com a morte e faz com que Benedito questione a sua própria existência, algo muito além da Aids: a sombra do vírus está, claro, sempre presente, mas é apenas parte de algo muito maior: a vida. É a parte que me pareceu autobiográfica, em que o Cauê deu mais de si — e é aí que a peça se torna mais rica, mais densa, mais verdadeira. Aqui Benedito questiona não mais a proximidade da morte, mas a seus amores, sua sexualidade, suas relações com o mundo e, principalmente, com a família. E o ator sente isso: é nessa parte — felizmente a de maior duração da peça — em que ele quase se solta, em que dá alguns lampejos de realmente se identificar com o papel. Sua atuação continua ruim, dura. Mas quando em vez se vê de relance um toque de naturalidade, de confiança no texto que está interpretando, de entrega. É quando um ator se deixa levar pelo autor que as boas obras se criam. Agora nem mesmo ele pode evitar isso, porque a verdade que a peça transmite então é tão forte que mesmo um ator limitado como ele consegue se sair melhor.

E nesse momento “Viva” é brilhante, porque é verdadeira e universal. Benedito se torna mais complexo e adquire mais empatia quando esquece que tem que chamar a morte para as vias de fato. Em seu acerto de contas consigo mesmo — e não mais com a indesejada das gentes — Benedito passa um tom agridoce que consegue emocionar e divertir. A vida é isso.

No final aqueles mesmos problemas voltam: o texto se torna novamente excessivamente literário, um tom de declamação com que o ator evidentemente se atrapalha. Mas agora há um outro problema — que o próprio Cauê identificou: a fala final é panfletária, abusa de alguns clichês de sobreviventes, de declarações insolentes de amor à vida.

A direção de Tetê Nahas, em uma peça feita evidentemente com poucos recursos, é muito boa. Alguns pequenos defeitos de timing, e principalmente de direção do ator, mas no geral, na concepção da peça, não faz feio. Há excelentes sacadas, como tornar um mero banco praticamente ums egundo personagem. O cenário é fraco, minimalista em excesso, mas compensado pela boa iluminação.

O resultado final é que Viva vale, sim, a pena.

Do meu medo de advogados

A Lulu me mandou um e-mail com algumas recomendações jurídicas para blogueiros. São os excelentes conselhos do Túlio Vianna.

Dei uma olhada no blog e não consegui achar nada potencialmente contencioso, ofensivo, seja lá a palavra que usem.

Com exceção das alegrias do Google.

E agora fiquei com medo.

Aposto que o sujeito que veio para cá atrás de “fotos pornô das mães tiradas pelos filhos” vai me processar.

A guerra dos links

Meu pitaco, atrasado como sempre — eu sou baiano, não gosto de pressa — na “Guerra dos Links” que o Alexandre causou há algumas semanas:

O pessoal está dando muita importância a sidelinks.

De qualquer forma, eu sou suspeito para falar. Este blog está lá no alto da lista do Alex. Passo horas conversando com ele, sobre coisas sérias e sobre bobagens. Se fosse para tomar um partido, seria o do Alex, simples. Se não por amizade, por uma questão de lealdade: o LLL é quem mais traz visitantes a este blog. Muitos dos leitores regulares de Rafinha Galvão, com toda a doçura que mamãe lhe deu, vieram através do Alex.

Mas no final, a impressão que ficou em mim foi a de que todo mundo tem um pouco de razão. O Alex tem razão em querer que linkem para o blog dele (e sim, eu concordo que é uma questão de educação linkar de volta; alguém pensa em não devolver um “bom dia” em um elevador só porque não foi com a cara do desconhecido que disse isso ao entrar?); por outro lado, o pessoal tem razão em dizer que isso não se cobra (e sim, eu acho que linka quem quiser, por quaisquer razões).

Quanto a mim, eu linko de volta quem me linka. É simples assim. Coloco os links em ordem alfabética, com exceção do LLL e do Tiro e Queda, do Bia, que estão lá por razões muito pessoais — o Kit Básico da Mulher Moderna também estaria, se a Tata lembrasse que tem um blog. Não serei eu a tentar definir qual blog é melhor ou pior; não me acho capaz, e além disso a classificação alfabética é a mais democrática que conheço.

Não custa nada. Em princípio, linko por uma questão de gentileza e de gratidão, porque alguém considerou o meu blog bom o suficiente para ser recomendado. Mas a vida é engraçada e tem umas coisas de uma tal seleção natural. Uma olhada nos links e eu vejo que gosto de ler os blogs linkados aqui.

