Get Back

Tinha jurado para mim mesmo que não ia comentar, mas é mais forte que eu.

Uma garotada de Londrina arranjou uma desculpa para emigrar ilegalmente para a Inglaterra: um festival sobre os Beatles. A PF de lá desconfiou, fez umas perguntinhas e o resultado é que o sonho da velha Albion dançou para esses rapazes.

Demorei muito até conseguir parar de rir. Não por terem sido deportados, já que perder um sonho é uma das coisas mais duras que se pode imaginar, mas por duas razões.

A primeira é por não terem se preparado para o evento. Custava nada ler uma biografia qualquer dos Beatles, daquelas de uma página, só para ter uma idéia geral do que é aquilo.

A segunda é a completa ignorância dos rapazes em termos de cultura geral. Tudo bem não saber que só Paul e Ringo estão vivos. Mas não saber quem é Yoko Ono — aquela velhinha que apareceu há um tempo no Fantástico, ao lado de Paulo Ricardo — é uma das provas mais cabais de falta de informação que eu já vi na vida. Para que ganhar o mundo, se você não sabe nada sobre ele?

E fico aqui, imaginando os fiscais ingleses cantando para o pessoal: Get back, get back to where you once belonged

Darwinismo

Tem algo de pungente, de melancólico em “A Era do Gelo”. E não me refiro aos momentos entre o mamute, o dentes-de-sabre ou qualquer outro.

A luta pela sobrevivência, o tema básico do filme, parece tão inútil. Nenhuma daquelas espécies sobreviveu. E apesar de todo o esforço dos bichos para salvar o bebê, os neanderthais tampouco conseguiram enfrentar a competição com o homo sapiens.

Toda aquela luta, lá no fundo, foi em vão.

Arte em Movimento

Já que tive que ir ao BNDES ontem, aproveitei para dar uma olhada na exposição “Arte em Movimento”, que tem como tema os meios de transporte.

Pelo preço — gratuito — vale a pena. Algumas boas peças, de Djanira e Iberê Camargo, obras menores de Lasar Segall, Portinari, Carybé, uma escultura de Bispo do Rosário. E um monte de desconhecidos que estão ali porque alguém cismou que a obra deles valia a pena. Como um quadro de Cláudio Tozzi no estilo de Lichstenstein, ou bobagens enormes que dependem de uma explicação e uma convenção: “Eu finjo que acho isso bom e você, para não passar por bobo, acha também, tá certo?”. Como dizia Goebbels, uma mentira repetida mil vezes etcetera etcetera.

Mas Bispo do Rosário é uma incógnita para mim. Achá-lo um gênio ou uma fraude, acima de tudo, depende do seu conceito de arte.

Como sou uma anta para algumas coisas, minha opinião varia. De vez em quando o acho brilhante, mesmo em sua confusão. Outras vezes, vejo só um maluco qualquer da Colônia Juliano Moreira.

Bem que eu podia ser um sujeito um pouquinho mais sensível.

Billie Holiday

Ninguém é besta de negar que Ella Fitzgerald é a maior cantora de blues que este mundo já viu. Ela é perfeita, tecnicamente, e tem os atributos necessários para aplicar essa perfeição em um gênero eminentemente emocional.

Mas Billie Holiday está acima de qualquer cantora, porque o seu domínio extrapola o da música.

Lady Day não tinha a maior nem a melhor voz do mundo. Tecnicamente, de acordo com os critérios clássicos, tinha uma vozinha no máximo regular. Mas àquela voz ela acrescentava uma carga de dor, de sofrimento, que nenhuma outra cantora jamais conseguiu imitar. (En passant, Janis passava, antes de mais nada, desespero e ansiedade; ela pertencia aos anos 60.)

Que se ouça Strange Fruit. Mais que a letra, é a voz de Billie Holiday que transmite a angústia e o sofrimento diante da cena narrada ali. Uma voz que parece ter 150 anos de vida, e uma vida carregada de sofrimento. Ou então Fine and Mellow (ou qualquer outra, estou citando apenas as que vêm à minha cabeça no momento).

Eu não sei o que cria uma cantora como Billie Holiday. Várias outras foram criadas em ambientes semelhantes e comeram o mesmo pão amassado pelo diabo, mas não chegaram ao patamar praticamente divino de Billie.

E tampouco sei explicar o que aquela mulher tem de genial. Acho que, no fundo, eu só não acredito que Billie Holiday possa ser explicada.

Stallone

Lembrei agora de uma entrevista recente do Sylvester Stallone ao David Letterman. Posso estar enganado, mas tenho certeza de que ele contratou um redator para escrever umas cinco piadas para ele dizer ali. Certeza absoluta. A coisa está tão feia nos Estados Unidos que até para uma entrevista esses sujeitos montam uma equipe.

Bruce Willis

Eu sempre fui fã desse sujeito, desde que ele apareceu como David Addison no seriado “A Gata e o Rato”. Aquele personagem era tudo o que qualquer adolescente gostaria de ser. Ou pelo menos que eu queria ser, e não consegui.

Ontem, dando umas incertas pela web, acabei batendo no site dele.

É simplesmente brilhante. Ao contrário da maioria dos sites de celebridades, ele fala na primeira pessoa, sempre. Há um sentido de atualidade, de real time, que não vejo em nenhum outro. E, o que é mais importante, há uma sensação de intimidade, de que os fãs estão participando, ainda que como voyeurs, da vida privada do sujeito.

O sujeito percebeu o jeito correto de usar a Internet. Fico imaginando o que o sujeito não gasta com ghost writers. Mas que é um dinheiro bem gasto, é.

Como escolher uma mandioca

Só agora vi, nos comentários, o debate sobre a mandioca entre o Plataformista e a Monica.

Embora eu só goste de um derivado dela, a tapioca (em Sergipe fazem um treco chamado beiju molhado que é um absurdo de bom), escolher mandioca é simples: aperte. Ela deve ser firme, mas ceder um pouco à pressão.

De qualquer forma, nenhum método é 100% garantido. Mandiocas são traiçoeiras. A melhor garantia, mesmo, é escolher bem o seu fornecedor. Que, no Nordeste, a gente chama de “freguês”, invertendo tudo.