Diarinhus online de meninas muito migaaaaaaaaas não me linkam, sei lá por quê. O que é uma pena. Porque eu adoraria trocar figurinhas com essas menininhas gostosinhas de 19 anos que chamam a gente de “mô”.

***

Meu cabotinismo, segundo meus amigos, é enorme. (Eles só dizem isso porque não conhecem o Alexandre.) Mas apesar disso não acho que haja tanta diferença assim, que meu blog seja tão melhor ou pior que todos os outros. É só um blog, tem bons e maus dias.

Isto posto, deixa eu comentar um dos comentários (do Iraldo, que tem um blog/fotolog engraçadíssimo). Ele discordou da parte do decálogo do Alex em que ele dizia algo como “se você não gostar do blog, não volte”.

Não sei se entendi o que o Iraldo quis dizer. Mas tenho uma filosofia simples. Se vejo um blog de que realmente não gosto, eu simplesmente deixo de ler. Uma coisa é gostar do que lê e discordar; outra é simplesmente não gostar e resolver brigar por isso.

Se gostei e discordei, é claro que me acho no direito de comentar sobre isso, de explicar porque discordo. Acho também que isso é uma forma de colaborar, de acrescentar algo ao diálogo. Mas há uma longa distância entre discordar, e apresentar seus argumentos, e sair dizendo que o autor do tal post é um babaca. (De vez em quando aparecem por aqui alguns desse tipo, que eu libero de acordo com o meu humor no dia. Ontem liberei um que me chamava de imbecil, mas eu ando em estado de graça nos últimos dias e pelos próximos dois meses, me xinguem do que quiserem.)

Portanto, para mim é melhor não ler. O número de blogs excelentes aumenta a cada dia. Em vez de perder tempo batendo boca, é melhor passar adiante. É mais fácil viver assim. Dizer que quem escreve um blog está necessariamente sujeito a isso é bobagem; é como dizer que se eu sair de casa não posso reclamar de ser assaltado.

Há mais de 15 anos, quando eu queria ser jornalista, fui entrevistar um senador (ainda tenho a entrevista; é vergonhosa). O sujeito, já velhinho, me deu uma das melhores lições de vida que eu recebi: “Rafael, o segredo da vida é fazer muita raiva aos outros, mas nunca ter raiva”. Ele tinha razão.

Update: acabei de ver os comentários no blog do Alexandre, ainda sobre esse assunto. Continuo achando que todo mundo tem lá suas razões. Assim como também continuo achando que estão dando importância demais a sidelinks. Você realmente gosta de um blog? Fale dele. Diga por que gosta. Linke um post que você achou particularmente bom.

Cenas do Próximo Capítulo

Há uns onze, doze anos eu escrevia alguns programas para uma rádio do interior de Sergipe. Foi antes do e-mail, e eles eram enviados por fax. Ainda tenho alguns arquivados. Me bati com um deles dia desses e lembrei que me divertia muito escrevendo os danados. Os primeiros programas, que não deixaram traços, eram uma cozinhada do noticiário que interessava à região, notícias devidamente copidescadas de jornais da Bahia, Sergipe, Alagoas e Pernambuco. Esse era sério.

O que não se pode dizer de outro programa, diário: “Cenas do Próximo Capítulo”, com as sinopses dos capítulos das novelas daquele dia. Foram os únicos que restaram. Na época a novela das oito era “Fera Ferida”, a de Flamel. Entre os personagens havia um casal formado por uma vitalina chamada Ilka, interpretada por Cássia Kiss, e um ex-jogador de futebol chamado Ataliba, por Paulo Gorgulho.

A sinopse original dizia o seguinte: “Ataliba vai tomar chá na casa de Ilka”.

Acontece que o tal Ataliba era impotente e o chá era pretensamente afrodisíaco. A versão rafaeliana ficou assim: “O ex-jogador, ex-conquistador e ex-homem Ataliba vai tomar um chazinho na casa de Ilka. Como já deu pra notar, Ilka tá louca pra resolver o problema de Ataliba, que é pra ver se Ataliba resolve o dela.” Deveria ser lida em tom de paródia, mas se eu conhecia bem os locutores — um dos quais assassinado por questões políticas alguns anos depois –, o resultado devia ser muito mais trash que o texto.

Outro programa, semanal, era sobre fofocas de artistas. Uma espécie de “Contigo no Ar”. E foi por causa desse que consegui arranjar uma confusão. Um sujeito não gostou de uma nota sobre Michael Jackson — acredite, esse programa era muito, muito mais debochado que o das novelas. Durante algumas semanas fui aconselhado a não pisar na tal cidade.

Não que dizesse falta, claro. Uma cidade em que as pessoas compram briga por causa de Michael Jackson não pode valer a pena.

Shakespeare do século XX

O grande momento de “Júlio César” é a eulogia de Marco Antônio diante do cadáver de César. E logo no começo do seu discurso (Friends, Romans, Countrymen, lend me your ears), preparando a tempestade que vai causar a desgraça de Bruto e de Cássio, ele fala com ironia: For Brutus is an Honourable man / So are they all; all Honourable men.

(Melhor que ler a peça é ver o filme de 1953, com Brando interpretando Marco Antônio; você vai descobrir por que Shakespeare era genial e por que Brando era o maior dos atores.)

Em 1992, Gil Gomes apresentou uma de suas reportagens no Aqui Agora. Contava a história de um assassinato, obviamente. Em determinado momento, diante de depoimentos que diziam que todos os três envolvidos (inclusive o defunto) eram boas pessoas, ele olhou para a câmera em sua camisa de surfista, cara de areia mijada, mão que se mexe como quem alisa um cabeção e voz de Vincent Price:

“Um bom, dois bons, três bons — mas um morreu.”

Gil Gomes é Shakespeare para as massas.

Molto bella

4 da manhã do sábado e vou fazer o check out no hotel. Desço com minha filha dormindo no meu colo.

Na recepção dois italianos bêbados com um saco plástico com água e cerveja. Com eles estão duas mulheres: uns vinte e poucos anos. Uma, a que tem cabelos mal pintados de louro e uma tatuagem tribal imensa no cóccix, é cearense, pelo sotaque; a outra pode ser de qualquer lugar entre o Rio Grande do Norte e Sergipe. As mulheres preenchem o formulário de check in da Embratur.

Os italianos estão bêbados. Passam a mão pelos corpos das mulheres, as beijam com ardor, mostram aquela lascívia de quem passou a noite em busca de algo que finalmente vão conseguir. Seus movimentos tentam ser fluidos, a fluidez da embriaguez, e mostram a falta de força, de punch dos europeus. Amantes que se querem sensuais, mas que não vão satisfazer suas eleitas, pelo menos não aquelas.

As mulheres conversam esporadicamente entre si, ocupadas consigo próprias. Não olham para mim nem para a minha filha no meu colo.

“Ele me chamou de molto bella, molto bella“, diz a morena para a loura, com a entonação cínica de quem já ouviu aquilo muitas vezes, e há muito deixou de acreditar.

O italiano que fala mais alto encosta-se com força na bunda da loura, os mesmo movimentos fluidos e embriagados e fracos, passa a mão onde pode beija seu pescoço. Mal consegue esperar subirem para o quarto.

Quando o elevador fecha a porta, olho para o funcionário do hotel com o mesmo sorriso cínico da morena ao espalhar aos quatro cantos que tinha sido achada molto bella, molto bella.

“Freqüência boa, a daqui.”

O funcionário olha para mim, se desculpando com um meio sorriso envergonhado:

“A gente não pode negar o check in, pode ser processado por discriminação. É difícil acabar com a prostituição desse jeito.”

Eu não falo mais nada, mas começo a pensar em evitar o Ibis das próximas vezes que for a Fortaleza; talvez jogue fora meu cartão de fidelidade da Accor. E como minha filha estava dormindo posso me permitir rir dos italianos, que saem do lugar onde vi mais mulheres bonitas por metro quadrado para passar uma noite inteira atrás de duas prostitutas baratas em Fortaleza, e então voltar à sua terra vangloriando-se de suas aventuras sexuais na terra da luz e da luxúria.

Perfeita harmonia

Parece que está virando moda: hoje foi a vez de um sujeito chamado Sérgio Corrêa fazer hotlinking para uma imagem armazenada aqui.

Mas dessa vez ele fez pior: copiou um texto inteiro meu e publicou como seu. A única coisa boa em tudo isso é que ele colocou o meu texto ao lado de outros do Inagaki.

É melhor correrem até lá e ver no que dá fazer hotlinking, antes que ele tire o post do ar.

Mídia do cidadão

Desde que o Bia falou que estávamos todos nós fazendo uma espécie de jornalismo, ando pensando nisso. O Bia conseguiu ver o que eu não via.

Sempre vi diferenças entre blogs brasileiros e americanos, que de certa forma representariam as diferenças entre as características dos dois países. Bem ou mal — ultimamente, mal — americanos têm um sentido de comunidade que nós nunca tivemos; para nós, comunidade é lugar onde pobre mora. Somos todos individualistas, como bons produtos da herança ibérica em um país onde se lê pouco e se escreve menos ainda.

Por isso, enquanto os mais bem conceituados dos Estados Unidos têm uma característica notamente jornalística, a maioria esmagadora dos bons blogs brasileiros têm tendência a serem ensaísticos ou ficcionistas. É um pecado do qual poucos se salvam, e certamente não este aqui.

Com o comentário da Cora Rónai sobre o post do Alexandre a respeito do fechamento de um “bordel virtual” no Rio, as coisas ficaram mais claras. Ela tinha razão ao dizer que o Alex foi um bom repórter: e olha que ele fez simplesmente o básico ensinado nas faculdades, ouvir o outro lado — no caso uma das meninas que trabalhavam no bordel virtual. Era algo muito simples de fazer, e que não é prerrogativa de jornalista, mas que por acaso não ocorreu aos jornais. No mesmo dia, o Cauê (sujeito profundamente analógico, mas que está de volta à blogosfera com um entusiasmo do qual eu não suspeitava) diagnosticou: “creio que, no silêncio da rede, [o blog] está criando algo que reverberará fundamente no futuro”.

O Alexandre mostrou algo simples: a produção de informação não precisa mais depender de estruturas institucionalizadas como jornais, rádio, TV, revistas ou mesmo websites. Fazer jornalismo — e bom jornalismo — é algo ao alcance de qualquer pessoa. Pode parecer evangelismo ingênuo, mas a cada dia aumenta minha certeza de que um mundo cada vez mais complexo e mais fragmentado cria necessidades de informação a que os meios de comunicação tradicionais não podem atender.

Desde há muito tempo gente como o Jeff Jarvis (que tem opiniões terríveis acerca da política externa americana, mas que é imbatível na defesa do conceito de liberdade de expressão e da mídia weblog) vem chamado blogs de “mídia do cidadão”; recentemente ele mesmo deu uma prova disso, conseguindo um furo que, assim como o do Alexandre, era extremamente simples de ser conseguido. O Press Think, de Jay Rosen, traz por sua vez um excelente artigo sobre esse potencial dos weblogs.

A definição é perfeita: weblogs são uma forma, a melhor já encontrada, de tirar o monopólio da produção de informação das mãos de veículos institucionalizados. Usando outra analogia marxista, weblogs tiraram das “classes dominantes” os meios de produção. O que impede qualquer pessoa de conseguir e divulgar novas informações relevantes a respeito de qualquer coisa? Antigamente o empecilho era o preço do papel e de impressoras; depois, o preço do equipamento de rádio e teledifusão; agora não há absolutamente nenhuma desculpa. A revolução está aí, na cara de todo mundo.

O que temos nas mãos, para aqueles que se interessarem, é algo fenomenal, único na história da humanidade. E para que isso se concretize basta que bloguistas percebam o que têm nas mãos.

Weblogs podem ser definidos em duas palavras: informação e comunidade. O que impede alguém de criar um blog com notícias que interessem ao seu bairro, à sua cidade, à sua categoria profissional como fez o Mauro Amaral, do Carreirasolo? Em vez de perder tempo com sindicatos cada vez mais obsoletos — pelo menos nas áreas mais afetadas pela tal sociedade da informação –, as pessoas deveriam perceber que Marx tinha razão: um problema só aparece quando já existe a solução. E se o mundo de hoje é um problema para muitos que lidam com comunicação, uma das soluções pode ser a possibilidade de publicação individual.

Mas só a existência dessa ferramenta não quer dizer nada: para que blogs tenham algum significado, para que se tornem realmente revolucionários, é preciso que formem comunidades. Isso vai além da relação que se cria entre um bloguista e seus leitores, porque a posição dos leitores é sempre de reação, uma resposta a algo que o bloguista escreveu. É uma via de mão dupla, certo, mas por mais importante que seja — e qualquer um de nós sabe o quanto é importante, o quanto melhora cada post –, a participação dos leitores ainda é provocada. Uma comunidade pressupõe outra coisa, pressupõe participação ativa.

Até agora, quem melhor percebeu o caminho foi o Mauro: é um dos poucos que está realmente criando uma comunidade, algo que parte da cooperação com vistas a um bem comum, não do mero compadrio ou da demonstração vã de talento ou inteligência (eu já disse presente, fessora!). No caso do Mauro, é uma comunidade profissional. Mas isso vale também para outras áreas. A possibilidade de grandes blogs ou wikis, coletivos por definição, pode ser algo muito mais revolucionário do que lançar um jornalzinho semanário jamais foi, pelo menos do ponto de vista da cidadania.

E anteontem o Alexandre, sugerindo a criação de um Clube do Livro, em que as pessoas teriam condições de produzir informação de qualidade, deu uma grande prova disso.

O potencial dos weblogs deveria ter sido percebido por alguns dos milhares de meninos que saem anualmente das faculdades de comunicação e vão brigar por vagas para escrever obituários em jornais. Mas mesmo que não seja, deveria ser percebido por todos aqueles que em algum momento falam em cidadania. Porque há pólvora aqui, muita pólvora. Basta agora acender o rastilho.

As alegrias que o Google me dá (XVI)

fotos eroticas penis pequeno
É o erotismo contido naquelas coisas miudinhas, aqueles pequenos detalhes que tanto excitam uma mulher.

vozinhas nuas vo
Menino criado por avó dá nisso. Até o complexo de Édipo é meio torto.

serginho groisman judeu
É, ele é judeu. Mas não é por isso que ele é chato.

durante o periodo classico tanto os gregos como os romenos continuaram a produzir tintas a maneira…
Conclua, por favor. Estava ficando interessante.

peças inventadas pelos alunos sobre o auto da barca do inferno
Escola chique a sua, hein? A minha não tinha nada disso. Mas tinha desfile de 7 de setembro, que era para a gente pagar mico e baixar a bola.

poema sobre escatologia teologica
Papai sempre me dizia, ao ver
Aquela mulata subindo o Elevador Lacerda
“Tem gente neste mundo que tem sorte,
Mas outros, aquele Sacana deixa na merda”.
(Eu não conheço outro sentido para escatologia, me desculpe.)

denuncie oportunistas na cultura
Helloooooo… A ditadura acabou, tá?

fazer uma cartinha para o papai noel pelo computador
Envie para sclaus@northpole.org.gr. Você vai receber uma mensagem automática, dizendo “Acusamos o recebimento de sua cartinha. Se você foi um bom menino, vai receber presente. Hohohoho, Papai Noel”. Com isso ele ganha tempo para checar a conta bancária de seus pais. Se eles tiverem dinheiro, você ganha presentes; se não tiverem, você ganha o que Rosa ganhou no beco.

símbolos de gênero marte e vênus como surgiu
Simples. Marte era um Ricardão sem cérebro, o Massaranduba helênico; Vênus era uma galinha que dava para meio Olimpo, menos para o pobre do Vulcano, seu marido. Algum sujeito com igual raiva de homens e mulheres botou esses nomes como símbolos. Deu certo.

julien sorel ou goriot
Lucien de Rubempré.

bonecas inflaveis perfeitas
O mais próximo disso é uma mulher linda, burra, surda e muda.

novo nome para as putas
Não precisa. Há um antigo que me deixa embevecido: vulgívagas. Vulgívaga é um nome bonito demais. Se eu fosse mulher eu seria vulgívaga, só para quando fosse pegar ficha no SUS e o atendente perguntasse “Profissão?”, eu respondesse “Vulgívaga” e ele ficasse pensando: “É por isso que este país não vai pra frente. Esses ricos ficam tirando os lugares dos pobres até mesmo no SUS.”

cidadao kane livro revolucionário
De fato. Orson Welles pode ter sido um escritor errático, migrando do dadaísmo para um estilo muito próximo a Faulkner, mas em “Cidadão Kane” escreveu uma obra-prima: um retrato pungente da luta da família Kane, retirantes de Oklahoma durante a Depressão, para conseguir um mínimo de respeito e cidadania. O estilo mesclava trechos curtos com notícias de jornal, e talvez aí esteja a grande revolução estilística de Welles, que infelizmente morreu em 1953, antes de ver o cineasta John Steinbeck levar seu grande livro às telas.

tradições dos esquimós
Tem o Dia da Neve, a NeveFest, o CarnaNeve, o São João da Neve, o Dia dos Mortos na Neve, a Semana da Neve Santa, o Dia de Nossa Senhora das Neves e a Noite da Foca, uma bacanal homérica onde ninguém é de ninguém.

qual tamanho de penis elas preferem na transa?
Eu não queria dizer. Porque iria correr o risco de você entrar em depressão, tentar até se matar. E eu não quero isso na minha consciência. Mas tenho o dever de responder, portanto se sente, antes de tudo. Isso. Agora peça para lhe trazerem um copo d’água com açúcar. Bebe. Bebe tudo. Agora respire fundo. Respirou? Então lá vai: graaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaande.

bonecos inflaveis com penis
Posso te dar uma sugestão? Prefira os tradicionais. Pênis infláveis estouram por qualquer coisa. Com os tradicionais é só a camisinha.

foto do nero rei de roma
Suetônio nos conta que Ricardus Avedonius, o mais famoso fotógrafo de celebridades da época, tirou muitas grandes fotos de Nero, inclusive na legendária Ilha de Carus. A série da harpa ficou famosa, e deve ser essa que você está procurando. No entanto, quando acusaram Nero de ter tocado fogo em Roma, Avedonius destruiu os negativos (como se sabe, na época só existiam máquinas analógicas, de filme. A máquina digital só seria inventada no século XVII).

cinta-larga significado desta palavra na lingua indigena
É Kuruypá Nhãgat. Originalmente significava “Povo escroto que arranca o couro daqueles garimpeiros filhos da puta”.

fotos naturalista de praias de nudismo
Um dissimulado! Quer passar a perna no Google, hein? Dizendo que as fotos são “naturalistas” para que ele não lhe faça um sermão, quando na verdade o que você quer ver é mulher pelada. Ah, meu rapaz… A essa altura você já deve ter descoberto que a gente não engana o Google. Ele é que passou a perna em você.

evanescence fotos emy lee
Serve da Siouxsie? Dá no mesmo, você nem vai notar a diferença.

como entrar nas comunidades orkut
Pela porta, como todo cachorro. Como você acha que eu entrei?

explique porque durante muitos anos a história da america foi contada segundo a visao européia
Porque os índios eram analfabetos e estavam comendo o pão que o diabo amassou com o rabo é uma boa suposição?

o poeta é um ente que lambe as palavras e se alucina
Não, esse é o sujeito que toma LSD.

meninos mortos por asfixia seguido de abuso sexual
Vem cá… Senta aqui do meu lado. Você tem um problema, sabe? Um problema sério. Eu posso te ajudar. Posso te indicar um bom psiquiatra. Você vai se sentir muito melhor.

teoria do mau selvagem
Professada pelo misto de garimpeiro e filósofo J. J. Siferreau, que deu o azar de estar nas terras dos Cintas-Largas há alguns meses.

editora forense juro rafael
Oh, não jures pela jurisprudência, essa jurisprudência inconstante, que muda a cada mês em sua órbita judiciária, pois teu amor parecerá variável também…

a vida de rasputin na revolução russa
Era uma vida calma, nem parecia aquele sujeito que havia incendiado o coração de Alexandra. Tranqüila. Para ele tanto fazia quem estava no poder, o czar, Kerenski ou Lênin. Ele simplesmente não ligava mais, estava em outra. O pau comendo e ele lá, mortinho da silva, desde o ano anterior.

a dama da noite catada por joao nogueira
Deve ter sido numa dessas madrugadas sem Deus, não é? O João Nogueira saiu do show, foi tomar umas biritas… E então encontrou a moça. Conversa vai, conversa vem, a moça se revelou uma dama, engraçada, inteligente. João levou a moça para casa. Cantou um sambinha para ela, mas então a moça deu o preço e ele botou a mulher porta afora. A vida nem sempre é composta de finais felizes.

maridos punheteiros
Eu imagino como a senhora está se sentindo. A senhora aí, cheia de amor para dar, e aquele ingrato preferindo cair na mão. É triste, é muito triste. Olha: eu não quero deixar a senhora mais chateada e nervosa do que já está, nem colocar mais areia em um casamento complicado, mas… Já pensou em dar uma ajeitada no corpitcho?

relações ideológicas da novela senhora do destino
Meu amigo, você está acima de todos nós, mortais. Você é um gênio. Você conseguiu ver tudo isso na novela das oito, foi?

impressora luzes piscam
Ela se apaixonou por você. Se apaixonou pelos seus dedos apertando os botões certos. Se apaixonou pelo jeito gentil e delicado com que você coloca o papel nela, lenta e firmemente. Ela estava ligada no seu computador, mas pelas piscadelas, não dá mais para negar: isso é amor. Vai fundo.

quero aumentar o tamanho do meu penis gratis
E eu quero um Lear Jet. Senta aqui do meu lado e vamos esperar.

significado luto
Significa que você veste preto (ou roxo, antigamente) para fazer as pessoas pensarem que você está triste com a morte do seu marido, quando na verdade está aliviada por não ter mais que aturar aquele cachorro.

senhoras brasileiras acima de 50 anos nuas
Gostei do seu tom respeitoso, meu rapaz. Isso é tão raro hoje em dia. As pessoas andam muito grosseiras, mal educadas. Mas mesmo com toda essa educação aqui você não vai encontrar nada.

como se transmite la parafilia
Ô hermano, parafilias não são contagiosas. Nenhuma delas. Algumas são engraçadas, outras são deprimentes, algumas são asquerosas. Mas são todas criadas na sua própria cabeça e de lá não saem. O que é muito bom: sabe, eu tenho a impressão de que não gostaria que você me transmitisse as suas.

como se masturbar
Chega. Eu não agüento mais. É com a mão, infeliz!

depilar penis
Eu detesto esse povo que escreve coisas tão engraçadas que eu não posso sequer tentar escrever algo melhor. Detesto.

putas fortes
Por que isso? Afinal, você quer uma mulher para fazer saliência ou para carregar saco de cimento nas costas?

quando sai pus no penis do homem que tipo de doença e
Nenhuma. Você está saudável como um bebê. E sabe aquela puta que você comeu semana passada? Sumiu, menino. Dizem que morreu.

posturas do coroinha
Depende do padre, meu amigo. Às vezes é ajoelhado, às vezes é de quatro..

o google é tão bom a tanto tempo
Não adianta puxar o saco do Google. Ele vai continuar te trazendo para cá. E eu vou deixar passar o fato de essa frase ter sido feita exclusivamente para vir parar aqui.

foto de um himen feminino
Tem, mas tá em falta. Serve de um hímen masculino?

papel higienico/inventor
Foi o amanuense C. U. Butts, que trabalhava no Philadephia Enquirer. Como tantas grandes invenções, aconteceu por acaso: ele estava em seu escritório quando a natureza o chamou. Ao acabar, escorregou e caiu sobre um montículo de papel jornal que havia ali perto. Estava criado o papel higiênico, uma das invenções mais revolucionárias da história. Infelizmente, Butts teve sua patente roubada pelo dono da empresa em que trabalhava, e terminou seus dias na merda.

como era vida antigamente em 70? fotos
Era muito boa, se você era terrorista subversivo comunista de esquerda. Acordava pela manhã e ia para o pau de arara, uma técnica de alongamento que o DOI-CODI aperfeiçoou. Descansava um pouco e ia levar choques, algo concebido para ativar sua circulação. Finalmente, fazia um pouco de esporte, brincando de bater com a sua cara nos punhos dos interrogadores. Os anos 70 foram a verdadeira geração saúde.

iara aeromoça da rio sul
Ah, a paixão fulminante e fugaz a oito mil pés de altura na ponte aérea… Eu, pessoalmente, nunca vi aeromoças como mais que copeiras metidas a besta, mas é puro preconceito meu. Só não vá prometer à moça amor eterno e ele não durar mais que os 45 minutos de praxe.

meu penis nao sobe e trauma
Não, meu amigo, é broxa, mesmo.

coisa gostosa de 4 nua em fotos
“Coisa” é meio vago, não? Pode ser um porco. Porco é gostoso. Pode ser uma mesa. Mesa não é gostosa, mas sei lá das suas preferências.

esquimos são
São. Não sei o quê, mas são.

minha impressora olivetti é uma merda
E eu com isso? Problema seu, amigo. A minha Epson também é e nem por isso eu vou para os blogs dos outros desabafar.

asilo porno
Lou-cu-ra. Em cima da grande mesa do refeitório, Abigail faz um strip-tease apoiando-se sensualmente em seu andador. Camerino, empolgado, joga a dentadura para o alto e, aproveitando que tem gengivas macias, faz um convite indecoroso para uma velhinha, prontamente aceito. Augustinha, já nua, balança seus peitos com firmeza selvagem: bate no teto, bate no chão, ao som de In The Mood. Mas nem só de sexo selvagem é feita a grande orgia do asilo; pílulas multicoloridas para Alzheimer circulam de mão em mão, deixando todos completamente, absolutamente alucinados. Adolfo, o velho sádico, bate em Eva com o seu saco. Doutor Alves levanta a saia das velhinhas que passam com sua bengala. Gritos de “Supimpa!” ecoam no salão, entremeados por um “Cáspite!” dito por Epitácio que tinha conseguido encostar aquela velhinha naturalmente encurvada na mesa, mas não se viu capaz de aproveitar. A velhinha que já não vê reconhece seus amigos por toque: “Philomeno, continuas mole!”. Millicent, pernas entrelaçadas com Ariosvaldo, grita “Eu quero um bisneto seu! Eu quero um bisneto seu!” Sobral segura sua dentadura na mão, enquanto seduz Anastácia: “Vou te morder todinha, gostosa.” E Carmelita aproveita seu mal de Parkinson para fazer uns favores a uma dezena de velhinhos. Lou-cu-ra.

Neo-nazistas, agora do outro lado

A. Hit.. Ops, SharonDurante as eleições americanas, quando alguns mais exaltados chamavam Bush de nazista, logo apareciam vozes gritando que não se podia fazer essa comparação, porque o nazismo era muito mais que isso, etc.

Essa sacralização do nazismo como algo único, impossível de ser repetido, sempre me pareceu um erro. Pressupõe a idéia imbecil de que foi uma excrescência histórica sem explicação, uma espécie de Anunciação do mal. Descarta todo o processo histórico que o criou.

A maioria dos nazistas não era louca, não era alucinada de ódio. Era gente perfeitamente normal, com preconceitos comuns em sua época e lugar que foram amplificados além do “aceitável” em um momento específico. Muitos eram só oportunistas. E o próprio Hitler mostrou que era extremamente racional em seu ódio: “Se os judeus não existissem precisariam ser inventados”, ou algo assim. Louco ou não, arcaico ou não, Hitler era um político, e um bom político. Sabia que o anti-semitismo era uma plataforma importante para o crescimento do partido nacional-socialista.

Erro grave, esse. Esquecer o contexto histórico em que algo se desenvolveu pode permitir que essas mesmas ações se repitam.

Este blog já comparou a ação de Israel às dos nazistas e levou porrada. Talvez por isso dê para imaginar a surpresa ao ver Yosef Lapid, que viveu no gueto de Budapeste durante a II Guerra, comparar a ação de Israel na Faixa de Gaza a ações nazistas semelhantes: “Vi na televisão uma senhora [palestina] procurando seus remédios numa casa destruída em Rafah, e ela me lembrou minha avó”. (A matéria completa, que fala sobre o declínio dos direitos humanos, é assinada por Silio Boccanera e está na Primeira Leitura deste mês).

Ainda assim Lapid seria só mais um sujeito a se indignar com o que Israel anda fazendo na Palestina, não fosse ele o ministro da Justiça do seu país. Agora, o Pedro Dória mostra o exército israelense tratando um violinista palestino da mesma forma que nazistas trataram judeus nos anos que precederam a II Guerra Mundial. A semelhança é impressionante. As imagens de judeus lavando o chão, cercados por soldados e transeuntes que riem de sua humilhação, deveriam ser mostradas a todos que menosprezam a maldade humana; e a essa imagens deveriam ser juntadas as do violinista Wissam Tayem.

Claro que se pode dizer que não há comparação, que Israel não construiu campos de morte como Auschwitz e Dachau. Mas por uma questão de metodologia, a Solução Final não define o nazismo. Define o Holocausto, o momento mais baixo da história da humanidade. O que realmente define o nazismo é a série de leis e, principalmente, de atitudes que o Reich empreendeu nos anos 30. O Holocausto não teria acontecido se, antes, o nazismo não fosse se fortalecendo através da perseguição e humilhação de milhões de judeus, se Chamberlain não deixasse esses pequenos detalhes passarem enquanto aceitava calado os gritos de Hitler em Munique.

Hoje, Israel é um Estado opressor. Prepara o genocídio de uma raça. Se torna progressivamente racista à medida que seu povo aprende, desde o berço, que palestino é perigoso. E se isso não o faz cada vez mais parecido com o regime que fez o seu povo sofrer como poucos outros na História, então eu não entendo mais nada.